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História De carne e papel - Hansung II


Escrita por: nunytales

Capítulo 2 - Hansung II


Fanfic / Fanfiction De carne e papel - Hansung II

 

“Eu quero apresentar a você”, Jeongguk disse de maneira solene e fez uma pausa, enquanto estendia os braços na direção da televisão como quem tenta vender um produto. Hansung sequer piscava, acompanhando seus movimentos com curiosidade, ansioso para descobrir que solução mágica o outro havia encontrado para ir à faculdade sem deixá-lo sozinho em casa. “Sua companhia pelas próximas horas, a televisão”, finalizou e ouviu Hansung bater palmas, entusiasmado.

O rapaz estava sentado sobre o sofá com os pés plantados no chão, os joelhos formando um ângulo de noventa graus, e as costas tão eretas que fazia Jeongguk se sentir envergonhado de sua má postura. Era ali que ele fora instruído a permanecer, devendo sair apenas se precisasse ir ao banheiro, o qual ele já havia conhecido no dia anterior, ou se estivesse com fome. A geladeira fora apresentada pouco antes, como o lugar a ser buscado se Hansung quisesse comer algo – ele só não podia comer a geleia de Mark ou os pudins de Youngjae; todas as outras coisas, por outro lado, estavam liberadas, até mesmo os iogurtes de Jimin.

Mas tão logo o som de vozes começou a ser emitido pelo aparelho de televisão, ligado por Jeongguk, a fim de demonstrar o que ele queria dizer com companhia pelas próximas horas, Hansung deu um pulo de onde estava, subindo no móvel desajeitada e apressadamente, e passou por cima do encosto para se esconder atrás deste, com o corpo todo encolhido.

Jeongguk mal podia acreditar no quão rápido ele se levantara e o encarou surpreso quando, com cautela, o rapaz espiou por trás de seu esconderijo. Apenas a parte superior de seu rosto era visível; seu nariz permanecia escondido, mas seus olhos curiosos não perderam um segundo sequer em analisar os arredores, procurando pela ameaça que seus instintos haviam identificado. Sua atenção foi atraída então para a televisão, onde uma moça apresentava um comercial de pasta de dente. “Oh”, ele soltou, surpreso, e aos poucos foi se levantando de trás do sofá.

Era uma cena engraçada – tão ou mais engraçada que a cena da manhã, quando Hansung pensou que as palavras de Jeongguk eram verdadeiras e que os homens da rainha estavam realmente chegando para buscá-lo. Mas era diferente porque, daquela vez, Hansung não estava pálido de medo, a ponto de desmaiar. Ao contrário, ele parecia interessado e genuinamente excitado pela perspectiva de descobrir algo novo, como uma criança diante do desconhecido. A risada que escapou dos lábios de Jeongguk era bem mais leve e bem menos maligna que a anterior, e ele fingiu que não notou a diferença.

Oooh”, Hansung soltou novamente, o som se prolongando mais que o primeiro. Ele se aproximou do móvel onde repousava a televisão, mas ainda deu um pequeno pulo para trás quando o comercial de pasta de dente acabou, dando início a um comercial de um drama que passaria dali a algumas horas.

“Por que tem pessoas... nessa caixa?”, Hansung finalmente indagou, apontando com o indicador na direção do objeto e olhando para Jeongguk com expectativa. “Elas estão presas aí?”, questionou antes que o rapaz tivesse a oportunidade de lhe responder a primeira pergunta.

“Acho que podemos dizer que sim”, Jeongguk respondeu, sem saber exatamente como explicar que todas as imagens estavam sendo transmitidas de outro lugar, mais como magia que realmente um aprisionamento físico. De repente ele teve uma ideia. “E elas também precisam de companhia, então se você puder ficar e ouvir o que elas têm a dizer, tenho certeza de que ficarão muito agradecidas”, explicou, só para garantir que seu hóspede não sairia mexendo no que não deveria, tampouco deixaria o lugar em busca de qualquer aventura que fosse render dores de cabeça depois. “Em troca, elas não vão deixar você ficar sozinho”.

“Oh, eu vou ficar e ouvir tudo, não se preocupem”, prometeu, já não mais olhando para Jeongguk, o qual estava se considerando muito esperto para seu próprio bem. Com Hansung ocupado com a televisão, ele certamente poderia ir para a faculdade, assistir às aulas todas e voltar para casa sem precisar se preocupar.

Com a promessa de que não deixaria aquelas pessoas de lado, Hansung acenou para Jeongguk em despedida, com um sorriso nos lábios e um brilho de determinação no olhar.

Deve ser o suficiente, Jeongguk pensava enquanto colocava os pés para fora de casa, tão satisfeito consigo mesmo que se esqueceu de ficar de mau-humor por ter aulas de uma disciplina em que estava matriculado apenas para cumprir tabela – uma em que ele tinha grandes chances de perder ao final do semestre, se não fizesse um milagre com as próprias notas até lá.

Jimin sequer poderia reclamar de sua ideia brilhante, quando ele havia tido todo o cuidado de deixar Hansung em uma situação confortável, em boa companhia e instruído sobre o que fazer em caso de necessidades.

Mas tão logo Jeongguk se sentou na cadeira que costumava ocupar na sala de aula, viu-se questionando se foi realmente uma boa ideia. Hansung poderia ficar distraído com as coisas que passavam na televisão, mas poderia também descobrir como mudar de canal e acabar vendo o que não precisava ver – tinha certeza de que o programa policial não era exatamente divertido, não importava a origem do rapaz. Ele também podia descobrir por acidente outro tipo de canal inapropriado, podia ouvir a campainha tocando e acabar saindo de casa para explorar o desconhecido e podia acabar se metendo em confusão – ou, pior: acabar machucado.

