História Das partículas de vidro que refletem o teu céu - Capítulo Único.

“Waiting in the car,

Waiting for a ride in the dark,

The night city grows,

Look and see his eyes, they glow.”

Estar com eles fazia toda a diferença.

Jimin dormia entre Jungkook e Taehyung no banco traseiro, os três abraçados como se fossem um só. Jin dirigia tão bem que foi escalado como nosso piloto de fuga. Namjoon, seu fiel escudeiro, dava sinal para que ele acelerasse ainda mais. Embora parte de nós dormisse, a noite ainda não havia acabado. Correndo pelas avenidas de Seoul, atrás de uma liberdade que não nos era rotineira, eu ria das graças de Hoseok, que optará por viajar na caçamba da caminhonete junto comigo.

Faltavam poucos meses para que cada um seguisse seu próprio caminho, caminhos distintos, todos em busca de um futuro de realizações. Eu nunca fui o mais sentimental, mas prometi a mim mesmo aproveitar e guardar o máximo de todos aqueles momentos, eles jamais iriam voltar.

— Você não tem medo? - Falei alto contra o vento. Os fios verdes e recém pintados, vez ou outra, tapava minha visão.

— Medo de quê? - O Jung sorriu divertido, esperando que eu continuasse a compartilhar meus pensamentos. Não era sempre que acontecia, mas nesses momentos ele era sempre receptivo.

— De ficar sozinho…- Pausei em busca de palavras - Todos terão um caminho a seguir, não tem medo de ficar pra trás? Vamos todos nos separar…

Ele não respondeu. Ao invés disso deu-me o maior sorriso e o olhar mais brilhante que possuía, e então, desviou-se para as estrelas que pareciam nos seguir. Aquilo me incomodou, ele me incomodava, com uma frequência incrível. Rolei os olhos.

— Idiota.

Ele se aconchegou um pouco mais perto, puxando algumas mechas - tão negras quanto aquele céu - do próprio cabelo, e num sussurro, explicou-me:

— Hyung, independente de que parte do mundo estivermos, o céu será sempre o mesmo. - Fechou os olhos e continuou assim. Sereno, como era poucas vezes.

Sua frase-incógnita e aquela aura esperançosa me deixavam ainda mais irritado. Ele era a merda de um otimista. Era impossível que eu, Min Yoongi, visse o universo da mesma forma que ele, sequer tentar entender sua mente já era uma afronta a minha zona de conforto. Terminei o líquido que restava em minha garrafa e me ajoelhei sob o cobertor que forrava a lataria, me posicionei, em direção ao lado oposto ao que corríamos.

Era uma metáfora em tempo real, a noite se afastava rápida como o túnel que havíamos passado. Eu contava inconscientemente os segundos para que todo aquele alívio acabasse, eu era a droga de um pessimista.

Girei a garrafa entre os dedos, o álcool removia a censura que meu consciente insistia em impor. Num único movimento de impulso, atirei a garrafa no asfalto, o vidro estourou em milésimos de segundos, mas eu o enxergava em câmera lenta. Seguindo seu percurso, enchendo o ar e o chão de partículas brilhosas, refletindo as luzes da cidade, refletindo meus medos e as estrelas de Hoseok.