*POV VITÓRIA*
Levantei a cabeça e vi gotas de sangue no chão. Tudo estava meio borrado, não conseguia ver nada direito. Senti uma mão em minha perna, virei-me e chutei quem quer que fosse. Tentei me levantar, mas as minhas costas estavam travadas. Percebi então que estava com muita dor, e algumas setas estelares passavam por cima da minha cabeça. Por algum motivo, eu já sabia o que estava acontecendo e gritei. Um “não” tão alto que eu pude jurar que eu tinha me ensurdecido. Mas, não tinha som. Toda a situação não tinha som. A única coisa que eu ouvi foi um urro de dor de Isabela. Olhei para todos os lados, e não vi nada. Senti a raiva crescendo em mim e me ergui, mesmo com as costas doendo e quase não conseguindo se mexer. Peguei algo gelado que me parecia uma seta estelar, mas eu caí. Quando atingi o chão, abri meus olhos. Eu estava dentro de um avião, de mãos dadas com Jared, esperando para chegar na Bulgária.
*POV ISABELA*
Minhas pálpebras estavam pesadas da viagem, mas ainda assim, consegui acordar. Chegamos ao aeroporto tarde, então fomos direto para um hotel. Este ficava em uma esquina, todo marrom, e todo iluminado. Theo e eu ficamos em um quarto só nós dois e, quando entrei no quarto, me joguei na cama. Extremamente macia. Theo riu e se jogou do meu lado.
Pensei em perguntar várias coisas, mas apenas uma coisa me veio à cabeça:
-Por que você as matava?
-Oi?
-As suas Guardiãs? Por que as matava?
-Não queria ninguém me vigiando.
-Mas… e quanto a mim?
-Você é diferente. Eu me apaixonei por você.
-E você NUNCA tinha se apaixonado?
-Na verdade, já. Em 1864.
*FLASHBACK ON*
*POV OFF*
No verão de 1864, ele era Theo Eldridge. Andava pela Bulgária a busca de sua liberdade recentemente adquirida. Recentemente era mais um modo de dizer, já que faziam 18 anos que a última tinha morrido. Numa das ruas de Sófia, encontrou duas moças muito bonitas. Uma era loira e tinha a pele muito branca, mas não era tão bonita quanto a outra. Esta, que era morena, tinha os cabelos cacheados presos e um chapéu preto bem discreto. Usava um vestido vinho e luvas pretas. Era excepcionalmente linda. E parecia forte. Quando ela passou, encontrou o seu olhar. Era um olhar e tanto.
Viu-a mais algumas vezes até que ela veio falar com ele:
-O senhor me impressionou no outro dia.
-A senhorita também. Qual seu nome?
-Katerina, e o seu?
-Theo.
A conversa continuou por um tempo, assim como a relação de Theo e Katerina. Ele descobriu que ela era uma Guardiã algumas semanas depois, ao retirar uma de suas luvas e ver a marca do Guardião em seu pulso. Theo ficou inseguro quanto a isso, mas apenas se deixou levar. Ele sentia algo por ela, algo muito forte e muito bom.
O espírito apareceu poucas vezes durante todo o tempo que passaram juntos. Aliás, o tempo que eles passaram juntos foi muito feliz. Infelizmente, a felicidade deles não durou mais do que um ano e meio.
O ataque dos Párias foi nítido quando ele entrou na casa. Ele largou tudo que estava em sua mão e saiu correndo passando por cima dos móveis jogados no chão até o quarto. Katerina estava na cama, virada para baixo. O sangue escorria pela cama. Ela estava morta. Naquele momento, decidiu que não ia se deixar levar por mais ninguém.
*FLASHBACK OFF*
*POV ISABELA*
Depois que ele me contou tudo, ele simplesmente terminou:
-Obviamente não deu certo, eu me deixei levar por você. Eu me apaixonei por você.
-Você tentou pelo menos resistir?
-Eu não sabia que você era a minha Guardiã.
Fazia sentido. O clima estava bem tenso, então ele mudou de assunto e me abraçou.
-Você começa a academia amanhã. – Ele riu. Eu fiquei com cara de paisagem. – É verdade. Você tem que ficar forte. Você sabe disso.
-Tá bom… - Me aninhei nele. Ficamos abraçados assim até que ele me puxou e me beijou.
Ele foi me beijando até que apoiou as minhas costas na cama, passando a mão pelo meu corpo até chegar nas minhas coxas. Ele tirou a camisa e se aproximou mais, beijando meu pescoço lentamente. Eu sabia o que ia acontecer agora. E assim passamos a noite inteira juntos, pela primeira vez…
*POV VITÓRIA*
Estávamos na sacada olhando a noite da Bulgária, um país da qual eu realmente gostava. Estávamos abraçados, eu e Jared, e eu realmente não queria “estragar” o momento. Mas eu tinha que falar do sonho no avião.
