História Dark Wings - Ataque

*POV ISABELA*

                Naquela noite, não conseguia pegar no sono, e sei que Vi também não.

                -Por que me contou tudo aquilo?

                -Por causa do Anunciador que você viu.

                -Aquilo se chama Anunciador?

                -Sim. É como se fosse um portal do tempo. Quando você olha por ele, você vê uma cena do seu passado ou do passado de outras pessoas.

                -Portal do tempo?

                -Sim. – Pensei por um tempo. Eu vi Theo me matando. Não tinha como aquilo ter acontecido no passado. Mas, resolvi mudar de assunto.

                -O que aconteceu?

                -Do que está falando? – Ela se virou e me encarou, a escuridão do quarto era irrompida pela luz do abajur, e dava um ar confortante ao quarto.

                -Você e o Jared. – Ela fez cara de confusa. – Até um tempo atrás vocês estavam muito bem, conversavam muito. Já imagino sobre o quê, mas agora parece que vocês não se conhecem direito.

                -É... complicado. – Começou. – Antes da Queda, nós não conhecíamos o amor, nem o ódio, nem nenhum sentimento humano. Éramos para ser as criaturas perfeitas. – Ela fez uma pausa. – E como nada é perfeito, nós começamos a... sentir. Dois de nós assumiram esse sentimento e isso gerou raiva e ódio. A raiva e o ódio geraram a Queda. Muitos tiveram tempo de se decidir e ir para o seu lado. Só que uma quantidade muito maior como eu e o Jared, não tiveram a oportunidade de escolher um lado. Então, nós caímos.

                -Você sentiu, não sentiu?

                -Sim.

                -Por ele?

                -Sim. – Ela olhava para o teto e esfregava os olhos.

                -E, não assumiu.

                -Não. Eu não sabia o que era. Eu não ia assumir algo que eu não sabia. Não sou assim.

                -E ele?

                -Não sei. – O lugar ficou com um silêncio estranho, até que Vi o rompeu. – Tá com medo?

                -Medo do quê?

                -Do que você viu. Vai conseguir olhar na cara do Theo?

                Percebi que eu o tinha ignorado o dia inteiro. Fugi dele pra todo lado. Não queria encontra-lo. O Anunciador tinha me assustado muito. Fiquei pensando sobre isso, até que senti uma pontada na nuca. E outra. E outra. Várias pontadas na nuca, que acabaram se transformando em um dor contínua. Dei um grunhido e Vi percebeu.

                -O que foi?

                -Uma dor na nuca. – Coloquei a mão e senti algo. Olhei para a minha mão. Sangue.

                -Vitória eu estou sangrando. – Ela se levantou e correu ao meu encontro. – Achei que você faria alguma piada sobre isso. – Ela me olhou com cara de brava.

                -Você é louca? Eu acabo de te contar que eu sou um anjo caído e você começa a sangrar pela nuca. Coincidência? Acho que não. Vira.

                Virei, e ela examinou o ferimento.

                -É tipo uma tatuagem. Uma língua asiática.

                No dia seguinte, fomos mostrar isso para Jared, que também nunca tinha visto nada parecido. Ele apenas disse para eu a cobrir e voltar para as minhas atividades normais. Era terça-feira, então, nós tínhamos aula normal. Desde a festa, Vi não falava mais da terapia, ela sequer ia nas sessões. Porém, ela não me disse absolutamente nada. Parece que ela havia se fechado mais ainda do que ela já era. Parece até que ela assumiu sua “forma verdadeira”, porque até as suas roupas mudaram. Ela não usava mais as roupas divertidas que ela usava antes de me contar. Por exemplo: hoje ela está usando uma blusa rasgada com estampa de esqueleto, uma calça preta e botas de salto.... as coisas ficaram bem diferentes depois da revelação de tudo.

*POV THEO*

                Fazia um tempo já que Isa não falava mais comigo. E eu achando que na festa a gente tinha se resolvido. Seja o que for, alguma coisa mudou depois que ela saiu do banheiro. Talvez aquela amiga dela tenha falado alguma coisa que fez ela mudar de ideia sobre mim. Pode ser isso. Resolvi esperar que ela viesse até mim, não quero forçar a barra.

