Layla POV
"Estava em um lugar totalmente desconhecido, de onde estava via uma casa, com um jardim pequeno.
No gramado do jardim haviam duas crianças brincando, uma menina corria pelo gramado e um menino sentado no chão brincava com um trenzinho. Pareciam ter menos de dez anos, talvez?
Não sei.
— Vou pegar seu brinquedo, irmãozinho. — a menina falou rindo, em tom de brincadeira.
Mas aquele garotinho parecia bastante irritado.
— Solte isso, Bia. — ele se levou, e vi sua expressão. Ele parecia bem ciumento com seu brinquedo.
— Nico, vamos brincar juntos. — pude perceber que eles falavam em outra língua, mas eu entendia cada palavra.
As flores começaram a morrer e eu arregalei os olhos.
Ela falou Nico?
— Não briguem! — uma mulher jovem, muito bonita e que olhava com ternura pras duas crianças se aproximou e se abaixou ao lado do menino chamado Nico — Sua irmã fez uma brincadeira, não se irrite, querido. — ela sorriu com ternura pra ele, que retribuiu, mas seus olhos se encheram de lágrimas.
O menino olhou pras flores de sua mãe e pude ver de onde estava ele derramar algumas lágrimas. Ele murmurou um pedido de desculpas e disse que não queria ter feito aquilo de novo. A sua irmã se aproximou e ajudou a mãe a enxugar as lágrimas dele, a menina então o abraçou.
— Vamos entrar, crianças. — a mulher puxou as crianças pra uma pequena escada, que dava pra porta que deduzi ser a dos fundos. Observei-os entrar na casa e a porta ser fechada.
Depois disso meu corpo foi declinando pra trás, e quanto mais meu corpo declinava mais escuro ficava. Tentava voltar, impulsionando meu corpo pra cima, mas ao meu redor só tinha escuridão agora. "
Me levantei, olhando ao redor e vi que estava na mesma cabana, com os filhos de Hermes. Sentei e enxuguei minha testa, que estava repleta de suor.
— Por que raios eu estou suada? — sussurrei pra mim mesma. Reparei que debaixo do meu travesseiro tinha uma blusa laranja.
Eu não a vi lá ontem a noite. Era a blusa do Acampamento, todos a usavam — Nico não se encaixa nesse todos, vive no preto gótico —, em alguns fica boa, em outros nem tanto. Vamos descobrir como fica em mim.
Desci da cama pelo lado que não tinha um Matt jogado roncando em um colchão no chão, ri do barulho que ele fazia e me abaixei, puxando minha mochila. Olhei por uma das janelas do Chalé e o sol estava nascendo.
Segui andando e saí do Chalé, o casaco e a calça protegeram meu corpo do vento gelado, mas meu rosto sofreu as consequências. Meu cabelo batia no meu rosto, entrando na minha boca e nos meus olhos, bem diferente das cenas dramáticas dos filmes em que as garotas exibem seus belos cabelos esvoaçantes sem comer eles.
Na pequena varanda estava Akir, que tem muita sorte por ter todo esse pelo pra cobrir o corpo.
Saí dali e fui em direção aos banheiros. Acho que ninguém está acordado a essa hora.
Confirmei meus pensamentos quando vi o banheiro completamente vazio. Mas como vestiários não são lugares muito acolhedores pra mim, segui até o último box, garantindo que teria tempo de me vestir até alguém chegar aqui no final.
[...]
Tomei um banho longo, mas não tão longo pra dar tempo do banheiro ficar cheio de garotas — de garotos seria difícil —. Voltei pro Chalé 11 e ninguém tinha acordado ainda, dei uma pequena corrida até o final dele, cheguei a minha beliche e joguei minha mochila debaixo dela. Na parede ao lado tinha um relógio de ponteiros, marcava 6h e 45 minutos, o que fazer se eu ainda tenho até às oito da manhã, quando teria a inspeção das cabines. Comecei então a recolher tudo que tinha espalhado pelo chão, coisas como fones, dracmas, ipods, uns mangás explícitos... Depois de recolher tudo aquilo e andar com tudo flutuando atrás de mim, fui até o final do Chalé. Na parede do fundo mesmo tinham várias prateleiras de madeira, fui organizando as coisas ali.
Depois de deixar tudo simetricamente organizado — parece ate que eu tenho TOC — eu fui em busca de uma vassoura. Achei uma — por algum milagre de Zeus ou qualquer outro deus — perto da porta, bem escondida em um canto, com alguns panos de chão, que pareciam nunca ter sido usados, e produtos de limpeza.
