Os olhos cor de pérola que passeavam pelo local se admiravam com a beleza do mesmo. Quando havia visitado a cafeteria no dia anterior não havia reparado em sua decoração. Era muito aconchegante e Hinata sentia que poderia morar ali sem nenhum problema.
A cafeteria não era grande. As paredes eram de um tom de café, exceto por uma que era preta e se encontrava cheia de rabiscos de giz e nesta encontrava-se um sofá com algumas almofadas que ocupava toda a extensão da parede com pequenas mesas de madeira clara na sua frente. Poucas mesas e um balcão ainda decoravam o local. Quadros, molduras vazias, prateleiras com objetos decorativos e até mesmo uma placa escrito "STOP" faziam parte da decoração. Era uma mistura de rústico, vintage e moderno que agradava ao olhar.
Enquanto a morena se admirava com o ambiente, Naruto reparou nela com atenção. Hinata trajava um vestido claro repleto de pequenas flores que ia até metade da coxa e um sobretudo marrom por cima. Observando o coque mal feito que deixava alguns fios soltos emoldurando o rosto alvo, apenas uma palavra lhe veio à mente. "Adorável". Riu baixinho de si mesmo. "Adorável? O que está acontecendo com meu repertório de elogios?"
– O que achou da cafeteria?
A morena se surpreendeu com a pergunta repentina e lhe encarou corando com a ideia de o loiro a estar observando enquanto admirava o local.
– M-Muito bonita e aconchegante. M-Me lembra cafeterias em filmes. – O loiro soltou um riso baixo e a Hyuuga se dirigiu lentamente aos bancos que se encontravam em frente ao balcão.
– Tanaka-sama viajou por muitos países. Ele diz que o café é uma paixão universal e não há companhia melhor. Por isso o nome Amai Kaisha.– enquanto falava, se dirigia à parte interior do balcão. Abriu uma gaveta e retirou um broche que continha seu sobrenome. – E então, senhorita, o que deseja?
– C-Como?
– Suponho que veio até aqui com a intenção de tomar algo... – arqueou uma sobrancelha. – Certo?
– A-Ah, claro, c-claro. – na tentativa de disfarçar seu embaraçamento por este não ser o real motivo de sua ida, falou sem pensar. – E-Eu gostaria de um chá de m-morango e framboesa. P-Por favor.
– Aqui não vendemos chá, senhorita.
Hinata arregalou um pouco os olhos e corou mais. Antes de pensar em algo para pedir, Naruto se dirigiu à máquina de café e começou a fazer algo. A morena apenas se permitiu calar e observar em silêncio o Uzumaki. Poucos minutos depois o mesmo se virou para a Hyuuga e depositou uma xícara e um pires com uma colher de lado.
– Aqui está seu caffè macchiato. É o meu preferido.
O líquido marrom claro estava manchado por vários círculos mais claros e Hinata parecia tentar decifrar o que significava aquilo.
– Ei, ei. Eu ainda estou aprendendo a desenhar, não repare nisso, ok? – falou um pouco envergonhado e fez a Hyuuga soltar um risinho. – Isso é difícil, poxa.
– T-Tudo bem. Ficou até... i-interessante. – tentou confortar o loiro, mas foi em vão.
Naruto se virou para limpar o que sujou e quando voltou a encarar a morena, esta segurava a xícara com ambas as mãos na altura dos lábios. Ele a viu inspirar o vapor da xícara e sorrir brevemente, o que o fez sorrir de lado. Como se sentisse que estava sendo observada, Hinata abriu os olhos de repente e corou mais uma vez, enfim tomando o líquido.
– Então, Hinata, – começou – de onde você é? – perguntou apenas para puxar assunto, pois Sakura já havia comentado consigo sobre isso.
– K-Konoha.
– Hum, Konoha. E o que te traz à Tóquio?
– B-Bom, eu... e-eu decidi sair debaixo da asa d-da minha família e b-buscar independência. P-Preciso ver que eu s-sou alguém de verdade e n-não apenas um sobrenome.
Naruto se surpreendeu. Esperava várias respostas, menos aquela. Sakura já havia lhe falado que sua amiga fazia parte de uma das famílias mais tradicionais do Japão. E ok, Hinata não parecia ser aquelas riquinhas de nariz empinado, mas ainda assim sua surpresa foi inevitável. Ficou curioso com sua resposta, mas decidiu não perguntar mais nada sobre.
