A solidão não era estranha a Daryl, antes de ter pessoas com quem se importar, estar sozinho fazia parte de seu cotidiano, mas o escuro e principalmente aquela maldita música o estava enlouquecendo, já não sabia nem mais a quanto tempo encontrava-se ali, mas nem se importava, pois sair significaria mais sessões de espancamento após a mesma pergunta, sempre a mesma pergunta.
− Qual seu nome?
A resposta também era sempre a mesma, e não podia ser diferente. Ele está morto por sua causa, seu amigo, ele era jovem, era bom, era como um irmão, ele não segurou o taco, aquele maldito taco, mas foi como se o tivesse feito, ele viu seu amigo ser morto de forma brutal e não pôde fazer nada, era culpa dele, ele não merecia nem a compaixão da morte, qualquer sofrimento que o impusessem seria pouco, então a única coisa que poderia fazer era responder.
− Daryl.
....
Carl já havia visto seu pai mal, mas dessa vez era diferente, a situação era generalizada, Alexandria parecia uma cidade fantasma, ninguém conversava, ninguém se olhava, as palavras trocadas eram apenas as necessárias para o funcionamento da colônia, para esperar que eles chegassem e eles sempre chegavam, quase que pontualmente...
Da primeira vez, Carl ficou ao lado de Rick enquanto ele entrava com aquele maldito sorriso no rosto, reviraram todo lugar, não havia esconderijo, o coração de Carl quase sai pela boca quando Negan pegou Judith nos braços, ele sentiu Rick enrijecer ao seu lado, ao olha-lo, seu pai estava com a cabeça baixa, aquilo só fez o ódio aumentar, se isso fosse possível. Ele tremia, tudo o que mais desejava era dar um tiro bem no meio da cabeça daquele maldito e de todos os outros, mas sabia o que estava em jogo, ele já não temia pela própria vida, mas por sua família e amigos, por Meggie que já havia perdido demais e por Daryl, seja lá o que estivesse passando, o havia transformado, Daryl parecia em estado catatônico e aquilo doía em seu peito.
Negan parecia possuir um particular interesse por ele, sempre fazendo perguntas sobre sua vida anterior, sobre sua mãe, amigos e até sua sobremesa favorita.
− Pudim de chocolate. Essa foi a resposta.
Rick o incentivava a responder da maneira mais educada possível, o que lhe custava um esforço absurdo , principalmente na terceira visita, quando Negan, com um largo sorriso no rosto, entregou em suas mãos uma lata de pudim de chocolate.
− Você com certeza não vê uma dessas a muito tempo, mas não seja egoísta, divida com sua irmãzinha.
O primeiro pensamento de Carl foi enfiar a lata no crânio de Negan até não sobrar nada além de lama no chão, mas então olhou sua irmã no colo de seu pai e pronunciou um obrigado que lhe doeu mais que os tiros que já havia levado.
Ele sabia que não suportaria aquela situação por muito mais tempo, em algum momento o sangue lhe subiria à cabeça e alguém pagaria por sua insolência, sabia que precisava fazer alguma coisa e oportunidade surgiu na quarta visita dos Salvadores a Alexandria.
Negan não estava, seus capangas disseram apenas que carregassem o caminhão e ele se juntou aos outros que começaram a por caixas em sua traseira, os salvadores eram muito confiantes no que faziam, então nem se deram ao trabalho de observá-los, Carl só precisou de dois segundos para pular na traseira e se esconder atrás das caixas.
....
Ele já estava naquela posição a cerca de trinta minutos, o formigamento dera lugar a dormência e o desespero já estava tomando conta, não ocorrerá a ele como faria para sair do caminhão sem ser visto e só restava esperar até que o momento chegasse.
Enquanto o caminhão fazia seu percurso, os homens na cabine conversavam, Carl não dera muita atenção até ouvir um deles.
− Para logo essa porra, quero mijar!
Sendo respondido, provavelmente pelo motorista.
− A gente já está bem perto, aguente.
O primeiro, mais irritado que antes grita.
− Se tu não parar essa porra agora, eu vou por o pau pra fora aqui mesmo e mijar tudo!
De acordo com o que tinha ouvido, já estava bem perto do destino, se conseguisse descer, poderia encontrar o caminho e dar um jeito de entrar sem ser visto, ao mesmo tempo em que pensava nisso sentiu a velocidade do caminhão diminuir até estacionar, sem parar para pensar de um salto se pôs em pé e afastou a lona que servia de proteção para os produtos.