Nota mental: descobrir porquê, pelos raios de Zeus, pela barba de Hefesto e pelo cabelo sedoso de Apolo eu estou arrumando esse Chalé.
Varri tudo antes que me arrependesse, até debaixo das beliches eu varri e acho que nem o Mundo Inferior é tão cheio de poeira. Tudo que eu tirava debaixo das beliches com a vassoura — além de papéis de bala, latas de refri e outros lixos — eu colocava de volta, mas o mais organizado possível.
Depois de ter espirrado milhares de vezes, esse benditos começaram a acordar. Eu só tinha varrido o lugar, eles que passem um pano e arrumem suas camas, como eu fiz com a minha.
— Travis e Connor.
— Hm, quê? — Connor me respondeu primeiro e eu ri quando ele caiu no chão, larguei a vassoura e fui ajudar ele.
— Preciso que coloquem alguém pra passar pano nesse lugar, eu tentei limpar, mas vocês são imundos demais pra eu fazer isso sozinha, né. — Travis saiu da parte de cima da mesma beliche e me olhou com os olhos arregalados.
— Você limpou? Você, cheia de marra, limpou o Chalé. — revirei os olhos e assenti com a cabeça, logo ele estava rindo.
Connor tentou avisá-lo pra parar, mas eu estapeei o Travis antes.
— Você vai passar pano nisso tudo, senão pego a vassoura, o rodo e tudo o que tiver de limpar aqui, enfio na sua goela e faço sair pelo outro lado. — Connor riu e eu lhe lancei o que eu achei ser um olhar mortal, mas não funcionou bem, já que o garoto apertou minhas bochechas.
— Ok, você venceu, a gente limpa. — Travis se deu por vencido e foi em direção das coisas de limpeza — E com a gente é todo mundo, ok. Todo mundo vai arrumar as camas, tirar as tralhas velhas debaixo da cama e Connor, vai arranjar uma lixeira. A gente tem dez minutos pra inspeção começar, depois disso o tempo de primeiro Chalé até aqui.
Depois de trocar olhares com o Matt — que surgiu do meu lado enquanto Travis falava —, arqueamos as sobrancelhas impressionados. Todo mundo estava, eu acho.
Eu cheguei pra acabar com a bagunça dessa bagaça.
— Vamos, né. O que um Stoll manda, todo mundo obedece — Connor fez sinal pra todo mundo ir ao trabalho, mais obrigação que trabalho, e assim fizeram.
[...]
Vi os minutos passarem voando, e mesmo que o Chalé 11 continuasse meio acabadinho, tinha um cheiro bom de limpeza que vai deixar Hermes tão orgulhoso quanto os seus filhos ficaram putos.
Estava deitada na minha cama e Mattew surgiu de algum lugar desconhecido se sentando nela, ao meu lado.
— Fala, que praga você jogou pra todo mundo arrumar as camas? Eu já passei um verão aqui e nunca vi ninguém limpar nada, mesmo que a sujeira estivesse em cima de cada um aqui, ninguém ia limpar.
— Querido e maravilhoso Matt, eu só sou linda o suficiente pra convencer vocês a me obedecer, tipo a Piper — pisquei pra ele e logo dei de ombro, ele riu e eu dei um tapa nele — Para de duvidar de mim, quer morrer?
Ele riu e balançou a cabeça negativamente.
— Levantem daí que a Piper está vindo pra inspeção. — Travis apareceu com uma cara nada feliz.
Levantei com Matt e o seguimos até a entrada do Chalé, todo mundo estava do lado de fora, deixando os Stoll, Matt e eu aqui dentro.
— Hey, Trav, sabe que eu amo cada um de vocês. Mas toda sujeira que tinha aqui podia me camuflar. — sorri pro garoto que revirou os olhos e me puxou, me abraçando de lado e bagunçando meu cabelo — Ridículo, ridículo — falei enquanto me soltava dele, que ria.
Assim que arrumei meu cabelo, Piper entrou e sorriu pra mim. Mas sua feição mudou pra de espantada quando ela olhou ao redor.
— O que houve aqui? — Pipes anotava alguma coisa na prancheta e eu sorri vitoriosa coma a cara de espanto dela — Esse cheiro é desinfetante?
— É né, culpa da Layla aí, oh. — Connor apontou com o queixo (?) na minha direção.
Piper agora me encarava com as sobrancelhas levantadas e eu acenei pra ela.
— Oi, Pipes.
