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História De luz e de sombras - Prelúdio VIII: Luke e Lore - parte 1


Escrita por: Ninlil

Notas do Autor


O que verdadeiramente somos é aquilo que o impossível cria em nós.
Clarice Lispector



(A narrativa é do ponto de vista de Lore. O capítulo Luke e Lore é dividido em duas partes, sendo esta a primeira. Eu o dividi em duas seções por uma questão de quantidade de palavras, mas é um texto só e contínuo.)

Capítulo 17 - Prelúdio VIII: Luke e Lore - parte 1


Fanfic / Fanfiction De luz e de sombras - Prelúdio VIII: Luke e Lore - parte 1

     Os sapatos dela rangiam na relva, quebrando o silêncio quase absoluto que a noite impusera. Não existia paz naquela ausência de sons e sim antes uma expectativa, um esperar pelo inesperado, cada passo como o soar de um relógio.

   Em contraste, a mente de Lore era um pandemônio, as vozes alucinadas, gritando, provocando-a, acusando-a, rindo dela a cada metro transposto, a colina se aproximando a olhos vistos. Elas estavam apavoradas, pensou a moça, sorrindo internamente, pois temiam o que poderia vir a acontecer. E o pavor delas se perfazia na alegria de Lore,  que seguia em frente ignorando todo barulho infernal que infestava sua cabeça e não se incomodando em ter seu maxilar travado por elas.

     Em meio a  toda àquela algazarra mental, Lore encontrava um espaço para refletir. Elas não existiam como entidades vivas. Eram um resultado de uma técnica avançada e cruel da Casa de Ren em condicionamento.

Como o Imperador ordenara que ela permanecesse consciente de seus atos, ou seja, com toda sua estrutura psíquica intocada, Weny Ren não se valera dos procedimentos tradicionais, os quais consistiam em alterar os valores, concepções, visões e até traços de personalidade e  de pensamento de sua vítima. O condicionamento de suas ações e controle foram, através de tortura, procedimentos psicológicos, medicamentos e, principalmente, da manipulação de uma vertente reniana da Força, introduzidos na mente de Lore em compartimentos personalizados no formato de personalidades artificiais. Uma esquizofrênia fabricada, personalidades múltiplas artificiais, as quais continham controle e influência em Lore, um aparato psicológico norteado com os entremeios do uso sombrio da Força.

Assim, Weny Ren se encontrava, de certa forma, dentro da moça, com toda a informação, instrução e condução das técnicas renianas de sedução; Palpatine também se fazia presente através da fixação dos propósitos, conhecimentos da Força e crueldade necessária para as ações; sua mãe Layl tinha seu lugar, sua raiva eterna, sua força e persistência, seu ódio pelos Skywalkers e frieza insana; e finalmente seu pai, em sua fraqueza e decência... um toque cruel que a instrutora sugerira a ser implantado, como uma consciência à parte para lembrar à moça o que ela poderia ter sido e jamais poderia vir a ser.

     Ela se submetera a essas vozes no começo, de forma absoluta, pois a pressão era intensa e constante... e ela não passava de uma criança. Porém, ao longo dos anos, Lore reuniu forças  paulatinamente, bem como destreza para lidar com essas vozes, preparando-se para sabotar os planos de seduzir Skywalker. Uma luta voraz de vontades durante todo aquele tempo, culminando quando encontrou os olhos do jedi naquela manhã, quando Lore conseguiu agir de forma diversa do planejado.

   Não fora fácil. Não era fácil. Ela nunca estava só em sua solidão, nunca havia paz no seu interior verdadeiramente. Forçara-se a aprender a ignorar aquelas vozes, aquele barulho constante dentro de si, porém elas lá se encontravam, sempre... sempre! Sempre a falar... sempre a destilar ódio, sempre a dar ordens que Lore batalhava para não obedecer. Uma luta sem fim. Houve muitos momentos nos quais fora tentador capitular, deixar que elas tomassem totalmente o controle, como naqueles primeiros anos. Menos sofrido. Menos barulho. Menos luta. Menos dor.  Talvez até fosse possível se ausentar de si... encontrar um pouco de paz.

