História Day After Day - Daseot

Na noite passada, Jeon havia colocado seus áudios para serem transferidos para seu computador após contar animadamente — o que não acontecia a três anos — para Hoseok as novidade. Antes de deitar, o moreno colocou seu celular para despertar, com um pequeno aviso para lembrá-lo que devia se encontrar com o doutor. Após terminado, Jungkook se deitou e pôde, então, relaxar seu corpo e se permitiu dormir.

Porém, Jeon não contava com a falta de luz durante seu sono.

No dia seguinte, Jeon havia acordado depois que o despertador fez um enorme barulho ecoar por seu quarto. O moreno coçou os olhos para poder se acostumar com a claridade e, logo após, deslizou o dedo sobre a tela do seu celular, o desbloqueando e vendo o recado. Jungkook colocou seu celular em cima de sua mesinha novamente e olhou para o relógio a sua frente. Eram exatamente seis horas da manhã quando o moreno deu um "pulo" para fora de sua cama e foi, rapidamente, até a janela. Observou o local e deu pequenos passos para se afastar da mesma.

— Não estou em Busan? — curioso,  Jungkook se aproximou da janela novamente, e viu uma movimentação ao redor do prédio onde ele estava. — Seul? O que eu vim fazer aqui?

O moreno estava assustado com o fato de não estar em sua casa. Ele se afastou totalmente da janela e observou o quarto onde se encontrava. As paredes eram em um tom acinzentado e combinavam perfeitamente com o piso preto no chão. Havia uma enorme cama a sua frente, com uma mesinha ao lado. Havia um pequeno papel em cima da mesma. Ele caminhou até o local e o pegou, lendo-o rapidamente.

"Ouve os áudios no computador. Você entenderá tudo."

Quando eu fiz isso?

Jungkook se assustou ao ver que aquela era sua letra e, mesmo assim, ele se virou, podendo ver um grande guarda-roupas e, ao canto direito, uma pequena mesa com um computador.

Aquele não era seu quarto. O quarto de Jungkook não era assim. Seu quarto tinha mais… Vida.

— O que está conhecendo? Como eu cheguei aqui? — Jeon sussurrou para si mesmo enquanto tentava achar algum áudio em seu computador.

O moreno ouviu o toque de seu celular e correu até o mesmo. Desbloqueou o mesmo e viu o nome escrito na frente. Hyung.

— Já está saindo? — Hoseok nem mesmo esperou que ele falasse alguma coisa e se pronunciou. Afinal, ele estava saindo de casa a caminho do consultório.

Ele havia se oferecido para ir com o moreno, mesmo depois que o mesmo agradeceu e lhe disse que não precisava de companhia, que poderia ir sozinho.

— Não, Hyung— Jeon passou os dedos por entre seus cabelos e foi até o computador, à procura dos tais áudios. — O que eu estou fazendo em Seul?

— Você ainda não ouviu seus áudio?

— Não, não estou achando nada.

— Procura direito, Jeon. Você sempre transfere tudo para esse computador.

— Ok, eu vo… Achei! — Jungkook gritou quando encontrou um pasta chamada Day After Day e clicou sobre a mesma.

— Ouve os áudios e depois se arruma. Não demore muito, estarei te esperando.

— Pode deixar. Até mais.

A ligação foi encerrada e Jungkook colocou o celular sobre a mesinha. O moreno voltou a fitar a tela de seu computador e viu apenas um áudio escrito motivos. Jeon clicou sobre o mesmo e esperou alguns segundos até sua voz ecoar por entre seus ouvidos.