— Vocês já podem ir, e parabéns.
Saímos dali e Travis desfez a cara feia.
— Bom, vendo pelo lado bom, vamos poder esfregar alguma coisa nas caras do pessoal de Afrodite.
Nós rimos e logo Travis e Connor estavam nos primeiros lugares na fila pra entrar no pavilhão. Eu e Matt ficamos lá atrás.
— Você está aqui a um ano, Matt?
— Sim, passei um verão aqui ano passado, era pra eu ter vindo antes pra cá, mas meu sátiro se atrasou um ou dois anos. — o garoto se virou pra mim e explicou enquanto sorria de canto, garoto bonito da porra, Afrodite tem dedo nisso ou Hermes é gato assim? Ou seria a mãe do Matt a bonita da relação?
— Hm, entendi — preferi não tocar no assunto sobre a mãe dele, nem sei se ela ainda está viva — Mas eu vou ganhar um colarzinho desse de surfista?
— Não é de surfista, Layla — Matt riu e eu dei de ombros.
— Pra mim é.
— Enfim, você vai ganhar um no final do verão.
— Yup. — levantei os braços em comemoração, essa foi interrompida com todos indo que nem loucos pras suas mesas no pavilhão.
O assunto principal, depois de todo o lance de oferendas foi: " Por que obedecemos a Layla?". Não sei de quem veio a pergunta em questão, mas resolvi me manifestar.
— Olha, eu só tentei ajudar, se vocês não gostaram, tudo bem. — dei de ombros enquanto comia um cookie.
— Você manipulou a gente, isso sim. — Cecil, pra quê você foi abrir essa bendita boca?
— Não manipulei, mas acho que seria legal vocês tirando sarro de alguém por serem relativamente organizados — acho que dou muito de ombros, já que eu fiz isso de novo, dessa vez bebendo um gole de leite morno.
Cecil revirou os olhos pra mim. Julia deu um tapa na cabeça dele e Alice, ao seu lado riu.
— Não sei do que vocês estão reclamando, eu que passei pano naquele lugar — Travis, o revoltoso, se manifestou enquanto dava uma garfada agressiva em um bolo no prato.
— Paz, Trav, se vocês não quiserem, nunca mais façam. Não vou mais "manipular" vocês. — usei meus dedos pra fazer aspas no ar encarando Cecil, que me deu um dedo do meio. Arqueei uma sobrancelha pra ele, o olhando como aquelas garotas nojentas e metidas que se acham melhores que todo mundo.
— Antes de começarem a se atacar, comam, nada melhor que um bom café da manhã antes das tretas — Connor atrapalhou a resposta bem dada que eu ia dar ao Cecil e eu bufei, desistindo de brigar.
— Relaxa, Clone Connor, não estou afim de discutir hoje. — sorri pro Connor, que me olhou estranho, mas voltou a comer e conversar com os irmãos.
[...]
Eu poderia narrar o dia inteiro, mas era uma bela quarta feira e eu prefiro pular a parte de luta com espadas, canoagem — que eu descobrir ser horrível—, enfim, pular o dia inteiro.
Enquanto o pessoal de Hermes estava passando alguma coisa pra melhorar as tábuas do Chalé, eu estava sentada no último degrau da arquibancada do anfiteatro. Um lugar legal, dá pra ver bastante coisa daqui. Assim como eu vi o jogo de vôlei entre os times mistos do Jason e do Percy — eles nunca cansam de competir não?— inteiro, e deu empate, acho que veremos o resto do jogo outro dia.
Desci as arquibancadas e fui de encontro aos meus amiguinhos. Estava tudo bem, até eu ver o rosto da Hazel e do Nico na minha frente e me toquei que o nome dela não é Bia.
— Parados, vocês dosi — apontei pra Nico e Hazel, que se entreolharam sem entender meu objetivo — Só, venham aqui, venham.
Eles estavam andando na minha direção, em um dos cantos da quadra de vôlei.
— A gente pode participar da conversa ou ela é exclusiva de vocês três? — revirei os olhos e chamei Percy com a mão.
— Não sei se é exclusiva, mas pretendo descobrir agora. Por que a gente não senta todo mundo aqui no chão? — eles me olharam estranho, mas logo se sentaram.
Eu estava de frente pra Nico e Hazel, do meu lado direito estava Percy, do esquerdo Piper, seguida por Jason, ao lado do Cabeça de alga a Anna e em seguida Will. Frank ficou do lado de Hazel na minha frente. Quase formamos uma rodinha ali no canto da quadra. Quem olhar vai achar que a gente vai invocar alguma coisa.