       Um pouco de paz. Como sonhava com isso. Não sabia o que era paz, mas certamente encontrava-se no lado oposto que ela trilhava. Devia ser bom...

        Não imaginava como poderia destruir aquelas vozes, libertar-se de seu comando. Não encontrara uma forma... não tinha como imaginar livrar-se delas, a não ser finalmente cumprir sua missão. Com a missão cumprida, aqueles comandos logicamente tenderiam a desaparecer, já que os objetivos teriam sido alcançados. Ela seria livre...? Provavelmente. Teria paz? Talvez. A que preço? A vida de Luke. E isso... isso Lore jamais admitiria. Nunca.

         Nunca.

         E aí o grande impasse. A paz dele ou a sua. A vida dele ou a sua.

        Haveria de ter outra solução. Tinha que haver, pensou, enquanto olhava de canto para Skywalker, que caminhava olhando à frente, as feições rígidas. Ainda sentia a compaixão dele quando a abraçara antes... e sua paixão também. Suspirou. Teria ele desconfiado que a paixão não nascera de forma... espontânea? Dolorosamente, ela esperava que sim, que ele não se deixasse enganar, apesar dos pesares.

            À medida que se aproximavam de seu destino, uma sensação de ardência em sua pele se despertou nela, como se andasse em direção a uma fogueira, o calor confortante, diferente. A temperatura de seu corpo subia gradativamente e suas mãos pareciam em chamas. Como  que ela entrasse nas próprias labaredas, sem se queimar. Centelhas  envolviam sua pele em todo o seu corpo, permanecendo ao seu redor, como uma silhueta de si mesma, sem correr para dentro dela. E a sensação era boa, de vida, quase lembrando o êxtase, atiçando-lhe o sangue a correr mais rápido nas veias. Ela vibrava naquelas labaredas, sentindo cada parte de seu corpo pulsar, sua alma a regojizar. Piscou os olhos. Não... não estava literalmente em chamas... embora conseguisse enxergá-las em seu estado etéreo.

                A Força.

             Nunca a sentira dessa forma...!! Era uma usuária da Força, como toda Andhera o era. Possuía algum conhecimento, exercia a influencia reniana, mas... mas jamais perceber a... fluidez da Força em si! Não dessa forma.. nunca dessa forma. Estava maravilhada! Desejava esse calor dentro de si, essa magnificência, essa... vida! Aventurou-se a tentar, a querer tão intensamente que a Força penetraria seus poros, a preencheria com sua luz que...

                Dor!!

                Parou de andar instintivamente e expulsou a luz de dentro de si. A dor era... quase física... pior do que física! Mas como... como? Como a luz podia ferir? Procurou refletir sobre esse mistério quando de repente percebeu que... que havia silêncio dentro dela.

                As vozes haviam se calado.

             Não podia crer...! Era ... impossível! Como? Como? Silêncio... absoluto silêncio. Abençoado silêncio. Seu tórax inflou e baixou em um alívio, respirando melhor. Silêncio... Lore semicerrou os olhos prazerosamente, alheia a tudo, um alívio grandioso, deliciando-se pela ausência do constante barulho e pressão. Após tantos anos... após tanto tempo... um pouco de sossego. Era como ter saído do inferno.

                Abriu imediatamente os olhos, em alerta. Teriam...? Não... elas lá estavam dentro dela. Mudas e aterrorizadas pela luz que a rodeava e pela ameaça daquele fogo etéreo atingi-las. Não pôde conter um sorriso de satisfação e descobriu nesse momento que ela podia falar, que as vozes não a impediam mais!! Era inacreditável! A alegria que emanava dela beirava à inocência infantil. Era como se pudesse ver e sentir o mundo de forma diferente agora. Seu coração estava acelerado.

                Procurou se acalmar, respirando fundo. Nada era de graça. Nada. Tudo tinha seu custo e sua duração... precisava descobrir o que acontecia. Forçou-se a amenizar sua recém-descoberta alegria e vestir-se novamente de racionalidade. E necessitava finalmente falar para Skywalker o que acontecia com ela, para ele se proteger.

