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História De luz e de sombras - Prelúdio IV: Casa de Ren - Lore Layl


Escrita por: Ninlil

Notas do Autor


Dizem que amar é dar a alguém a habilidade de destruir você, mas confiando que não fará isso.
( Frase de Criminal Minds)

(A capa do capítulo é uma arte baseada em Lana Del Rey, Encontrei nessa artista a aparência física perfeita para o que imaginava para Lore Layl Ren)

Capítulo 13 - Prelúdio IV: Casa de Ren - Lore Layl


Fanfic / Fanfiction De luz e de sombras - Prelúdio IV: Casa de Ren - Lore Layl

 

            O cristal roxo rachado com pontos amarelos brilhava na sua palma quando ela e Luke retornaram a Paideia, no tempo que se foi.

           O dia correra e já era do meio para o fim da tarde. Os habitantes, em sua maioria, se encontravam recolhidos após o incidente com o mestre jedi e procuravam retomar suas atividades internas após o susto. Mais adiante se encontrava a sede, para aonde Chewbacca e uma moça se dirigiam. O wookiee grunhia alguns ruídos que ela parecia entender e concordar com um balançar de cabeça.

            Rey prendeu a respiração ao ver aquela jovem, mesmo à distância. Sua mãe. Sim... sua mãe. A emoção a tomou, mas ela não permitiu que as lágrimas caíssem de seus olhos, contendo-se como fizera em sua outra vida, onde fora senhora de si, de suas escolhas, de seus sentimentos.  

              Desde que encontrara Luke, o redemoinho de emoções soterradas por anos no lugar que ela tão bem guardara, liberto agora, só a confundia, só a tirava de seu centro e  não mais se reconhecia. Aquilo tudo sempre existira e ela o abafara, contendo uma tempestade dentro de uma garrafa. Se fora capaz de encapsular toda aquela areia de ressentimentos, como não era hábil em lidar com isso agora, frente a frente?

 Por anos em Jakku mantivera a fibra, o controle e sobrevivera. Por que, então, agora tão à flor da pele? Por que não confiar em si mesma, em vez de ficar à mercê dos acontecimentos? Certo que sua vida tivera uma reviravolta alucinante, a ponto de deixa-la sem norte, a ponto de beirar o Lado Sombrio...  a ponto de, por ter tanto medo e descontrole, não saber lidar com Ben, que a protegera por toda a vida, sentia isso; a ponto de descarregar em Luke toda a sua frustração. Todavia, fosse em Jakku, fosse na ilha, era ela. Ou sua natureza se mostrara no deserto, altiva e forte, ou se revelava em Arch-To, uma pessoa temerosa, passional e rancorosa. 

Não. Não era ela ali, nos últimos tempos. E era-lhe inadmissível ter se permitido chegar a esse ponto. 

Luke falhara, sim. E como falhara... e como acertara em várias coisas. E como tentava consertar tantas outras. Admitir as falhas e acertos em seu pai era encará-lo como passível de erros, apesar de ele ser o que era, um grande jedi.  Ele não fora o responsável por tudo e também não era isento de seus atos. E lidar com os erros cometidos por boas intenções era muito difícil, pois se admitia que apenas tentar ser uma boa pessoa não a eximia de cometer falhas catastróficas. 

Depois do encontro com Ben e a descoberta que Snoke a queria em seus planos, um peso de responsabilidade se fez presente em seus ombros. Havia muito mais, pressentia, e não podia se dar ao luxo de falhar. Mas ela também era uma boa pessoa e poderia errar a ponto de cometer desastres, como seu pai.

 Talvez agora, prestes a ter a consciência de toda a história, sua, de Ben, de sua mãe e... de seu pai, pudesse encontrar o equilíbrio necessário para fazer o que era certo, saber o que era o certo.  E, mesmo assim, correria o sério risco de fracassar. Cerrou os punhos. Não havia como saber... não havia como ter certeza se iria conseguir. Apenas tinha que fazer o que tinha achava ser o certo. 