Carl observou rapidamente, um homem estava afastado de costas para o carro, seria impossível correr naquela direção, na direção oposta ele seria visto pelo motorista, o desespero já o mandava voltar para o caminhão e tentar a sorte quando um barulho chamou atenção do capanga fora do caminhão, que rapidamente sacou a arma, o que fez o capanga no carro indagar o que estava acontecendo.
− Ouvi um barulho, tem alguém me observando.
− Deixe de ser imbecil, é só um errante.
Um segundo barulho é ouvido e Carl percebe que o homem no carro se moveu para o outro lado, ele jamais teria uma oportunidade como aquela, então pulou do caminhão e se enfiou na mata o mais rápido e silenciosamente que pôde.
....
Ele já havia se embrenhado na mata o máximo que era capaz sem perder a direção para onde os salvadores foram, então parou um pouco para tomar folego, foi quando sentiu uma mão tapar sua boca enquanto outra o segurava pela cintura. Pânico enviou pontadas de dor à sua cabeça.
− Calma, calma! Sou eu!
Era Jesus. Soltando sua boca e se afastando com um sorriso no rosto. Ele sempre estava sorrindo.
− Você tá louco, pensei que fosse morrer.
− Eu notei, caso você tenha se cagado todo, tem um riacho aqui perto.
− Não teve graça, o que você está fazendo aqui?
− Observando.
− Observando?
− Sim, é o que eu faço, eu saio por ai, observo as pessoas, seus hábitos, vejo como tudo funciona, foi assim que vi você naquele caminhão e percebi que precisava de ajuda.
− Então o barulho foi você.
− É, de nada por isso.
− Obrigado.
− Certo, agora vamos que vou te levar de volta pra Alexandria antes que escureça.
− Não! Eu não vou voltar agora que já cheguei até aqui.
− Garoto eu não sei o que você planeja, mas essa é uma missão suicida, a comunidade deles é muito bem vigiada, sozinho você nunca vai chegar nem perto da cerca.
− Então você pode me ajudar!
− kkkkkkk Você só pode estar ficando doido, você vai agora comigo, antes que arrume mais problema pro seu grupo.
Carl pensa, ele precisa dizer algo que o convença a deixa-lo.
− Eles estão com Daryl e só por isso nós não podemos fazer nada, não podemos lutar, se eu conseguir tirá-lo daqui nós vamos poder reagir e acabar com eles.
− Garoto, se eles levaram seu amigo lamento, mas ele já deve estar morto há muito tempo, quando os salvadores levam alguém, ele nunca volta.
− Não, ele está vivo! Sempre que vão a Alexandria o levam, ele nem se move, às vezes está sujo de sangue, sempre parado, olhando para o chão, ele precisa de ajuda.
Jesus o observa, incrivelmente não está rindo, parece ponderar a situação, finalmente pergunta.
− Daryl é aquele cara que usa uma besta?
− Sim, é ele.
Seguem-se torturantes minutos de silêncio que Carl não ousa interromper, a verdade é que esse nunca foi seu plano, se ele pudesse com certeza salvaria Daryl, mas tudo o que ele precisa é a oportunidade de encher Negan de bala, feito isso, o que vier é lucro.
− Certo garoto, veja bem, eu venho observando esses caras a muito tempo, muito tempo mesmo, conheço seus horários, seus turnos de vigilância e todo aquela local, quando seu pai se ofereceu pra nos ajudar, pensei que isso seria útil, mas não foi o caso, mas velhos costumes não vão embora e estou sempre por aqui. Hoje é o dia em que eles vão a outras comunidades, por isso o lugar está um pouco mais acessível. Tanto seu pai quanto Daryl poderiam ter me deixado enquanto estava inconsciente na primeira vez que nos encontramos, mas me levaram e seu amigo até me alimentou, não se encontra muitas pessoas assim hoje em dia. Se aceitar te ajudar, você vai fazer exatamente o que eu mandar, quando eu mandar, sem perguntas, se eu mandar correr, você corre, se eu mandar se abaixar, você abaixa, estamos entendidos?
− Sim, estamos. – Carl nem conseguia acreditar que tinha conseguido.
−Então vamos e não caga fora do caco moleque, pelo amor do meu pai kkkkkk
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