História Dark Wings - Segredos

*POV VITÓRIA*

                Vimos o beijo da mesa onde estávamos sentados. Jared já quis interferir.

                -Isso não pode acontecer. - Disse, levantando.

                -Jared, sente-se. - Peguei seu braço. - É apenas um beijo.

                -APENAS? Isso pode levar a um amor que infelizmente não pode ser cultivado.

                -Ah Jared, poupe-me. Vai me dizer que nunca amou ninguém?

                Com essa pergunta, ele me encarou. Eu sabia a resposta. Os olhos azuis faziam com que esta resposta estivesse bem clara. Era sim. Olhei-o com um olhar de julgamento e ele se sentou. Ficou quieto, porque se não fosse o silêncio, ele teria de responder a minha pergunta. Então ele resolver me acusar, terceirizar a culpa.

                -Você mentiu pra mim quando te fiz esta pergunta.

                -Você também. Você disse que nunca teve sentimentos humanos.

                Ele me encarava.

                -Acha que o chefe aprovaria isso? - Ele fez um sinal mostrando eu e ele.

                -E eu lá ligo para o que ele aprova?

                -Viu? Esse é o problema! Você continuou com essa cabeça de adolescente inconsequente por mais de 6000 anos e...

                Interrompi aquela baboseira com um beijinho. Só para ele calar a boca.

                -Eu sei que você está falando isso da boca pra fora. Você não acredita em uma palavra do que acabou de dizer. Mas eu espero o dia que você mudar de ideia. Espero que não demore mais 6000 anos.

                Pra mim, a discussão estava acabada. Eu tinha medo da desaprovação do chefe, mas eu estava me importando mais com o que eu sentia, e eu não deixaria nada nem ninguém me atrapalhar. Levantei-me, triste, e fui para o banheiro. Não queria chorar (deixaria as lágrimas para mais tarde), não queria retocar a maquiagem (foi só um selinho, não borraria o meu batom), mas eu precisava de um pouco de sossego. Sim, eu já tive discussões com ex-namorados, e uma delas não saiu como eu esperava, mas uma discussão com Jared era diferente. Eu não amava nenhum dos outros... Só ele. De repente percebi que eu queria chorar, mas eu não me permitia ter mais nenhum sentimento na frente dos outros. Entrei no banheiro, cabisbaixa, mas então vi algo que chamou a minha atenção. Isabela e um Anunciador. E ela estava quase dentro dele. Corri até ela e a puxei de volta. Caímos as duas no chão.

                -Vi, o que foi aquilo?

                -Por enquanto nada, mas amanhã você vai descobrir.

                -Como assim? Por que eu não posso saber agora?

                -Vai curtir a sua festa. Amanhã eu te conto tudo.

                Agora ela precisava saber de tudo. Jared também. Depois, nós dois pensaríamos em um jeito de contar tudo para Sophia. Levei Isa de volta para a mesa em que ela e Theo estavam sentados, e ela foi, meio arredia. Eu preciso saber o que ela viu. Voltei para a mesa com Jared, e lhe contei, sem parecer espantada.

                -Depois da nossa conversinha, eu fui ao banheiro e vi um Anunciador, com Isabela.

                -O QUÊ?

                -Calma. Pare de gritar. Ela vai perceber. Prometi-lhe que contaria tudo amanhã.

                -Nós contaremos. Juntos. – Ele pegou na minha mão, mas eu a puxei. – O que foi?

                -Já disse. Quando você acreditar que o que disse está errado, poderá acontecer alguma coisa aqui. – Fiz o mesmo sinal que ele fez antes. – Entendeu?

                -Sim.

                -Mesmo assim, quero sua ajuda para contar a ela.

                -Eu ajudo. Amanhã de manhã, na minha sala?

                -Sim.

