Até agora se perguntava como havia conseguido coloca-lo para dentro sem quebrar seu pescoço, ele permanecia consciente, mas não moveu um único musculo para se ajudar, parecia catatônico não fossem as expressões de dor em seu rosto. Deitou-o no beliche, puxou a única cadeira do lugar e sentou.
− Você tem algo quebrado?
*silêncio*
− Cara você precisa me dizer alguma coisa.
*silêncio*
− Então tá certo, eu vou às cegas.
Levantou e foi até o armário, pegou kit de primeiros socorros, sentou-se e chegou a uma conclusão.
− Eu sei fazer muitas coisas, mas não tenho a menor ideia do que fazer aqui.
*silêncio*
− Certo, aqui com certeza deve ter algum manual que possa me orientar, eu já ia dizer pra você ficar ai quieto enquanto faço isso, mas nós sabemos que você não vai a lugar nenhum, rs. – Nem ela saberia explicar o porquê daquele sorriso nas horas mais estranhas.
Encontrou o manual dentro do kit e o folheou sem saber exatamente o que procurar, após um minuto encontrou o capítulo sobre trauma nos olhos, leu com atenção e decidiu o que iria fazer.
− Aqui diz que eu devo lavar seus olhos com soro fisiológico pra que não infeccionem, então vou te deixar de lado na beira da cama e jogar um pouco de soro pra que não molhe tudo.
*silêncio*
− Vou entender isso como um sim.
Colocou a caixa de lado e com apenas um passo já estava perto o bastante, debruçou-se sobre Daryl e segurando seu ombro esquerdo e costas virou-o lentamente, o que não impediu que o outro sufocasse uma expressão de dor. Enquanto uma mão permanecia segurando-o pelo ombro, buscou a almofada no beliche superior e a posicionou nas costas do outro para poder ter as mãos livres.
Pegou o frasco com soro, abriu e jogou algumas gotas em seu rosto, o que não fez a menor diferente, pois a sujeira era tanta que uma crosta havia se formado ao redor de seus olhos. Percebendo que o trabalho teria de ser mais manual do que havia imaginado, pegou um chumaço de algodão, umedeceu e limpou cuidadosamente seus olhos e em volta deles. Rapidamente o algodão ficou negro e quando parou para examinar seu trabalho, não conseguiu segurar uma risada com a cena, a área limpa em contraste com o resto de seu rosto lhe dava a impressão que Daryl usava uma faixa nos olhos, semelhando a do Zorro. Acabou por limpar todo seu rosto e assim pôde perceber como estava pálido e como suas maçãs do rosto estavam pronunciadas devido ao emagrecimento.
− Você quer comer alguma coisa?
*silêncio*
− Porra! Eu to tentando te ajudar!
*silêncio*
− Essa foi a última vez que te perguntei algo, daqui pra frente vou fazendo o que achar que devo.
Foi até a pequena cozinha e na despensa pegou uma lata de sopa de tomate, esquentou na própria lata e junto de um copo d’água voltou ao quarto.
− Espero que goste de sopa de tomate.
Colocou a comida no chão, debruçou-se sobre Daryl colocando os braços embaixo de suas áxilas e o puxando da forma mais gentil que pôde, mas sentiu em seus braços quando o outro teve um espasmo de dor, mesmo assim não parou até conseguir senta-lo e encostá-lo na parede, o que fez o sobretudo que estava vestido abrir-se e dessa vez Jesus pôde ver claramente os danos que os salvadores haviam provocado em seu corpo. Na parte direita de seu abdômen havia um grande inchaço e pra onde se olhava havia hematomas, cortes e várias feridas em formato de círculo que ao perceber do que se tratavam, fizeram o estomago de Jesus revira, eram marcas de cigarro que foram apagadas contra sua pele. Ele deve ter ficado um bom tempo paralisado o observando, pois deu um pulo para trás quando Daryl puxou um lado do sobretudo para cobrir-se.
− Veja pelo lado bom, pelo que vi seu pau ta inteiro.
Pegou a lata e sentou na cama e enquanto mergulhava a colher em seu conteúdo imaginou se o outro se recusaria a comer, mas não foi o caso. Assim que a colher ficou próxima o suficiente abriu a boca, abocanhou seu conteúdo e engoliu sem mastigar uma única vez.
− Até que enfim algum progresso em?
*silêncio*
Após várias colheradas, dispensou o talher e aos poucos virou o conteúdo da lata em sua boca, rapidamente a esvaziou, além de uns goles da água, também bebidos de boa vontade. Levou a lata para a cozinha e quando voltou já sabia o que iria fazer.