– Não posso dizer que eu entendo, mas... eu entendo. – riu do que disse e foi acompanhado pela Hyuuga.
– Ohayo gozaimasu! – um moreno alto e pálido cumprimentou enquanto adentrava o estabelecimento. Seu olhar despreocupado caiu sobre Hinata e depois sobre o loiro e um sorriso malicioso surgiu em seus lábios.
– Naruto, já falei que servir café para as garotas que você dorme aqui na cafeteria pode gerar problemas. Vai que ela descobre que você dorme com mais dez e resolve vir te matar aqui? Tsc, tsc, tsc, Uzumaki lerdo.
Hinata engasgou com o café que tomava e Naruto lançou um olhar raivoso para Sai.
– Sai, cala essa boca. A Srta. Hyuuga só veio tomar um café.
Sai se aproximou e viu o rosto corado da morena. Soltou uma risadinha e disse:
– Gomen. Meu nome é Sai, a propósito. Sou colega de trabalho desse baka aqui. – Naruto revirou os olhos e viu quando Hinata cumprimentou Sai com um breve aceno antes de se levantar rapidamente.
– G-Gomen, mas preciso ir agora. A-Arigatou, N-Naruto-san. – fez menção de procurar a carteira.
– Não, é por conta da casa. – deu um sorriso amarelo.
– Mas...
– É sério, isso faz o cliente voltar. – falou o loiro e deu uma piscada. Hinata corou.
– H-Hai. Arigatou g-gozaimasu.
Após a morena sair apressada, Naruto se virou bruscamente para Sai.
– O que deu em você pra falar aquilo, palmito azedo?!
– O quê? Não foi nada demais.
– Claro que foi, ela não dormiu comigo.
– Ah, entendi. Você quer dormir com ela e não quer que ela saiba da sua fama de galinha.
– O-O quê?! – Naruto engasgou. – Tá maluco? A Sakura me capa se eu sequer pensar nisso.
– Então por que se preocupa?
Naruto fechou a cara. "É, Naruto, por que se preocupa?", pensou.
***
O toque do celular se fez presente no quarto pela terceira vez, mas ainda não foi suficiente para acordar o moreno. Cansada do barulho irritante, uma loira abriu a porta do banheiro irritada.
– Nara. – chamou o moreno que dormia calmamente na cama. Uma veia pulsou em sua testa quando o celular cessou e voltou a tocar novamente. – Nara Shikamaru! – elevou mais sua voz, porém não foi suficiente para acordar o mesmo.
A loira entrou no banheiro novamente e voltou com um tubo shampoo. Mirou nas costas expostas do e jogou o objeto sem dó, fazendo Shikamaru acordar de supetão.
– Mas o q… – olhou em volta encontrando o shampoo em sua cama e uma Temari irritada na porta do banheiro. – Temari, você tá maluca?
– Vê se atende a droga desse celular. Faz horas que ele toca. – disse a loira enquanto voltava para o banheiro.
Shikamaru suspirou. “Que problemático”, pensou. Pegou o celular, olhou o visor e estranhou o ruivo estar ligando para seu número pessoal.
– Nara falando. – disse ao levar o celular à orelha.
– Shikamaru-sama, gomen ligar para seu telefone pessoal, mas você não atendeu o outro número. – a voz estava levemente afoita e Shikamaru estranhou.
– Gomen, Sasori. Esqueci no escritório.
– Hai, hai. Você precisa vir para a delegacia agora.
– O que houve dessa vez?
– A família Yamamoto também foi atacada.
– O quê?! Quando aconteceu isso?
– O site foi ao ar de madrugada, mas diferente da primeira vez, nós recebemos um aviso.
– Um aviso?
– Sim, ligaram para a delegacia avisando que…
Antes que Sasori pudesse continuar, Shikamaru se levantou apressado e falando rápido.
– Vocês conseguiram rastrear a ligação?
– Hai, estamos só lhe esperando para irmos até o local.