—  Hoje é treze de Março e estou em Seul. Não estou mais em Busan.
Há três anos atrás, eu sofri um acidente de carro em Busan. Hoseok achou melhor que eu fosse para Seul, pois seria melhor para o tratamento. Passei três meses em coma depois do acidente, e quando acordei, descobrir que estava com Síndrome de Goldfield*. Um trauma cerebral onde a pessoa tem dificuldade ou incapacidade de se lembrar de eventos recentes, mas consegue se lembrar, quase que perfeitamente, de eventos ocorridos antes do trauma cerebral. Ou seja, amanhã você terá que ouvir esse mesmo áudio. Jeon, Lembre-se de fazer sua corrida matinal, ordens do doutor Kim. Não se esqueça de passar na cafeteira Aqua hoje a noite, às dezenove horas. A senhorita Lee Sol está querendo conversar sobre o livro. Lembre-se de não falar para o Hope que ele deve encontrar alguém, pois ele está casado com o Kim Taehyung. Não implique com ele. Ele é um cara legal e se você encontrá-los, pergunte pela SunHe. Ela é sua sobrinha. Hope e Tae adotaram-na no fim do ano passado.

Jeon fechou o áudio e "revirou" seu computador, à procura de mais alguma coisa, mas só o que encontrou foi o nada.

O moreno se levantou e caminhou até seu banheiro. Adentrou o mesmo, já retirando as peças de roupa do seu corpo e foi até o box, ligando o chuveiro logo em seguida. Jeon  saiu do banheiro com uma toalha em volta de seu corpo, um pouco abaixo da cintura,  e parou em frente ao seu guarda roupas. Jungkook havia visto que estava um pouco nublado, e assim que saiu do banheiro, sentiu um vento gélido tocar as partes descobertas do seu corpo, então ele optou por uma roupa de frio. Calça jeans preta, uma camisa de mesma cor, um sapato marrom, que ia até um pouco acima de seu tornozelo e um sobretudo da mesma cor do sapato. O moreno passou a escova em seus cabelos e, logo depois, "bagunçou" os mesmos com seus dedos. Jeon deu uma última olhada no espelho e pegou suas chaves, colocando-as em seu bolso e, logo em seguida, saindo de casa.

— Você está atrasado! — Jungkook ouviu a voz de Hoseok do outro lado da linha, assim que o mesmo atendeu a ligação do ruivo.

— Já estou a caminho — o moreno observou as horas marcadas no painel de seu carro. — E ainda estou no horário.

— Para mim, você está atrasado. Cheguei primeiro que você, e olha que sua casa é mais perto daqui.

— Ok, ok.

— Venha logo.

Jeon jogou o celular sobre o banco do carona e voltou a prestar atenção na pista a sua frente.

O doutor Kim era considerado o melhor médico de toda a Coréia. Ele era respeitado onde quer que fosse. Jungkook sabia bem o caminho até o seu consultório, não só porque, há três anos, ia até lá, mas porque Kim Liet era o médico da família. E Jeon já tinha ido a Seul várias vezes em seu consultório, antes da doença.

— Finalmente! — Hope se levantou da cadeira onde estava. — Vamos?

— Não, você fica — o moreno apontou o dedo para seu Hyung e, logo depois, para si mesmo. — Eu entro.

— Sério isso? — o ruivo arqueou uma sobrancelha e cruzou os braços. — Vai logo!

Jeon se virou, caminhando para a sala do doutor Kim, mas ainda pôde ouvir Hoseok dizer "você é um péssimo dongsaeng". O moreno sorriu com os dramas de seu irmão mais velho e deu três leves batidas na porta, antes de adentrar a sala.

— Como tem passado, Jeon — doutor levou seu olhar, que antes estava sobre um livro, e fitou o moreno sentar em uma cadeira a sua frente. — Já faz quase três meses que você não vem aqui.

— Deveria ter vindo? — Jungkook se questionou, tentando lembrar se ouvira algo em seu áudio hoje mais cedo.

— Não, são apenas revisões. Para sabermos o que está se passando em seu cérebro — Kim Liet se levantou de sua cadeira. — Vamos? Precisamos fazer uma ressonância magnética.

— Então, Liet… — Jeon se sentou na cadeira novamente. — Houve alguma mudança?

