História Dark Wings - Acabou?

DOIS ANOS DEPOIS

PARIS

*POV VITÓRIA*

                Estou sentada em uma mesa ao ar livre no Café de Flore, na 172 Boulevard Saint-Germain, em Paris. Há uma xícara de café na minha mesa, um potinho de creme bem doce e um doce muito gostoso. Segurando a minha mão, está o meu marido, agora cultivando um cabelo curto e penteado para trás (algo que, de início, não apoiei) segurando a minha mão.

                -Está quase na hora.

                -Hora do quê? – Diz Jared, depois de tomar um gole do seu próprio café

                -O nascimento do Theo.

                -Você sabe muito bem que Lúcifer nos proibiu de interferir na vida dos dois.

                -Mas ele não me proibiu de ver um bebê na maternidade.

                Alguém esbarra no meu pé e pede mil perdões em francês. É um repórter. Estamos na Semana da Moda de Paris em um grande café. É claro que ele está cheio de celebridades e fotógrafos.

                -E você ainda gosta de lugares lotados.

                -Gosto sim. – Respondo. – É ótimo ver as pessoas correndo para lá e para cá. – Ele abre um sorriso.

                -Quer ir para o hospital agora?

                -Sim, vamos.

                No hospital, procuramos pelo último bebê nascido. Como Jared quer seguir as ordens de Lúcifer a ferro e fogo, eu vou à maternidade. Paro na janela de vidro e vejo os três meninos nos bercinhos de acrílico: Jacques, Luca e Theo. O primeiro me olha fixamente, como se já soubesse tudo o que aconteceu. O segundo dorme profundamente, mexendo os dedinhos de vez em quando. O terceiro mexe os braços e olha para todos os lados até encontrar o meu olhar. Então, estica os bracinhos gordinhos para cima e começa a abrir e fechar as mãos. Sorrio. Ele é um bebê lindo.

SÃO PAULO

                Me pergunto por que o Trono quis separar os dois. Uma distância gigantesca: um oceano. Desta vez, vou de carro até o hospital que acabara de receber uma menina. Diferentemente da França, a maternidade está quase vazia. Só dois bebês: um menino chamado Pedro Luiz e a pequena Isabela, que dorme. Suas mãozinhas são tão pequenas que se eu a segurasse, eu teria medo de quebra-las. Já faz um ano e meio desde o nascimento de Theo, que agora aprende a falar e ainda tem alguns problemas com verduras.

                -Pronto? Agora podemos voltar para a nossa casinha em Los Angeles? – Diz Jared, quando eu volto. Passo meus braços pelo seu pescoço:

                -Sim, meu amor, podemos. Pri e Kristen devem estar esperando a nossa visita na casa nova.

                -Agora elas se acertaram mesmo né?

                -Sim, agora, é para sempre.

22 ANOS DEPOIS

PARIS, FRANÇA

*POV ISABELA*

                Acordo olhando para uma grande janela e para o sol nascendo em Paris. Em meu dedo, há um anel dourado com o nome do meu esposo: Theo. Ele está tomando banho, posso perceber pelo cheiro de shampoo e sabonete. Lembro-me de como tudo começou:

FLASHBACK ON

                Eu tinha decidido por fazer intercâmbio na França, uma cidade simplesmente maravilhosa, encantadora, que cheira a História, minha matéria preferida. Para isso, aprendi francês e passei vários anos treinando para ter esta língua fluente.

                Guardei dinheiro por 13 anos. Desde o momento em que eu conheci a França, aos cinco anos, eu tive o sonho de ir para Paris. Sempre guardando aquele troco do intervalo, aquelas moedinhas jogadas no chão do carro, ou achadas no fundo da bolsa, até eu conseguir um bom dinheiro para viajar.

                Aos 17 anos, pedi para que a minha mãe me desse a viagem de intercâmbio no meu aniversário de 18 anos. Por eu ter guardado grande parte do dinheiro necessário para pagar a passagem, ela deixou, e me ajudou em todos os momentos para eu conseguir viajar. E assim foi: junto ao bolo que ganhei (ainda lembro como aquele bolo estava gostoso) havia um envelope azul com o meu nome escrito. Dentro, havia a minha passagem e o meu passaporte.