– Estou à caminho. – o moreno disse e desligou. – Merda, merda, merda! – Shikamaru socou sua cama com força. “Já saquei que esse cara quer expor famílias tradicionais, mas onde ele quer chegar com isso?”. Levou as mãos à cabeça e respirou fundo, tinha um pressentimento de aquele caso seria problemático. Percebeu o barulho do chuveiro ligado e sorriu matreiro. Se dirigiu ao banheiro e entrou sem fazer barulho.
Temari estava tão distraída que não percebeu o moreno abrindo a porta do box. Se assustou quando sentiu mãos fortes em sua cintura a puxando de encontro ao tronco masculino.
– Que susto, Shika. – ela ralhou, mas suspirou quando o moreno beijou seu pescoço. – Algo novo sobre o caso? Você parece meio tenso.
– Hum. – resmungou se afastando do pescoço da loira e a virando para si. – Sim, mas não vamos nos preocupar com isso agora, hum? – disse enquanto a prensava contra a parede.
– Nara, você sabe que eu ten… – foi interrompida por um selinho.
– Eu sei. – ele deu outro selinho. – Também tenho – a beijou na bochecha – que sair agora. Mas… – outro beijo, mas atrás da orelha – isso não significa – mordeu a orelha da loira. Ela arfou e ele sussurrou a última parte – que não podemos aproveitar nossos últimos minutos juntos.
Shikamaru roçou seus lábios aos dela carinhosamente, que, em contrapartida, levou suas mãos ao pescoço do moreno e aprofundou o beijo. A loira sentiu sua cintura ser apertada e uma mão passeando por suas curvas até parar em sua coxa e subi-la de encontro ao tronco do Nara. Sorriu entre o beijo e pensou como sentiria falta daquele preguiçoso.
***
Sakura estava em sua pequena sala de atendimento desde que chegou na delegacia. Olhou o relógio no pulso que marcava 10:12. Ou seja, estava sentada a cerca de duas horas.
Quando Tsunade a designou para substituir o antigo médico legista de um departamento da Polícia Japonesa seu interior vibrou com a emoção de viver dentro do universo de CSI. Porém, durante os dois meses que se encontrava ali, a situação andava bastante calma. Suspirou.
– Até parece que sou uma louca por homicídios.
A verdade é que amava tanto sua profissão que sentia falta da correria do hospital. Sentia falta de ajudar o próximo. Havia escolhido medicina por essa proximidade com as pessoas e a forma como suas ações as beneficiavam diretamente.
Enquanto pensava sobre isso, desatou a caminhar pela delegacia à procura de água. Qual não foi sua surpresa ao encontrar o delegado Uchiha com sua inseparável xícara de café conversando em frente ao bebedouro com um policial qualquer.
Soltou uma risada anasalada e lembrou-se o que conseguiu em sua vida pessoal graças à seu amor pela profissão: brigas, desentendimentos e um belo par de chifres.
– Ohayo gozaimasu.
Ambos os homens notaram sua presença e a cumprimentaram com um aceno de cabeça. O policial saiu com uma desculpa qualquer e Sakura praguejou mentalmente quando se viu a sós com o delegado.
– Ohayo, Sakura.
Acenou para o Uchiha e pegou um copo descartável, se servindo de água. Sasuke tomou um gole do café e se dispôs a observá-la.
– Perdeu alguma coisa?
Sasuke bufou e sua habitual carranca se intensificou ainda mais.
– Você é inacreditável, Sakura. A única coisa que eu gost…
– A única coisa que você gostaria era manter uma boa atmosfera no âmbito profissional e blá blá blá. – a rosa interrompeu o delegado. – Você não precisa falar comigo. Aliás, você não deve. Às vezes o silêncio é a melhor opção. Tenha um bom dia.
Enquanto Sakura se retirava, Sasuke respirou fundo e fechou os olhos. Sua mão apertava a xícara com tanta força que os nós de seus dedos estavam brancos. Sabia o que Tsunade queria ao designar Sakura para esse trabalho. Sabia e também desejou o mesmo por um curto período de tempo.
Também sabia de seus erros, não era nenhum babaca infantil. Mas a cada dia que se passava, tinha mais certeza de que havia perdido Sakura para sempre. E algum lugar dentro de si doía miseravelmente quando constatava isso.
– Sasuke-sama, Shikamaru-sama já chegou. Estamos apenas o esperando para iniciarmos a busca.
Acenou positivamente para o policial que falou consigo e se dirigiu para a porta frontal da delegacia
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