Prestar atenção ao que o professor dizia nunca havia sido tão difícil em sua vida, e Jeongguk se arrependia de ter pensando que abandonar Hansung foi um de seus lapsos de genialidade. Batia a perna em um frenesi de impaciência, arrancando olhares reprovadores da pessoa sentada ao seu lado, mas sua preocupação claramente não estava voltada para seus companheiros de sala e para o que eles pensavam com relação ao seu comportamento. Nunca esteve, na verdade.

Depois do que pareceu uma eternidade, o professor pôs fim a todo seu falatório, e não foi preciso mais do que isso para que Jeongguk se levantasse de um salto e saísse como um raio pela porta, passando sem qualquer cuidado pelas pessoas que se levantavam para arrumar o material e sair – ele ainda esbarrou em dois ou três colegas de turma, mas não se incomodou em virar o rosto para pedir desculpas.

Chegou à casa compartilhada com os pulmões ardendo e com a garganta seca. Suas pernas estavam doloridas por todo o empenho para chegar o mais rápido possível ali, de modo que era preciso um esforço extra para dar mais um passo. No entanto, em vez de parar para recuperar a respiração como seria adequado, ele reuniu o pouco que lhe sobrava de energia a fim de cruzar o espaço que ainda lhe faltava até a porta, entrando no imóvel como se disso dependesse sua própria vida.

“Han...”, lutou contra o ressecamento de sua garganta e contra o peso de sua língua para chamá-lo. Precisava garantir que ele estava bem, precisava garantir que nada havia acontecido durante sua ausência, porém o nome morreu em sua boca antes de ser pronunciado por completo. Ao esticar o pescoço para vislumbrar o sofá em busca da figura do rapaz, Jeongguk percebeu que toda a sua preocupação e sua determinação em chegar ali haviam sido desnecessárias.

Em meio às almofadas que adornavam o sofá, Hansung estava deitado, adormecido, enquanto a televisão falava sozinha e quebrava o silêncio do lugar.

 

 

 

Jimin não costumava chegar tarde em casa, mesmo nos dias em que resolvia ficar estudando na biblioteca da faculdade, motivo por que Jeongguk olhava preocupado para a porta de vez em quando, na esperança de que o outro chegasse pelo menos para o jantar.

Imaginava que ele estava se esforçando e trabalhando duro para descobrir como resolver a situação em que acabaram se metendo sem querer, e se sentiu mal por ter sido tão ridículo no dia anterior. Não o via desde que o deixara fazendo pesquisa na sala, para dormir depois do jantar. Não sabia sequer se ele havia dormido na própria cama ou se havia se alimentado durante o dia, e iria ser consumido em culpa se não o visse surgir na entrada em menos de meia hora.

Hansung, ao seu lado, estava alheio a todas as preocupações que passavam em sua mente, tendo muito com o que se distrair enquanto assistia a um drama e tentava entender não apenas o que acontecia com os personagens, mas também todas as evoluções pelas quais a sociedade passara desde a época em que ele provavelmente deveria ter existido.

Depois de jantar, Hansung insistiu em continuar assistindo televisão, e Jeongguk resolvera juntar-se a ele enquanto esperava. Mark havia saído para trabalhar – ele tinha um emprego de meio período em que trabalhava alguns dias por semana. Já Youngjae havia saído para a casa de um amigo, dizendo que eles não deveriam esperá-lo ainda naquela noite e deixando-os sozinhos.

Nos primeiros minutos desde que os dois sentaram juntos, Hansung fez questionamentos sobre o que via na televisão a cada cinco segundos. Jeongguk entendia que ele estivesse curioso sobre tudo, como no final de tarde do dia anterior quando ele fora apresentado à eletricidade e às lâmpadas, mas não estava em condições de lidar com as perguntas no momento, de modo que acabava as respondendo de má vontade.

O rapaz deveria ter percebido que as explicações que recebia eram o mesmo que não receber explicação alguma, e desistiu de sequer proferi-las. Isso é, desistiu de dirigi-las a Jeongguk, mas não deixou de falar um só segundo, lançando seus questionamentos no ar e buscando respostas por si mesmo – Jeongguk ouviu uma das respostas que ele mesmo elaborara e sentiu vontade de rir da inocência demonstrada, embora na verdade Hansung fosse bastante esperto - “Mas com essa carruagem se movimenta sozinha?”, ele indagou baixinho, com medo de ser ouvido por seu anfitrão. “Deve ser movida a etrelicidade também”, foi a conclusão a que chegou, ainda não inteiramente familiar com o que a eletricidade podia ou não fazer.

Quando a porta da frente finalmente abriu e um Jimin exausto surgiu por trás dela, Jeongguk sentiu como se um peso estivesse sendo retirado de seus ombros, embora tivesse torcido o nariz na tentativa de não demonstrar que estava feliz em ver o outro de volta.

“Até que enfim você chegou!”, deixou escapar de seus lábios como uma repreensão, mas o sorriso no rosto cansado o advertiu para o fato de que Jimin iria interpretá-lo da maneira errada (certa). Ele sempre fazia isso.

