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História De luz e de sombras - Prelúdio XVII: Meia-luz


Escrita por: Ninlil

Notas do Autor


As coisas que quero fazer eu não faço; as que eu não quero, isso sim eu faço.
Paulo de Tarso


Nota: Este capítulo possui trechos do anterior que foi deletado; contudo, a dinâmica foi mudada na quase totalidade deste segmento, bem como a atitude de algumas personagens.

Capítulo 26 - Prelúdio XVII: Meia-luz


Fanfic / Fanfiction De luz e de sombras - Prelúdio XVII: Meia-luz

 

Ele se prendia a si mesmo por uma derradeira força de vontade.

A paz o chamava docemente. O descanso. A distância da dor. Natural que se deixasse ir. Fizera o seu melhor no tempo que lhe fora dado. Não fora perfeito, bem o sabia. Longe disso. Errara durante toda a sua existência em muitas ocasiões, porém se dera o máximo que pôde e por isso sua partida vinha de forma tão mansa. Mesmo aparentemente longe dos que amava, encontrar-se-ia mais próximo deles, sentia... de uma forma totalmente desconhecida, diferente e completa.

Nâo. Ainda não.

Era necessário. Ele ainda era necessário...

Se se permitisse ir, Ben estaria desprotegido sem a redoma energética. Não haveria barreiras para impedi-lo de se entregar a Snoke, ao Lado Sombrio. Era muito cedo, muito cedo para deixá-lo andar sozinho... ele não estava pronto.

Se se permitisse ir, Ellin não teria o apoio dele, Luke... e ela precisaria... ela precisaria do amor e orientação dele... ela seria forte, muito forte... mas não capaz, sem uma direção, de existir na luz em universo onde as sombras avançavam.

Se se permitisse ir, Lore.... sobreviveria sem ele, mas a responsabilidade de ter Ben exposto a Snoke e ainda com Ellin seria em demasia e a falta que ela sentiria dele a acompanharia.

Seus pensamentos ecoavam de forma estranha, como se fosse outra pessoa a formulá-los. Eram seus... sim... mas já se distanciavam, como vozes perdidas em uma distância que aumentava lentamente.

Não... ainda não...

Tempo... mais tempo....

Não havia mais tempo.

Como se atendessem ao seu pedido, uma cálida mas intensa energia começou a preenchê-lo, inundando-o de calor, de sensações, de ciência de si, a firmá-lo precariamente naquele ponto, como se o segurassem pendurado em um precipício. Dois feixes luminosos, distintos entre si, que trabalhavam juntos e com afinco.

Um filamento róseo, fino, delicado, forte a envolvê-lo... o mesmo que o buscara através do tempo e do espaço há tantos anos atrás.

Lore.

Ao lado dele, um filete suave e intenso, róseo também, mas muito mais brilhante, quase perdendo sua matiz para o dourado. Acompanhava a energia de Lore com a inocência de quem nada ainda experimentara, porém com a mesma determinação.

Ellin.

Uma felicidade o atingiu ao senti-las tão intimamente; no entanto, também a certeza que não era suficiente o esforço imenso delas... não o bastante para onde ele já chegara. Já escorregava daqueles filetes luminosos... já se despedia...

De súbito uma força bruta, densa, poderosa, desesperada o agarrou quando ele já se diluía em sua consciência física. Era escura aquela luz. Violenta. E quanto mais se firmava a puxá-lo, filetes negros se entremeavam naquele feixe, tornando-o mais potente... e soturno. A força que o resgatava do abismo o feria ao mesmo tempo, causando-lhe gratidão e repulsa concomitantemente.

Ben.

As três energias circulavam dentro dele lado a lado, adentrando em suas células físicas e suas contrapartidas etéreas como relâmpagos, inundando cada parte dele com seu poder curativo e correndo por seu corpo a iluminar seu interior por onde passavam. Ele percebeu que o fluxo da Força que existia nele e que fluía para Ben se ascendeu como em resposta, a Força mais uma vez o aquecendo, a ardência tão familiar lhe queimando todo o ser momentaneamente, a luminosidade de uma explosão fugaz, as centelhas a brilharem e lentamente se apagando.

Seu corpo lhe gritava. Gradativamente, a sensação de a algo físico pertencer, a ter forma e necessidades o abraçou. Ficou a pairar entre a consciência e inconsciência. Sons. Cheiros. Toques. Movimentos. Imagens. Tudo como um sonho. Um caleidoscópio o girava.

O cheiro doce e extremamente enjoativo foi a primeira informação precisa a lhe chegar na mente, causando-lhe uma forte dor de cabeça.  A viscosidade daquele líquido  que lhe envolvia a pele de todo o seu corpo não impedia que ele flutuasse. A consciência deslizava morosamente como em um sonho desperto.