Haviam terminado de fazer a ressonância e o doutor Kim voltou para a sala com Jeon, após o mesmo colocar suas roupas. Kim Liet havia colocado umas imagens do cérebro de Jeon sobre sua mesa. O moreno até tentou entender algo, mas foi em vão.

— Sinto muito, Jeon — ele negou com a cabeça e voltou a observar as imagens a sua frente. — Não houve nenhuma mudança.

— Já era de se esperar — o moreno riu nasalado. — Não sei porque criei alguma esperança — sussurrou bem baixinho,  mas o suficiente para que o mais velho pudesse ouvir.

— Eu andei pesquisando, Jeon. Pode ser que tenha uma cura! Não posso te dar detalhes do procedimento, porque seria antiético da minha parte, mas não desista, ok?

O moreno assentiu e se despediu do doutor antes de se levantar e caminhar para fora do seu consultório.

— Como foram as coisas lá dentro? — Hoseok o interrogou assim que o moreno apareceu na recepção.

— O mesmo de sempre. Nada mudou — caminhou para fora do consultório.

— Você vai ficar bem, Jeon. Eu sei que vai! — Hoseok levou seus braços até os ombros do mais novo, abraçando-o de lado. — Vamos lá para casa? — o ruivo fitou seus olhos e, quando viu que o moreno iria recusar, o mesmo tratou de fazer sua melhor aparência fofa. — Por favor, Kokkie?

— Ah, vamos logo.

— Tio.

SunHe correu até o moreno e agarrou a perna do mesmo.

Jungkook nunca foi bom em lidar com crianças, então ele apenas acariciou os cabelos negros da baixinha e sorriu minimamente. Por mais que ele quisesse ter algum afeto em relação à sobrinha, ele não sentia nada quando ela se aproximava dele. Querendo ou não, ela era uma estranha para ele a cada dia.

— Você nunca mais veio aqui. Senti sua falta — a morena estendeu os bracinhos para que Jungkook pudesse pegá-la no colo, e assim ele o fez. — Appa, o omma não me deixou comer doce.

— Ainda está muito cedo para comer doce, meu anjo — Hoseok abriu a porta e a fechou após Jeon adentrar a mesma.

— Mas, appa, são oito horas — a garota o olhou tristonha.

— Já tomou café? — o ruivo se sentou no sofá ficando de frente para Jeon, que ainda estava com SunHe no colo.

— Já, sim! Jão com leite — a morena sorriu. — Posso?

— Pode. Só um, ok?

A garotinha assentiu.

— Me espera, tio? — ela se virou para Jeon e o mesmo assentiu. — Omma.

A garota saiu correndo para a cozinha atrás de seu omma.

— Você se tornou um ótimo pai, Hyung — Jeon fitou o mais velho.

— Eu sei — sorriu. — Você também será um ótimo pai, Jeon.

O moreno negou.

— Não sei lidar com crianças, você sabe disso.

— Isso muda, Jeon — o moreno negou novamente. — Muda. Pode ter certeza que muda.

— Tio — a garotinha voltou da cozinha correndo e subiu no sofá, sentando ao lado de Jeon, e lhe estendeu a mão que estava com um chocolate. — Toma, eu pedi um a mais ao omma.

Jeon olhou para Hoseok e o mesmo assentiu com a cabeça, para que ele pegasse.

— Obrigado.

Jeon passou o resto do dia na casa de seu irmão. Taehyung saiu da cozinha assim que ele terminou de organizar as coisas e foi para a sala onde estavam todos.

Jungkook sempre admirou seu irmão, e essa admiração só crescia a cada dia. Ele queria ser como Hoseok: forte.

Coisa que ele já havia perdido a um tempo.

O moreno se jogou sobre a cama, exausto, após tomar um relaxante banho e se enrolou sobre o cobertor, podendo fechar seus olhos e descansar totalmente.