“Desculpe preocupar você”, pediu enquanto retirava os tênis e deixava a mochila escorregar pelo braço até bater com um baque surdo contra o chão. “Eu acabei me distraindo enquanto tentava encontrar pelo menos uma explicação pro que aconteceu ontem”.

“Descobriu alguma coisa?”, Jeongguk perguntou ansioso. Quanto mais cedo tudo pudesse voltar ao devido lugar, melhor.

“Nada ainda”, respondeu o outro com um suspiro cansado, andando até o sofá e se jogando no móvel, ao lado de Hansung, que havia deixado de prestar atenção ao que acontecia na tela do aparelho de televisão para encarar Jimin.

“Você está com fome? Jeongguk guardou comida para você...”, ele indagou, demonstrando o quanto se preocupava, ainda que estivesse com eles havia apenas um dia.

“Obrigado, Hansung, mas eu ainda vou ficar aqui por alguns minutos antes de me beneficiar da rara bondade de Jeongguk”, respondeu, fechando os olhos e deixando que um sorriso satisfeito lhe surgisse nos lábios ao sentir o corpo relaxando no conforto do sofá. Jeongguk revirou os olhos. “Por falar nisso, ele não tem sido ruim com você, tem?”, abriu os olhos de repente, fixando-os em Hansung com uma intensidade perigosa.

“É claro que eu não fiz nada cruel com ele”, Jeongguk apressou-se em responder antes que Hansung pudesse dizer alguma coisa. Sabia que da resposta dependeria a paz dos dias seguintes – se Jimin desconfiasse de que ele estava sendo menos que um anfitrião razoável, iria pegar em seu pé por uma eternidade.

Apesar da resposta confiante que recebera, Jimin não estava satisfeito – ele sequer desviou o olhar para encará-lo, estreitando os olhos enquanto observava Hansung atentamente.

“É claro que você não fez nada, mas eu quero ouvir a resposta de Hansung”, rebateu o mais velho, que esperou pacientemente enquanto Hansung hesitava.

“Hansung…”, Jeongguk chamou na esperança de assegurar que tudo estava bem e que o outro deveria dizer como ele havia sido legal durante o dia - ele até deixara Hansung dormir por toda a tarde sem tentar assustá-lo com um falso anúncio de chegada dos homens da rainha.

Como encorajado pelo som de seu nome, Hansung finalmente respondeu o que Jimin tanto queria saber.

“Jeongguk é um bom anfitrião, precisou se ausentar durante a manhã, mas me deixou em companhia das pessoas da tevelisão”. A resposta, apesar de entusiasmada, não era exatamente o que Jeongguk teria escolhido como perfeita. Jimin tampouco parecia satisfeito.

Na verdade, ele parecia chocado.

“Ele saiu de casa e deixou você sozinho?”, questionou, incapaz de deixar passar o verdadeiro significado das palavras de Hansung. “Assistindo televisão?”

“Não foi bem assim, Jimin, você sabe que eu tenho aulas pra assistir e Hansung não é nenhum imbecil”, defendeu-se enquanto Hansung respondia às perguntas de Jimin com negativas veementes. Pelo menos alguém ali estava do seu lado.

“Eu não disse que ele era imbecil, isso é você que está dizendo”, Jimin rebateu sem perder um segundo sequer. Jeongguk abriu a boca para negar aquela acusação, mas o mais velho falou ainda mais alto, impedindo-o de se fazer ouvir. “Além do mais, deixá-lo trancado em casa é assumir exatamente isso.”

“Você não quer que ele acabe se machucando ou se perdendo por aí, quer?”

“Não foi isso o que eu disse, Jeongguk.”

“Claro que não foi”, replicou com ironia, e deixou que seu olhar se voltasse rapidamente para Hansung, que parecia uma estátua de tanto medo do fogo cruzado. “Eu vou voltar pro quarto e estudar”, soltou, mesmo que soubesse que não iria conseguir se concentrar em uma só linha do que estava escrito no livro e que acabaria gastando mais tempo em suas redes sociais e em aplicativos de jogos instalados no celular que estudando.

Mais tarde ele ouviu as risadas de Jimin e de Hansung vindas da sala, e colocou os fones de ouvido, irritado.

Um pouco mais tarde ainda, ele precisou ir ao banheiro e, aproveitando a viagem para beber água, notou Jimin e Hansung dormindo na sala - Jimin no sofá, com o notebook sobre as pernas; Hansung no chão de novo. Daquela vez ele não podia simplesmente botar fones de ouvido para evitar que a alegria alheia soasse como a pior ofensa da face da Terra, então fez a única coisa possível.

Pegou lençóis e cobriu os dois depois de retirar o notebook das pernas de Jimin e de colocá-lo em uma posição deitada sobre o sofá.

 

 

 

Jimin não comentou sobre os lençóis na manhã seguinte, mas ele e Hansung pareciam estar bem próximos, conversando animadamente enquanto Jeongguk vagava como um sonâmbulo pela casa, primeiro para o banheiro, depois de volta para o quarto e então para a cozinha.

Ele podia sentir os olhares que Hansung lhe lançava vez ou outra, como se quisesse cumprimentá-lo, falar com ele, mas não tivesse coragem. Talvez fosse melhor mesmo que não fosse capaz de arriscar. Não que pretendesse ser rude com o rapaz, que nada havia feito de errado, mas qualquer tentativa de diálogo seria estranha - tão estranha e tensa quanto o ambiente estava naquela manhã. Até mesmo evitava corresponder ao olhar que ele lhe dirigia, fingindo não ver a cada vez que acontecia.