*POV ISABELA*

                Depois daquilo, não queria saber de mais nada. Esperei a festa acabar e fui para o meu quarto, sem sequer falar com Vitória e sem trocar muitas palavras com Theo. O que me foi mostrado naquele banheiro me deixou com uma certa incerteza quanto à ele.

                Sonhei com a cena. Repetidas vezes. E quando estava naquele estado em que estamos conscientes mas inconscientes, vi Vitória me olhando de sua cama. Estava me soando preocupada. Mas não acordei para discutir. Preferi manter a turra. No dia seguinte, levantei-me, e não vi Vitória em sua cama. Achei que ela estava me evitando. Mas ela iria me explicar tudo. Hoje. Quando entrei no banheiro, vi o bilhete no espelho.

Isa, eu lhe prometi explicações de tudo o que está acontecendo. E lhe darei. Tome banho, se troque e venha até a sala de Jared. Estaremos te esperando.

Vitória

                Enfim, explicações. Resolvi seguir o que ela disse e tomei banho e me troquei. Talvez eu não quisesse saber, mas eu queria. E eu tinha quase certeza de que ela sabia da história do vulto aquele outro dia. Saí do quarto e fui lentamente até a sala dele. Cheguei na porta e ouvi um pouco da conversa.

                -Ela deve estar chegando. Acalme-se Vitória.

                -Eu prometi explicações. Quanto mais cedo eu as der, mais cedo eu tiro esse peso das minhas costas.

                -Ela já vem.

                Bati na porta. Três batidinhas. Ouvi a voz masculina lá dentro dizer:

                -Entre!

                Abri a porta lentamente. Jared estava apoiado em sua mesa, de braços cruzados e olhar sério. Vitória se virou e me olhou. Então, se levantou e se apoiou do lado de Jared. Estava usando um trench-coat nude com fechaduras pretas na frente. Estilo militar. Uma calça preta com um brilho discreto e uma ankle boot preta com fivelas. Além dos enormes anéis que usava. Era uma roupa agressiva. Parecia que ela iria enfrentar alguém. Talvez esse alguém fosse eu, e logo me senti diminuída fisicamente com meu moletom e jeans.

                -Sente-se. – Jared disse, me julgando com o olhar.

                -Só expliquem o que está acontecendo.

                -É uma longa história. Sente-se, por favor. – Disse Vitória, sem olhar em meus olhos. Sentei-me, por fim.

                -Agora podem falar.

                -Antes, diga-me o que viu. – Vitória falava mas não olhava em meus olhos.

                -Tenho mesmo?

                -Só fala. – Agora ela me olhou profundamente.

                -Bom, vi várias coisas. Primeiro, vi Theo, caindo. Então, vi uma luz muito forte e muito bonita. Vi um cabelo comprido na frente da luz. Então, vi Theo de novo, com a garota de cabelo comprido. Ele a matava. E o fez repetidas vezes, com várias garotas. Até que eu apareci. Novamente, ele me matou, com uma facada. E não hesitou, nem por um minuto. Foi tudo isso que eu vi.

                Eles se entreolharam e voltaram a me encarar.

                -Agora podem falar?

                -Isa, eu quero que você entenda que isto só foi escondido de você pois nós queríamos te proteger. Você sabe disso né?

                -Sei.

                -Isabela. – Agora Jared falava. – Você está diante de dois anjos caídos.

                -Quê? Anjos?- Era bem difícil acreditar nisso.

                -Sim, anjos caídos. Eu e a Vitória somos anjos que foram jogados para fora do Céu.

                -Duvido.

                -Bom, sabe aquilo que você viu na nossa janela? Era o Jared voando. – Vitória parecia fria. Ela virou de costas. Vi os proeminentes ossos em suas costas. Apesar da blusa grossa, eu vi os ossos.

                -Quem mais sabe?

                -A Sophia.

                -Tem mais algum anjo aqui? – Eles se entreolharam e finalmente, Vitória disse:

                -O seu amiguinho Theo.

                -O QUÊ?