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História De luz e de sombras - O príncipe sombrio de um mundo perdido


Escrita por: Ninlil

Notas do Autor


Tivesse eu os tecidos bordados do paraíso,
Adornados com luz dourada e prateada,
Os azuis, sombrios e escuros tecidos
Da noite e da luz e da meia-luz,
Eu os estenderia sob seus pés:
Porém, sendo pobre, tenho apenas meus sonhos;
Eu estendi meus sonhos sob seus pés;
Pise suavemente porque você está pisando em meus sonhos.

He Wishes For The Cloths Of Heaven
William Butler Yeats

Capítulo 7 - O príncipe sombrio de um mundo perdido


Fanfic / Fanfiction De luz e de sombras - O príncipe sombrio de um mundo perdido

Ainda sou eu.

            Encarou sua própria imagem no espelho do banheiro, em dúvida, mas continuou secando os cabelos com a toalha. Sem tirar os olhos de seu reflexo, vigiava a si mesma com uma desconfiança intermitente, como quem espreita um estranho nas sombras. Balançou a cabeça, procurando afastar de si a lembrança daqueles olhos amarelos, daquele ódio que a fizera ferver em febre. Não era ela. Não podia ser.

            Ou poderia vir a ser.

            Vestiu uma camisa com gola em “v” e calça confortáveis de um azul claro acinzentado, pensativa, o corpo ainda um pouco úmido do demorado banho. Abandonara suas antigas roupas, próprias para o calor do deserto e agora usava um tecido mais quente devido à brisa fria marítima e à temperatura amena da ilha. As botas marrons de couro chegavam até os joelhos, confortáveis. Parecia que se vestia de um outro eu seu, que começava a conhecer.

            A bem da verdade, tudo no que ela acreditava e no que acreditava que ela era se desfaziam em suas mãos. A existência em Jakku nunca havia sido a sua vida real. Fora apenas um porto de espera para, um dia, retornar a viver o que lhe cabia. Anos em estado suspenso, como um sonho marcado nos riscos da parede de metal enferrujado de uma velha nave destroçada, que já fora sua casa. Fileiras e mais fileiras de riscos descascados de mágoa e raiva, sentimentos até então ocultos, enterrados e abafados na crença arenosa que seria resgatada, que não seria esquecida.

            Eu voltarei para você, querida. Eu prometo.

            Rey cingiu os lábios, apertando os dentes. As vozes entrecortadas da visão que lhe vieram à beira do precipício ainda ressoavam em sua mente, como lufadas de vento frio.

            “Não vá! ... se perder no escuro... ele pode te ajudar...”

            “Tenho que... não... mas foi ele quem me enviou...”

            Caminhou até o quarto onde dormia e pegou seu longo bastão de ferro, companheiro de todos aqueles anos. E, encima da cama estreita e simples, uma sotaina cinza escura que lhe fora entregue no primeiro dia em que chegara à ilha.

            Devidamente vestida, o bastão na mão, encaminhou-se para a sala. A energia de Luke ressoava, indicando que ele se encontrava perto. A cadeira vazia em frente à mesa acusava resquícios de presença, Rey sentia. Ele deveria ter saído há pouco tempo..., não sem deixar na superfície de madeira uma caixa meio amassada, sobrevivente da fúria dela. A tampa semiaberta revelava o seu conteúdo e a moça ficou boquiaberta. Era a última coisa que poderia supor.

            Brinquedos.

            Rey não pôde evitar de sorrir. Toda sua preocupação desapareceu como um passe de mágica diante daquela inocência.

Naquela pequena montanha de objetos coloridos e desgastados pelo tempo ela enfiou a mão, fazendo consigo um jogo divertido de pegar, de olhos fechados, algum brinquedo aleatoriamente. Uma pequena bola transparente que distorcia, dos mais hilários jeitos, sua imagem, como um truque de espelhos. Um pedaço de tecido verde berilo, que já fora um dia um belo laço. Um dado com inacreditáveis e cintilantes vinte minúsculos lados. Uma pequena e delicada flor silvestre lilás feita de cristal, com duas pétalas quebradas. Um pingente furta-cor de um sabre de luz entre duas asas, onde as cores dançavam e se alternavam nos vincos do objeto, como se ele pulsasse, vivo.