“Saindo”, Jimin eventualmente anunciou, depois de recolher seu material onde este havia ficado na noite anterior, e gritou por cima do ombro um “Comportem-se, vocês dois” antes de abrir a porta e desaparecer, deixando Hansung e Jeongguk envolvidos naquele silêncio mais denso e mais desconfortável que o bater dos talheres nas vasilhas de quando Hansung e Jimin comiam o desjejum apenas alguns minutos antes.

Hansung não o encarava, mas Jeongguk podia perceber que ele tinha expectativas enquanto brincava com os dedos das próprias mãos, mexendo-os nervosamente. Podia notar nos olhos tristonhos e no lábio inferior preso entre os dentes, que Hansung estava pensando em formas de se aproximar dele, e Jeongguk se sentia ainda pior por saber que teriam que passar o dia juntos enquanto tinha que lidar com as consequências das palavras que lançara na noite anterior.

Aparentemente, nunca aprenderia a não falar merda, a qual ele nunca sabia como limpar depois.

“Jimin fez carne, ele disse que era sua comida preferida”, Hansung tentou, soltando as palavras com cuidado, como um felino tentando verificar se era seguro se aproximar. “E ele ficou feliz por ter comida guardada para ele ontem”, continuou, vendo que não receberia uma resposta de Jeongguk tão fácil.

“Certo”, concedeu, por fim, em vez do pedido de desculpas que ele deveria ter preparado na ponta da língua. Desculpe, eu não queria chamar você de imbecil, embora eu ache que você ficaria mais seguro em casa. “Espero que esteja preparado para morrer de tédio hoje”, resmungou, enquanto se servia de porções de arroz e carne, sob o olhar atento de seu hóspede, que não entendeu o que ele queria dizer. “Você vai pra aula comigo”, admitiu só para ver os olhos de Hansung brilharem.

Levar Hansung para a universidade em que estudava havia sido uma decisão tomada sob a influência dos sentimentos que guardava consigo desde a discussão com Jimin, mas o rapaz estava tão exultante com a perspectiva, que Jeongguk não conseguia imaginar outro possível plano para o dia.

A boa notícia é que Jimin não teria motivos para reclamar, e ele não precisaria se preocupar com Hansung quando não estivesse por perto - afinal não sabia se poderia contar com o sono do outro para mantê-lo a salvo e dentro de casa mais uma vez.

Depois de uma “aula” sobre a modernidade através dos dramas que passavam na televisão todas as noites, Hansung parecia bem adaptado ao mundo exterior, mas não menos surpreso com o que via. Enquanto os dois andavam lado a lado a caminho do prédio onde as aulas de Jeongguk aconteceriam naquela manhã, ele observava a tudo com curiosidade e admiração, consolidando a ideia de prédios construídos em concreto, vias asfaltadas, roupas que seriam consideradas um escândalo para sua época e carruagens movidas a etrelicidade. Jeongguk acompanhava a sucessão de pensamentos sendo murmurada por Hansung, como se precisasse ouvir o som da própria voz para que tudo se encaixasse, e achava divertido que ele parecesse um daqueles estudiosos pedantes e enfadonhos, embora os dois adjetivos jamais pudessem descrevê-lo de verdade, ainda que sua escolha de palavras por vezes fosse questionável.

Ele estava se adaptando melhor que o esperado – não que Jeongguk tivesse perdido uma hora inteira de sua vida se preocupando com o choque entre a realidade que Hansung conhecia e aquela em que ele se encontrava inserido depois de ter saído do livro.

Era possível notar os olhares dos outros estudantes na direção de Hansung, que andava ao lado de Jeongguk sem preocupações, alheio à atenção recebida, admirando as árvores e o prédio da universidade da mesma forma que havia feito durante todo o caminho desde que saíram de casa.

Estava tão distraído que Jeongguk quase o abandonara por alguns segundos, seguindo por um caminho para a esquerda, acreditando que Hansung estava logo atrás de si, enquanto na verdade o outro passava direto, distanciando-se cada vez mais na direção do Departamento de Artes Cênicas.

Jeongguk se viu recordando o motivo por que o tinha deixado em casa no dia anterior e, por um momento, ficou dividido. Poderia ir atrás de seu acompanhante, voltando a trazê-lo consigo, ou deixá-lo ir para onde quisesse, abandonando-o.

Por um lado, seria capaz de se livrar dos olhares curiosos que a figura de longos cabelos castanhos e brincos coloridos atraía para si. De outro, seria alvo da fúria de Jimin quando este descobrisse que ele havia deixado o personagem do livro que estava lendo ir embora, impedindo-o, assim, de descobrir o final da história – e não apenas isso: provavelmente causando alguma espécie de desequilíbrio no universo ou algo assim.

Inclinou a cabeça rapidamente para o lado, em uma reação típica de quem sabia que não tinha muita escolha.

Os olhares não eram nada de mais.

"Hansung!!", chamou antes que ele se afastasse ainda mais, mas o rapaz não o ouviu.

Pior que ser alvo dos olhares por andar ao lado de alguém que não se encaixava nos padrões da sociedade, era ser alvo dos olhares por estar gritando o nome de alguém em uma das áreas mais movimentadas da universidade, motivo pelo qual Jeongguk apressou-se para alcançar Hansung em vez de continuar tentando chamar sua atenção de onde estava. Correu pelos últimos metros que os separavam e, por instinto, segurou-lhe o pulso a fim de evitar que a distância entre eles aumentasse.

