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História De luz e de sombras - Ben e Kylo


Escrita por: Ninlil

Notas do Autor


São duas cenas neste capítulo: na primeira, sob a ótica de Ben Solo; na segunda, a visão de Kylo Ren.
Os dois existem em um só corpo ou o filho de Han Solo enlouqueceu quando imergiu no Lado Sombrio?

Capítulo 2 - Ben e Kylo


Fanfic / Fanfiction De luz e de sombras - Ben e Kylo

                A mão dele sangrava muito. Os estilhaços de vidro se espalhavam no chão, reflexos partidos olhando para ele, pedaços de si mesmo acusando-o de não ser o que deveria ser ... e também por ter deixado de ser o que era.

                Ele se sentou em sua cama, perturbado. Enterrou o rosto entre as mãos sangrentas, os olhos turvos pela vermelhidão. Os ferimentos pelo corpo latejavam, principalmente no ombro e a enorme cicatriz que lhe cortava o rosto.  Tão... cansado. Cansado de mentir, cansado de enterrar-se em máscaras dentro de máscaras. Temia perder-se dentro de seus próprios planos e acabar por tornar-se o que parecia.

                Havia momentos como esse, onde ele se permitia pensar como ele mesmo – mas só alguns instantes emergir das sombras para respirar acima daquele oceano viscoso. Sair da escuridão de seu disfarce era penetrar em outra escuridão, pois enfrentava os horrores que cometera.  Não, ele não. Kylo. Entretanto, a mão que empunhava o sabre era sua, mesmo que fosse dominada pelo... outro . O sangue em suas mãos era seu, mesmo tendo sido fruto de Kylo. O corte em seu rosto. O tremor nos lábios. O gosto de sangue. O ódio.

                Já se passavam quase vinte anos e Ben jamais se acostumaria. Muito pelo contrário, a cada tempo que corria, o fardo se tornava mais pesado. Kylo, que deveria ser um disfarce para escapar de Snoke, tornava-se mais forte, denso e... vivo. Claro, assim deveria ser, pois era a única forma de realmente ocultar-se de Snoke. Disfarce que muitas vezes quase o denunciara. Disfarce muitas vezes que quase o matara.

                A sombra do mal já o espreitara desde criança. Sua mãe e seu pai haviam compreendido erroneamente o que acontecia com ele. Imaginavam que havia algo de Vader nele, que ele sucumbia ao Lado Negro, quando, na verdade, enganava as próprias trevas emanadas de Snoke, construindo aquela personagem com maestria, com a perícia de um escultor, com a leveza certeira de um pintor. Sua criatura nascia aos poucos, teimosa, sombria, irada. E, como uma fera, à medida que tomava robustez, era necessário domá-la com um chicote mais espesso e pesado. A fera dominada o fitava, rancorosa, enquanto ele mal conseguia se manter em pé.

                Os cacos de espelho no chão eram muito tentadores. Tão fácil serem sua saída daquele inferno.

                Mas o inferno o seguiria certamente, onde quer que ele fosse. Todas as almas dependendo dele para se libertarem acabariam por trucida-lo caso ele se juntasse a elas. Todos os que dependiam dele, também os vivos... sua dor assumiria o papel de sua companheira.  Vivos e mortos. E os que nem estavam vivos e nem mortos. Tudo dependia dele.

                Suspirou profundamente. Rey. Rey. Deveria tê-la libertado desde que soubera. Todavia, ele fora fraco diante daqueles olhos verdes, tão ansiosos por tentar fazer as coisas certo. E agora ela sabia... não tudo, mas o suficiente para colocar tudo a perder.

                Um vento gelado transpassou sua alma.

                Levantou-se de pronto e pegou um caco de espelho do chão, esmagando-o em sua mão cerrada. Dor. Domínio do corpo. Consciência do corpo.  Fique em seu lugar.

