Os olhos de Joseph caíram sobre o irmão, com a decepção e julgamento estampados neles. Sentiu vontade de espancar o homem em sua frente, em xinga-lo dos piores e mais cruéis nomes existentes. Não acreditava no que havia acabado de sair da boca dele.
- Você não tem que querer nada, Victor. – disse friamente.
Os olhos sombrios e misteriosos de Victor fitavam firmemente o irmão, não o reconhecendo mais como antes. Para onde havia ido toda aquela satisfação que sentia toda vez que eles saiam juntos para praticar seus poderes?
- Você matou crianças aqui. – disse.
- E daí? – Joseph respondeu com indiferença. – Os fins justificam os meios. A vadia vai morrer.
Victor sentiu uma ânsia no estomago, se sentindo enjoado com as palavras do irmão.
- Você está completamente insano! – ele colocou os olhos na garota loira assustada, em Nina. – Você a arrastou para tudo isso....
A adolescente permanecia imóvel, confusa com tudo que acontecia. Onde estava aquele doce e carinhoso Joseph que havia cuidado dela por dias? Não o reconhecia mais. Não tinha ideia do que estava acontecendo em sua frente. Seu olhar caiu sobre a mulher que morria a alguns metros dela. Sentiu uma agonia tomar conta de si.
- Eu sempre soube que você era fraco! – berrou Joseph. – Fraco! Ela merecia morrer.
- Que obsessão é essa que você tem por ela? Apenas por ela ser mais forte que você?
- Cala a porra da boca! – Joseph perdia cada vez mais a compostura. – Eu a matei! Eu vencia a filha de Lúcifer! Pro inferno que ela era forte.
Victor deslizou os dedos pela barba por fazer, se sentindo cada vez pior a cada palavra dita pelo irmão. Ele estava completamente fora de si.
- Se você a salvar, se ao menos tentar salvá-la... – Joseph encarava o irmão. – Eu mato você.
Victor franziu o cenho.
- Você é um babaca.
- E você é uma pedra no meu sapato!
Antes que Victor libertasse a fúria que tanto lutava para que permanecesse guardada, um riso histérico soou, roubando a atenção de todos os presentes. Aurora ria de maneira sobrenatural, quase medonha, enquanto ainda cuspiu sangue pela boca.
Ainda com a mão sobre o ferimento recém feito, a bruxa se levantou lentamente, para a surpresa de Joseph.
- Você é... – disse a bruxa entre risos. – Tão patético.
Tanto Victor como Joseph a fitavam incrédulos, enquanto ela andava ignorando o ferimento grave em sua barriga. Era como se para ela, não passasse de um arranhão. Sem deixar que a surpresa o deixasse sem reação, Joseph lançou a faca que havia cravado na bruxa, dessa vez em direção a cabeça da mesma. O objeto saiu cortando o ar, mais rápido do que alguém pudesse impedir.
Aurora estava tão cansada de todas aquelas caçadas, de toda aquela novela. Sentia a faca se aproximando de seu rosto, ainda coberta com seu sangue. Aos olhos de todos, a adaga se desintegrou por completo antes que atingisse a bruxa.
- Você realmente faz ideia de quem eu sou? – a voz grave saia novamente, sendo direcionada a Joseph. – O que eu sou??
O bruxo permaneceu em silêncio, a observando com uma crescente sensação de incomodo. Estava inconformado. A vadia devia ter morrido.
- Eu sou a filha de Lúcifer! – gritou enquanto se aproximava com os olhos negros. – Eu sou a herdeira do inferno. Sou descendente de sangue da primeira bruxa! E eu estou cansada pra caralho de você.
Joseph caiu de joelhos quando sentiu seu coração se contorcendo no peito, como se estivesse sendo esmagado. Aurora se aproximou do homem.
- Você vai para um lugar divertido. – falou. – Onde vai querer morrer todos os dias. Sua alma irá sofrer eternamente.
- Um pedaço de mim sempre viverá. – Joseph ainda sorriu enquanto virava o rosto em direção a Nina. – Sua irmãzinha carrega meu herdeiro.
Nina se chocou com as palavras ditas por ele, levando rapidamente a mão até sua barriga.
Aurora sorriu com escárnio.
- Ele nunca saberá da sua existência. Você será esquecido.
O sorriso de Joseph desapareceu por completo. A bruxa ergueu a mão magnificamente, e quando a puxou para si o coração de Joseph saiu de seu corpo brutalmente, indo para a posse da bruxa.
- Não! – gritou Victor em vão.