Hansung se sobressaltou e olhou para o local onde a mão encontrava o pulso com um olhar assustado. Parecia prestes a agredir quem quer que o estivesse prendendo, embora tivesse encolhido o corpo como uma reação automática de defesa. Jeongguk podia sentir o temor escondendo o rapaz alegre que o acompanhara até ali e sentiu como se algo estivesse faltando de repente.

"Você está indo na direção errada", explicou um pouco sem ar sem que ele soubesse explicar o porquê, e só então Hansung soltou a respiração, expulsando o ar de seus pulmões para enchê-los novamente no instante seguinte. "As minhas aulas ficam naquele prédio ali atrás", apontou para uma direção que ele achava ser correta, mas que ele sequer verificou para saber se era verdade.

"Certo. Desculpe. Eu estava distraído", balbuciou Hansung, como se precisasse dar uma explicação.

Jeongguk não falou nada, apenas puxou com delicadeza o pulso que segurava, incentivando-o a dar alguns passos, ainda que pequenos, em sua direção. Sem oferecer resistência, o rapaz se deixou conduzir até que os dois estivessem andando a passos normais, naturais, um ao lado do outro. Jeongguk só percebeu que não precisava mais segurar o pulso de Hansung quando este se desvencilhou do aperto. Mas, ao contrário do que o universitário esperava, sua mão não ficou muito tempo vazia, uma vez que logo os dedos de Hansung estavam entrelaçados aos seus.

Jeongguk pigarreou, mas não o soltou. Disse a si mesmo que era apenas para evitar que o outro se perdesse, afinal, o campus era enorme.

 

 

 

Apesar da desconfiança evidente, o professor aceitou a explicação de que Hansung estava considerando entrar para o curso e, por isso, gostaria de assistir a aula como ouvinte. Por um momento, Jeongguk imaginou que ele estivesse contemplando a ideia com desagrado, a julgar pela expressão facial que se tornava pior à medida que a explicação se prolongava. Mas, ao final, ele deu de ombros, dispensando os dois a fim de que procurassem um lugar na sala onde sentar, não disposto a perder tempo com algo que na verdade significava que ele estava ganhando o reconhecimento que acreditava merecer.

Hansung o seguiu na direção de uma das fileiras no meio da sala e se sentou ao seu lado com a coluna reta e os ombros tensos. Era difícil dizer se ele estava se sentindo intimidado pelas circunstâncias ou se apenas estava agindo daquela forma por ser um costume seu - Jeongguk havia ouvido que antigamente as coisas costumavam ser mais rígidas nas instituições de ensino.

Nenhuma das duas opções parecia poder ser descartada com facilidade.

“Você pode relaxar um pouco, vai ser desconfortável se você passar o tempo todo assim”, optou por comentar, a fim de fazê-lo se misturar melhor ao ambiente - os olhares continuavam voltados na direção deles e se intensificaram com a postura do estranho que sentara ao lado do cara metido e solitário da quinta fileira.

“Oh, tudo bem”, Hansung soltou depois de alguma ponderação e relaxou no assento ao seu lado. Jeongguk sorriu satisfeito ao ver que ele aceitou seu conselho sem pensar demais sobre. Não importava que não se sentisse menos estanho ou menos envergonhado ao chamar tanta atenção graças à sua companhia, notou.

O professor começou seu monólogo e foi preciso muito esforço para não bocejar. Isso não impediu seus olhos de lacrimejarem, suas pálpebras pesando cada vez mais, dificultando a execução da ideia de permanecer acordado. Jeongguk havia dormido uma quantidade razoável de horas, ou pelo menos o considerado razoável para os padrões de um estudante universitário, mas era em momentos como aquele que o cansaço acumulado por toda a sua vida aparecia para cobrar o preço de todas as noites insones em vésperas de prova, de todas as noites mal dormidas em véspera de apresentação de seminários e de todo o trabalho mental que era se manter são todos os dias.

Ao seu lado, Hansung apoiou um dos cotovelos sobre a mesa e deixou a cabeça pender para frente. Jeongguk sorriu ao perceber que ele provavelmente estava arrependido de toda a animação demonstrada com a perspectiva de acompanhá-lo, porém, ao mesmo tempo, um sentimento a mais lhe ocorria. Não tinha dúvidas de que inveja era o nome adequado para o que sentia e não tinha vergonha de admitir para si - alguém ali não precisava se preocupar com notas, tampouco precisava se preocupar com tarefas domésticas e, com isso, podia dormir durante a aula ou durante a tarde inteira, sem nada para lhe perturbar o sono.

No entanto, ao olhar para o lado, para a figura curiosa de Hansung, Jeongguk percebeu que ele não estava dormindo. Na verdade, ele nunca parecera tão acordado em todo o tempo que passaram juntos, que não foi muito, e sorria como se estivesse achando a explicação do professor o discurso mais fascinante que já tivera a oportunidade de ouvir em toda a sua vida.

Jeongguk mal podia acreditar. Hansung estava até mesmo sorrindo, maravilhado, embora assumisse uma expressão pensativa vez ou outra, como se analisando o que acabara de ouvir.

Não era possível que estivesse entendendo alguma coisa, Jeongguk tentava ser racional. Não sabia muito sobre a educação recebida no lugar de onde Hansung viera, contudo tinha certeza de que alguém que não tinha feito a disciplina do semestre anterior não podia estar entendendo o que estava sendo dito. Nem mesmo Jeongguk, que havia feito a tal da disciplina, não conseguia entender uma só palavra. Como era possível que o outro estivesse sorrindo? Como?!

