As palavras da Vitória ecoavam nos meus ouvidos. Parecia algo interminável.
Era torturante vê-la com aquele sorriso cínico no rosto, enquanto ela se divertia em me fazer ficar mal.
— Eu não tive culpa. — falei baixo e com a voz tremula.
— Não teve? Você devia ter percebido. Se você não fosse tão burra talvez Luke estivesse vivo. Mas eu sempre tive razão, você é uma inútil! — Vitória disse aproximando um pouco.
Senti as lágrimas brotarem. Eu queria tanto bater nela, mas não valia a pena. Então me recompus como pude, e saí da cozinha correndo.
O desespero bateu. Eu não conseguia me livrar das palavras dela e pior, eu não conseguia me livrar da cena daquele dia. Tudo girava na minha cabeça. E na busca de tentar esquecer isso comecei a correr, correr muito em direção à mata.
Burra!
No fim não adiantou nada, pois o que eu mais temia aconteceu.
Flashback on:
2 anos antes,
Era uma quinta-feira, dia de macarronada na escola, e sim eu ficava feliz com isso. Na verdade eu ficava feliz com qualquer coisa. Mas hoje tinha um motivo maior, bem maior, meu grafite que eu fiz no muro da escola estava ganhando credibilidade.
É claro que eles não sabiam que era eu, mas que se dane.
Enfim, eu levantei saltitante e radiante. Fui ao banheiro e tomei um banho enquanto cantava uma música aleatória. E depois eu desci e tomei café com meus pais. Em seguida saí de casa e lá estavam meus dois melhores amigos, Luke e Josh, a minha espera.
— Olha se não são os dois homens da minha vida. — falei esboçando um sorriso lago.
— Parece animada. — Luke disse batendo palmas frenéticas.
Embora ele parecesse animado algo dentro de mim dizia que não.
Chega dessa paranoia.
— Sabe aquele grafite que eu fiz no muro do colégio? Pois é, as pessoas gostaram dele. Elas estão tirando até foto. — falei dando alguns pulinhos.
Os dois sorriram radiantemente para mim e me abraçaram forte.
— Você merece tudo isso e muito mais. — Luke disse passando as mãos nos meus cabelos.
— Você está bem?
Ele apenas fez que sim com a cabeça.
Depois da nossa pequena conversa, sobre como eu estava feliz, fomos para a escola cantando e dançando no meio da calçada. Algumas pessoas olhavam, mas esqueci delas hoje. Eu me esqueci do mundo hoje.
Chegando à escola cada um de nós fomos para nossos armários. Eu peguei minhas coisas e fui para minha aula.
Josh, Luke e eu sempre sentamos em trio lá no fundo da sala.
A hora foi passando e a essa altura já estávamos na 3° aula. Luke ainda estava estranho e por mais que eu tentasse negar era verdade.
— Gente, eu amo vocês. Vocês dois são amigos incríveis e eu não podia querer mais. Josh, você é uma pessoa incrível cara, nunca deixe as pessoas pisarem em você. E Alaska, minha amiga adorável, minha neném que eu quero colocar em um potinho, você tem um talento extraordinário. Arrisco dizer que você é a pessoa mais talentosa que eu já vi... eu amo vocês.
Foi tudo o que ele disse durante um tempo e depois pediu para ir ao banheiro.
Confesso ter ficado animada com essa pequena declaração de Luke. Era raro ele fazer essas coisas.
Já tinha um tempo que o Luke havia saído, era estranho. Toda aquela felicidade, todo aquele amor, tudo aquilo era muito estranho. Ele não é de demorar tanto.
Foi então que senti um arrepio na espinha e então caiu a ficha.
Ele não faria isso. Faria?
Eu apenas levantei e saí da sala às pressas, sem pedir licença, e fui em direção à porta do banheiro.
— Luke? — chamei.
E sem resposta tentei de novo.
— Luke?! — chamei novamente sem resposta.
Deus a porta está trancada.
Eu me desesperei, comecei a gritar, a bater com força na porta e ninguém abria.
Então em um lapso momentâneo decidi arrombar a porta.
Peguei um dos extintores de incêndio e comecei a bater com força na maçaneta ate ela se quebrar e abrir.
Quando a porta se abriu eu recuei. Minha respiração era falha e tudo o que eu sabia fazer era chorar.
Luke estava sentado no chão, mas não havia sangue. Ele não estava machucado. Ele só estava sentado com os olhos meio que fechando.
Eu me aproximei e pude ver que em sua mão havia um frasco de remédio. E também pode ver que ele ainda estava vivo.
Ainda...
— Você me achou. — ele disse com uma voz fraca.
Comecei a gritar por ajuda até toda a escola estar na porta do banheiro masculino.
Um dos professores chamou a ambulância e eu deitei a cabeça de Luke no meu colo.
— Vai ficar tudo certo. — falei em meio às lágrimas.
Luke esticou o braço lentamente, passando a mão no meu rosto na esperança de secar o rio que descia no um rosto.
Ele respirava tão devagar que quase não era possível ouvir. Eu acariciava seus cabelos louros tentando ser útil em mantê-lo confortável.
— Desculpa. — falei num soluço.
— Você não tem culpa querida. Você foi a melhor pessoa que eu já conheci. — nesse momento o nariz começou a sair alguma coisa preta, parecia sangue — Você precisa... ser forte... seja forte e siga em frente.
Naquela hora os olhos de Luke olhavam para o nada. Sua mão não segurava mais a minha. Era como um boneco, frio e sem vida.
Eu comecei a gritar, chorar, balançar seu corpo em busca de reação, em busca de vida.
Mas nada.
Então eu levantei e caí no chão novamente. Segurei meus joelhos e deitei no chão em posição fetal. Eu gritei tanto, tanto, tanto, que as pessoas foram ate mim tentando, inutilmente, me tirar dali.
Quando a ambulância finalmente chegou já era tarde. Luke já não estava mais vivo. Então para não perderem viajem me sedaram e me levaram para um hospital qualquer.
Eu podia ter corrido mais rápido. Eu tinha que ter percebido que ele não estava bem. Ele não estava bem, e eu o deixei escorregar pelas minhas mãos.
Foi minha culpa. Eu podia ter evitado.
Flashback off:
Bom, eu já não sabia onde estava. As lágrimas não ajudavam muito e a escuridão também não. Então comecei andar para um lado qualquer e em uma fração de segundo eu pisei em algo que me fez escorregar e sair rolando alguns metros abaixo de onde eu estava.
Acabei rolando em cima de algumas cortantes e no fim eu bati com a cabeça em alguma e fiquei inconsciente.
***
Acordei com um zumbido na cabeça. Uma luz muito forte praticamente queimava meus olhos.
Havia uma agulha na veia do meu antebraço. A agulha era ligada a uma mangueira que levava até uma bolsa de sangue escrito O-.
Reuni o que me restava de força e levantei da cama triscando meu pé no chão gelado. Confesso ter dado um pouco de calafrio, mas logo me acostumei.
Olhei ao redor e percebi que havia um espelho bem perto de onde eu estava.
Parecia que um caminhão tinha passado em cima de mim. Curativos na testa, abaixo do queixo e ao longo do meu tórax.
Enquanto eu me autodiagnosticava alguém abriu a porta com tudo. Virei bruscamente para ver Shawn praticamente correr em minha direção enquanto falava.
— Fiquei com tanto medo de perder você.
Quando ele se aproximou o suficiente, me segurou firmemente pela cintura e disse.
— Desculpa.
E então ele selou nossos lábios.
Finalmente!
Shawn Mendes me beijou!!!!
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