   Hoth... como em Hoth. O tanque de bacta. O respiradouro envolvendo sua boca e suas narinas, o corpo plainando em ambori. Ainda de olhos fechados, movimentou sutilmente as pernas.  Sentiu os suspensores em suas axilas e transpassados por seu peito, mantendo-o   pendurado em meio àquela água oleosa.

 Abriu os olhos naquele mundo aquático dentro do cilindro transparente e visualizou à sua frente, do outro lado do vidro, Lore e Ben distorcidos pelo ângulo do tubo e pela água. Sua cabeça girava, as ideias ainda desconectadas. Seu olhar se perdeu no ambiente em meio às ondulações. O teto à esquerda... o céu estrelado a entrar no ambiente... sem teto... no chão, uma avalanche de blocos de concreto remexida... manchas escuras na poeira...

  Sua mente se tornou alerta e a consciência lhe bateu violentamente. Os olhos se abriram mais, um pressentimento a guiá-lo. Sua visão se concentrou em Ben, na sua expressão aliviada e no sorriso em seu rosto infantil. A atenção de Luke se voltou para os bolsos na calça dele, as empunhaduras de dois sabres à mostra.

 Dois sabres.

  O coração de Luke se acelerou, o que fez as luzes coloridas do painel à direita do tanque, antes fracas e estáticas, dispararem. Seus brilhos ultrapassaram a água oleosa do cilindro e se refletiram no menino através do prisma, o intenso vermelho, o profundo azul. O vermelho ao fundo com o azul sobreposto. O azul ao fundo, o vermelho o manchando. Viu seu sobrinho franzir o cenho diante do olhar de seu mestre e chegar-se para o lado,  o reflexo das cores mudando a matiz no rosto do menino. O jedi piscou os olhos, o líquido viscoso a lhe turvar a visão. Vermelho e azul estáticos, juntos, cada qual em sua frequência cromática.

Outro piscar de olhos, mais lento. Ben ao lado de Lore, agora.

 As cores se entremearam, o vermelho fundindo-se ao azul, uma mancha de roxo nascendo ao centro do encontro das matizes, suavizando-se em tons diferentes à medida que se afastava do ponto de encontro. O azul lutava para se sobrepor, do anil ao lilás brilhando; do magenta ao púrpura, onde o vermelho rasgava o tom mais frio. As feições de Ben abarcavam todas as tonalidades arroxeadas.

 Lore se aproximou do tanque, um lilás passando-lhe pelas feições.

  A palma aberta da mão de Lore encostou no vidro, ela olhando para ele. Luke voltou sua atenção para Lore, sua própria mão humana flutuando até a barreira translúcida e juntando-se à dela, separadas pela película vítrea. O rosto dela também quase se grudava no cilindro, tirando quaisquer ondulações do tubo côncavo. Luke podia vê-la sem distorções, a face esquerda dela muito machucada, empapuçada de bacta transparente. Os olhos verdes azulados diziam tanto... tanto... Sim, Ellin estava bem. Sim, a ameaça dos Cavalheiros de Ren fora sanada. Sim... eu te amo...

 Ele assentiu e retribuiu todo o sentimento com um semicerrar lento dos olhos, sua mão sentindo a dela através do vidro.

  O vermelho e o azul pulsavam diante da escuridão de seus olhos fechados.

  Os sabres.

  Ben.

  Quando retornou a encará-la, a expressão do olhar dela mudara, como a dele também se transformara. A gravidade baixou seu manto sobre os dois. Não existiam pensamentos trocados entre si, embora ambos soubessem... soubessem....

  Luke franziu a testa, apertando os olhos. Ela piscou, concordando.

 O dróide médico apareceu no campo de visão de Skywalker, o dróide que ele trouxera. Em seus dois metros de altura, o cinza chumbado de sua aparência, o modelo cirurgião 2-1B atenderia às necessidades tanto ambulatoriais quanto cirúrgicas. Era o mesmo tipo de medi-dróide que o assistira em Hoth, após o ataque da fera do gelo. Sua fabricação era antiga e a versão já ultrapassada face às novidades ocorridas na robótica naqueles tantos anos... porém era confiável em suas especificações. E também atenderia a outros trabalhos mais pesados.

  Lore trocava informações com o robô, que respondia afirmativamente. Ele se virou para o painel de controle do tanque de bacta e o jedi percebeu uma mudança na medicação no fino cano plástico ligada a uma agulha inserida em uma veia em seu pescoço, pois seu corpo relaxou, o batimento cardíaco se arrefeceu, uma sonolência invadiu sua mente. Não... não... agora, não...

  Os sentidos de Luke se enevoaram e ele lutou para se manter acordado, enquanto via a imagem dela novamente se focar à sua frente. Os olhos sérios de Lore o olhavam com intensidade. Confie em mim, eles diziam.