                Estava em meu quarto esperando meu colega para irmos estudar na biblioteca. Fomos para lá, uma biblioteca tão bonita. Eu sabia o que havia ocorrido aqui há anos. O tal incêndio. Todos os anjos sabiam de toda a história entre Luce e Daniel. Muitos ajudaram. Eu fiquei na minha, como sempre. Queria me aproveitar destes seis mil anos de “tranquilidade” enquanto eles se preocupavam com os dois. Agora, vinte anos depois de tudo se resolver, depois do final de tudo isso, estava mais difícil se esconder. Então vim parar aqui, onde tudo começou. A Sword and Cross se tornou um porto seguro para mim. Eu sabia que há outros, mas pelo menos aqui eu não tenho os guardiões no meu pé.

                Estudávamos tranquilamente em uma mesa claramente restaurada do fogo, quando elas entraram. Isa e sua amiga foram até a mesa da bibliotecária e pediram um livro. Provavelmente não iriam ficar para ler. Então Isa se virou e encontrou o meu olhar. Com uma expressão diferente da do baile, ela sorriu e acenou. Acenei de volta, e levei um empurrão no ombro do meu colega e fui até lá. Estava com saudade.

                -Oi. – Comecei.

                -Oi, faz tempo que a gente não conversa. – Ela fez uma carinha tímida.

                -Sim, faz.

                A amiga dela me olhou feio. Parece que ela não gosta muito de mim.

                -Eu... preciso falar com você sobre uma coisa. – Disse ela, mexendo no cabelo.

                -Não aqui, querida, muita gente. – A amiga sussurrou, irritada.

                Fomos interrompidos pela bibliotecária que trouxe o livro que elas queriam. A amiga puxou o braço dela para que fossem para a porta e sussurrou algo, que não consegui decifrar.

                Então tudo a seguir aconteceu muito rápido. A janela quebrando, alguém aparecendo e a amiga gritando:

                -FECHE AS PORTAS! CORRE ISABELA!

                Isa correu e quando ele apareceu, eu vi as asas danificadas e os olhos leitosos. Um Pária. Outro apareceu do outro lado, e mais alguns quebraram as outras janelas. Eles vieram para cima de mim e antes que pude me defender, a amiga abriu suas asas negras e pegou uma seta estelar. Ela é um anjo. E sabe que eu também sou. Eles recuaram com a seta, até que um veio e me deu uma rasteira por trás. Dois pularam na amiga e ela se debatia para afastá-los. A porta se abriu e vi o professor de filosofia entrando. Ele abriu as suas asas e foi ajudar a amiga, enquanto um Pária tentava colocar um saco na minha cabeça. O professor matou um dos Párias, e a amiga matou o outro com a seta estelar. Enquanto ele a levantava, vi Isa pegando uma espada na parede e golpeando o Pária nas costas. Vi seus olhos dominados por um azul cintilante, além do ódio que aparecia. Ouvi-a gritar:

                -ME DÊ A SETA!

                A amiga, impressionada, jogou para Isa, que atirou-a no Pária, prendendo seu corpo na parede, morto. Então ela se virou, completamente normal, e disse:

                -O que aconteceu? – E caiu. Corri para socorrê-la, assim como o professor e a amiga. Peguei-a em meus braços e percebi que havia alguma coisa em sua nuca. Quando a virei, li o que estava escrito.

                -Você sabe o que é isso? – Perguntou o professor.

                -Sei. É a marca do Guardião.

*POV PHIL*

                -O ataque foi um fracasso. Só sobraram dois. Eu e Jack.

                -Cada vez eu me decepciono mais com vocês. Nós PRECISAMOS daquele anjo. Dispensados.

                -Sim senhor. Novo plano?

                -Não. Como vocês falharam, é bem provável que eles se mudem.

                -Eles?

                -É. Eles. Agora sai daqui.

                -Sim senhor.

                Um novo plano. Com certeza era o que precisávamos, mas, por enquanto, eu tentaria descobrir para onde aquele anjo foi. Esse inferno não poderia continuar. Já que não conseguimos pegar aquela garota para sermos aceitos no Céu, pegaria o anjo para ser aceito no Inferno. Porém, eu teria que acabar com a Guardiã.