            Alisou cada um, captando-lhes a textura, as entranhas e pequenas emoções correram dentro dela como um pequeno riacho alegre, toldadas com uma saudade indefinida. Tentou dar uma imagem às sensações, sem sucesso. Foi então que ela viu algo entre as recordações perdidas de alguém.

            A covinha provocada pelo sorriso desapareceu, a testa se franziu, formando duas rugas fundas entre os cenhos: como se estivesse emergindo de um lago lúdico, um boneco de pano feito de enchimento parecia acenar para ela. Fora confeccionado artesanalmente, costurado à mão com cuidado e carinho, mas com pequenas imprecisões, como se alguém não tão hábil ou ainda muito jovem tivesse tentado fazer um presente. Não havia rosto ou mãos e sim apenas enchimentos que imitavam o vulto humano. O suposto rosto e as mãos eram de tecido muito alvo. A roupa do boneco lembrava vivamente a tradicional vestimenta dos jedi e ela era toda negra: as calças, camisa interna, a sotaina, o cinto. Até o lenço interno em volta do pescoço, também escuro, não escapou ao detalhe.

            Rey hesitou por um instante antes de segurar o boneco entre as mãos.

            “Verdade que sua mãe é uma princesa?”

            “ Sim. Mas ela não gosta muito de ser chamada assim, você sabe.”

            “ Então você é um príncipe...! Mas onde está seu reino?”

            “Devo ser o único príncipe sem um reino. Ele não existe mais.”

            “ O que aconteceu com ele?”

            “ Pequena, você e suas perguntas... O Império o destruiu. Não, não fique triste. Isso foi há muito, muito tempo atrás.”

            “Está bem. Hum... príncipe sem um reino é estranho... como também é esquisito que você se vista sempre de negro. Ah! Já sei! Você é o príncipe sombrio de um mundo perdido.”

            - Era assim que você chamava Ben

            Ela levou um pequeno susto com a chegada de Luke, saindo do devaneio da visão. Não tinha se atinado que repetira em voz alta a última frase. Ainda se encontrava meio alheia.

            - Alderaan. – disse automaticamente, dando-se conta que não tinha conhecimento sobre o planeta.

            - Destruído pelo Império. – o jedi depositou na mesa outra caixa com alguns objetos dentro. Suspirou – Destruído por Vader. Meu pai.

            Rey concentrou-se em voltar totalmente para a realidade. Príncipe sombrio de um mundo perdido. Ben. Era assim que você chamava Ben. Neto de Vader. O espanto a paralisou. Ela captara a imagem de Vader na mente de Kylo no interrogatório e a admiração obsessiva que Ren nutria por aquele ser, mas não a relação de parentesco. Ouvira falar de Vader durante sua permanência em Jakku e de histórias de suas iniquilidades entre os viajantes que lá aportavam.

            Um dos seres mais pérfidos do qual soubera era pai de seu mestre. Um dos seres mais sórdidos era avó de Ben.

            Ante a olhar inquisidor de sua aprendiz, o mestre prosseguiu.

            - Anakin Skywalker foi um poderoso jedi que sucumbiu ao Lado Sombrio e transformou-se em um Sith, um servo das sombras, chamando-se, desde então, de Darth Vader. – seus olhos azuis pousaram em sua mão robótica e se perderam nas recordações por um longo instante – Mas, no fim, ele se redimiu. – sorriu, triste – Ele me salvou de morrer pelas mãos do Imperador.

            Em qualquer outra situação, Rey teria sido solidária e consolado a quem precisasse. Entretanto, por mais amor que sentisse por Luke, não conseguia se aproximar. O amor sem sentido por aquele homem a atraía em sua compaixão e a repudiava em suspeita. Um abismo enorme crescia entre os dois e isso era por demais doloroso em virtude de não saber qual razão disso. Por que ele não falava o que ela queria ouvir? Por que as palavras da pergunta que pulsava do coração dela morriam como flores murchas?