 O cheiro enjoativo adocicado do bacta se esvaiu lentamente e Luke pendeu a cabeça, adormecendo, a voz incorpórea dela ainda em sua mente.

 Confie em mim.

                ****************************

Ben estava muito orgulhoso de si. Muito orgulhoso. Salvara seu tio, resgatara seu mestre...!  Protegera Lore e aquela... bebê. Eliminara os Cavaleiros de Ren. Possuía o poderoso sabre vermelho, aquela estranha espada luminosa.

E finalmente descobrira seu poder.

Não seria mais um problema para ninguém. Não seria mais o garoto estranho. Não seria... um fraco.  O poder formigava dentro dele e levaria um tempo para se acostumar a ele. Achava-se mais forte, mais potente, sim... como se houvesse subido alguns degraus em nível de poder. No entanto, o âmago daquela força, a plenitude de todo aquele poder não se achava à distância de um querer; necessário era catalisá-lo, trazê-lo à tona e assim apenas com aqueles sentimentos obscuros, como se apenas eles tivessem a chave de despertá-lo.

A raiva. O ódio.

Pensou nos Cavalheiros de Ren. Um esgar torceu suas feições. Fora libertador... e estranho, muito estranho. Não deixara de ser ele mesmo, porém era um lado seu... um lado que já sentira ligeiramente, de modo muito vago, não com aquela intensidade.

 Sem nada o limitar, só o seu desejo a ser realizado. Sem limites.... Tudo ressoara o que sentira. O teto desabara, eliminando aqueles homens sombrios, como se as moléculas de concreto fossem uma extensão sua. Não vira seus corpos debaixo dos escombros, pois passara por cima dos destroços para seguir o Cavalheiro que escapara. E tampouco se importara naquele momento, pois sua mente cheia de fúria fria perseguia aquele homem que atirara em seu tio e só isso que ele conseguia enxergar naquele momento.

 Só a ira existia... e todo o poder acoplado a ela. Foi-lhe natural esmigalhar os ossos daquele homem. Ele merecera. Ver o medo nos olhos dele. Ver a vida se esvair daquele olhar. E depois... o vazio, a falta de sentido, o mal-estar. 

 Não. Era um detalhe, pensava enquanto olhava para o tanque de bacta vazio. Salvara vidas. Vidas que valiam a pena. Os Cavaleiros... suas vidas foram destinadas ao mal e mereceram o que haviam sofrido. Mas aquele vazio.... aquele ódio... balançou a cabeça. Por que sentia incomodado?   Por que sua alegria não era completa? Afastou essas sensações. Seu mestre estava vivo! E isso não seria possível se não tivesse acesso ao seu poder o suficiente para salvá-lo.

  Era isso que importava.

  Saiu da enfermaria. O sol era cálido, reconfortante. O céu se estendia até a infinitude, sem uma nuvem. Respirou fundo, sentindo-se muito bem. Em breve, muito breve, devolveria o poder ao seu mestre, desfaria a redoma de proteção... e enfrentaria Snoke. Destruiria aquele ser maléfico. E a paz completa reinaria em sua vida.

  Um barulho lhe chamou a atenção. O que era aquilo?

  Atrás do prédio da enfermaria.

  Caminhou até lá. Vislumbrou Lore, toda de preto, os cabelos em trança, olhando para baixo, para o chão. Não... eram buracos. Cinco buracos.  Aproximou-se mais.

  Cinco covas. E cinco corpos.

 Ben recuou por susto e reflexo. Respirou fundo e chegou perto das covas ainda abertas, observando cada corpo já no fundo da terra.  Os elmos haviam sido descartados e as faces lívidas dos Cavalheiros brilhavam nos poucos raios de sol que entravam em suas sepulturas.

Os três primeiros da fila, da esquerda para a direita, foram os que morreram sob os escombros. Suas expressões estarrecidas se assemelhavam na surpresa e constatação de seu fim. Suas roupas negras rasgadas pelos destroços, o sangue emplastado na derme que aparecia, o pó cinzento incrustrado nas inúmeras dobras e amassados das armaduras.

  O quarto Cavalheiro se diferenciava drasticamente dos três primeiros. Sua vestimenta de guerra se achava limpa e ilesa, a não ser por uma perfuração circular na altura do coração. Seu rosto se mostrava, de alguma forma, sereno, com a tranquilidade de uma derrota em favor do dever cumprido. Se não fosse a acentuada palidez nas faces e o ferimento cauterizado no peito, poder-se-ia imaginar um homem dormindo ou desmaiado.

  O quinto homem... Ben o conhecia muito bem. Apesar dos olhos cerrados, sabia muito bem o que eles emanavam. Ele fitara aqueles olhos enquanto a vida se esvaía deles... e fora uma morte lenta naqueles momentos em que o sabre lhe penetrava o coração. O horror que aquele Cavalheiro passara era presente na mente de Ben. Na hora, parecera tão correto... tão justo... a vingança como instrumento adequado... a morte sofrida daquele homem sombrio...