                Voltou-se, imaginando que ele estaria ali perto, observando-a. Mas não. Um pouco mais afastado dela, Luke se isolara. Ele não brilhava como ela... será que não conseguia enxergar as centelhas etéreas nele ou Luke não fora envolvido pela Força daquela maneira? Conseguia vê-lo de perfil e percebeu que seu rosto estava muito pálido e que o jedi cerrara os olhos, o cenho franzido, os ombros levemente caídos. A respiração era lenta e profunda enquanto suas mãos se fechavam e Lore teve a impressão que um tremor lhe tomara por um momento. Um homem a tomar uma decisão. Não.  A decisão já fora tomada... e ele reunia coragem, pensou ela, preocupada, e mais alguma coisa que não conseguiu definir. O quer que ele optara lhe pesava fundo no coração.

Ele lhe deu as costas completamente num grande suspiro, não de exasperação ou de resignação, mas antes de profundo cansaço, como se assumisse um grande peso nos ombros.

                - Está se sentindo melhor?

                - Sim. – como ele sabia...? – Posso realmente falar agora. Por isso, preciso lhe contar o que... fui incumbida de fazer. Pode ser que eu não tenha outra oportunidade para lhe dizer.

                - Não.  Agora não é mais tão importante o que lhe mandaram fazer e sim o que você quer fazer.

                Os cabelos negros dela esconderam suas feições, enquanto ela pensava, conformada. O que eu realmente quero não poderei fazer...nunca.

                - Talvez nem isso, Skywalker.  Mais importante é eu fazer o que devo fazer. Sou uma ameaça para você. Vou embora, afastar-me de você. – um pequeno sorriso sarcástico - Sua irmã certamente ficará feliz em conduzir para uma prisão em Coruscant.

                Ele se empertigou, ainda de costas para ela.

                - Se se afastar desse centro da Força, retornará a ser como antes. O que está sentindo... o que o Lado Luminoso lhe proporciona só possui alcance neste lugar.  E mesmo que parta para longe, um dia voltará para cumprir o que lhe ordenaram.  Você sabe disso. Somente adiará o inevitável.

                A moça trincou os dentes. Assim vivi até agora. Como poderia ser diferente?

                - Não foi o inevitável que me trouxe aqui ou qualquer outro tipo de poder sobrenatural. Foram seu cunhado e sua irmã. – disse rispidamente – Não me permitirei encontrar você mais uma vez. Posso evitar isso.

              - Você fala como se possuísse o controle sobre todos os fatos da vida. E, no entanto, está aqui, comigo. Ninguém pode controlar todas as variáveis...  ninguém pode controlar os designios da Força.

                - Desígnios da Força? Que desígnios da Força? Não foi a Força que me fez prisioneira daquele velho sádico....! E muito menos ser refém de bandidos vis. E menos ainda ter sido resgatada pela Rebelião, já que não foi o único cativeiro que libertaram. Coincidências, jedi... e vontade em seres conscientes.

                Luke, ainda de costas para ela, elevou o rosto para o céu nublado.

                - Existem estrelas atrás dessas nuvens, mesmo encobertas. Planetas, sistemas, galáxias.   – sua voz saiu muito suave –  Elas existem, mesmo com a nossa ignorância acerca delas. Existe muito mais do que podemos imaginar, provar ou enxergar. Não somos fantoches a cumprir um enredo inflexível. Existe espaço de escolhas, e construímos nossa história dentro da história maior, futuros possíveis... não absolutamente independentes, mas interdependentes no seio de fluxo temporal incomensurável. Decidimos nosso papel, porém com o que nos foi dado. Você é a neta do Imperador e isso não pode ser alterado. Ele impôs um destino a você, do qual se rebela. Você escolheu se rebelar. Contudo, nem sua escolha teve o poder de desfazer o que ele fez e cá está comigo, em um desenrolar de eventos interligados. A sua escolha cabe agora, em me prejudicar ou não. Isso lhe pertence.

                As feições de Lore se contorceram, ela se permitindo expressar no semblante o que sentia, já que Luke não olhava para ela. Havia escolhido há muito, muito tempo... e suas escolhas não tinham alterado os fatos. Teriam esse poder agora?