− Esse inchaço ai embaixo do teu peito deve ser uma costela quebrada, os salvadores espancaram um dos nossos entregadores a alguns meses e o machucado era bem parecido, pelo que sei a única coisa que da pra fazer é tomar remédio pra dor e repouso absoluto, até banho de esponja da mulher o cara levou na cama. Vou ver o que tem aqui pra dor, te dou e quem sabe tu consegues dormir algumas horas.
Examinou os armários e descobriu que ali havia remédios para as mais variadas situações, desde picada de cobra, dor de barriga à queimaduras de segundo grau. Pegou dois comprimidos para dor e um para dormir, aquilo com certeza o derrubaria.
− Toma aqui, esses remédios vão te ajudar.
Colocou os comprimidos em sua boca sem objeções, deu-lhe água e o deitou novamente.
− Agora você dorme e eu vou fazer o mesmo.
Tirou o gorro e pulou para o beliche de cima, mas ao deitar a cabeça no travesseiro seus olhos permaneceram abertos e ele não sorria.
....
Acordou sentindo que lhe tocavam o corpo, o pavor imediatamente o dominou e ao tentar se desvencilhar sentiu ondas de dor irradiando da perna e costelas, a agonia foi tão grande que não conseguiu segurar um urro desesperado.
− Calma, calma! Sou eu, Jesus, você ta seguro, fique parado.
Tão rápida quanto a dor que o dominava, foi o alivio de lembrar que não estava mais em poder dos salvadores e quase se permitiu estar feliz. Mas então percebeu que o sobretudo que o cobria estava aberto deixando-o completamente exposto. Tentou imediatamente se cobrir, mas foi impedido.
− Você não tem nada aqui que eu também não tenha e se ficar quieto termino antes que comece a gostar.
Desejando que a dor diminui-se e que aquela situação vergonhosa acabasse o mais rápido possível, ficou parado e esperou. Enquanto isso Jesus limpava as áreas com cortes e queimaduras, o que doía, mas nem se comparava a perna e a costela ou ao braço baleado, que a muito tempo deixara de incomodar. Após limpar cuidadosamente, pegou uma pomada e com o dedo aplicou sobre cada queimadura.
− Cara você ta dormindo há quase dezessete horas, pensei até que estivesse morto e olhei algumas vezes se tava respirando. Teus olhos desincharam bastante, assa sua perna ta muito feia, provavelmente ta quebrada ou deslocada, tem que colocar uma tala e imobilizar o mais firme possível e isso vai doer pra caralho.
Ele entendia a violência de Negan e os salvadores e sabia como reagir a ela, mas não compreendia esse cara que o ajudava sempre com um sorriso no rosto, lembrava-lhe quando Carol foi vê-lo depois daquela tentativa frustrada de encontrar Sophia ou quando Rick o chamou de irmão, esse tipo de consideração não existia em seu antigo mundo.
Observou enquanto Jesus ia de um lado para o outro com aquele manual na mão pegando coisas no armário, ocasionalmente lhe lançando um sorriso e novamente voltando a atenção para o manual. Sentiu que deveria dizer algo, mas palavras nunca foram seu forte, por mim decidiu-se.
− Obrigado.
− Caralho! Até tomei um susto aqui, mas não agradeça, você vai querer me matar assim que eu tocar nessa tua perna.
Equipado com um atadura, fita adesiva, tesoura e um pedaço de pau, Jesus novamente o sentou encostando-o na parede, puxou o sobretudo o mais alto possível sem deixa-lo nu e limpou sua perna o mais delicadamente, o que não inibiu os espasmos de dor que começou a sentir e fizeram todo seu corpo tremer.
− Presta atenção, agora eu vou colocar esse pedaço de pau aqui e envolver tua perna com as ataduras o mais firme possível, se tua perna estiver deslocada isso vai coloca-la no lugar, vai doer pra caralho e por mais que eu acredite que esse lugar é a prova de som, vou por esse pedaço de gaze na tua boca pra tu morder.
Teve sua perna apoiada na cadeira e começou a sentir a dor mais excruciante de toda sua vida, cada volta que Jesus dava com a atadura era uma facada em sua perna. A dor o estava sufocando, mordeu a gaze, mas não foi suficiente, procurou algo para segurar como o naufrago a um colete, mas não havia nada além de Jesus, então segurou seu braço e apertou com dez vezes mais força do que ele apertava sua perna. Por um segundo olharam-se e Jesus fez um movimento de pressão que provocou um som de osso batendo em osso ecoar pelo lugar e a última coisa que Daryl viu, antes de tudo se apagar, foram grandes olhos azuis.
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