História Dasies for Violet - Mês 01 - O Começo

Você já parou pra pensar que a vida nem sempre é baseada em escolhas? Você não escolhe se vai chover ou não, se vai ficar doente ou se o leite vai estragar. Mas eu gosto assim. Tem coisas absurdamente surpreendentes que eu não gostaria de ter escolhido, como conhecer Logan Frost. Eu não o escolhi porque ele veio pra mim, e eu não me arrependo. Outra coisa que eu não escolhi foi o meu maldito câncer, isso sim eu me arrependo, mas eu não ficaria triste pela minha doença crônica, afinal, não há muito que se fazer. Mas isso não é uma historinha de medicina, é só mais um romance clichê com um final inesperado. Não é tão interessante quando um livro de cálculos ou química, mas é interessante. A minha vida é tão imprevisível quanto as cores das asas de uma borboleta.
Era inicio das aulas, a época que eu mais gostava. Desde pequena sempre gostei de matemática e matérias envolvendo exatas, talvez seja por isso que eu sempre era a “nerd”. Eu estava pronta para mais um ano de paradigma. E teria sido assim se o Dr. Halk, meu professor de história, não dissesse as seguintes palavras:

— Bom dia turma – disse como se estivesse enjoado da nossa cara antes mesmo de começar o ano – temos um aluno novo. Logan, pode se apresentar?
E então um garoto loiro, alto, e de cabelos bagunçados se levantou e caminhou até a frente da turma. Exacerbadamente lindo.
— Ah... Meu nome é Logan Frost, tenho 18 anos. Meus pais se mudaram recentemente pra cá. Pelos meus estudos. – Ele falava em quanto observava a sala arejada, que tomou um brilho a mais quando ele sorriu.
Dr. Halk pediu que ele se sentasse ao lado de Luke, um ruivo sardento do qual eu não tinha muita proximidade. Ainda não sei se é coisa da minha cabeça, mas tive a impressão de que ele havia sorrido pra mim. Tudo bem. É só um garoto.

A aula se seguiu lenta, Logan olhava bastante pra trás, por algum motivo. Descartei a hipótese de que ele estava olhando pra mim. Ao que percebi, ele era de humanas (pelas inúmeras questões que ele acertava), e anotei isso no meu caderno, não sei o porquê. Eu estudava na mesma escola havia três anos, os alunos já estavam acostumados com a minha fragilidade e o meu lindo e mortal câncer no fígado. Nunca sofri com isso, pelo menos, não com os outros.
O sinal do intervalo bateu e todos nós saímos. O terceiro ano do high school está passando, dá licença.
Já era de costume eu passar os intervalos sozinha, estudando em um dos banquinhos ou simplesmente lendo. Vi que Logan e Luke tinham se simpatizado bastante. Ok. Abri o meu caderno quando de repente uma dor horrível e torturante apareceu na minha barriga. Não me lembro muito bem, apenas me recordo de ter caído no chão e depois de uma imensa tela preta. Sabe aquela tal “luz no fim do túnel”?  Cara, ela não existe

***

— Tá se sentindo melhor?

Parecia que eu tinha fumado um baseado. Eu estava muito tonta. Demorou um tempo para que a minha visão se fixasse e percebesse que eu estava numa cama de hospital com zibilhões de aparelhos em mim. Ah sim, Logan Frost estava lá também.
— Deus, o que aconteceu? – Sinceramente, eu não me recordava de nada.
— Você desmaiou no intervalo, eu peguei você no colo e levei para a diretoria. Seus pais foram te buscar. Peguei suas coisas pra você. Ah, seu cabelo é lindo. – Comentou, olhando para meu cabelo ruivo.
Demorei um pouco para assimilar.
— E como você chegou aqui? Tipo, como deixaram você entrar?

— Ah essa foi a parte fácil. Foi só eu dizer que eu era seu namorado.
Ok, tudo bem. Mas que inferno está acontecendo?

— Você o que?! – Levantei o tom de voz. Talvez eu não devesse ter feito isso num hospital.

Ele não falou nada, apenas pegou o meu caderno de Adventure Time e começou a folhear até parar em determinada página.
— “Loghan Frost parece ser legal. Ele é de humanas, pelo que pude perceber. É lindo também.” – Minha pele branca avermelhou como a brasa de um cigarro. – Desculpa Violet Morghan, mas meu nome não tem “H”.