            Rey examinava de longe a mão robótica de seu mestre, indagando-se do motivo pelo qual ele não acoplara às ligaduras prateadas a capa sintética de pele humana. Talvez já tivesse feito algum dia.. mas sentia que era como um símbolo para o jedi aquela mão esquelética metálica aparente, um lembrete. E da maneira pela qual ele refletira nela há pouco, muito provavelmente Vader fora o responsável pela mutilação.

            Se ele fosse seu pai, explicaria muita coisa, pensou, amarga. A relação entre pais e filhos na família Skywalker era muito complicada... e mortal.

            Skywalker sentou-se diante da caixa que havia trazido e tirou de lá dois sabres de luz, colocando-os ao seu lado, na mesa.

            - Por que se arrumou e trouxe seu bastão se é noite e não vamos sair da casa? – indagou o homem concentrado nas pequenas peças prateadas que continuava a retirar do recipiente.

            Rey foi pega de surpresa e a indignação pela displicência que Luke lhe tratava ameaçou crescer em sua garganta como uma erva daninha. Exasperada, obrigou-se a conter as palavras iradas e baixar sua revolta. Pelas estrelas, nunca fora dessa forma! Mas também nunca havia tido uma pessoa capaz de lhe irritar tanto como Luke.

            Por mais que estivesse com a razão, por mais que todos aqueles anos de ignorância no deserto urrassem para saber o que tanto precisava saber, ele era seu mestre. Ele podia ser seu pai. Porém, mais do que tudo, a recordação daquele ódio que a tomou há algumas horas a assustava e a simples possibilidade daquilo retornar a colocou sob controle.

            O mestre jedi, com a cabeça baixa por estar mexendo nos pequenos instrumentos, sorriu satisfeito, quase que imperceptivelmente.

            - Pensei que você me mostraria o que estava acontecendo e que seria fora de casa. – respondeu ela finalmente, a voz calma.

            Ele voltou sua atenção para a garota, o semblante mais leve.

            - Já comecei a mostrar. – inclinou a cabeça, fazendo referência aos brinquedos. A voz se suavizou – Foram seus e de Ben.

            Rey assentiu, reconhecendo a lição de paciência que lhe fora dada em primeira mão.

            - Eu fiz um boneco igual a esse em Jakku. – disse, pesarosa. Fora o único brinquedo que lhe acompanhara na infância desértica.

            Automaticamente suas mãos foram ao seu cabelo solto e já quase seco para fazer o costumeiro penteado.

            - Por favor, não. – pediu Luke. – Deixe seu cabelo solto. Sempre gostei dele assim, livre.

            Rey arregalou os olhos, surpresa. Sentiu-se tocada e acarinhada por aquela simples frase que carregava todo um passado ainda nebuloso, mas que irradiava, mesmo assim, uma emoção poderosa.

            - Você está com o cristal ? – perguntou ele, já com todas peças metodicamente arrumadas na mesa.

            Imediatamente ela retirou a pedra do bolso da calça e, como um eco da gentileza dele, em vez de levantar-se para entregar-lhe o cristal, fez que a pedra flutuasse até a mão de Luke. Ele meneou a cabeça em agradecimento. Colocou a jóia contra a luz no teto, observando-a detidamente por um tempo, até soltá-la, deixando-a flutuando um pouco acima no ar, entre ele e Rey.

            A jóia cintilava; as rachaduras em seu interior brilhavam, como sangue circulando nas veias dentro de um coração, iluminando-lhe toda a imperfeição interna. Os pontos amarelos no seu âmago piscavam como estrelas em um espaço profundo roxo, tonalidades de lilás se ascendendo a cada pulsar.

            - Como o cristal trincou? – indagou ela, sem tirar os olhos da pedra.

            - Quando Ben consentiu que Kylo Ren tomasse sua vida e seu corpo.

            O cristal caiu na mão metálica de Luke.

            Um coração partido. O coração de Ben.