                Ele suspirou, semicerrando os olhos diante do silêncio dela.

                - Pode negar que algo maior nos liga, Lore? Você sentiu, eu sei. Não será capaz de me fazer mal.

                Aquilo era doloroso demais...! Ele não percebera... ele não sabia. E ela teria que lhe contar.

                Endureceu a voz a muito custo.

                - Eu já lhe fiz mal.

                Luke se virou para ela, surpreso.

                - Criei um vínculo entre nós através da Força, há muito tempo, antes de você se tornar um jedi. – falou objetivamente e sem hesitações – Ficou, desde então, ligado a mim.

                - Qual a função desse vínculo? – Luke empalidecera.

                - Seduzi-lo.

                - Seduzir-me para o Lado Sombrio?

                - Você sabe não. – ela piscou pesarosamente – Para controlá-lo, quando já estivesse na escuridão.

             Lore se mantinha firme, enquanto observava Luke baixar a cabeça e cingir os lábios. Sua percepção se encontrava ampliada, sensível, mais apurada com a luz a circulá-la em brasas etéreas. Captava a dor em Luke, atingindo-lhe todas as suas solidões, solidões que ela tão bem conhecia nele... e uma tristeza com potencial a se transmutar em amargura.

              Enxergou algo a mais também, uma sombra próxima a ele, algo indefinido, estranho, que lhe pesava a mais o semblante. Ela franziu o cenho, procurando discernir o que seria, porém havia sumido de suas vistas.

              Praguejou internamente. Ela se odiou vê-lo sofrer, por ter que assim agir, porém não se arrependia. Ele tinha que saber. Ele tinha que ver quem ela era.

              - Entende agora por que vou embora?

            Luke a encarou, já restabelecido, aquela determinação mansa, porém firme, que lhe era caraterística.

            - Não. –  foi categórico – Eu a trouxe aqui com um propósito. Há uma chance de você ser livre.

           - A que preço, Skywalker?

          - Da verdade, Lore. Apenas da verdade.

        Sem mais palavras, ele lhe tomou mais uma vez a mão para conduzi-la à subida do morro e Lore levou um choque ao senti-la fria, muito fria. Ele estava com medo de algo. Apertou-a firme, fitando-o significativamente.  Luke encarou demoradamente aqueles olhos esverdeados, a testa franzida. Algo passou por sua mente, talvez alguma conclusão, e sua expressão se suavizou.

        - Não me olhe assim.

       - Por que não?

      - O que sente... não é real. – disse ela, um sorriso triste.

     Ele lhe devolveu o mesmo sorriso.

    - Você não tem como saber o que realmente sinto.

  Lore balançou a cabeça, contrariada.  Sim, eu tenho como saber... eu já estive dentro de sua alma. Não pude evitar de fazer o que fiz, mas tentei ser o mais suave possível.

 Ele a media com atenção, aguardando... e apenas o silêncio lhe foi dado. As feições de Skywalker se enrijeceram em uma seriedade solene. Começou a caminhar os últimos metros para iniciar a subida na colina, trazendo a moça consigo, ambos em um silêncio tenso. A noite  caíra e as lanternas acesas iluminavam parcamente o trecho ao redor do morro, como pequenas estrelas azuladas piscando em um espiral. O céu noturno, envolto em nuvens, era muito escuro, deixando apenas as lanternas azuis como única fonte de luz.

 A trilha era em sentido anti-horário e ligeiramente em aclive, forçando Lore a soltar sua mão da de Luke para que levantasse o vestido até os joelhos, a fim de ser capaz de seguir adiante na estrada de relva falha. Percebeu, então, que o jedi se posicionou à direita, do lado da encosta do morro, um caminho não iluminado pelas luzes artificiais, deixando que ela andasse próximo à cerca sutilmente clarificada pelas lanternas, a cerca à altura de seu quadril, que se fazia segurança para os caminhantes frente à paisagem que se desvendava.

