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História De luz e de sombras - Prelúdio I: Luke e Ben


Escrita por: Ninlil

Notas do Autor


Este capitulo não foi fácil de escrever. Lidar com uma criança atormentada pelo mal é difícil, mesmo que sejam apenas palavras contando uma parte da história. De qualquer forma, aqui está parte do passado de Ben Solo e a semente do surgimento de Kylo Ren. Espero que gostem.

Capítulo 3 - Prelúdio I: Luke e Ben


Fanfic / Fanfiction De luz e de sombras - Prelúdio I: Luke e Ben

O deserto.

Rey olhou para o horizonte árido, o pôr-do-sol duplo pintando o céu azul em tons alaranjados e rosados. Os grãos de areia plainavam no ar com a brisa, deixando a visão das montanhas ao longe irreal, etérea, como se o mundo tivesse deixado a realidade e transcendido para um lugar mágico.

Ela não sabia como ali chegara. Não era Jakku. Os desertos tinham sua personalidade própria, uma vida própria. Tatooine. Sim, Tatooine.  Franziu o cenho, intrigada. Nunca fora a Tatooine, porém a certeza de onde se encontrara era absoluta.

Fitou os dois sóis diretamente e os raios de luz não machucaram seus olhos verdes claros. A secura não repuxou a pele de seu rosto. Não havia sede em sua garganta, tão constante quando morava em Jakku. O calor abrasante não a atingia. A brisa cálida não desmanchava seus cabelos em pequenos nós. Seus passos não deixavam marcas na areia.

Tão estranho.

Voltou-se e andou para a entrada de uma caverna. Como um sonho. Não, não era um sonho.

O interior da gruta se mostrava sobriamente acolhedor. Apesar de espartana a decoração, existia um calor ali de alguém que lá fizera um lar. Ou um refúgio. Muito pó e areia. Talvez o morador tivesse abandonado sua casa há algum tempo ou a porta tivesse ficado aberta. Não. A porta estava trancada. Como passara pela porta?

  Ruídos. Ela viu um garotinho - talvez cinco ou seis anos – sentado em uma elevação de rocha que servia de banco. Seus pés arranhavam a pedra ao se balançarem. Os cabelos negros caíam em ondas sobre seu rosto tão branco e ele mirava  o chão, espessos cílios. Rey se aproximou e se agachou diante dele e subitamente o garoto elevou a cabeça e a olhou... não, olhou através dela, para além dela.

Recuou, assustada. Os olhos verdes escuros do menino brilhavam pensativos e a boca se apertava, como se ele estivesse tendo um diálogo interno consigo mesmo.

- Então, Ben. O que achou desde lugar?

Luke!

Arregalou os olhos. Era Luke, sem dúvida, mas tão jovem! Um homem talvez com trinta e poucos anos, rosto sem barba, alguns fios brancos revelando-se entre os louros, pequenas sombras de rugas em torno dos olhos. E os olhos azuis... tranquilos, vívidos e sem aquela dor que ela conhecera em seu encontro na ilha.

Ele passou por ela – através dela – e sentou-se ao lado da criança. Rey estarreceu-se, sem compreender como... A essência de Luke a transpassara e deixara um pouco com ela, como um leve perfume que se entranhou em sua alma.

- É... bem legal. Mas está tão sujo. Por quê?

- Quem morava aqui já se foi há muito, muito tempo – sorriu, num misto de saudade e leve tristeza -  Venho aqui uma vez ou outra.

- Então por que você não limpou? Se eu não arrumar meu quarto e minhas roupas, mamãe briga comigo. Ela vai brigar com você também.

A risada de Luke Skywalker ressoou pela caverna, o abandono daquele refúgio se desfez.

- Com certeza Léia me passaria um grande sermão. Ela é bem severa em algumas coisas. – desalinhou o cabelo do sobrinho – É a maneira de ela dizer que se preocupa com você. Que se importa.

Rey engoliu em seco. Ben.