            - Rey – Luke a fitou seriamente – Preciso que confie em mim. Tem todos os motivos para não fazê-lo, mas lhe peço que tente. Se não por mim, por Ben.

            Ela se encolheu, os braços cruzados, procurando o calor em si mesma diante do frio que se insinuava dentro de seu coração.

            - Você não irá mais ocultar nada de mim?

            - Não mais. Eu prometo.

            Ela abriu os braços, ansiosa.

            - Então me conte tudo o que aconteceu. Conte... – conte se é meu pai ou não.

            Os olhos azuis de Skywalker se estreitaram.

            - Melhor que você veja por si mesma para tirar suas próprias conclusões. Eu a levarei para essas lembranças amanhã.

            - Amanhã? – a desconfiança arranhou sua voz. Abafou-a com energia - Mestre,  por quê?

            Ele foi firme, mas delicadamente carinhoso.

            - Porque, minha doce padawan, hoje você correu um risco enorme ao abrir para as portas do ódio. Você beirou o Lado Sombrio, sabe disso. É por isso que está com tanto medo. Você viu o abismo se aproximar e nada fez para tentar impedir, deixando-se levar porque acreditou ser sua razão justa.

            Os braços abertos em súplica caíram, pesados. Ele tinha razão. Contudo, Luke não passara pelo o que ela passou por anos. Não sofreu com a fome, com o desamparo, com a possibilidade de morte a cada dia que nascia, com o abandono, com a esperança que nascia brilhante a cada amanhecer e a decepção a cada pôr-do sol. Pensamentos contraditórios se engalfinharam dentro dela, raiva e culpa, amor, ressentimento. E medo, muito medo do reflexo daqueles olhos amarelos.

            - O que você quer que eu faça, então? – murmurou magoada e confusa.

            - Que construa um sabre de luz. – disse, pondo-se em pé - O seu sabre de luz.

            Os olhos verde água de Rey eram como mar revolto, estarrecidos.

            - Como? Eu... eu...

             - Este - o sabre de luz se ascendeu na mão humana do mestre jedi, iluminando sua face direita. – foi o sabre de meu pai enquanto ele foi um jedi. Ele me pertenceu por um tempo. Pensei que o tinha perdido para sempre... mas você o trouxe de volta para mim, Rey.

            O sabre de Anakin Skywalker. O sabre com o qual ela lutou contra o seu neto.

            - E esse – a luz verde do segundo sabre tingiu a face esquerda de Luke, o sabre em sua mão inumana – eu construi e é verdadeiramente meu. E carrega consigo toda a dúvida que me acompanhou e que acompanha você também nos caminhos da Força.

            O sabre de Luke Skywalker. O sabre de luz verde foi o símbolo de uma vitória amarga.

            As luzes dos sabres se recolheram.

            - Aqui estão peças para você construir o seu sabre. – mostrou todas as peças minúsculas, os fios e as ferramentas, bem como o sabre quebrado de Ben. – Pegue os dois sabres como modelo. Eu sei que consegue – sorriu abertamente. – Sempre foi muito habilidosa em construir e consertar equipamentos.

            Ela fitava a mesa cheia de objetos prateados e fiações, melancólica. Por mais difícil que o desafio fosse, Rey não o temia. Sabia que conseguiria. Sentia que conseguiria. O problema não era esse.

            A pergunta. Faça a pergunta.

            - Qual o cristal a ser usado? – ela deu uma volta na pergunta, evitando-a e voltando-se para aspectos práticos. -  Você quer que eu use um dos dois sabres?

            Luke lhe entregou a pedra roxa rachada em silêncio.

O coração partido de Ben em sua mão.

Rey tremia ao toque rígido da jóia trincada. Seus olhos se afundaram naquela imperfeição.

- Você vai confiar em mim para fazer isso depois do que ocorreu hoje? – ela estava agradecida e incrédula.

Os olhos azuis de Luke lhe sorriram.

- Eu sempre confiei em você.

