Café da manhã e não tinha pão.
- Vá à padaria, Elizabeth! - ela ordenou.
- Claro, mamãe - eu obedeci .
Eu andava rápido, mas ainda olhava cada detalhe como se fosse a primeira vez. Então, ela apareceu: um arranhão branco no ar. E o que eu fiz? Eu a segui. Éramos uma bela dupla : a graciosa borboleta branca e a garota desarrumada, ambas correndo desajeitadas pela cidade. A borboleta me abandonou em um beco escuro, indo embora sem mais nem menos, sem nem um tchau. Ela se foi e a minha realidade voltou. Eu estava largada naquele beco, naquela vizinhança estranha, sem saber como voltar, sem saber com quem falar.
O ar podre se impregnava pelos meus pulmões rosados e as ruas esburacadas enganavam meus pés. Passos e sombras pareciam me seguir e eu não sabia mais em que rua devia entrar. Uma sombra alta e densa parecia me seguir. Eu já estava quase correndo quando uma mão me puxou.
- Por aqui! - sussurrou enquanto me puxava. Nessa altura do campeonato eu nem ligava mais para o que poderia acontecer, só queria chegar em casa e abraçar minha mãe.
- Quem é você? - perguntei ainda tentando me ajustar ao andar apressado do salvador. Ele parou para tomar um pouco de ar e olhou para mim.
-Acho que o que você queria dizer era um obrigada, não? – ele disse confiante.
-Ah, mil perdões, meu salvador! Obrigada, obrigada, muito obrigada! – eu disse irônica. Ele me encarou, com sorriso no rosto e eu me senti obrigada à agradecer. – Obrigada!
- Agora sim podemos continuar. – disse brincalhão. – Então, senhorita, o que uma pessoa pura, como você, está fazendo nesse bairro?
- Pura? Essa é uma das poucas coisas que alguém já me chamou, mas, ainda sim, obrigada pelo elogio – disse. – Ah, eu estava indo à padaria para minha mãe, mas eu me deparei com uma borboleta muito bonita e comecei à segui-lá até chegar aqui.
- Você podia ter morrido, ter sido roubada, tudo isso por causa de uma borboleta? - ele perguntou, sem querer uma resposta.
- Eu não sei o que deu em mim... Mas, por favor, você pode me ajudar a voltar para casa? – eu pedi, com medo de ele me largar, do mesmo jeito que a borboleta fez.
- É claro que eu vou te ajudar! – ele afirmou. - Onde você mora?
- Eu moro em frente à boutique do Monsieur Roux.- eu respondi.
- Ah, okay. Vamos então? – ele perguntou.
Eu afirmei com a cabeça, e começamos a andar, sem pressa, sem o medo de me perder. Começamos a conversar sobre várias coisas : filmes, músicas, nossas famílias, livros. Eu descobri que ele gosta de qualquer filme, ele entrava no cinema escondido entre uma sessão e outra; adorava músicas que criticavam o mundo, mas também adorava as que elogiavam-no; adorava livros de suspense e mistério policial. Quando eu comecei a falar da minha família ele começou a se fechar, e eu não queria abri-lo.
- É aqui. Obrigada. De novo. – eu disse rindo.
- De nada. – ele disse – Mas, antes de eu ir embora, eu queria sabe o seu nome.
- Elizabeth, Elizabeth Grant – eu disse estendendo a mão.
- Muito prazer, Lana. Eu me chamo John, John Hill.
Eu sorri para ele,por conta do novo apelido peculiar, me virei e subi as escadas para minha casa. Quando entrei na cozinha eu nem me lembrava mais que minha mãe queria o pão.
- Lizzy, cadê o pão? – minha mãe perguntou.
- Mãe, você não sabe o que aconteceu...
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