História Dark Wings - O encontro

*POV VITÓRIA*

                Tracei uma linha e fui.
                Andei até a entrada da floresta. Não era bem uma entrada, mas dava para ver o que estava acontecendo. Encontrei a camisa listrada de Jared num feixe de luz e fui até ele.
                -Cheguei
                -Cinco minutos atrasada.
                -Eu disse que sou atrasada.
                Ele riu.
                -Então, o que queria me mostrar?
                -Siga-me
                Andamos por mais um tempo até chegar à clareira. Jared então se virou, me olhou e tirou a camisa. Fiquei me perguntando o que estava acontecendo. Desviei-me dos pensamentos vendo seus músculos definidos e as tatuagens. Sim, ele era muito, mas muito bonito.
                -Queria lhe pedir algo.
                -O quê?
                Logo após eu perguntar, ele fez força e elas se desenrolaram de suas costas. Grandes, pelo menos o dobro de seu tamanho. Fortes e provavelmente rápidas, muito rápidas. Abriu-as e as esticou, como se não fizesse isso há muito tempo. Eram escuras como a noite sem estrelas, quase pretas, com as pontas douradas como uma chuva de ouro. Não havia nada torto nelas, nem cicatrizes, nem marcas, nem nada. Era como se ele nunca as tivesse usado. As asas de Jared eram apaixonantes. Fiquei boquiaberta com tanta beleza e... tanta... glória para um único momento.
                -Uau. - Foi o que consegui dizer.
                -Você me deixa envergonhado assim.
                -Você? Envergonhado? - Cheguei perto e ele as trouxe para perto de seu corpo. As toquei, as penas muito macias. - Porque abriu?
Neste momento, ele me encarou, estendeu a mão e disse:
                -Voa comigo?
                UAU. Fiquei boquiaberta de novo. Peguei sua mão, sem saber o que dizer nem como dizer além de:
                -Sim.

*POV JARED*

                Ela parecia muito feliz com a ideia. Sorriu e concordou logo de cara, o que foi muito bom. Depois de tocar as minhas asas, se afastou um pouco, tirou a jaqueta e abriu as suas. Não fez nenhum estrago na roupa. E também quase não se esforçou. As esticou. Eram lindas. Quase metade pretas e metade douradas. Bem grandes, porém esguias. Com penas longas e sem nenhum corte. Simplesmente perfeitas.

*POV VITÓRIA*

                Com as asas abertas, peguei sua mão de novo e levantei voo. Fiquei alguns centímetros mais alta que ele até que também levantou voo. Olhou-me nos olhos e disse:
                -Corrida em volta da escola?
                -Claro, mas você vai perder.
                -É o que veremos.
                Ele saiu voando muito rápido. Fui atrás, batendo forte minhas rápidas asas. Sinto o vento em meu rosto e os cabelos voando. É uma sensação maravilhosa, uma liberdade única. Abro os braços para sentir melhor o vento, mas, para ganhar velocidade, os fecho e bato as asas ainda mais forte. O encontro numa curva perto da entrada da Sword and Cross. Ele ri, muito feliz. Aproveito para ultrapassá-lo. Olho para trás e vejo-o tentando chegar até mim. Começo a planar, ciente que ganharia, então, em outra curva, dou uma batida forte e continuo na frente. Agora, o vento parece mais forte e sinto meu cabelo voando ainda mais. Me sinto tão bem aqui que poderia voar pelo resto dos meus dias. Viro na última curva, voltando para nosso ponto de encontro. Olho novamente para trás, mas não vejo Jared me seguindo. Quando olho para frente de novo, lá está ele. Abaixo a velocidade, até parar de frente para ele. Como ele é majestoso.
                -Como fez isso? - Perguntei-lhe com cara de brava.
                -Um mágico nunca revela seus truques. - Ele fez uma cara provocativa e eu fiz uma cara de "brava". - Gostou?
                -Se gostei? Eu amo essa liberdade! É A MELHOR COISA DO MUNDO! - Gritei para quem quisesse ouvir.

                Demos risada e começamos a nos olhar. Percebi uma mecha de cabelo na frente de meus olhos, e logo ele passou a mão por ela e a colocou atrás da minha orelha. Olho para baixo, com vergonha de olhar em seus grandes olhos azuis. Acabo cedendo quando ele puxa meu rosto pelo queixo. Nós estamos batendo nossas asas apenas para nos manter no ar. Tudo tão calmo. Presto atenção em seus olhos. São tão hipnotizantes. Ele me olha sem parar nem para piscar e mantém a mão que pegou a mecha em meu rosto. Então, ele se aproxima mais, e mais, e mais, me olhando nos olhos. Esses grandes olhos azuis me encaram e chegam cada vez mais perto. Um arrepio subiu pela minha espinha quando ele encostou os seus lábios nos meus. Eram macios e seu beijo fez meu corpo todo tremer. Fechei os olhos e deixei que ele fizesse o que quisesse. Ele pegou na minha cintura e me trouxe para perto de seu corpo. Peguei em seu peito e subi minhas mãos até sua nuca, sentindo seus cabelos entre meus dedos. Ficamos ali, nos beijando por alguns segundos, até que ele se soltou dos meus lábios e me olhou nos olhos.

                -O que foi isso? – Pergunto em meio a um sorriso. De repente, meu sorriso some, e ele se afasta.

                -Não foi nada. Eu não devia ter feito isso.

                Olho para ele, incrédula. Como assim? Ele desceu e pegou a camisa. Desço também.

                -Pegue suas coisas e volte para o seu dormitório. – Ainda não entendo nada do que está acontecendo, mas obedeço.

                -Nunca falaremos sobre isso. Entendido? – Agora foi a gota d’água.

                -O quê?

                -Entendido? – Ele repete, ignorando o meu protesto.

                -O que aconteceu com você? – O QUE ESTÁ ACONTECENDO?

                -Apenas diga que entendeu. – Resolvi retrucar.

                -Não digo. Qual é o seu problema?

                -Vou voltar pro meu trabalho. Licença.

                Sem entender mais nada, voltei ao meu dormitório.

*POV ISABELA*

                Cheguei ao quarto e ouvi música.

I started a joke, which started the whole world crying...

                Vitória estava lá dentro ouvindo músicas antigas. Alguma coisa aconteceu. Entrei e vi ela sentada lendo um livro. Um pouco normal.

                -Algum problema? – Perguntei.

                -Não. Nenhum. Por quê?

                -Músicas antigas. – Apontei para o rádio.

                -Você sabe que eu gosto de músicas antigas.

                -Ok.

                Me sentei e comecei a estudar enquanto ela lia ouvindo músicas antigas. Estranhamente, minha cabeça foi para outro lugar: Theo. Fiz uma cara de espanto. Nunca tinha pensado nele assim, do nada.  Pensei em como ele é mais alto do que eu e sobre a voz dele, que é muito bonita. Enquanto pensava, me apoiei na escrivaninha e fiquei pensando. Algum barulho ficou no fundo enquanto eu pensava, um barulho que não era a música. Depois, ouvi Vitória me chamando.

                -Oh cabeçuda. Para de pensar na morte da bezerra e ouve o que está acontecendo.

                Então eu prestei atenção.

Alunos, temos um comunicado importante. TODOS os alunos deve estar no refeitório em meia hora sem atraso. SEM ATRASO!