Ela esmagou com os dedos o coração ainda quente. E logo o soltou no chão, como se fosse um pedaço de lixo. A loira se virou para Victor, que permanecia sem expressão.
- Eu é quem sinto muito.
Ele a fitou, não com ódio ou remorso, mas com algum outro sentimento que a bruxa não conseguiu captar. Ele era um rio de mistérios indecifráveis.
- Agora... – ela voltou seus olhos para a irmã. – Nós vamos para a casa.
. . . . .
3 MESES DEPOIS
Massachusetts , Boston.
Aurora acordou com a cabeça latejando, como se houvesse algo pulsando loucamente lá dentro. Levou a mão até o rosto, e a esfregou sobre as têmporas. Ao seu lado esquerdo ainda dormia uma ruiva, com os seios rosados descobertos, com a perna envolta na sua. Ao seu lado direito, um rapaz de no máximo 21 anos, com o corpo nu até a cintura que estava coberta pelo lençol. Havia sido uma noite divertida.
A mulher se levantou, tropeçando em algumas garrafas vazias no chão. Agora se lembrava do porquê da dor de cabeça horrorosa. Nada que alguns remédios e um café forte não curasse.
Desceu as escadas da casa em que morou desde a infância, onde havia crescido. Já sentia o cheiro de panqueca exalando. Assim que chegou a cozinha, se sentou sobre a primeira cadeira que encontrou.
- Ressaca... – Nina tinha sua atenção voltada para a panqueca que virava no momento. – De novo?
- É a vida né... – respondeu Aurora.
Nina se virou, revelando a pequena barriga que crescia cada vez mais todos os dias. Não ficaria com a criança, isso já estava decidido. Mas abortar estava fora de cogitação para a garota, que parecia não se incomodar muito em ter uma criança indesejável dentro de si.
- Acho que vou fazer misto... Com suco. – Nina pensou alto.
Aurora assentiu. Escolha familiar, pensou a bruxa. Antes que respondesse, sentiu que o ar mudava. Os sinais. Logo, a mulher revirou os olhos.
- Sério? – Aurora se virou. – Três meses?
Agatha estava com as mãos enfiadas nos bolsos do sobretudo preto e com uma expressão séria no rosto.
- Você entra de fininho na casa dos outros? – Nina parecia confusa.
- Péssimo habito. – comentou Aurora.
Agatha sorriu, se dirigindo em direção a mesa e se sentando ao lado da amiga. Respirou profundamente, inalando o maravilhoso cheiro de panquecas feitas na hora.
- Outra orgia? – perguntou a morena com um ar de desinteresse.
- É um vicio do qual não consigo me livrar. – brincou Aurora.
- Infelizmente... – disse Nina, se virando novamente para o fogão.
- Qual é o problema? – disse a loira. – Algum novo serial de bruxas está a solta??
Agatha gargalhou.
- Não. Só quis dar uma passada mesmo....
Aurora arqueou a sobrancelha, desconfiada.
- Sei...
- Alguma noticia do submundo? – Agatha indagou enquanto se servia de uma panqueca. – Jake... Seu pai...
Aurora balançou a cabeça negativamente, dando de ombros.
- Hmmm... E aquele bruxo? – Agatha se fez de esquecida. – O Waterhouse?
A loira fitou a amiga duramente, tentando a decifrar em segundos.
- Eu matei o irmão dele, não é como se fossemos melhores amigos.
- Hm... Mas, você sabe onde ele está?
Aurora se ajeitou na cadeira, começando a ficar intrigada. Embora Agatha quisesse parecer despreocupada, não estava soando dessa maneira.
- O que houve com Victor? – disse objetivamente.
Agatha a fitou, ainda engolindo a comida em sua boca.
- Eu... Eu não sei. Ninguém sabe, na verdade.
Aurora assentiu.
- Mas se você quiser, podemos investigar. – Agatha a fitou. – É apenas uma pequena viagem de avião...
- Victor não é problema meu. Ele que se vire. – a mulher se levantou da mesa, com um sorriso no rosto. – Se me dão licença, voltarei para o meu quarto, onde terei sexo matinal.
Ela gargalhou e logo se retirou do cômodo. Nina se virou para fitar Agatha, que se encontrava parada no mesmo lugar.
- Ele a visitou não foi? – indagou a jovem.
- Todas as segundas. – Agatha a fitou.
- Quando tudo parece estar se ajeitando.... – Nina revirou os olhos e soltou o ar dos pulmões. – E lá vamos nós outra vez...
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