O menino se remexeu, inquieto. Luke observava silenciosamente as reações do sobrinho.

- Sabe – continuou Skywalker, em tom suave – Esta casa pertenceu a um homem que tinha o mesmo nome que o seu. – viu o menino ficar interessado e prosseguiu – Obi Wan Kenobi. Eu o chamava de Ben. Foi um bom homem. Morou por muitos anos aqui para me proteger. Também protegeu sua mãe. E foi por isso que seus pais lhe deram o nome dele, em homenagem e agradecimento.

- Protegeu o senhor e a mamãe de quem? – mordeu os lábios

- De pessoas que nos queriam fazer mal.

- Vocês fizeram alguma coisa errada?

- Não, Ben. Não fizemos nada de errado.

- Elas eram más?

- Algumas, sim. Outras... só estavam confusas.

Ben saltou da bancada e caminhou pela sala, as mãos se entrelaçando, nervosas.

- Mamãe acha que sou mau ou que sou confuso? Ela não me quer perto dela. Eu não quis ferir Key... eu não quis. Ele chamou mamãe de nomes feios, que ela era ruim. Aí eu quis que ele fosse embora e ele não ia... – balançou a cabeça - Por isso ela me mandou ficar aqui com o senhor?

Lágrimas encheram os olhos de Rey.

Luke se agachou e segurou o menino delicadamente pelos ombros, fitando-o profundamente nos olhos.

- Você não é mau, Ben. Tem um poder maravilhoso que precisa entender. Nossa família tem a Força. Ela é como uma faca: pode servir para cortar uma fruta ou para machucar alguém. – puxou-o para si, abraçando o menino – Você ficou com muita raiva do seu colega, foi isso?

A criança se afundou naquele abraço. Rey se aproximou dos dois, hesitando em acariciar os cabelos do garoto. Sentimentos confusos transpassavam seu coração. Aquele mesmo menino angustiado havia matado uma multidão de pessoas. Aquele mesmo menino assassinara o próprio pai.

- Não, tio. – ele soluçava – Eu juro que não fiquei com raiva.- sua voz infantil tomou outro tom -  Mas seria tão errado punir alguém por me agredir e a quem amo? O que adianta eu ter poder e não usá-lo para fazer justiça?

Rey levou a mão à boca, assustada. Aquela frase não era de uma criança... a ideia, as palavras...

Luke se enrijeceu e encarou o sobrinho. Meneou a cabeça solenemente.

- Quem lhe disse isso, Ben? – sussurrou, suave – Aquele seu amigo?

- Como sabe? – arregalou os olhos verdes, ainda mais escuros -Papai me prometeu que não contaria para ninguém!

- Não culpe seu pai. Ele está preocupado com você e quer só sua felicidade.

- Mas ele me prometeu! Ele não cumpre promessas!

- Às vezes precisamos quebrar promessas, quando os segredos trazem tristeza e perigo para os que amamos.  – a expressão de pesar do jedi foi  pungente  - Seu pai ficou angustiado por não conseguir te ajudar e por isso me contou, pois ele acredita que posso compreender melhor o que está acontecendo com você.

Ben deu as costas a Luke, procurando conter o choro. Rey postou-se à sua frente, esquadrilhando sua mente. Como a do mestre jedi, fechada. Não vejo seus pensamentos, não alcanço o que realmente sente., pensou ela, Talvez nada posso fazer a não ser observar. Então, para que presencio isso?

- Contou para mamãe também? – murmurou, as lágrimas secando em sua face.

- Não foi preciso. – ergueu-se. -Você fala dormindo, filho. Não tinha consciência disso? Discutia com alguém durante o sono e ela escutou. Ben, - tocou-lhe os ombros – se existe alguém que lhe fale algo que o perturba, conte-me. Pessoas más ou confusas também são capazes de nos prejudicar utilizando a Força. Eu sei. Já sofri com isso.

O menino afastou os cabelos do rosto e encarou francamente o tio.