A dúvida o perseguiu até o final do horário estipulado para a disciplina, quando então os dois estavam livres para deixar a sala de aula juntamente com todos os alunos do curso.

“Isso foi realmente interessante”, Hansung comentou enquanto esticava o corpo, alongando os braços e as pernas como se tivesse despertado do sono mais restaurador que havia tido em meses.

“Você entendeu alguma coisa?”, perguntou Jeongguk, apesar de todos os pensamentos em sua mente que afirmavam o contrário.

“Não de verdade”, admitiu, demonstrando um pouco de vergonha. “Mas isso não quer dizer que eu não tenha aprendido um pouco mais sobre esse mundo. O conhecimento evoluiu tanto… As aulas que eu tive certamente não se aproximam do conteúdo que aquele senhor estava falando, o que é assaz admirável, e eu fico me perguntando se é esse o mundo em que meus descendentes vão viver… Eu fico com inveja, queria eu ter a mesma oportunidade”, explicou enquanto observava Jeongguk terminar de guardar seu material na mochila.

“Você só pode estar brincando”, Jeongguk resmungou.

“Mas eu não estou”, rebateu Hansung, sem compreender como ele poderia ser tão cético. Jeongguk desconfiava de que seu ceticismo só poderia ser compreendido por alguém que havia sofrido na pele todas as consequências daquela evolução de conhecimento, motivo pelo qual sequer cogitou explicar o que se passava em sua cabeça a Hansung.

“Então a sua sorte de estar vivenciando tudo isso vai continuar mais um pouco porque eu ainda tenho outra aula”, anunciou sem conseguir esconder toda a ironia que aquela conversa havia provocado em seu espírito, e Hansung não deixou o bom-humor falhar por um segundo sequer, ignorando os sentimentos que se escondiam em cada inflexão da voz de Jeongguk.

Nem mesmo depois de duas horas de uma segunda aula tão monótona quanto a primeira ele parecia desanimado. Ao contrário, Hansung andava ao seu lado em direção à saída do campus como alguém revigorado, ao passo que Jeongguk se arrastava, incapaz de lidar com o peso de seu corpo e com a redução de suas forças vitais - drenadas pelas aulas a que fora obrigado a assistir.

“O que vamos fazer agora??”, Hansung questionou ao notar que Jeongguk não mencionou mais nada sobre aulas.

“Eu não acredito que você ainda tem alguma energia sobrando”, resmungou, ignorando a pergunta que lhe foi feita.

“Normalmente eu não me sentiria assim depois de assistir aulas, eu nem gosto muito de ter que sentar e ver alguém falando, mas é como eu falei-”, ele explicou, sendo interrompido por Jeongguk.

“Eu entendi essa parte.”

“Você podia me mostrar mais desse mundo- Quer dizer, o que passa na tevelisão é um pouco de como o mundo é, certo? Por que não vamos explorar?”, ele questionou avançando até estar de frente para Jeongguk, que continuou andando e forçando Hansung a andar também - mas dando passos para trás.

“Eu estou com fome e preciso estudar”, respondeu de imediato, com um pouco de má vontade. A resposta não era bem uma mentira. Não estava disposto a ceder e estava com fome. Só não tinha realmente que estudar - ele nunca tinha que realmente estudar, porque sempre deixava a maior parte da matéria para ler antes das provas. Só achava que era uma resposta boa o suficiente para fazer Hansung desistir da ideia.

“Depois que você comer e depois que você estudar”, o outro insistiu, sem prestar atenção no caminho que estava seguindo ainda de costas. Jeongguk tentava desviar de Hansung, só para ter seu caminho bloqueado de novo e de novo. Ainda assim, não desistiu de continuar andando, mesmo ouvindo o outro continuar com suas súplicas sem dar sinais de que desistiria em um futuro próximo.

Ele devia ter visto que era uma má ideia que o rapaz andasse de costas daquela forma, mas estava ocupado demais tentando fugir. Assim, quando Hansung perdeu o equilíbrio por chegar em um par de degraus no meio do caminho sem se dar conta, Jeongguk sabia que a queda que se seguiu era apenas uma decorrência natural da falta de cuidado do outro, embora não pudesse evitar se sentir assustado, receando que tivesse acabado com algum machucado grave.

No entanto, quando Hansung olhou para ele com uma expressão muito parecida com aquela que crianças faziam quando estavam prestes a chorar, apresentando não muito mais que um ferimento no antebraço, o qual ele havia usado para apoiar o corpo, reduzindo, assim, o impacto contra o chão, Jeongguk soltou um suspiro e se abaixou para conferir o estado dos machucados.

 

 

 

Eles passaram em uma farmácia na volta para casa, onde Jeongguk comprou o necessário para fazer um curativo no antebraço de Hansung, que não parava de soltar sons baixinhos que se assemelhavam bastante a miados de filhotes recém-nascidos, mesmo que ele tivesse uma voz mais grave em seu estado normal.

Uma trilha de sangue havia escorrido do ferimento, formando uma linha avermelhada que começava a secar sobre a pele, mas que não dava sinais de que iria aumentar ainda mais.

“Tem certeza de que não precisamos procurar um médico?”, Hansung questionou em um resmungo, enquanto observava o local machucado. Era sua última tentativa de fazer Jeongguk mudar de ideia sobre eles mesmos cuidarem de seu ferimento e não estava funcionando muito bem. Como resposta à sua pergunta, o universitário abriu a porta de casa e sinalizou com a mão para que Hansung entrasse primeiro.