-Enquanto nós vínhamos para cá, eu tive um sonho que me assustou muito.
-Sobre o quê? – Perguntou ele, com o rosto apoiado no meu ombro.
-Eu não sei dizer direito. Estava tudo embaçado. Mas eu pude ouvir a Isa gritando. Eu tenho quase certeza que eu sonhei com a morte dela.
-Desde quando você tem premonições?
-Eu já tive alguns sonhos, e eu fiz de tudo para que não acontecessem. Mas eram coisas tipo brigas, discussões, nada relacionado à morte. – Fiz uma pausa. – Ela precisa ser treinada. Aqui.
-Eu conheço alguém. Tenho certeza que você também conhece.
-O Tom?
-Sim. Ele me ajudou a manejar arcos assim que nós caímos. Com certeza vai ajudar.
-Vai. Ele ainda mora aqui?
-Sim, mora. Ainda mantenho contato com ele.
-Vamos contatá-lo amanhã. Isa tem que aprender logo.
-Sim, comandante. – Disse, ironicamente. Virei-me para ele, que bateu continência. Beijei-o e abracei-o, querendo ficar ali pelo resto dos meus dias. Os braços dele são reconfortantes.
No dia seguinte, conversamos com Tom e ele aceitou nos receber em sua casa, que ficava alguns bairros à leste. Isa e Theo acordaram atrasados para o café da manhã. Ela estava radiante, logo entendi o por quê. Eu também fiquei assim, animadinha. Ri internamente, e ela percebeu. Ficou corada.
-Então, pombinhos atrasados – comecei, deixando Theo sem graça. – achamos um treinador pra você. Vamos a casa dele hoje.
-Hoje? – Isa disse.
-Tem algum outro plano?
-Na verdade, tenho sim. Eu ia sair com Theo e dar uma olhada na cidade.
-O seu treinamento é mais importante. E tem mais: Sofia é mais bonita à noite. Theo a levará para conhecer o centro da cidade esta noite.
Ela cedeu rapidamente. Eu não estava mentindo sobre Sofia. Ela era muito mais bonita à noite. Pri resolveu ir junto ao treinamento, assistir e aprender um pouco.
Nos arrumamos depressa e pegamos um carro que havíamos alugado na noite anterior. Fomos até uma fazenda não muito grande, mas muito escondida. Chegamos ao portão e um dogue alemão anunciou nossa chegada. Tom veio de longe, usando uma camisa suada e uma calça jeans. Ele e seu 1,90 de altura tiraram um queixo caído de Isabela. Tom tinha os olhos azuis e a barba nascendo. Muito bonito, admito. Olhei para o lado e vi Jared sorrindo olhando na direção de Tom. “Eu tenho meu próprio par de olhos azuis”, pensei.
-Então, quem vai ser treinado?
-A Isabela. – Theo começou. – Ela precisa ficar forte.
Tom olhou Isa de cima a baixo e deu uma risadinha.
-Qual o problema? - Ela perguntou.
-Vamos ter que trabalhar bastante, mas acho que vai dar certo.
Fomos interrompidos por uma aparição na porta. Uma moça não muito alta, de cabelos escuros e curtos e olhos muito verdes. Senti uma leve inveja por ter tantos olhos claros à minha volta. Não parecia ser a namorada de Tom, já que nem se aproximou dele direito. Mantive meus olhos nos dela, que me analisava e parecia que se preocupava muito com a minha presença. A ficha caiu, ela era uma Guardiã também. Tom não havia escolhido um lado, assim como Theo. Minha teoria se concretizou quando ele a apresentou.
-Bom, esta é Kristen, a minha Guardiã. Esses são Theo, Isabela, Jared, Vitória e Priscila. – Ele foi apontando para cada um de nós, mas ela permaneceu com os olhos grudados em mim.
-Parece que ela não gosta muito da minha presença. – Eu disse, me endireitando no sofá estampado, e desviando meu olhar para Tom.
-Nunca é bom ter um demônio em casa. – Voltei o meu olhar para ela, que me encarava enquanto dizia isso. Senti uma tensão ali, certamente ela não gostava de mim.
-Ela não vai me matar Kris. – Ele fez uma pausa. – Acho que não vai. – Ele me olhou com um sorriso sarcástico, que eu devolvi.
-Vamos ver…
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.