Voltou-se para Luke. Ele se encontrava muito tenso.

Rey não conseguia abraçá-lo... ainda. Havia muita confusão dentro dela e demoraria algum tempo até que se assentasse, embora muito desejasse. E, nessa disposição, tentou algo, um pequeno passo. Respirou fundo e colocou sua mão no ombro dele de uma vez, antes que hesitasse.

Skywalker arregalou os olhos azuis, surpreso, e logo uma expressão de pesar e carinho lhe toldou o rosto. Ela estava tentando... era muito difícil para Rey, como também para ele. 

Pousou sua mão humana no ombro dela. Olhou-a ternamente, procurando as palavras para ela, tão difíceis para ele. Embora fisicamente muito diferente da mãe, sua filha era uma lembrança constante de Lore.

- Sei – começou suavemente – que tudo poderia ter ocorrido diferente do que aconteceu. Mas também foi o que era possível ser feito.

Ela assentiu com a cabeça, incapaz de falar alguma coisa.

- Nunca fui – prosseguiu ele, em um grande esforço – muito capaz de falar de mim... ou de expressar o que sinto pelos outros.  Mas aqui e agora - olhou para longe, Lore Layl entrando na sede de Paideia - estarei totalmente exposto para você, Rey. Não terei como me defender. 

- Eu sei. – murmurou ela.

Os dois se afastaram por um momento, procurando se recomporem. Um dia, talvez, tudo fosse menos difícil entre eles, pensou Rey. Tinha esperança que acontecesse... e teria de ter coragem para assistir aos erros de Luke em breve, sem condená-lo, o que talvez viesse a ser um grande desafio.

- Tenho que lhe pedir – falou Luke, limpando a garganta – que não se mostre para Ben nas visões. Subestimei a ligação entre vocês. Se ele continuar te enxergando e até começar a conseguir se comunicar com você, pode haver uma alteração na linha temporal, na qual não teremos controle.

Rey também se endireitou.

- Não seria – começou ela, não em desafio – uma oportunidade de mudarmos toda a corrente de eventos?

- Perigoso demais... – balançou a cabeça negativamente – As possibilidades futuras que se criariam podem ser infinitamente piores. Não posso... não posso arriscar mais do que já arrisquei.

Mas poderíamos consertar tudo... pensou ela, franzindo a testa. Seu rosto se contorceu. Ou destruir tudo.

Rey olhou para Luke. Era preciso que ela começasse a confiar nele... mesmo que ele até se enganasse no fim...

Era preciso que ela realmente desse uma chance a seu pai.

           

            ***************

Enquanto seguia escoltada pelo wookiee através das verdes pradarias, ela percebeu que eram seus últimos momentos antes de se ver frente a frente com Luke Skywalker.

            Já o observara de longe ao chegar em Paideia, oculta propositadamente em farrapos e com um capuz a lhe cobrir o rosto. Incógnita, pôde avaliá-lo a uma certa distância sem interferências, enquanto o jedi passeava pelo descampado para verificar se tudo corria em paz. Gentil e cortês, um sorriso manso na face bronzeada, era muito querido por todos, que se iluminavam à sua passagem. Porém, com um pouco mais de atenção, ficava visível a distância que ele se mantinha dos outros através de sua polidez. Se era intencional ou inerente a Luke, ela ainda não chegara a uma conclusão.

Ainda.

Já na presença dele, na sala da sede de Paideia, abalou-se quando encarou seus olhos azuis claros. Tinha consciência de que isso poderia acontecer, muito embora não daquela forma. O olhar sério, solene, franco e tão significativo dele não era o aguardado... e, por isso, quando começou a caminhar em direção da mesa, baixou o rosto, parecendo tímida, enquanto, na verdade, procurava tempo para reavaliar a situação.