Levantei-me o mais depressa possível para pegar o caderno de volta, mas meu corpo e as máquinas não permitiram que eu concluísse a ação.
— Cara, você tá péssima – reagiu Logan – deita aí e descansa.
— Por que tá fazendo isso? – Ele não entendeu, então prossegui. – Porque você tá se preocupando comigo? Não que eu não goste, mas é que você nem me conhece.
— Violet Morghan – suspirou – estudante do terceiro ano, 17 anos de idade. Estuda na Swift High School à três anos. Tem câncer no fígado, é de exatas e tem um sorriso lindo.

E então eu sorri.
— Isso não é tudo sobre mim.
— Então me conte. – Fofo.

— Bom... Eu fui diagnosticada com oito anos com essa coisa aqui no meu fígado. Desde então minha gasolina é à base de remédios, quimioterapias, consultas de rotina e sei lá...
— Você é bem legal. Considerando que quase morrer é bem legal.
Nós dois sorrimos. Ele era um cara legal.

Nós conversamos por bastante tempo sobre bastante coisa. Até que ter uma recaída não é tão ruim quando se tem alguém pra conversar, mas algo persistia em dizer que ele não deveria estar ali.

— Olha, eu tenho que ir embora – ele anunciou, ainda sorrindo – espero que você melhore.
Então ele segurou na minha mão. Estava gelada, colidindo com o calor das mãos dele. Seus olhos verdes correram das nossas mãos juntas até os meus, observando fixamente meu rosto e depois sorrindo com o canto da boca. Ele se levantou, beijou a minha testa e, sem se afastar, pronunciou aquelas palavras com sua voz doce e mórbida.
— Até logo Violet Morghan.

Logan se levantou, mas, antes que ele pudesse sair, o segurei e sorri.

— Até logo Logan Frost.

Depois de alguns dias os médicos me deram alta. Disseram que foi uma recaída, mas que eu aparentava estar melhor, não me deram muitos detalhes. Eu não estava muito interessada em saber.

 Logan me visitara todos os dias em que eu passei na UTI, meus dias entediantes se tornaram bem mais legais, ele me dizia o que havia acontecido nas aulas e levava os trabalhos que eu tinha perdido. Não houve um dia em que ele não me trouxe flores, ele era realmente um cara legal. Eu decidi que iria dar uma chance pra ele (caso ele quisesse, é claro), porque ele não parecia ser o tipo de garoto que quebra corações frequentemente. E ele parecia mesmo gostar de mim...
A minha escola não era exigente com uniforme, então fui com uma calça jeans rasgada, meu All Star vermelho, uma blusa branca e um casaco de couro que eu adorava. Pra uma neerd, eu parecia muito mais com uma bad girl. Também usei uma touca preta escrito “never mind” nas bordas e um batom vinho escuro. Sim, eu estava acostumada a ir vestida assim.

A cidade de Júpiter, na Flórida, na maioria das vezes era bem quente mas, naquele dia, estava nublado e em uma ameaça constante de chuva. E foi assim, com um vento leve no rosto, que Logan me encontrou no portão da escola.
— Violet! – ele me abraçou, me deu um beijo nas minhas bochechas rosadas e segurou minha mochila pra mim. – Senti saudades.
— Mas você me encontrou ontem no hospital – rebati.
— Nem um milhão de anos é muito perto de você, Violet Morghan – corei.
Caminhamos até a sala em quanto conversávamos e, quando chegamos na sala, todos nos observavam: estávamos atrasados.
— O casal quer fazer o favor de se sentar? – Lorraine, a professora de literatura, pronunciou em quanto a sala cochichava. Sempre foi a professora mais chata.
Nos sentamos e ela começou a falar sobre o estilo barroco e artistas Italianos dos qual não me recordo o nome, a aula se seguiu entediante até que o sinal do intervalo tocou.
 

Eu estava conversando com Logan no campo quando ele me perguntou.

— Violet, você já foi no Inlet Light?
— Hum, o farol vermelho na Captain Armour's Way?
— Exato.
— Não, nunca.
— O que acha de ir comigo? – Ele disse, colocando uma mecha do meu cabelo atrás da minha orelha.
— Tipo um encontro?
— Não Srta. Morghan. – Disse sorrindo. – É exatamente um encontro. Eu estava pensando... Em te levar lá pra ver as estrelas a noite. O que acha? – Disse passando a mão na minha cabeça.
— Eu acho ótimo – sorri.

Meu coração acelerou e minhas mãos começaram a suar, então tentei disfarçar o nervosismo. Ele sorriu como se fosse uma criança que acabara de ganhar um sorvete de duas bolas. Então pegou uma margarida plantada no chão e colocou no meu cabelo.
— Ah, claro! Esqueci de uma coisa – Logan se levantou e me ajudou a levantar – Violet, eu recebi o meu pagamento ontem e eu queria muito te dar um presente.
— Um presente?
— Isso, um presente. Me espera na sua casa hoje às três horas, eu vou te levar em uma loja. – Beijou a minha bochecha com pressa – Tenho que ir Violet, até hoje a tarde. Eu te amo Violet.
... Ele o que? Fiquei parada segurando minha mochila e vendo Logan correr pra longe, assimilando o que ele tinha acabado de dizer. Ele era fofo, mas meio louco.