   E agora... toda a vida de horror que aqueles seres haviam experienciado e feito outros sofrerem não mais existia.

  Pessoas... não passavam de pessoas. Pessoas terríveis... mas apenas pessoas. Pessoas que faziam coisas horríveis.

    - Eu os matei... – sussurrou para si mesmo.

  - Você os matou. – murmurou Lore, chegando silenciosamente ao seu lado.

  - Eles queriam matar meu tio... queriam nos levar prisioneiros. Fiz o certo, não fiz?

   - Eram homens desprezíveis. – o asco arranhou a voz dela – Eu também os teria destruído.

  Ben levantou o rosto para Lore e a encarou, vendo que ela franzia a testa.

 - Se fiz o certo, por que me olha assim?

  - Porque  achei o corpo de Alec... e vi o que você fez.

  Ben virou o rosto e apertou o maxilar.

  - Ele mereceu. Vai me condenar por Alec ter recebido o que era justo?

 Lore se agachou, ficando na altura do menino  e segurou o rosto dele, com firmeza, fitando-o penetrantemente. Sua voz era muito séria e baixa.

  - Acha que me preocupo com aquele verme? Estou feliz que ele não exista mais. Preocupo-me com você, Ben. Você o torturou.

  - Se ele mereceu, qual o mal que tenha sido eu a fazer o que foi feito? Está com pena que ele tenha sofrido...? – seus lábios tremeram de indignação – Está com compaixão por alguém que tentou matar meu mestre?

   - Não tenho nenhuma compaixão por Alec. Nem toda a dor que sofreu bastou para o que ele fez. – os olhos verdes azulados arderam de vingança por um instante, para logo depois se suavizarem – Mas o ódio que te impulsionou a machucá-lo daquela forma tem um custo bem caro para você.

 - Que custo?

   - O custo de criar um monstro.

  Ben sentiu o sangue lhe fugir das faces.

  - Eu sou um monstro...?

  - Não, você não é... mas pode vir a ser. – ela lhe afastou as madeixas negras caídas nos olhos verdes – Você não sabe controlar o ódio. E ele pode vir a te dominar. Precisa de ajuda. Precisa contar para Luke.

 - Não! Ele... ele vai ficar decepcionado comigo. – uma dor aguda contorceu suas feições – Ele... ele não aceitará o que fiz. Meu mestre saberá que eu... que eu nunca poderei ser como ele, Lore. Eu não sou como ele! Nunca fui...

  - Então é hora de vocês dois conversarem francamente sobre isso. Ele suspeita... – semicerrou os olhos por um instante – Mas é preciso que você fale. Luke espera que você seja alguém que você não é e você deseja que ele não veja...? Não há como esconder isso, Ben. Seu tio te ama. Ele vai compreender, mesmo que o mestre se magoe.

  Ben se sentou no chão, ao lado da última cova, a cova de Alec. Levou a mão à testa, o olhar perdido naquele buraco.

  -  Eu decepcionei meu mestre. Fui contra tudo o que  ensinou. Ele pode não ter a Força agora, mas nunca deixará de ser um jedi. Ele vai se afastar de mim.

  Lore se sentou ao lado de Ben e passou o braço pelo ombro dele, abraçando-o, trazendo-o para o seu colo. Beijou-lhe os cabelos negros, tão iguais aos seus.

   - Seu mestre pode até a vir te deixar... mas seu tio nunca te abandonará.

 

                *****************************

                 As duas empunhaduras repousavam em cada uma de suas mãos. Indeciso qual sabre primeiro a acionar, ligou o dispositivo das duas espadas de luz ao mesmo tempo.

À sua mão direita, a lâmina verde brilhava elegante, o acabamento dos feixes luminosos correndo a uma velocidade tamanha e harmoniosa que emanava a ilusão da concretude de fótons, sem arestas, o estático resultado do movimento. A vibração daquela energia encontrava um pequeno eco dentro dele, ligando-o vagamente ao sabre. Mas não era a extensão de si mesmo. Como se colocasse a luva de outra pessoa,  mesmo sendo do mesmo tamanho, a forma, o caimento não se encaixava por completo, forçando a mão a se adaptar à luva e não a luva à mão.

À sua mão esquerda, a navalha rubra rugia desalinhada, os feixes transparecendo em seu trajeto, furiosos, desarmônicos, a transparência e visibilidade da fluidez nas suas arranhaduras luminosas. Aquela energia ressoava dentro dele, um ligeiro ecoar. A vibração corria por seu corpo, atando-o ao sabre, porém sem consistência. Não se fazia um prolongamento de si mesmo naquele instante. Antes o fora... o encaixe perfeito, a aderência completa.