            Ela exalava majestade naturalmente, nada invocado por intenção, como um direito de nascença com o qual convivia sem mais reparar nele, inerente a ela. O seu caminhar se fazia harmonioso e sua beleza fluía através dos movimentos delicados. Nada era afetado, exagerado ou superficial. Sua discrição e suavidade enchiam o ambiente e causavam impacto por quem passava.

Han imediatamente sentiu o choque ao vê-la. Levantou-se em um rompante, como se estivesse diante da realeza e houvesse cometido a mais ignóbil indelicadeza de já não estar de pé face à sua presença,  sem graça por sua atitude e  confuso por se sentir daquela forma. Leia lhe arregalou os olhos, a boca meio aberta pela surpresa, não acreditando no que via. Entretanto, logo  sua expressão se fechou, irritada, e puxou-o rapidamente pela camisa para que se sentasse.

Luke se levantou devagar, por educação, sem tirar os olhos do rosto da moça, intrigado, voltando a sentar-se após ela se acomodar no banco à mesa, bem na sua frente.  

Ela continuava com o rosto baixo, sentindo o olhar de Luke lhe queimar as faces. Teria ele entrado em seus pensamentos...? Não... sua natureza cavalheiresca não o permitiria. Ela se encontrava em segurança, por enquanto. 

- Devo agradecer-lhe – falou Leia, com intenção clara de quebrar todo aquele encanto - mais uma vez por ter ajudado a salvar meu irmão e auxiliado meu filho...? – e fez um uma expressão interrogativa.

- Lore Layl Ren. – sentado ao lado de Luke, antecipou-se Ben ao captar os pensamentos da moça, pensamentos praticamente lhe dados de tão acessíveis que se achavam.

Lore levantou o rosto ao ouvir seu nome e sua expressão não era mais tímida ou emocionada e sim muito relaxada e segura. Olhou sem surpresa para o menino e meneou a cabeça em reverência, um pequeno sorriso. Sim, era poderoso. Apenas um garoto e colhera os pensamentos que ela deixara no raso de sua mente, sem machucá-la ou arranhá-la. Muito bom. 

Ben quis retribuir o sorriso, mas se deteve. O perfume de flores silvestres. Virou o rosto para todos os lados e não viu a moça de olhos verdes. Onde estava ela? Por que não se mostrava? Certamente ali ela se achava, pois era-lhe impossível não sentir o aroma... Entretanto, ela não aparecia. Mordeu os lábios. O que teria acontecido a ela?

***************************************************

Chewbacca, em pé, insistia em mostrar o holopads para Han, que ainda fitava a moça de forma confusa. Ralhou mentalmente consigo mesmo que já cruzara a galáxia por caminhos mais estranhos e conhecera todo o tipo de gente e raça... e mulheres lindas e exóticas, até muito mais do que essa que agora lá se encontrava... e deixara-se ali se impressionar com tanta facilidade. Estava enferrujado e tolhido pelo casamento, bem o sabia. Amava Leia e era ela quem desejou e continuava desejando. Porém um fato como aquele – impressionar-se a tal ponto com uma mulher como ocorrera há pouco – lembrava-lhe os custos da vida em família que escolhera há mais de uma década.

Bufou para si mesmo. Receberia uma reprimenda de Leia quando se recolhessem, ah, sem dúvida... uma briga daquelas, já esperava. E uma reconciliação excepcional também após uma grande discussão. Acabou por sorrir, no fim das contas. Era dessa forma que funcionavam, uma grande desarmonia orquestrada que terminava os impulsionando à frente por causa de suas tão marcantes diferenças pessoais. As brigas funcionavam como uma catarse, uma explosão da tensão das concessões que os dois se prontificaram a fazer para permanecerem juntos. Haviam encontrado uma fórmula de convívio entre mundos distintos. Entretanto, contando que não houvesse uma razão séria realmente, uma causa marcante, poderiam seguir por suas vidas assim até o fim, entre percalços e abraços.