À medida que subiam a trilha, a altura para com o chão aumentava e uma queda daquele ponto começava a se tornar perigosa, caso ocorresse. Não se incomodava de ali estar, pois tinha a impressão que se encontrava junto às estrelas anis – sua trilha iluminada celeste - e a vastidão da paisagem, mesmo na escuridão, lhe fornecia a sensação de calma e liberdade. Contudo, estranhou que assim Luke o fizesse. Como um cavalheiro que era, o lógico seria que a induzisse a andar junto à parte do morro, como para assegurá-la de algum tropeço e provável queda acima da cerca.

Ela andava na luz... das estrelas artificiais, a ardência do fogo a aquecê-la, fogo que agora mantinha as vozes caladas em seus comentários.

Ele caminhava nas sombras... do lado do caminho não iluminado, parte do rosto na escuridão, pequenas rugas a surgirem nos cantos dos olhos.

- O Lado Luminoso... este é o ponto da Força nesta colina. – falou ela mais para si.  Sinto em mim. Olhou-o de soslaio – Por isso me trouxe aqui, Skywalker?

- Também. – o tom dele se tornou áspero  – A Força é una, mas é percebida por nós em partes.   Não há como, ainda, encararmos a Força como em sua totalidade absoluta.  Este é um centro da Força e quem aqui caminha só encontra o que escolheu. Você sente o Lado Luminoso apenas aqui e agora, mesmo o Lado Sombrio se fazendo presente. – baixou o tom – Ele sempre está presente.

As chamas invisíveis a faziam vibrar. As vozes observavam em silêncio, em expectativa, e sua presença era sentida por Lore, sua mudez e atenção.

- Por que isso?

- Porque você precisa... e escolheu.

- Eu escolhi? – nunca escolhera lado nenhum. Apenas fugia das sombras.

- Desde o começo... você escolheu. – sussurrou com dificuldade.

- Você está enganado sobre mim. Não sou uma boa pessoa, Skywalker. – disse em um esgar - Nunca fui. Não hesitaria em destruir a quem me fez mal.

- Então por que ainda não me matou?

A resposta de Luke foi um tapa em seu rosto.

- Você nunca me prejudicou. – disse devagar.

- Não me diga que não. – a voz saiu estranhamente rouca -  Eu sou o motivo por você ter tido a vida que teve... e que tem.

- Minha vida seria mais fácil sem você, admito. – e era verdade... tristemente, era verdade, pensou – Mas não distorça a realidade. Foram aqueles monstros a razão, não você.

- Seus algozes estão todos mortos agora. E, mesmo assim, seria melhor se eu não mais existisse.

- Eu seria finalmente livre.

Lore parou de andar de pronto, as pequenas pedras entre a relva a ressoarem sob seus sapatos. Estarreceu-se consigo mesma pelo o que tinha falado de modo tão espontâneo, quase como uma divagação... e por não ter sido impedida pelas vozes, que continuavam caladas. As centelhas etéreas continuavam a arder por toda a sua pele, como milhares de mordidas de insetos, seu corpo todo formigando.

Fitou o jedi, ainda sem acreditar como falara aquilo... e como aquilo era tão verdadeiro.

 Luke se enrijeceu entre as sombras, uma veia a saltar de seu pescoço.  

Não desejava... nunca desejou o mal dele, nunca quis sua morte, muito pelo contrário! Tentara protegê-lo de todas as formas que lhe foram possíveis... embora tenha falhado em todas, irremediavelmente falhado.  Construíra a ponte psíquica, após tanta tortura que não suportava mais viver e não podia morrer.  Aquelas drogas... as surras... o aprendizado... o condicionamento initerrupto...  ela estava ali, uma ameaça para Luke...ela capitulara. Ela fracassara. Ela estava presa.

E agora o magoara profundamente... com a verdade. Mais uma vez.

Como podia desejar que Luke pudesse... morrer?!

- Eu lhe avisei, Skywalker.  Não deve colocar sua fé em mim.

- Pois eu confio em você. Na verdade, conto com isso. – as últimas palavras saíram arranhadas, guturais, pesadas – Preciso que seja realmente sincera consigo mesma. Você está imantada com a luz, porém ela em si não a libertará e sim as suas decisões. São sempre as nossas decisões. Sempre.