- Não tive raiva de Key naquela briga. Falo de verdade. Só queria que ele parasse. Mas ele ficou falando, falando... e eu dizia para ele ir embora. Eu sabia que mamãe não era tudo aquilo que ele dizia. Eu ia sair dali, só que... só que ele me disse que isso não era justo e eu podia fazer Key engolir tudo que falava para proteger mamãe. Então... ele me ensinou como calar a boca de Key sem tocar nele. Disse que era só eu forçar a mente e desejar muito. Aí... aí... Key ficou sem ar, roxo. – coçou a cabeça, nervoso – Fiquei com medo e parei de fazer.

- Quem te disse isso, filho? - sua voz saiu delicada, mas grave.

- Ele não me disse. Não vejo o rosto dele, só escuto sua voz. – mordeu os lábios – Os meninos dizem que sou maluco. Eu sou doido, tio Luke? – havia desespero nas palavras trêmulas.

- Venha sentar-se aqui comigo aqui. – pediu, enquanto se acomodava na bancada de rocha. Pegou uma das mãos do garoto entre as suas – Você não é louco. Todavia, preciso que me conte tudo para que eu entenda e possa ajudar. Diga-me: desde quando escuta essa voz?

- Eu não sei... parece que sempre escutei. Contei um dia para papai e a voz ficou brava, muito brava mesmo. Me falou para eu fazer papai me jurar que não contaria para ninguém.

- E o que vocês conversam? Não tenha medo de me contar.

- Ele brincava comigo antes. – balançou as pernas alternadamente enquanto as observava – Você sabe, os meninos nunca gostaram muito de mim e eu ficava sozinho. Mamãe estava sempre falando com os outros adultos sobre naves, guerras e... política. – a última palavra saiu como uma interrogação, como se não soubesse seu significado – E papai viaja muito. Aí ele apareceu e fiquei feliz em ter um amigo. Era legal. A gente se divertiu muito. Só que – as pernas pararam de se balançar lentamente – ele começou a falar umas coisas...

- Que você era melhor do que os outros e que seus pais não lhe davam a atenção suficiente? – perguntou carinhosamente

- Como adivinhou? – admirou-se - Você leu minha mente?

- Não, mas creio que estou começando a compreender essa voz. Prossiga.

- Bom... ele tem razão, né? Papai e mamãe não ficam muito comigo. É Chewie que brinca comigo... quando ele pode. Mas eu ser poderoso... eu não sei. Ele me mostrou como fazer umas mágicas. Aprendi a fazer pedrinhas voarem. Às vezes eu sabia de coisas das pessoas sem elas falarem. Me senti tão especial! Eu podia fazer tudo aquilo só querendo com a cabeça!!

Luke cerrou os lábios, o corpo rígido.

- Parecia muito bom mesmo, Ben. – mediu cuidadosamente cada palavra – Ninguém soube dessas mágicas?

- Tudo tinha que ser em segredo. Total segredo. Nosso segredo. Se eu contasse para alguém sobre as mágicas, ele iria embora. E eu queria aprender mais! Puxa, ele quase se foi quando contei para papai que tinha um amigo na minha cabeça... – seu rosto ficou subitamente muito pálido – Devia ter deixado ele ir naquela hora.

O silêncio baixou entre eles. Rey tremia. Aquele garotinho... era apenas um garoto.

Luke passou o braço em torno do sobrinho e o menino prendeu a respiração, os olhos muito abertos e assustados, como se estivesse relembrando do que vivera.

- Foi aí que ele falou umas coisas... que não era justo eu passar por tudo aquilo. Que os outros tinham medo de mim e por isso me agrediam. Os meninos querem sempre bater, você sabe, tio Luke. Que eu tinha que mostrar o quanto sou forte para me respeitarem. Que só machucando as pessoas faria que elas vissem quem eu sou.  Que eu era especial e que papai e mamãe não me amavam. Mas tio Luke, eu sei que eles me amam! – pendeu a cabeça para o lado - Só que muito do que ele diz é verdade, não é?