O único motivo pelo qual sentiu os alicerces de seu relacionamento com Leia tremerem era seu filho. Ali sim a estrutura era delicada... mas estavam juntos, de mãos dadas nesse tocante até o momento e Luke se fazia presente onde eles não poderiam agir.

Agora já em terreno conhecido novamente, Han riu da situação na qual se metera e seu bom humor retornou. Contudo, uma coisa era incontestável diante de sua experiência de vida e instinto: aquela moça era uma grande, uma enorme, uma gigantesca encrenca. Teria até pena de quem se aventurasse por aquelas terras.

Balançou a cabeça para se concentrar no que Chewie grunhia e que parecia importante. Fez um gesto para Leia em referência aos holopads e ao banco mais afastado no fundo da sala e ela concordou com a cabeça, anuindo que Han e o wookiee se afastassem para verificar as informações truncadas obtidas sobre os cativeiros e cativos.

Han suspirou aliviado e levantou as sobrancelhas significativamente para Chewbacca, que grunhiu em acordo. Quanto mais longe daquelas mulheres, melhor.

 

*****************************************

 

Leia voltou sua atenção para aquela desconhecida.

- Lore Layl Ren... não me lembro desse nome nas cortes que frequentei. Trabalhou para qual família da Casa de Ren? – perguntou com um sorriso polido.

Muitos servos adotavam o sobrenome da casa ou casta para qual trabalhavam e seu ofício geralmente era vitalício na estrutura de nobreza em vários sistemas – não em Alderaan e muito menos entre os Organas, claro, pois era o mais liberal deles.

Todavia, a questão real não era essa. Ali Leia cometera uma provocação propositada e refinada, herança de seu aprendizado nas cortes desde criança e no ambiente perigoso do senado em sua juventude e maturidade. Era óbvio que Lore Layl era uma nobre por nascença através de seu comportamento e postura e perguntar-lhe sua origem daquela forma era um acinte. No entanto, logo que a jovem entrou, teve um pressentimento ruim e não via como defini-lo. Não era pelo comportamento de Han - isso era uma bobagem, que mereceria uma boa briga para que ele não saísse da linha em outras ocasiões. Existia alguma coisa nela - ou no que faria -  que fez um arrepio passar pela suas costas.

Lore Layl abriu um sorriso tranquilo.

- Sou da Casa Real. – sua voz era um contralto macio e sereno - Não se preocupe com seu engano, pois, no fim, todos somos servos. E os da realeza mais ainda por servirem ao povo. Como princesa, sabe tão bem quanto eu.

Leia Organa ficou lívida com a resposta inteligente, onde a outra se saíra magistralmente, e ainda conseguira fugir da pergunta essencial – a qual ramo da Casa de Ren pertencia. E quando já ia indagar, Lore foi mais rápida.

- Também não deve agradecer por nada, pois eu que sou devedora aqui. – ficou séria – Libertaram-me de uma prisão de mais de três anos. Não tenho palavras para dizer o que significa isso para mim. – um constrangimento surgiu entre todos, de cativa e resgatadores e ela amenizou o clima, sorrindo para a princesa – Agradeço as roupas e a toalete. Foi muita delicadeza sua.

Luke baixou os olhos por um momento, sentindo um suave perfume de rosas vindo dela, quando ela meneou a cabeça. Não existiam tais flores na ilha e tampouco nenhuma essência artificial desse naipe entre as mulheres de Paideia.

Franziu a testa, determinado, procurando clarear sua mente da distração, analisando que Lore Layl não mentira em nenhum instante, embora tudo nela parecia calculado. Medir a verdade quando lhe achasse conveniente seria uma mentira disfarçada ou apenas uma manipulação?