                Lembro-me de nem ligar para a decolagem, o pouso, ou qualquer tipo de turbulência, já que eu estava concretizando o meu maior sonho. Fiquei ouvindo uma playlist do Youtube que tinha os maiores sucessos franceses. Eu já gostava da maioria delas, e conheci mais algumas que eu nunca tinha ouvido.

                Quando cheguei, tratei de tomar um bom banho e saí, para aproveitar a noite de Paris, a cidade das luzes. Me apaixonei a partir daí. Dormi aproveitando cada centímetro da cama, dos lençóis, do travesseiro...

                As outras duas semanas foram aproveitadas nas ruas. Andei por toda a cidade, tratei de conhecer tudo o que conseguisse. O intuito era passar dois meses, e eu aproveitaria cada segundo dela. Na terceira semana, fui a um café simplesmente maravilhoso, com uma arquitetura maravilhosa. E nele, tudo simplesmente mudou.

                Um garçom veio me atender e eu simplesmente travei. Ele era lindo. Fiz o meu pedido, tomei o meu café, e, quando pedi a conta, veio um pequeno papel com um telefone e uma frase: “Estou esperando sua ligação.”

                Pelo resto dos dois meses, eu passei a ter uma companhia para os meus passeios. Theo, um homem alto, de olhos puxados e cabelo escuro, ia comigo e mostrava tudo que eu precisava saber sobre Paris. Ele só não ia comigo quando ele tinha que trabalha. É claro, ele precisava trabalhar. Nosso primeiro beijo aconteceu perto do museu do Louvre, e foi tão simples, tão romântico, que só fez com que eu me apaixonasse mais.

                O namoro mesmo começou no dia em que voltei para o Brasil. No aeroporto, Theo pediu para que eu esperasse mais um minuto antes de entrar no avião, e pediu. Simples assim. Já no Brasil, contei para a minha mãe de Theo e de início, ela não gostou muito de eu namorar um estrangeiro. Ela até me revelou que tinha medo de me perder. Eu fiquei com dó, mas, no final, ela aceitou.

                Nos casamos dois anos depois e cá estou eu, deitada em sua cama com lençóis muito brancos.

FLASHBACK OFF

                -Bom dia meu amor. – Fui interrompida por Theo, agora meu marido, que apareceu sem camisa na porta do banheiro.

                -Bom dia. Sabe, eu estava querendo ir para um lugar que eu ainda não fui.

                -Qual? – Ele se sentou ao meu lado.

                -O Louvre. Nosso primeiro beijo foi lá do lado, mas, a gente nem chegou a entrar lá.

                -Vá tomar um banho, fica bem bonita e vamos ao Louvre!

                Abracei-o, muito feliz. Tomei banho ainda um pouco estranha pela aliança no meu dedo, o novo acessório. Coloquei um vestido preto simples e um tênis estampado e lá fomos. Andei por várias horas, sempre me surpreendendo com os quadros, as estátuas, tudo. O Louvre era simplesmente o museu mais bonito que eu já havia visto.

                Então, parei em frente a uma estátua de um anjo sem cabeça e sem braços. A semelhança com um corpo humano era surpreendente e maravilhosa. Fiquei olhando para ela até que uma moça chegou ao meu lado e disse:

                -É tão bonito. Não é?

                Olhei melhor para a moça que estava ao meu lado. Ela tinha o cabelo escuro e meio ondulado, comprido, quase chegando ao quadril. Ela usava uma blusa cropped preta, uma calça de jeans claro com a estampa de estrelas brancas, uma jaqueta verde militar, uma ankle boot preta e um par de óculos escuros muito bonito, todo decorado, no alto da cabeça. Seus olhos escuros me olhavam fixamente. Então, um homem chegou ao seu lado e passou o braço esquerdo pela cintura dela. Vi a aliança no quarto dedo dele e dela. Eram casados. Ele tinha os olhos muitos azuis e o cabelo todo penteado para trás. Eles faziam um casal muito bonito. E, pode parecer estranho, muito estranho, mas parece que eu já conheço estas duas pessoas paradas na minha frente…