“Sente no sofá e espere por mim”, ordenou ao retirar os tênis na entrada, deixando também a mochila. Hansung não viu outra alternativa a não ser obedecer e sentou-se sobre o estofado de uma só vez, garantindo que Jeongguk estava ciente de seu aborrecimento – já não mais decorrente de seu tombo, mas também da recusa de procurar um profissional da saúde.

Depois de colocar a sacola com os produtos que comprara na farmácia sobre o sofá, Jeongguk lavou as mãos no banheiro, não desejando cuidar de algo tão sensível com as mãos sujas, afinal cobriria a área a fim de que não entrasse em contato com mais nada depois que estivesse limpa. Quando retornou, Hansung estava de olhos fechados, respirando lentamente: ou estava dormindo ou tentava aceitar seu destino o melhor que podia. Não era difícil dizer qual delas melhor se adequava à situação, mas ambas as opções divertiam Jeongguk.

“Não me diga que está com medo...”, cantarolou ao se sentar ao lado dele, observando com divertimento a pequena ruga de medo visível no rosto do outro.

“Quem está com medo aqui?”, Hansung rebateu, utilizando-se de uma fachada de presunção que Jeongguk julgava ser apenas uma ficção.

“Então coloca o braço pra cá”, ordenou, vendo Hansung perder a pose por um momento antes de esticar o braço cuidadosamente em sua direção. “Assim não vai dar”, ponderou e logo segurou o braço dele, flexionando-o até que a mão estivesse sobre o ombro, o cotovelo apontando em sua direção.

“Vai doer?”, Hansung perguntou ainda fingindo não estar preocupado com o que lhe aconteceria.

“Um pouco”, admitiu, virando-se para recuperar a sacola e tirando dali o medicamento e o curativo adesivo. “Mas assim você também vai melhorar mais rápido, então vai ficar tudo bem”, complementou, virando-se para cuidar do ferimento e dando de cara com Hansung inclinado na sua direção. Ele deveria ter ficado curioso sobre o que Jeongguk comprou mais cedo e queria ter um vislumbre do que tinha na sacola, mas, ao fazê-lo, ficou perigosamente perto.

“Deixa eu dar uma olhada nisso”, Jeongguk pediu na falta de algo melhor para dizer ou fazer. Não era a primeira vez que ele ficava tão próximo de alguém, não era motivo para ficar desconfortável de repente, mas a surpresa com relação à posição em que se encontravam o fez sentir vontade de pigarrear e se concentrar na tarefa que tinha em mãos, fugindo do quão constrangido ele estava.

A carne machucada felizmente não parecia conter nenhum grão de areia teimoso e o ferimento não era profundo, apesar do sangue que havia escorrido.

“Eu confio em você”, Hansung disse sem prévio aviso, e Jeongguk levantou o rosto para encará-lo em um movimento reflexo - talvez culpa daquela parte de si que precisava ter certeza de que ele estava falando sério, que ele não estava tentando enganá-lo de alguma forma, porque aquelas eram palavras que raramente eram dirigidas a ele.

Ele sequer se lembrava quando havia sido a última vez.

O que viu o deixou ainda mais desconcertado. Por causa das circunstâncias, Jeongguk estava com o rosto bem perto do rosto de Hansung quando este falou. Era uma posição estranha para se estar, mas ele estivera tão preocupado com seu exame meticuloso do ferimento que sequer percebeu que havia invadido o espaço pessoal de Hansung, mais do que deveria.

Em vez de se afastar, como seria o esperado, nenhum dos dois se moveu. Jeongguk se perdeu contemplando os olhos castanhos, ainda em sua busca de qualquer sinal de que Hansung falara aquela frase apenas por falar. Mas ele estava perto demais e sério demais. Inabalável. Jeongguk sabia que não podia continuar duvidando.

Uma voz no fundo de sua mente gritava para que ele se afastasse de uma vez, para que concluísse aquele curativo logo. Seu corpo, por outro lado, havia deixado de responder, sua respiração ficando presa na garganta enquanto seus olhos deslizavam pelo rosto bonito devagar, até que lábios rosados estivessem em seu campo de visão.

Hansung passou a ponta da língua sobre os lábios.

Foi quando Jeongguk finalmente pigarreou e se afastou, procurando pelo medicamento que seria usado para a antissepsia do ferimento.

O rapaz suportou o processo de limpeza com o lábio inferior preso firmemente entre os dentes, inspirando fundo e soltando o ar com força para evitar soltar qualquer som de dor. Jeongguk só se atreveu a olhar para o rosto dele uma única vez durante a antissepsia, ainda desconcertado pela proximidade em que se encontravam havia apenas alguns instantes e pelas palavras proferidas. Então ele se ocupou do curativo em si, para surpresa de Hansung, que questionou curiosamente sobre o que era aquilo.

“Eu nunca vi algo como isso antes”, ele explicou quando percebeu que Jeongguk não havia entendido o porquê do questionamento.

“Acho que não tinham inventado ainda na sua época, mas é como as, anh, bandagens, com a diferença de que ele gruda na pele e é mais fácil de colocar”, explicou enquanto cobria o ferimento, garantindo que o adesivo não ficaria mal posicionado no lugar.