Ben observava com cuidado a jovem à sua frente. Não reparara nada antes, pois seu primeiro encontro com ela fora naquelas circunstâncias do ataque ao seu tio. Todavia, agora com calma... havia algo que não conseguia discernir e que o incomodava. Ela não era má pessoa, no entanto. Se fosse maldosa, tinha certeza que saberia. Era alguma coisa a mais. E ainda mais atento ficou ao ver a postura de seu mestre, calado até aquele tempo, quando, pelo o que o conhecia, já teria interferido naquela conversa.

- A Casa de Ren está praticamente extinta. – retornou Leia, já se irritando com os jogos da moça e também intrigada pelo silêncio de Luke – E um membro real como cativa com outros pessoas que não sejam da realeza não costuma ser o de praxe, principalmente quando parece tão bem para alguém que foi prisioneira durante tanto tempo. Suponho, então, – não mais se conteve e sentiu prazer em poder ser direta – que seja tão importante que a conservaram quase incólume durante seu encarceramento. Poderia, então, por gentileza, dizer de qual ramo da Casa de Ren pertence?

Lore não se abalou com o tom mais ríspido de Leia, embora não tenha gostado em nada por ter sido intimidada.  Simplesmente voltou-se para falar com Luke, fitando-o profundamente com seus olhos azuis-esverdeados.

- Não saí disso sem sofrimentos, mas não farei uma lista das dores que passei para conquistar sua simpatia. – havia uma altivez sóbria em sua voz - Você é um jedi e pode entrar na minha mente se quiser verificar se falo a verdade ou não. - meneou a cabeça, decidindo-se - O ramo da Casa de Ren que nasci é Andhera.

Luke a encarou de volta, muito sério. Percebeu que ela abrira sua mente, como quem abre a porta de sua casa, ele podendo ver relances de seu interior se quisesse. Ou talvez até adentrar lá. Era um convite.

Uma usuária da Força.

- Não. – disse, sem piscar – Sei que fala a verdade. A questão é para que exatamente está falando a verdade.

Inesperadamente, ela sorriu e havia um tom divertido no seu olhar.

- Basta me perguntar, Skywalker.

Leia engoliu o insulto de ser ignorada em virtude da informação dada. Andhera. Claro... como não atinara antes? Seus instintos a pressionavam a arrancar de Lady Ren sua origem e mais uma vez constatou que podia confiar em sua intuição. Há muito tempo não ouvia falar mais daquela família, mas era óbvio pelo comportamento de Lore Layl que a ela pertencia. Pronta para se pronunciar, imaginando que agora sabia onde pisava,  sua intuição a fez estancar com uma suspeita. Afinou a raiva, para que a mesma a conduzisse sem que perdesse o foco e resistisse às provocações sutis da outra mulher.

- A Casa de Ren serviu a Palpatine mesmo antes mesmo que se tornasse Imperador. – disse, árida. Nunca aprendera a amansar a voz falsamente – Muitos acordos políticos foram possíveis através da Casa, mas o ramo Andhera se destacou entre as famílias renianas através dos casamentos que promoveu com outras casas reais da galáxia. Aliás... boa parte da fortuna dos Andheras teve como fonte esses casamentos... conseguindo, inclusive, o comando da Casa de Ren - estreitou os olhos - Espanta-me eu não conhecer seu nome.

Lore Layl apoiou os braços na mesa, encostando o rosto no ombro esquerdo, na direção de Leia e, quando falou, seu tom era seco e havia um leve toque de desdém diante das insinuações da outra mulher.

- Espanta-me, princesa Organa, que ainda se atenha a protocolos tão primários depois de ter se tornado uma rebelde. Nem eu e nem você estamos na corte, agora. Ou nos encontramos no Senado, onde a polidez é verniz da raiva? Pergunte-me o que realmente quer saber, sem rodeios.

Luke concentrou-se e captou alguns pensamentos de sua irmã e, conjuntamente com as pistas lançadas na conversa, compreendeu que a família Andhera treinava suas filhas e as utilizava para realizar casamentos políticos de grande relevância na época antes do Império e durante os primeiros anos deste, como também relacionamentos amorosos com fins de chantagem e influência.