E Ben tinha conhecimento do que faltava para que o sabre vermelho voltasse a ser seu completamente.

O ódio.

Olhou para a árvore um pouco distante, à sua frente, a marca dos lasers na madeira daquele dia que Lore havia chegado em Paideia, uma ferida escura no tronco. A árvore continuava viva e florescendo após o episódio dos lasers há meses atrás. No entanto, naquele momento, era difícil discernir o tronco de sua lesão, pois o sol se punha e toda a planta não recebia a luz do dia. A árvore se mostrava negra, como um vulto. Todavia, em alguns relances do lusco-fusco, a luz poente iluminava momentaneamente as folhas, as flores e os frutos, mesmo que ocultas pela escuridão que a noite trazia.

- Ainda a escolher, Ben?

Encontrava-se tão concentrado que não percebera a proximidade de seu tio às suas costas, levando um susto e desligando os sabres.

- Nenhum deles me pertence. – murmurou, constrangido.

- Não era dos sabres que eu falava.

Os olhos verdes escuros se perderam por um instante.

- E nem eu.

Virou-se e encontrou seu mestre, todo vestido de negro, o rosto muito pálido, embora se mantivesse empertigado e com as mãos para trás, como se não tivesse ainda em recuperação.

- Não deveria estar de pé, mestre. – pegou a mão robótica de seu tio e conduziu-o para a mesa de madeira que existia ali perto – E nem ter andado até aqui. Está fraco.

Os dois se sentaram no banco, um em frente ao outro, a mesa a separá-los.

- Mas não tão fraco a ponto de deixar de vir procurá-lo.  –  a tristeza marcava aqueles olhos mansos - Evitou-me o dia inteiro desde que acordei.

Ben se forçou a encarar seu mestre e confirmou o que já percebera em sua voz: ele sabia. Ele sabia...

- Lore te contou?

- Não. Ela disse que você me contaria.   – estendeu a mão humana pela mesa, alcançando a do menino – Precisa falar comigo.

Ben sentiu a garganta travar. A sua vontade era correr dali e fugir, fugir... para não ver a decepção já existente naqueles olhos azuis, decepção esta que cresceria quando ele falasse. Entretanto, não havia saída. Não podia evitar.

Seus olhos se encheram d’água, muito embora nenhuma lágrima riscasse seu rosto. Era a hora de mostrar quem ele era, como Lore havia lhe dito. Respirou fundo e pôs-se a vomitar tudo o que sentia.

- Eu matei. Matei todos eles. Eles queriam nos fazer mal, eles tentaram te matar...! Senti muito, muito ódio. O poder dentro de mim veio com o ódio. Explodiu em mim toda a raiva e a raiva me deu forças. Eles tinham que pagar, tio Luke, tinham que pagar tudo o que fizeram com a gente, principalmente aquele que atirou em você.

Ben sentiu o aperto da mão de Luke se afrouxar, mas continuou sem parar.

- Alec fugiu, o Cavaleiro que quase te matou. Fui atrás dele. Fiz que sofresse.... que sofresse muito antes de enviar o sabre no coração dele. Quebrei os ossos dele com um simples querer! Podia ter feito até muito mais, eu sei... poderia... poderia ter esmagado o coração dele, tudo o que eu desejasse! Ele teve medo de mim... de mim!

A mão de Luke  soltou a de Ben.

- Eu sei o que fiz...! Por vezes penso em como fiz isso. São pessoas... matei pessoas... vem um vazio... um vazio que dói, dói muito... quero sentir compaixão por eles como você sente. Quero me arrepender do que fiz. Mas eles eram ruins, eles tinham que receber o que mereciam.  Faria tudo de novo se você e Lore estivessem em perigo.  Esse ódio... esse ódio que me deu o poder salvou a todos nós!

O jedi levou a mão à testa, consternado.

- Esse ódio salvou você, tio! Você estava morrendo, você estava indo... eu senti... eu sabia... Lore e a bebê não conseguiam te manter vivo por muito tempo. Me juntei a elas, mas você escapava...  estava indo embora.... Então tive medo, tive raiva, tive ódio de tudo o que tinha acontecido e o poder veio... veio forte, corria dentro de mim como fogo frio! Eu puxei você da morte, tio Luke.

Os olhos de Skywalker se fecharam, apertados.

- Você está vivo... todos nós estamos vivos... e aqueles homens sombrios estão mortos. Eu deveria estar feliz, não é? Fiz tudo errado com o que me ensinou e deu tudo certo! Mas... mas tem algo errado... algo muito errado...

Luke abriu os olhos.

- Tive... tive satisfação em ver Alec sofrer. Eu... eu... gostei que ele sofresse... que eu fizesse ele sofrer. Parecia bom quando fiz... parecia certo... e agora não sei mais... Eu não quero ser um monstro!

