História Dark Wings - Aluno novo

*POV ISABELA*

                Depois da bronca que eu levei por estar dormindo na aula (bronca que eu sequer ouvi), voltei para o nosso quarto ainda atordoada. Quem era aquele garoto? Por que eu sonhava com ele agora?
                Entrei no quarto e Vitória estava se arrumando para ir para a terapia.
                -Viu fantasma de novo?
                -Oi?
                -Você está muito branca. O que foi? A bronca foi pesada?
                -Que bronca? Eu nem prestei atenção nela. Ele estava lá.
                -Fiquei na mesma. Ele quem?
                -O cara dos meus sonhos.
                -O cara que você NÃO viu o rosto?
                -Eu vi sim. Hoje, na aula, que eu dormi, eu vi o rosto dele nitidamente. Era ele.

                -E como ele era?

                -Tinha um ar oriental, mas era muito bonito.

                -Sério? Oriental?

                -Sim.

                -Tá. Fica aí sonhando com ele que eu tenho terapia agora.

                Ela saiu e eu deitei na minha cama, pegando meu livro e tentando me concentrar. Quem será que ele era?

*POV VITÓRIA*

                Saí do quarto pensando que Isa finalmente tinha enlouquecido. Acho que é melhor eu ficar longe dela pra não pegar em mim. Ri deste meu pensamento e continuei andando. Vi Debbie em sua festinha particular com alguns garotos. Pensei no que eles tinham na cabeça pra conseguir ficar ali. Ela estava beijando alguém. Que nojo. Ela parou de beijar o cara pra pegar um copo vermelho que estava do seu lado. Nisso, ela me olhou e eu mostrei meu dedo à ela. Adoro provocar.

                Consegui chegar a tempo na sala de Jared. Ele me esperava com uma camisa meio aberta xadrez e uma calça jeans comum. Achei que eu estava muito arrumada. Eu estava com uma regata, uma calça com faixas de couro nas laterais e uma bota cheia de spikes. Jared me olhou de cima a baixo e deu uma risadinha.

                -Que foi?

                -Não consegue ficar sem se arrumar né? – Ele disse, agora rindo.

                -Me deixa. – Entrei na sala e vi pastas na mesa.

                -Sente-se. Temos que conversar. – Agora ele estava sério. – Temos um aluno novo.

                -Nossa, que problema! Um novato a mais.

                -O problema não é ele ser um aluno novo. – Ele sentou em sua cadeira, abriu a pasta e me entregou. – Ele é um de nós.

                Olhei a pasta atentamente. Nunca o tinha visto. Nome: Theo Wittle. Cara de asiático.

                -Qual lado ele escolheu?

                -Não escolheu.

                -Tá brincando? Primeiro aqueles dois lá que preferiram escolher o amor deles e agora esse? Qual o motivo dele?

                -Não faço ideia.

                Olhei de novo pra ele. Será que era dele que Isa estava falando? Resolvi falar.

                -Isa chegou hoje dizendo que tinha visto o cara dos sonhos que ela vem tendo.

                -Sonhos? Como assim?

                -Ela sempre tem esses sonhos do assassinato. Você sabe do que eu estou falando. No começo, ela acordava toda assustada, e aqueles olhinhos dela ficavam cada vez mais esbugalhados. Depois de um tempo, os sonhos começaram a se tornar comuns, então ela nem se assustava mais. Só que ontem ela teve o sonho com uma mudança. Uma silhueta masculina na frente do corpo perguntando o por quê daquilo. Na sua aula hoje ela gritou porque ela viu o rosto dele. Quando ela voltou da sala da diretora, ela me disse que ele estava lá.

                -Interessante. – Fiquei curiosa com sua reação. – Isso pode nos dizer que eles tem uma ligação.

                -Que tipo de ligação? - Perguntei, até um pouco atordoada.
                -Ainda não sei. Precisamos descobrir.
                -Sim. Precisamos.

                Saí da sala com isso na cabeça. O que será que unia Isa a Theo? Cheguei no quarto e vi ela deitada quase em cima de seu livro, só que encolhida. Coloquei uma coberta em cima dela que achei em sua parte do armário. Me deitei, com uma leve dor nas costas, bem nas clavículas. Lembrei e senti saudade de um tempo em que eu podia soltar o que estava lá dentro. Infelizmente, agora, não poderia mais ser assim. Me virei de lado e adormeci, tentando mudar a minha cabeça de lugar.

*POV ISABELA*

                Acordei com o livro entre meus dedos e deitada de barriga para baixo, que foi como eu deitei para ler ontem.
                Vitória estava dormindo. Engraçado, ela fica meio que frágil quando desacordada. Os cabelos longos e escuros jogados no travesseiro e seu rosto em uma expressão tênue que quase nem se parecia com ela. Fiquei até com dó de acordá-la. Era sábado, e nós duas tínhamos uma festa em um dormitório de algum dos alunos novos. Eu realmente não estava muito empolgada pra festa, mas Vitória me convenceu de ir.
                Alunos novos. Me lembrei daquele cara que estava na sala da diretoria ontem. Era ele. Eu tinha certeza disso. Algumas pessoas dizem que os asiáticos tem rostos comuns, mas eu sabia que era ele. Meu instinto não costuma ser falho. Levantei, agora percebendo que Vitória havia me coberto ontem. Tomei muito cuidado para não acordá-la, para que ela continuasse em seu estado de fragilidade. Fui ao banheiro e lavei o rosto. Ele estava cheio de rímel, meu produto favorito. Tirei toda a maquiagem e resolvi sair de cara limpa mesmo, precisava de Sol no meu rosto. Achei uma blusa preta no meio da pilha de roupas que me agradava e a coloquei. Me olhei no espelho de novo. Minha pele estava muito branca, definitivamente, eu precisava de Sol. Saí do banheiro e Vitória ainda estava dormindo. Peguei um livro e um caderno e fui andar pela Sword and Cross. Estava tudo sempre tão triste e escuro.
                Fui para o cemitério e comecei a andar. Vi o túmulo de uma menina que costumava viver aqui. Me sentei em baixo de uma árvore e comecei a desenhar. Desenhei asas brancas e um corpo esguio, um anjo. Nunca fui muito religiosa, mas confesso que são criaturas muito bonitas. Quando comecei a sombrear o desenho e vi alguém na entrada do cemitério. O homem de meu sonho fazia um tour pelo jardim e acabou o encontrando. Trocamos um olhar de longe. Ele sorriu e se aproximou, esperando que eu fizesse o mesmo. Fiquei com um pouco de medo, mas me levantei para cumprimenta-lo e tentar fazer amizade. Quem sabe?