Foi doloroso ouvir isso e suas possíveis implicações no presente, em Lore Layl. 

Após a ascensão e consolidação de Palpatine como Imperador, essas práticas foram se diluindo diante da concentração do poder imperial, pois o monarca a tudo comandava que estivesse em seu alcance... e as uniões políticas aconteciam sob sua égide, sua autoridade, sua coação e sua violência. Não havia mais necessidade de entremeios e nem de intermediários para o xadrez político.

Então, se Lore Layl era uma Ren, talvez até uma das últimas, por que Leia se alterara tanto?

-  Lady Ren. – adiantou-se a princesa, o punho cerrado na mesa – Palpatine se casou com uma Andhera antes do Império. Você é parente dele?

O queixo de Lore se elevou um pouco, altiva.

- Sou neta dele.

Luke semicerrou os olhos, o coração pesado. Mais de uma década se passara e a menção do Imperador lhe trouxe a lembrança viva de seu encontro com ele na Estrela da Morte, a espessura e peso daquele mal personificado. A tentação do Lado Sombrio. Seu pai nas trevas. A morte passeando por seu próprio corpo em meio aos raios, ferindo sua alma. Seu pai morto.

Tudo se fora, bem o sabia, e não cultivara nenhuma vingança ou ódio do que acontecera. Toda a sua ira fora jogada fora quando lançou o seu sabre para longe, ao recusar o convite do Lado Sombrio feito pelo Imperador. No entanto, eram-lhe ainda dolorosas essas feridas cicatrizadas, delicadamente guardadas em segredo durante todos esses anos... e expostas a ele mesmo mais uma vez, através de Lore Layl.

Sentiu a mão infantil de Ben na sua.

Foi uma surpresa, pois o menino se mantivera tão quieto, quase que oculto na Força durante toda a conversa até aquele instante que não lembrava de sua presença ao seu lado. Isso o pôs em alerta. Durante os anos com seu sobrinho, em momento nenhum o perdera de seu campo mental, mesmo quando ele se ocultava na Força,  como um eterno vigilante, uma parte de sua mente conectada a Ben. E agora havia esquecido até de sua existência... por um breve momento, mas esquecera.

O que estava fazendo...?! O que estava se permitindo fazer?

Respirou fundo. O menino não o esquecia, era-lhe fiel, confiava plenamente nele. 

Apertou suavemente a mão de Ben, tranquilizando-o, um pequeno sorriso.

Aquela cena não passou desapercebida por Lore. Baixou o rosto, os cabelos negros a esconderem seus olhos azuis esverdeados por um segundo para logo depois ficar ereta e encarar Leia friamente.

- Assim me olha, princesa Organa, como se eu carregasse o Imperador comigo e suas intenções. Devo também encará-la com a sombra de Vader?

Leia se enrijeceu. Como ela soube...?

- São situações diferentes, se realmente sabe de Vader e de mim.  - rosnou - Mas você... você é como se não existisse para a galáxia, mas aí está, uma herdeira de Palpatine  em solo jedi. Muitos mistérios em torno de você.

Lore mediu Leia com atenção. Dar-lhe-ia o que queria...? Não se envergonhava de nenhum fato de sua vida. Talvez a irmã de Skywalker acabasse por se distrair com as informações e a deixasse em paz por algum tempo, tempo suficiente para que ela pudesse ficar a sós com o jedi.