Luke estremeceu. Ben viu seu mestre empalidecer ainda mais e apertar os olhos por um instante antes de rapidamente vir para seu lado e segurar-lhe as mãos entre as suas.

- Ben, escute-me. Não é o ódio que te faz poderoso. Ele só nos afunda na escuridão. São as trevas, Ben, que você permitiu que te envolvessem. Você é poderoso na Força, muito mais do que imagina ou até do que experienciou até o momento. Evitei que você tivesse contato com seu poder justamente porque não estava preparado.

- Mas é o ódio que me dá acesso à Força.

- O ódio dá acesso à Força não apenas em você, mas em todos. O medo. A raiva. São emoções muito fortes latentes e são as primeiras a virem à tona em situações de perigo. São inerentes a todos os seres vivos como autoproteção em princípio. Depois elas se emaranham em nossas deficiências internas, nossos desejos, nossos afetos. E por isso se tornam tão difíceis de dominar... ; por esses motivos se mostram como  o caminho mais fácil de entrar em contato com a Força... na sua expressão do Lado Sombrio. Temos o Lado Luminoso e o Lado Sombrio em nós porque estamos imersos na Força.

- Você tem me ensinado esse tempo todo sobre o Lado Luminoso... e não tive esse poder. Não compreendo...! Isso não me protegeu do ódio... e que ódio é esse que tenho, esse ódio tão grande que é capaz de... – engoliu em seco – Meu Lado Sombrio é maior que o meu Lado Luminoso?

- Não. Tudo em você é vasto e intenso... todas as suas emoções, seus sentimentos. Seu Lado Luminoso. Seu Lado Sombrio.  Essa é a razão de ser  tão difícil para você lidar com isso. Você tem um bom coração, Ben. – pôs sua mão humana no peito do sobrinho – Sempre te falei isso. Preocupa-se com os outros. Não tolera a injustiça. Sua luz é enorme... Contudo, apenas os bons sentimentos não bastam. É preciso que aprendamos a compreender que a vida que existe em nós está em todos; que todos nós compartilhamos da mesma Luz que nos une neste universo, mesmo que o outro não veja essa luz. Quando nos deixamos atingir pelo medo, pelo ódio negamos o que há de mais precioso em nós e em todos. Toda vida é importante... toda, mesmo as do que se fazem nossos inimigos.

- Você já matou...

- Sim. – o jedi apertou os lábios – Tirei várias vidas... foram seres imersos na ignorância e no mal que não me deixaram alternativa, pois eu morreria se assim não agisse e eles continuariam a espalhar a escuridão.  Mas tenha certeza, Ben, que, a cada morte que fui obrigado a provocar, uma parte de mim se foi com quem matei.

- Também matei para nos proteger.

- Não... você foi muito além disso. Muito fácil trilharmos caminhos sombrios em nome de causas nobres quando não temos equilíbrio e compaixão.

- Como eu .... eu fui.

- Sim.

- Mas... mas... não quero matar por matar! Quero nos proteger!   Preciso do poder agora. – os olhos se arregalaram, a urgência – Se não tivesse usado o ódio, o Lado Sombrio, você não estaria aqui... eu, Lore e a bebê estaríamos nas mãos de Snoke. Se tudo acontecer de novo e eu não usar o ódio... você morrerá.

Luke prendeu a respiração.

- Que seja, então. Não há justificativa para se entregar ao Lado Sombrio, Ben... nem por aqueles que mais amamos. – a voz embargou – Lembre-se do que você fez... torturou um ser vivente... matou por... prazer.  Porque se entregou ao ódio. Ele distorce a realidade, ele nos cega, ele pôe justificativa em todos os atos mais terríveis. Ele nos transforma. Até aonde esse ódio poderá levá-lo?

- Mas você está vivo porque eu...

- Não quero isso. Não quero que se entregue ao Lado Sombrio para me salvar.

- Nem para salvar Lore e a bebê?

O maxilar de Luke trincou, uma veia saltou de seu pescoço. Ele semicerrou os olhos.

- Nem por elas. – a voz se enrouqueceu.

Ben olhava para seu mestre, balançando a cabeça. Não. Não. Isso não era justo! O poder estava ali e havia protegido a todos...! Era perigoso, sim... mas todos estavam vivos!

- Não... não aceito isso! Me treine no ódio, então! Me ensine a dominá-lo e a usá-lo para que eu tenha o poder de nos proteger agora, mestre! Não tenho o equilíbrio, não tenho a compaixão hoje. Não tenho como ter o poder através do Lado Luminoso. Isso pode levar anos... anos! Eu tenho o ódio agora.

Luke recuou, o rosto se petrificou.

- Não sabe o que está falando.

