Narradora on
Zayn abriu os olhos, sentindo os mesmos arderem. Deveria ser pelo fato de ter chorado a noite inteira. Entrou no banheiro, fez sua higiene e saiu. Trocou de roupa e desceu as escadas. Selena estava sentada na mesa. Ele se sentou ao outro lado e ligou seu celular. E estavam apenas os dois na cozinha, evitando se olhar. Mas ele se lembrou que tinha uma coisa a fazer, e infelizmente teria que fazer.
- Ei? - ela o olhou.
- O que?
- Vamos viajar!
- Você nem me perguntou se eu queria ir!
- Você não tem muitas opções!
- Vai se foder, cara! Você não é meu dono!
- Acontece que isso foi ideia dos seus pais!
- Meus pa-pais? Quando esteve com eles?
- Há uns dois dias.
- E por que não me levou? Eles são meus pais, e eu sinto falta!
- Não pensaram duas vezes antes de vendê-la para mim.
- Cala essa boca! Você não tem o direito de falar sobre a minha vida! Eu não sou um objeto, sou uma pessoa, e eu não quero que ouse falar dos meus pais novamente!
- Eu falo de quem eu quiser, na hora que eu quiser, estou na minha casa. Está incomodada? Por que não vai embora?
- Você sabe que se eu pudesse já teria ido! Eu odeio você! Desgraçado, você acabou com a minha vida!
- Arrume suas malas, vamos partir logo! - levantou-se e saiu dali.
[...]
- Posso entrar?
- Claro, Josh - secou suas lágrimas.
- Por que está chorando?
- Eu o odeio! Que cara grosso, não o reconheço mais.
- Você pensa que o conheceu, quando na verdade poderia ser faxada.
- Ele não faria isso! - limpou outra lágrima que escorria em seu rosto. E quando Josh olhou para a menina, e viu o tamanho de seu sofrimento, se arrependeu do que fez. Pensou que fosse um sentimento passageiro, e que ela superaria logo, mas não foi o que aconteceu. Estava se sentindo um idiota, e precisava contá-la.
- Sel, tenho que te contar uma coisa - abaixou a cabeça.
- Pode falar, Josh.
- O que eu tenho pra dizer é sério. Pode ser até que nossa amizade acabe.
- Ai meu Deus, o que foi Josh?
- Estou com medo, mas preciso dizer isso... fui eu quem mandei a foto pro Zayn - a menina sentiu uma dor enorme em seu peito, como se uma faca tivesse entrando em seu coração, e o cortando em pedaços.
- O que?
- Me perdoa, por favor? É que eu te amo Sel, por favor, entenda!
- Não, você não me ama, porque quem ama não é egoísta, e você foi! Como foi capaz de fazer isso comigo, Josh? Você viu o quanto eu sofri e sofro - as lágrimas já se formavam nos olhos de ambos.
- E-eu achei que os afastando, você poderia aprender a me amar... mas vi que você o ama de verdade. Por favor, me perdoa? Eu sei que agi errado.
- Cara, eu sempre achei que você fosse meu amigo, mas você foi falso da pior forma possível!
- Para, Sel, por favor? Vamos esquecer isso?!
- Esquecer isso porque não foi você que sentiu o que eu senti. Você não tem coração. E eu fiquei igual uma idiota, achando que você sofria por causa dos seus pais, inventou aquilo também? Pegou aquela senhora na rua pra dizer que era sua mãe?
- Não, em nem um momento eu menti pra você... quer dizer...
- Por que fez isso comigo? Já não bastava ter sofrido tanto? Ser traída pelo meu melhor amigo, tem noção do que eu estou sentindo agora, Josh?
- Me perdoa, por favor?
- Perdoar? Não perdoo quem agiu de má fé comigo. Você me matou por dentro. E o que morreu aqui, pode nunca mais voltar!
- Por favor, não diga isso, eu faço o que você quiser!
- Só quero que me deixe em paz! - levantou-se saindo dali. Desceu as escadas e foi para o jardim. Sentou-se em um dos banquinhos e abaixou a cabeça, deixando as lágrimas escorrerem. Como ele pôde? Josh sabia que ela e Zayn se amavam. Por que as coisas ruins só aconteciam com ela? A vida é tão difícil, enquanto tem pessoas fazendo coisas erradas e sendo feliz. As vezes ser bonzinho não é a melhor opção.
Josh percebeu que poderia nunca mais ver o rostinho lindo da menina, poderia nunca mais vê-la sorrir, pedir conselhos, e vê-la dormir como um anjo. E então se desesperou. Estava fora de si, pois em sã consciência nunca teria feito tal coisa. Tinha tantas garotas aos seus pés, mas queria justamente a que não podia ter. E a vida inteira foi assim. Sempre quis as mais populares da escola, aquela bem inalcançáveis, que só namoravam jogadores de futebol, enquanto ele se sentava na frente e fazia todos os deveres. Era taxado como idiota por usar camisas polo, pentear os cabelos para o lado, usar aparelho e também um óculos fundo de garrafa. Sofreu muito por conta de sua aparência, mas não estava nem aí, só queria as lideres de torcida.
E um dia, quando estava voltando do colégio, levou uma surra de 3 meninos do time de futebol, por estar mexendo com a namorada de um deles. E o que aquilo adiantou? Nada, só ganhou um olho roxo e duas costelas quebradas. E foi a partir daquele dia que começou a frequentar a aula de box. Foi ficando alto, forte, tirou o aparelho e trocou os óculos por lentes de contato, topete, e roupas descoladas. Em um piscar de olhos, já tinha até as inalcançáveis aos seus pés. E quando os mesmos garotos foram tirar satisfações, bateu em todos eles. Como era boa a sensação de poder. Saber que podia fazer qualquer coisa, e sairia impune, pois o delegado da cidade era amigo de sua mãe. Passou anos e anos achando que podia tudo, quando na verdade não podia nada. E Nina, uma menina com quem namorou sério por 2 anos, mudou esse jeito.
Ele a amava, mas ao mesmo tempo maltratava. E um dia ela resolveu deixá-lo. E pela primeira vez, sentiu como era perder alguém. Sentiu como era ruim ser maltratado, como era ruim ser abandonado. Como fez várias vezes com meninas da escola. E a partir daquele dia, mudou seu jeito de ser. Viu que não valia a pena ser aquele tipo de pessoa, e arrumou um único foco, ajudar sua mãe. E era o que estava fazendo, mas agora tudo corria o risco de ir por água abaixo. Bastariam algumas palavras para que fosse demitido. Sua vida estava nas mãos de uma garota que no momento, o odiava. E de repente, se viu desesperado. Se arrependeu do que havia feito, mas aí era tarde demais. Acabou perdendo a garota, e quase perdendo o emprego. E lá estava ele, sozinho, chorando em um quarto escuro, por ter sido capaz de magoar a menina que gostava.
Não era amor, pois o amor não é egoísta. Mas o que sentia por ela era algo forte, capaz de fazê-lo cometer erros gravíssimos. Talvez paixão, aquele era o sinônimo de sofrimento. E não havia o que fazer, ele estava errado, ela magoada e ambos feridos.
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