- O mistério de nunca ter ouvido meu nome? – balançou a cabeça, uma ponta de leve ironia no olhar. Falou pausada e objetivamente, sem alterações emocionais - Quer então saber minha história. Isso lhe dará paz em confirmar suas suspeitas sobre mim?  Pois muito bem. - sua voz se tornou cortante como gelo - Minha mãe fugiu com meu pai quando soube que engravidara de mim, pois o Imperador tinha outros planos para ela. Ele nos caçou e finalmente nos encontrou. Matou meus pais e colocou-me em um planeta na Orla Exterior para ser criada longe de todos. – fez um gesto displicente com a mão – Fiquei lá sendo educada por preceptores até há três anos, quando fui sequestrada e presa. – fitou, firme, os olhos castanhos de Leia, a voz baixa, controlada – Basta ou deseja os detalhes sórdidos? Eu conto o que o monstro da minha família fez, contanto que você diga o que o seu fez.

Apesar de sua fala fria, as faces de Lore Layl se enrubesceram, demonstrando tanto suas emoções quanto o seu controle, Luke percebera. E também compreendera que desde o começo a moça, apesar de se dirigir para Leia, falara para ele, apenas para ele.

Inspirou profundamente. Aceitar o inevitável não significava se prostrar diante dele e sim enfrentá-lo com dignidade. As linhas do futuro se mostravam embaralhadas; não conseguia discerni-las, cenas confusas e desfocadas que poderiam ser mal interpretadas. Sem a totalidade de seus poderes, dar crédito a miragens levaria, sim, a criar caminhos possíveis de dias futuros não desejáveis.

Se Lore Layl Ren era o seu futuro que se cristalizara ali e agora, deveria saber o que a trouxera para si e para aonde seria possível irem.

Levantou-se, seguido imediatamente por Ben.

Todos na sala se imobilizaram quando viram o jedi de pé. Seu silêncio, sua mansidão e sua nobreza possuíam um peso que tinha o poder de calar até a mais acirrada briga.

- Leia – sua voz saiu suave, mas com autoridade – Han e Chewie estão vendo os dados nos holopads e creio que encontraram informações interessantes que precisam de seu conhecimento e intuição. Por favor, veja o que pode ser para nos auxiliar a esclarecer toda essa situação. – virou-se para o canto da sala - Chewie, após mostrar os dados para Leia, verifique os três homens que estão detidos. Não desejo que lhes falte nada. – o wookiee já ia emitir urros de protestos quando o jedi o interrompeu – Não. Não importa o que fizeram; que sejam bem tratados na medida do possível. Amanhã eu mesmo falarei com eles. Han, poderia ver os outros novatos que chegaram, se precisam de algo? Também seria bom confirmar que todos em Paideia já se encontram bem após o ocorrido. Diga-lhes que estou bem, caso estejam ansiosos.

Olhou para Ben com carinho e o menino segurou sua mão metálica. Tio e sobrinho rodearam a mesa e pararam em frente à Lady Ren.

Luke estendeu a mão humana para a jovem.

- Vamos caminhar um pouco. Temos muito o que conversar.

Ela olhou para mão estendida e franziu a testa, em dúvida.

- Por favor, Lore. – insistiu Luke, brandamente.

Lore Layl estremeceu ao ouvir seu nome ser dito de forma tão íntima e mansa. Não era para ser assim... não dessa forma.

Ela hesitou por um segundo e permitiu que Luke segurasse a sua mão, ajudando-a a se levantar, conduzindo a ela e a Ben para as colinas. 


Notas Finais


Peço desculpas pela demora em publicar este capítulo. O fim do semestre foi de grandes demandas.
Este capítulo, inclusive, originalmente estava programado com a conversa de Luke e Lore. Entretanto, desejo tempo para redigi-lo como se deve, com calma e só poderei voltar a escrever na segunda semana de janeiro. Então, preferi apresentar Lore Layl Ren e, posteriormente, a sequencia dela com Luke.
As personagens ganham vida quando escrevemos, a tal ponto que estou encontrando trilhas sonoras para elas. Já tenho para Ben, Kylo e Lore. Hoje colocarei a de Lore. A música carrega a história dela - foi o que senti.
Gothic Storm - Our Worlds Divide ( Epic Emotional Piano )
https://www.youtube.com/watch?v=sDMyxwUCs6s


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