- E você não sabe o que é ver as pessoas que ama morrendo quando sabe que tem o poder para salvá-las e não usar!

As lágrimas até então presas deslizaram no rosto dele. Duas, apenas duas riscaram suas faces, enquanto ele encarava seu tio. Viu seu mestre expressar o horror diante daquele pedido, a decepção. Aquele olhar o feriu mais do que tudo que já havia sentido, como uma facada em seu coração.

- Muitos jedis – iniciou seu mestre lentamente, sem deixar de fitá-lo – pensaram como você... que poderiam usar o Lado Sombrio para combater o próprio Lado Sombrio. E acabaram sucumbindo. Tornaram-se piores do que seus inimigos... e voltaram-se contra os que amavam e a tudo que prezavam.

- Nunca te machucaria!

- Não acredite nisso. – prendeu a respiração – Uma vez no Lado Sombrio, todos os que se opuserem contra ti seriam seus adversários. Você me veria como seu inimigo, Ben. E eu teria falhado contigo, pois não teria lhe ensinado a evitar a se transformar no monstro que tanto teme ser.

Ben apoiou os cotovelos na mesa e afundou o rosto nas mãos, agora todas as lágrimas correndo em seu rosto. Não havia soluços, não havia suspiros. Apenas o silêncio de sua desolação.

- Não sou o que esperava que eu fosse. – sussurrou, as lágrimas caindo-lhe na boca – Não consigo ver as coisas como você. Deixará de ser meu mestre?

Luke passou o braço pelos ombros de Ben e baixou o rosto, ficando bem próximo da face do menino.

- Só posso lhe ensinar sobre o Lado Luminoso agora.

- Quer dizer que... que não poderei acessar meu poder para nos proteger?

- Não através do ódio. Não através do Lado Sombrio.

Ben enxugou as lágrimas e empertigou-se. Seu olhar se perdeu no vulto da árvore escura à sua frente, antes de franzir a testa e baixar a cabeça, assentindo.

- Entregue-me os sabres, Ben. – pediu Luke.

Ben deu os sabres ao seu tio, encarando-o seriamente.

- Eu te amo, tio Luke. Tentarei seguir o me ensinar. Mas não vou mentir para você. Não sei se conseguirei me conter se alguém ameaçar sua vida outra vez.

Levantou-se e partiu, dando as costas para seu mestre.

 

**********************************

 

Lore desfazia as tranças de seu cabelo em pé, já com sua camiseta escura de dormir, enquanto olhava para Luke meio deitado, meio sentado em sua cama, vestido apenas com sua calça negra. Ele se voltara para a noite através da janela, absorto em seus pensamentos.

- Não posso falhar com ele, Lore. – disse, por fim, ao sentir o olhar intenso dela a lhe queimar.

- Então não  o veja como você gostaria que ele fosse e sim como ele é, Luke. – respondeu ela, sentando-se na cama e tocando-lhe o pulso.

Skywalker se virou para ela e Lore, o olhar grave.

- Vocês têm conversado.

- É claro que sim. – fitou-o sem temor, também séria – Mas nem era necessário para ver o que está acontecendo. Eu e Ben somos parecidos. Eu o entendo.

- Então compreende o perigo que ele corre seguindo o caminho que está propenso.

- Sim. – sussurrou ela, algumas madeixas a lhe caírem entre os olhos – Como também enxergo o risco  do rumo que você quer que ele siga.

Luke se mexeu, posicionando-se para ficar totalmente de frente para ela.

- Desejo que ele se alie ao Lado Luminoso. Que ele descubra seu poder através da luz.

- Como a escuridão não nos deixa enxergar, também a luz pode nos cegar.

-  Eu sei. – ele lhe alisou os ombros - Ben experimentou as trevas. Não posso deixá-lo caminhar sozinho. Um dia, quando ele amadurecer, não precisará mais de mim. Porém, agora, eu lhe darei toda a luz que puder, mesmo que isso o ofusque.

  –  Isso pode ser tão desastroso quanto ele ficar nas sombras...! Não somos como você. – ela semicerrou os olhos para depois abri-los. Havia uma certa tristeza no meio da firmeza de seu olhar -  Ben e eu não... não temos a sua bondade.

- Não sou tão bom assim. – suas feições se enrijeceram – Você sabe... você viu.

Ela segurou seu rosto, alisando-lhe a barba curta.

- Mesmo lá na colina... mesmo quando você se achava nas sombras... havia uma saída. Dentro de você, Luke...Consegue separar a luz e a escuridão. Pode visualizá-las. Você mantém o Lado Luminoso e o Lado Sombrio distintos entre si. – as mãos caíram em seu colo – Com Ben e comigo tudo está emaranhado, ligado, junto.

Luke suspirou e foi a vez de ele segurar o rosto de Lore entre as mãos.