— Começando logo, eu tive um sonho.
— Sabia que essa conversa não ia ser saudável — Will coçou a sobrancelha e eu gesticulei pra ele calar a matraca dele.
— O sonho envolve todo mundo aqui? — Frank me olhava interessado, amo esse garoto.
— Não, mas envolve pessoas que eu nunca vi ou ouvi falar e preciso que Nico e Hazel me respondam quem são essas pessoas.
— Ok, mas por que eles dois, eles estavam no sonho? — Annabeth que me desculpe, mas pedi silêncio pra ela também.
— É, por que só nós dois? — bati minhas mãos nos meus joelhos, eu estava naquela posição de índio, e bufei.
— Vocês poderiam me deixar falar, seus sem educação, ficam julgando o Percy, mas é só sujo falando do mais sujo ainda.
— Hey! — antes que o Percy contestasse, Annabeth o calou, colocando a mão em cima da boca dele. Ele tentou falar, mas desistiu.
— Continuando. Eu estava observando de longe, mas perto o suficiente pra ouvir, duas crianças brincando. Uma eu tive certeza que era o Nico, porque acho que a cara nunca mudou nem vai mudar, a outra ele chamou de Bia, quando ela roubou o trenzinho de brinquedo dele. Depois apareceu uma moça que eu deduzi ser a mãe das crianças. — parei e olhei pro Nico, que olhava pros seus dedos, eu catuquei ele e isso fez ele olhar pra mim — Eu me dei conta agora de que a Hazel não se chama Bia, eu só quero entender melhor o que eu vi lá.
Nico passou a língua sobre os lábios e balançou a cabeça em afirmativa, eu não tinha sequer reparado nos seus olhos marejados, mas agora que eu reparei as lágrimas já tinham começado a cair.
— Nico, desculpa, desculpa. Se você não quiser falar sobre isso eu deixo de ser a Layla curiosa e fico assim mesmo.
— Não, não. É só que faz tempo que eu não falo sobre a Bianca. Penso nela todos os dias, mas não falo sobre ela — ele trocou um olhar com o Percy, que sorriu tentando confortá-lo, Nico retribuiu.
Hazel abraçou o irmão de lado e o clima tenso ficava cada vez mais sufocante, estava em um lugar aberto e me sentia sufocada e culpada.
— Você não sabe nada sobre Hazel, ou sobre mim, muito menos sobre Bianca. Mas vamos do início. Eu vivi a muitas décadas, durante a Segunda Guerra — eu fiquei espantada, isso foi antes do pacto entre os Três Grandes — Antes de Zeus, Poseidon ou Hades serem proibidos de ter filhos com humanos, meu pai não quebrou regra alguma. Meu pai tentou proteger minha mãe, Maria; minha irmã e eu de Zeus, que lançou um raio no hotel em que estávamos hospedados, por raiva. Os alvos eram Bianca e eu, mas minha mãe foi atingida, Hades não conseguiu proteger ela. O Oráculo avisou sobre os planos de Zeus, então meu pai amaldiçoou ele, mas isso não vem ao caso. Eu e Bianca ficamos no Hotel Lótus, em Las Vegas, onde o tempo passa diferente do mundo exterior, por várias décadas, mais de 70 anos, eu acho. Uma Fúria, Alecto, a mesma que Hades mandou nos levar pro Cassino Lótus em segurança, nos tirou de lá e nos levou pra uma escola militar. Percy, Annabeth, Grover e Thalia nos tiraram de lá. Mas as Caçadoras também apareceram e Bianca decidiu se juntar a elas logo depois. Ártemis desapareceu, e algumas Caçadoras junto com campistas foram procurar ela, mas Bianca não teve muita sorte no trajeto, em uma das lutas ela... — Nico parecia mais estável, mas ainda assim abalado — Ela morreu.
— Ok, isso é pesado. Eu deva ter pensado que alguma coisa assim fosse o motivo dela não estar aqui — olhava pras minhas mãos e percebi que havia derrubado algumas lágrimas, estava realmente envergonhada por ter feito ele e mais alguns aqui relembrarem o que aconteceu — Não queria fazer ninguém relembrar isso. Me desculpe.
Ele acenou com a cabeça e saiu. Sem dar explicações nem nada, só saiu.
— Acho melhor eu ir fazer alguma coisa por aí. — me levantei com o olhar dos meus amigos sobre mim, acenei pra eles e fui rodar pelo Acampamento em busca do Akir.
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