“Oh, compreendo”, murmurou, examinando o resultado final, tocando o material do curativo com o dedo indicador como para verificar sua textura. Depois ele mexeu o braço, sacudindo-o, experimentando. “A medicina evoluiu bastante também, não é?”, indagou com um olhar distante.

“É, acho que sim”, Jeongguk balbuciou como resposta.

“Existe algo que possa ser colocado em relacionamentos, para consertar?”

A pergunta tinha um quê de inocência, mas Jeongguk conseguia sentir que havia algo profundo sobre ela, embora não conseguisse distinguir o quê.

“Como assim?”

“Um curativo adesivo que possa ajeitar relacionamentos com problemas”, explicou Hansung.

“Diálogo?!”, Jeongguk meio respondeu, meio questionou, incerto sobre se era aquele o tipo de resposta que Hansung procurava. “Por quê?”

Talvez, se pudesse saber o que se passava naquela mente, ele também poderia compreender o que buscava. No entanto, Hansung hesitou, olhando para o lado a fim de evitar o olhar confuso e curioso de Jeongguk.

“Porque parece que, por minha culpa, você e Jimin andam enfrentando alguns… problemas”, ele disse por fim, quando Jeongguk começava a desconfiar de que nunca ouviria a resposta, e foi a vez do universitário ficar sem saber o que dizer.

Não era incomum que ele e Jimin discordassem em diversos assuntos, mas eles não costumavam ter discussões acaloradas sobre eles, mesmo quando não estavam em seu melhor humor. Com Hansung ali, tudo parecia diferente, contudo em nenhum momento lhe passara pela cabeça que o rapaz seria a causa dos problemas. Se alguém tinha culpa, provavelmente esse alguém era ele mesmo, sempre havia sido.

“Isso-” não é sua culpa, Jeongguk quis dizer. Entretanto as palavras mais uma vez estavam presas em sua garganta e o entalavam, tornando o processo de colocá-las para fora uma missão impossível. “Você está com fome? Está passando da hora do almoço”, mudou de assunto, levantando-se para procurar na cozinha algo que eles pudessem comer, sem se preocupar em esperar por um retorno.

 

 

 

Ao contrário do que havia acontecido nos últimos dias, Jimin chegou cedo e chegou agitado, gritando o nome de Jeongguk e de Hansung a plenos pulmões.

Por um instante, Jeongguk imaginou que Jimin estivesse ferido e saiu do quarto em disparada em direção à sala não apenas para garantir que tudo estava bem, mas também para ter certeza de que poderia fazer alguma coisa para ajudar o mais velho, não importava o seu estado.

O que encontrou, porém, ao parar na sala o fez parar de súbito. Jimin não parecia estar ferido ou passando mal, exceto pela falta de ar nos pulmões, que provavelmente era decorrência da pressa com que havia corrido até chegar em casa. Ele apoiava os dois braços sobre os joelhos e curvava o corpo para frente, enquanto recuperava energias o suficiente para voltar a ficar ereto. Só então ele foi capaz de respirar fundo diversas vezes para estabilizar sua respiração.

“O que aconteceu? Você não está machucado, está?”, Jeongguk perguntou para o caso de sua análise estar errada, com Jimin ferido de um modo que ele não pudesse ver.

“Não é isso”, respondeu ofegante, fazendo uma careta, mas já parecendo melhor que antes. “Eu descobri”, adicionou, colaborando para a confusão de Jeongguk e de Hansung - o qual estivera na sala o tempo todo e observava a tudo em silêncio, também alarmado pela situação em que o outro havia chegado.

“O que você descobriu?”, Jeongguk insistiu em sua necessidade de respostas completas, em vez de algo tão insatisfatório quanto um simples eu descobri.

“Lee Yeongdo”, Jimin continuou, sem dar qualquer sinal de estar irritado pela impaciência demonstrada por Jeongguk. “Lee Yeongdo é Kim Yushin, autor de Hyangdo… Eu estava certo o tempo todo…”

“Isso quer dizer que Hansung vai poder voltar para casa, certo?”, perguntou Jeongguk, verbalizando os pensamentos de todos os presentes na sala, mas ele sabia que ainda era cedo para dizer com certeza.

Ainda não era o fim.


Notas Finais


Hyangdo - era um dos nomes utilizados pra se referir aos Hwarangs, de acordo com a wikipédia -q. Como o livro que o Jimin está lendo não é exatamente a mesma história apresentada no dorama, então eu achei que seria uma boa ideia procurar algo relacionado e que não fosse muito longe da ideia original;

Kim Yushin - é o nome de um general de Silla e foi escolhido como pseudônimo para o autor de Hyangdo;
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OULAR~
Primeiramente (FOra TEmer).
Eu queria dizer que sinto muito pela demora!!! E queria dizer também que não tenho pretensões de abandonar essa fanfic~ Meu sonho é ver ela como finalizada um dia, porque é uma história muito preciosa pra mim <3

MAS deixa eu contar uma coisa legal pra vocês: essa fanfic deveria ter só dois capítulos e algo em torno de 14k/16k. Como vocês podem ver, essa fanfic está um pouco longe de ter só dois capítulos. Além disso, segundo capítulo estava ameaçando se tornar um pequeno monstro de mais de 10k, então eu o dividi, hahahahahaha. Esse é o meu amor por essa fanfic alimentando ela e a fazendo crescer.

Acho que é só isso por hoje... Se tiverem alguma pergunta que queiram fazer: https://curiouscat.me/nunytales
Muito obrigada por ler e até a próxima~


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