***

Ansiosa. Era a palavra que me descrevia no momento. 13:49. Eu estava vestida com uma regata cor vinho, saia cinza e All Star preto. É, eu tinha uma coleção inumerável de All Stars. Meu coração gelou quando ouvi a campainha tocar e desci correndo as escadas, abri a porta com pressa e me deparei com Logan olhando fixamente pra mim.
— Você está linda.
— E você tá babando – rimos.
Ele segurou a minha mão e me girou, como numa dança.
— É, tá perfeita. Vamos? – Eu estava pronta para responder até que minha mãe nos interrompeu.
— Oi! Você é o Logan, não é? Ouvi muito sobre você! Você é aquele menino que estava no hospital aquele dia não é? Você namora a Violet?
Naquele momento eu estava procurando um buraco pra enfiar minha cara.
— M-mãe nós não namoramos – eu disse.
— Só ela pensa assim – Logan falou, me deixando com mais vergonha ainda.
— Ahh como ele é fofo! Violet não deixa esse escapar. – Minha mãe disse quase gritando.
— Mãe! V-vamos Logan – empurrei ele para fora de casa e fechei a porta – o que foi isso...?
— Adorei a sua mãe. – Ele disse e eu dei um soco de leve no ombro dele.
— Vamos sair daqui antes que ela venha atrás de nós. Então, pra onde vai me levar?
— Feche os olhos – fechei com um pouco de anseio e ele foi me guiando até que me permitiu abrir os olhos.
Estávamos  na frente de uma loja de roupas e ele me arrastou pra dentro segurando minha mão.
— Violet, você sabe que eu sou incrivelmente lindo não é? – disse ele.
— Ahhh! Claro. – Falei com sarcasmo, mas ele realmente era lindo.
— Bom, eu gosto que pessoas lindas andem comigo, pra combinar sabe? Por isso que eu ando com você. Chegando ao ponto, eu sei que você não gosta de vestidos mas eu gostaria muuuuuito de te ver vestida com um.
— Logan, não. – Neguei diretamente.
— Por favoooor! – Falou afinando a voz e piscando os olhos. – Faça isso por mim Violet! Você vai dizer não pra essa carinha?
Eu ri. Mas ri muito mesmo, sabe? Por fim, aceitei a oferta, já que ele estava se oferecendo para me dar um presente e queria muito que eu aceitasse. Eu experimentei vários vestidos, de várias cores, de vários modelos até que um deles pareceu agradar tanto eu quanto Logan. Era um vestido cinza feito de renda, sem mangas e com algumas perolas azuis na gola.
— Eu não costumo gostar de vestidos. Mas esse é muito lindo.
— Você é linda Violet... – Ele disse de uma forma tão sincera e apaixonada que pude realmente sentir a verdade nas suas palavras, seus olhos vidrados em mim brilhavam de uma forma incrível, me deixando sem graça.
— Er... Você vai levar esse? Parece ser caro – tentei mudar de assunto, procurando a etiqueta do vestido.
— Não se preocupe com o preço. Eu escolhi uma sapatilha pra você, espero que não se importe, achei que combinava com o vestido.
Ele pegou um par de sapatilhas azuis da cor das pérolas do vestido e me deu.
— São lindas... – Disse calçando os sapatos, então o abracei repentinamente. – Obrigada Logan... Ninguém nunca foi tão gentil comigo.
Me afastei dele então ele segurou meu rosto com suas mãos, deu um sorriso brilhante e juntou nossas testas.
— Violet Morghan... Eu acho que estou apaixonado por você. – Meu coração bateu mais rápido e senti minha pele corar – Em quando estivermos vivos, eu estou disposto a fazer o que for preciso pra ver você sorrindo.
Eu sorri e o abracei. Percebi que as vendedoras da loja haviam se afastado de nós, mas tudo bem. Logan era o tipo de garoto que valia a pena esperar.

***

Depois de comprarmos o vestido e as sapatilhas, Logan me levou pra tomar sorvete e me levou em casa. Ele não me deixou pagar absolutamente nada, mas pediu que eu fosse com aquela roupa para o farol. Eu gostava muito dele. Não. Eu amava Logan e mesmo que nosso tempo juntos tenha sido muito curto, eu o conhecia o suficiente pra saber que eu queria leva-lo pra vida toda.