- Seus pais te amam, Ben. Nunca duvide disso. Os adultos, muitas vezes, não sabem expressar seu amor mas isso não quer dizer que não se importam.

O menino assentiu, pesaroso.

- Eles... não me entendem. Não posso conversar essas coisas com eles. Ficam assustados comigo. Já vi eles me olhando com medo porque fiquei furioso com alguma coisa ou quando eu falava sozinho. Meu pai gritou comigo quando eu falei sobre esse... amigo.

- Tenha paciência com eles. Geralmente se teme o que não conhece. – Luke franziu o cenho, como se uma dor o atingisse – Essa voz ... o que mais falou?

Lágrimas silenciosas riscaram o rosto tão branco da criança.

- Depois do que eu fiz com Key, fiquei com muito, muito, muito medo... e ele quis que eu ficasse calmo, que tudo era assim mesmo. Que eu um dia compreenderia que poderia acabar com todas as brigas, até as brigas na galáxia, se fosse forte o bastante para fazer o que devia ser feito. – o rosto ficou confuso – Não entendi.... Tenho que machucar as pessoas para que elas parem de brigar e para que gostem de mim? – meneou a cabeça, angustiado - Ele me respondeu que sim, que me ensinaria devagarzinho sobre isso.

- O amor não é conquistado pelo medo, filho... e nem o respeito. O medo leva somente ao Lado Sombrio e lá você pode se perder.

De repente, o rosto de Ben se contorceu em uma máscara de dor. Seus olhos se alucinaram, como se ele tivesse vislumbrado o horror.

- Eu estou sofrendo muito.  Eu quero que essa dor pare. Eu sei o que devo fazer, mas não sei se tenho força para fazer isso. Vai me ajudar?

Não!!! Não!!!

Rey correu para o menino, mas suas mãos transpassavam o corpo do garoto enquanto o socava repetidamente, sem dano algum. Ela gritava para Luke, desesperada. Saia daí, saia daí! Ela tentou derrubar alguns objetos poeirentos que se achavam perto, a fim de que sua presença fosse notada, sem sucesso. Era um fantasma, sem poder algum. Arfante, buscou o sabre de luz de Luke, o qual se encontrava no cinto dele, tão próximo da mão de Ben.

Não!!

- Sim, eu ajudarei, Ben. Encontraremos uma solução, juntos.

Rey ficou paralisada, num anticlímax. Nada tinha acontecido. Nada. O que isso significava? O que aquelas palavras do futuro sombrio de um homem faziam na boca de um menino no passado?

Recuou, abalada, para um canto do recinto.

- Você não me abandonará? – os olhos vermelhos pelo choro ansiavam por esperança.

- Estarei contigo. Você não estará só, filho. Não mais.

Ben se levantou, caminhando lentamente em frente, como em transe. Sua voz infantil se tornou estranha.

- Ele me falou que nunca ficaria só... Alguém parecido comigo estaria ao meu lado para sempre. - deu mais alguns passos para o fim da sala - Estaria comigo no domínio da galáxia. Eu e ela. Uma menina de olhos verdes claros. –  estacou e olhou diretamente para Rey.

Você.

A moça foi ao fundo daqueles olhos verde escuros e a imagem de Kylo se sobrepôs ao do garoto.

Ela gritou em desespero. Suas mãos estavam sangrando, sangue de um futuro que ela temia.

Correu em uma fuga alucinada, ultrapassando as paredes, os vales. A areia de Tatooine se tornava movediça. Seus medos eram tentáculos que a puxavam para baixo, submergindo, sufocando-a, até que ela se afundou na mais profunda escuridão.


Notas Finais


O passado de Ben será contado aos poucos, através, em grande parte, das visões de Rey. Em virtude disso, não descrevi os pensamentos e sentimentos internos de Luke e Ben, pois é a percepção de Rey quanto à cena.


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