                Luke era poderoso. Ele lhe ensinara bem... o que sabia para suportar toda essa farsa. Entretanto, seu antigo mestre jamais lutara com um demônio criado por ele mesmo. Claro que Luke enfrentara a si mesmo, a sua raiva e ódio durante todo seu aprendizado para se tornar um jedi e , principalmente, naquele momento crucial na sala do trono do Imperador. Enfrentara seu eu escurecido, mas era uma sombra amorfa de sentimentos e emoções. Não possuía seu rosto. Não lhe tomara o corpo. Não matara seu próprio pai, enquanto seu eu gritava silenciosamente em um algum lugar dentro de sua mente.

                Por tudo que lutara.... por tudo que se sacrificara... por que seu pai tinha que encontra-lo, por quê?? Por um instante, um pequeno e cálido instante, Ben se entregaria à atração da luz  como uma criança que não mais suporta o dever.  Pouparia seu pai, abandonaria a Primeira Ordem, veria sua mãe, abraçaria Rey... e toda a Galáxia padeceria por aquele momento de fraqueza.

                Então, com o coração estraçalhado, encolheu-se dentro de si e permitiu que a fera de lá mais uma vez assumisse seu corpo. E Kylo assassinou seu pai.

                O horror foi tão grande que, mesmo em seu refúgio interno, emergiu subitamente, estarrecido pela perda (necessária) do homem que amava, aturdido com a dor. Apenas quando o tiro da besta de Chewie o atingiu, Ben recuperou a consciência, recolheu-se e permitiu que Kylo continuasse seu trabalho.

                Rey. Rey.

                Deter Kylo durante a batalha com Rey foi quase a sua real morte. Segurar o monstro , soltar um pouco a correia do domínio, recuperar o controle, uma luta que poderia tê-lo consumido. Era preciso que Rey não soubesse de toda a verdade e se iludisse, pensando que Kylo vencera a ele, Ben, internamente. Mas fora arriscado – a fúria de Kylo era tanta que quase ele se libertou ... para matar Rey.

                Rey. Rey.

                Talvez tivesse sido melhor .... não!!!

                Talvez sim.

                Porque , se seus planos se perdessem, não restaria outra saída a não ser mata-la.

                                                           xxxxxxxxxx

 

                Kylo Ren despertou mal humorado. Aquela catadora de lixo... maldita catadora de lixo! Como conseguira vencê-lo? Não...não fora ela quem o derrotara. Ele estava ferido pelo tiro da besta e... e o quê? Como se estivesse contido, como se todo seu poder não pudesse ser usado.

                Tinha algo a mais.  

Esses lapsos de memória o atormentavam. Matar Han Solo. Sim, matara. Porém... não lembrava de todos os momentos. O encontro.  Um lapso. As palavras de Han ao longe, muito ao longe...  Um tremor, uma tontura. Esquecimento. E depois Han segurando o sabre juntamente com ele, Kylo. Recordava-se muito bem de enfiar o sabre no coração daquele homem desprezível. Esquecimento. O que acontecera? De repente, viu-se caído, atingido por um laser na base de seu abdômen.

De novo aquelas ausências.

Aquilo  o irritava profundamente... e o perturbava. Não ter controle de si, de todos os momentos de sua vida o deixava vulnerável. As lembranças de sua vida pregressa como Ben eram imprecisas ou estáticas. Ele quase conseguia distinguir as formas, as palavras dessa outra existência mas, no momento preciso, se diluíam, inalcançáveis. Fatos e pessoas lhe eram como hologramas em sua mente, como um arquivo. Tinha conhecimento deles como se fossem histórias de outro alguém. Histórias antigas, de um tempo que não lhe pertencia.

Snoke o havia instruído quanto à sua nova personalidade, afirmando que o novo nome era o nascimento para as trevas e que, com o tempo, o seu eu anterior se diluiria, como se fosse um estranho de quem tinha conhecimento. Assim fora com Vader, muito embora Kylo acreditava que não tanto assim como ocorria com ele próprio.

As ausências.

Isso ele ocultava – ou tentava – do Líder Supremo. Indício de fraqueza, poderia ser e ele, Kylo, jamais admitiria isso para outro, mesmo Snoke.  Também o chamado do Lado Luminoso. Por vezes, algo dentro dele, como algo vivo que se mexia, exalando sentimentos e dor. Soltou um palavrão. Não havia nenhuma referência para ele consultar. Os holocrons se encontravam muito bem guardados pelo Líder Supremo em localização desconhecida. Ali, ele poderia ter todas as respostas... respostas até como sobrepujar Snoke e ele, sim, o Mestre dos Cavaleiros de Ren, transformar-se no novo imperador.