- Eu vi... eu vi o bem e o mal mesclados em Ben. – a imagem das luzes do tanque de bacta assolaram sua mente.

- Então compreende...? Compreende que deve treiná-lo de forma... diferente?

Ele retirou as mãos.

- Com o ódio...? Lore, você está se escutando?

- Dominando o ódio. Controlando o ódio, em vez de eliminá-lo. É forte nele. Faz parte dele, tanto quanto o amor que ele possui. Não, não me olhe assim, Luke! Não quero ver Ben nas sombras! Mas talvez o lugar dele também não seja na luz. Existe um universo entre a luz e as trevas.

Skywalker balançou a cabeça, discordando.

- Existe esse caminho entre a luz e a escuridão. É o mais arriscado de todos, inclusive mais perigoso do que  o das próprias trevas. Mais enganoso, mais ardiloso, pois quem por ele anda, realmente pensa que está fazendo o bem através do mal. Uma das falhas no mal é que não há convicção, não há um ideal a que se atenha. Por isso o mal é frágil em si, mesmo que suas ações sejam extremas. Pode-se até se iludir no caminho sombrio, no começo, pensando a estar usando boas intenções, mas logo fica perceptível a quem escolhe essa direção que se iludiu ou na força de seus ideais ou na opção de caminhar nas trevas.

“Quando, porém, realmente alguém possui suas convicções arraigadas e decide utilizar consciente e intencionalmente o mal como ferramenta do bem, raramente desperta dessa insanidade. E quanto mais puras suas intenções, mais se joga no mal para realizar o bem que deseja. É um caminho sem volta... E com Ben, com ele, que é uma expressão da Força, com um poder extraordinário, o que pensa que pode acontecer, Lore?”

- Justamente por Ben ser extraordinário, ele tem mais chance. Ele pode encontrar nesse caminho do meio um rumo sem se iludir. Ele pode enxergar realmente o que fazer sem se perder. Encontrar o equilíbrio no desequilíbrio. Confie nele, Luke! Quanto mais você o empurrar para o Lado Luminoso ignorando a verdadeira natureza de Ben, mais você o conduz involuntariamente para a escuridão.

A dor que nasceu nos olhos azuis de Luke atingiu Lore como uma facada. Nunca ela o vira daquele jeito, nunca uma dor daquela. E a dor dele era sentida nela com toda a intensidade. Magoara-o profundamente, no recanto mais sensível da alma do jedi.  E ele a magoara por não entendê-la. Ela sustentou a carga do olhar decepcionado e dolorido do homem que amava e não fugiu ou cedeu, pois seu íntimo clamava que o que falara era certo.

- Mostrar mais escuridão para que ele não caia nas sombras...? Oh, Lore...

- Enfrentá-las em vez de evitá-las. Extrair luz da escuridão. Talvez, Luke, seja essa a missão de Ben e ele está sendo desviado do que realmente deva fazer, do que realmente deva ser.

- Não quero um rastro de sangue e sofrimento por onde Ben passar. Não. Ele não tem estrutura para seguir o caminho do meio. Não vou arriscar a vida e a sanidade dele. Não porei em perigo todas as vidas que poderão cair em suas mãos.

Lore se levantou e calçou os chinelos, irritada. Pegou um manto que se encontrava em uma cadeira em um canto afastado do quarto e dirigiu-se para a porta.

- Você se ofusca com a própria luz e não consegue enxergar nada....

Ela abriu a porta para sair quando sentiu a mão humana de Luke a segurá-la e puxá-la para si de modo firme, mas carinhoso, envolvendo-a em seus braços. Antes que ela pudesse reagir e tentar se soltar, ouviu sua voz mansa sussurrando perto de seu ouvido.

- Pare, Lore. Não faça isso conosco. Tive uma segunda chance contigo, Ellin e Ben. Não quero desperdiçar essa vida brigando com você, amor. Nem você e nem eu mudaremos de ideia, mas isso não é razão de nos magoarmos, principalmente porque estamos a procurar o melhor para Ben.

A raiva ainda fervilhava dentro dela, contudo não durou muito tempo com aquelas palavras. Luke podia estar morto agora e essa constatação a fez estremecer. Ela não teria mais como sentir seu cheiro, seu toque, sua voz.

 Luke a beijou na boca suavemente.

- Por que você não consegue ver? – murmurou ela, passando as mãos pelos cabelos louros dele.

- Posso te fazer a mesma pergunta. – falou ele baixinho, enquanto alisava o rosto dela com sua barba.

Suas faces se aproximaram ainda mais. Lore encostou sua testa na de Luke.

- Não vou desistir, você sabe.

- Não esperaria menos de você.

E Luke fechou a porta.

 


Notas Finais


Olá!

Havia deletado o capítulo 26 anteriormente e o reconstruí por perceber que não havia transmitido o que tinha pensado.


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