Deu-lhe as costas, voltando a subir na trilha. Lore franziu o cenho enquanto o seguia. Ele parecia desconfortável enquanto caminhava, esticando o pescoço de vez em quando para a direita, como se estivesse sendo fisgado por uma dor. Era visível a ela o esforço que Luke se forçara para conter o que o incomodava. A sombra do morro parecia incorporar-se ao jedi.

As nuvens se adensavam e não tardaria a chover. Alguns raios cruzaram o céu nublado, iluminando a noite por segundos. Lore parou junto à cerca, descansando suas mãos na madeira lisa, para apreciar a apreciar a paisagem clareada momentaneamente e refletir sobre tudo o que acontecia, percebendo que as chamas invisíveis a faziam pulsar como labaredas. Todo o vale se estendia no horizonte a perder de vista. Em algum ponto distante, a chuva começara, pois o cheiro de terra molhada lhe chegou pelo vento que se avolumava, envolvendo-a em uma sensação agradável.

- O que quer realmente de mim?

Ele estava às suas costas, bem próximo dela. As palavras dele ainda ressoavam em um tom mais denso. A luz quente e etérea na qual se encontrava a tornava mais sensível a tudo, como se seus sentidos houvessem alcançado maior amplitude. Captara o calor do corpo do jedi próximo ao seu, porém, junto a esse calor corporal, um frio, algo tão gelado e cortante que  um arrepio correu por sua espinha. Empertigou-se, em alerta, apertando as mãos na cerca.

- Neste momento, quero que se afaste.

- Por que mente, se agora está livre para falar? Seus monstros estão com medo da luz que a envolve.

Ela se voltou para ele, furiosa.

- Como ousa invadir minha mente?!

-  Posso senti-los...  posso ver através dos olhos deles agora.

Ela sentiu um calafrio ao escutar o peso do que Skywalker dissera. A voz dele era um murmúrio, todavia tão grave, tão soturno. As luzes das lanternas só o iluminavam parcialmente, produzindo nuances estranhos, tonalidades gradativas de escuridão.

 Lore estreitou os olhos, procurando ver o azul dos olhos de Luke. Estavam muito escuros. As chamas etéreas nela vibraram, quase se tornando o estalar de chispas e o jedi balançou a cabeça, parecendo tonto. Os lábios dele estremeceram por um momento, terminando com um suspiro cansado.

- O que você fez...?

 - Eu a trouxe neste centro da Força para que você se fortalecesse no Lado Luminoso e pudéssemos conversar. Mas durante sua vinda para cá... – respirou fundo - O que há dentro de você não será detido para sempre. Você tem que destrui-los, Lore. Não posso fazer isso por você.

- Não lhe pedi nada, Skywalker. Esses... esses monstros são meus. Lido com eles há muito tempo e detive-os até hoje. São minha responsabilidade, apenas minha. Eu decido o que fazer com eles.

- Mais cedo ou mais tarde, eles vão destruí-la.

- Se um dia chegar a tal ponto, não darei essa chance a eles. – encostou-se mais na cerca e olhou rapidamente para as alturas que estavam atrás de si.

- Você sempre esteve só...

Luke semicerrou os olhos e recuou vários passos, numa expressão de dor. Lore se assustou e foi em sua direção, mas o jedi a impediu, esticando o braço.

- Escute-me com atenção. – disse ele com dificuldade, meio curvado – Dentro em breve talvez não me reconheça mais. Vou trazer seus monstros à tona. Darei a eles o que tanto desejam... e você terá que destrui-los.

- Como pode fazer isso, a não ser que... – ela se interrompeu, os olhos arregalados.

-  Estou imergindo no Lado Sombrio


Notas Finais


Olá!
Pretendia fazer um capítulo sobre a conversa entre Luke e Lore; porém ele cresceu e resolvi dividi-lo em duas partes só em termos de quantidade de palavras. Os dois capítulos , na verdade, são um só e contínuo, sem nenhuma quebra. Talvez tivesse sido melhor eu colocá-lo em um só capítulo, mesmo atingindo mais de 9000 palavras. Mas agora a divisão está feita.


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