Essa perspectiva o acalmou em uma fria exaltação. A bem da verdade, tudo a que se referia nele era frio. Kylo possuía um controle excepcional sobre suas emoções. Brincava com elas, permitia-se algumas extravagâncias; todavia, elas jamais o controlaram, muito embora pudesse dar essa impressão a alguém que o assistisse. Estraçalhar o que estivesse ao seu redor lhe dava um prazer incrível...! Não era um desabafo ou descontrole, mas apenas prazer. A eventual expressão de fúria o divertia. O efeito dela em seus subordinados era um êxtase. Permitia-se essas pequenas bobagens porque ele merecia prazer.

Prazer. Aquela catadora. Seu sangue corria mais rápido à simples lembrança dela. Tinha que tê-la em seus braços, em seu domínio, fosse de livre vontade...ou não.

Sorriu e a cicatriz no rosto se esticou, arrancando um gemido involuntário. A dor era algo bom. Mantinha-o alerta. E, naquele momento, esse alerta lhe trouxe a imagem do interrogatório com ela e também seu embate de sabre em starkiller. Franziu o cenho. Não havia ausência naqueles momentos, mas... ele não conseguia revivê-los em sua memória. Os fatos, ele sabia, contudo... contudo não conseguia visualizar os detalhes, como se não tivesse vivenciado aqueles instantes. Como se ... alguém tivesse lhe contado o que acontecera e de forma tão geral, tão vaga em detalhes que...

Cerrou a mão direita e outra dor o atingiu. Visualizou a palma da mão sangrenta, ferida, cacos mínimos de espelho enterrados em sua pele. Como ele se machucara? Como o espelho tinha sido partido? Como ele quebrara o espelho?

Vazio. Nada.

Praguejou mais uma vez. Esses lapsos temporais não eram frequentes.... antes dela. Seria ela o motivo das ausências terem se intensificado?? Não era possível que aquela garota ainda pudesse atingi-lo de alguma forma. Os anos de convívio em sua adolescência não tinham mais importância. As lembranças desse tempo eram enevoadas e sem qualquer afetividade. Mas, de alguma forma, ela era a responsável.

O ódio gelado esticou levemente seus lábios em um sorriso sinistro. Não seria desagradável que ela realmente fosse a responsável pelos momentos apagados de sua vida, pois seria um motivo para tortura-la. E precisava de motivo para fazer isso? Claro que não... mas ter uma razão proporcionava um deleite maior.

O sorriso morreu. Apesar de parecer um indício de fraqueza, essas ausências se proliferaram e o Líder Supremo acabaria por nota-los. Melhor, então, seria expô-los a ele – da sua maneira, claro – e pedir conselhos. Dessa forma, não seriam uma deficiência e sim lacunas a serem respondidas e melhoradas. Também mais uma demonstração de sua lealdade – ou suposta lealdade – a Snoke.

O Líder Supremo havia lhe dito que nenhum outro ser humano, nem Vader, havia adentrado tão profundamente no Lado Sombrio como ele, Kylo, o fizera. Talvez essa fosse a justificativa para os lapsos temporais.  

Sua mente se aquietou por um instante, num silêncio interno, um instante suspenso e, então... então ele sentiu. O que era aquilo? Um tremor, como se o calor embaçasse o ar. Tão fúlgido, quase imperceptível.

Dentro dele.

Imobilizou seus pensamentos novamente e pôs-se atento, procurando... procurando... e apenas o silêncio vazio em seu interior. Nada.

Estreitou os olhos verde escuros e meneou a cabeça.

Num rompante, tirou as roupas rasgadas e começou a se aprontar.

Iria ao Líder Supremo definitivamente. Pois, se havia algo dentro dele, somente Snoke poderia, agora, descobrir. 

               

               

               

               

               

               

 


Notas Finais


Bom... virão outros capítulos. Ideias fervilhando!


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