Ela ficou constrangida e comovida, mas não se sentia confortável. A desconfiança. A mágoa. Elas não a abandonariam com algumas palavras gentis. A raiva se transvestia em aceitação momentânea, embora estivesse pronta para explodir como um vulcão a qualquer momento.

Pegou o cristal e o sabre que antes o abrigava, a testa franzida pensando nas possibilidades da construção. Abriu o compartimento e os fios queimados em seu interior lhe mostraram o que já intuía.

- Talvez possa a carcaça desde sabre, mas terei que refazer todas as interligações de transmissão de laser. – falou para si mesma, em dúvida. Não, tinha algo errado. Aquilo não daria certo.

Luke se aproximou e pegou o cristal, o olhar atento para a pedra.

- Não... não é possível realmente. A empunhadura de uma saída só não aguentará a luz desse cristal trincado. Ele fica desgovernado quando está quebrado. Muita força sem controle. - sua voz baixou um tom – Como o sabre de Kylo Ren. Também seu cristal vermelho é rachado.

O coração partido de Kylo Ren.

Rey ficou estática, as palavras soando em sua mente, pesadas como um tambor.

O coração partido de Kylo Ren.

Com esforço, concentrou-se novamente em como resolver o problema da construção do sabre, fechando-se para o ressoar das palavras. O sabre do Cavaleiro de Ren possuía duas saídas laterais e agora percebia a razão: para dar vazão à toda aquela energia descontrolada. Caso assim não fosse, o sabre poderia explodir. E mesmo com a saída encontrada, o sabre de luz vermelha emitia a lâmina de forma irregular, selvagem, perigosa de se lidar.

Coração selvagem.

Luke parecia estar seguindo a mesma linha de raciocínio, pois pegou o seu bastão de ferro e entregou-o à sua padawan.

- Duas saídas de empunhadura. Duas lâminas.

Dois corações.

Rey concordou, balançando a cabeça. A estrutura da construção do sabre já se figurava em sua mente, as etapas, o como fazer, as possibilidades de erro, o produto final. Espantou-se consigo mesma. Como ela conseguia fazer isso, sempre??

- Vou deixa-la agora, Rey. Você tem uma noite longa pela frente. – falou Luke, afastando-se. Parou, encostando-se na pilastra – Uma noite de trabalho ajudará você a encontrar equilíbrio para o que faremos amanhã. – suspirou, resignado - Mas quando ficar pronta a empunhadora dupla, não coloque o cristal. Teremos que fazer isso juntos na Força.

Rey engoliu em seco, tomando coragem para falar.

- Você confiou em mim e quero confiar em você. – a voz enrouqueceu – Farei o que disse e seguirei suas instruções. Mas preciso confiar em você. Preciso de algumas respostas agora.

Ela estava de costas para seu mestre e, mesmo assim, a dor dele era palpável nela. Sentiu o peso de sua indecisão, a respiração forte quando ficou pronto para responder.

- Responderei o que você quiser agora, se insiste. – a voz também estava embargada – Mas tenha cuidado no que perguntar, pois eu responderei a verdade e talvez você se arrependa de saber agora.

A pergunta. Faça a pergunta.

- Foi Ben que me abandonou em Jakku? – mais uma vez fugira. Ainda não. Coragem.

- Sim. – a voz grave dele era como uma sentença – Ele tinha que colocar você em um lugar desconhecido para protege-la.

- Proteger-me de quem? – sussurrou

- Dele.

Uma dor atingiu o coração de Rey.

Não se deixe enganar. Mesmo na escuridão, de algum modo eu lá estarei

 Reuniu forças para continuar. Pergunte! Não, ainda não.

- Por que você não me buscou depois? – o coração começava a bater descontroladamente. Mesmo de costas para Luke, sentia-lhe também o coração descompensado.

- Porque – um suspiro profundo – Ben nublou sua mente, Rey, para que você se esquecesse de quem é e ainda a ocultou na Força. Assim, você não poderia me chamar e eu não poderia te encontrar.

Os lábios dela tremiam.

- Mas você... você é um mestre jedi e ele seu aprendiz. Como ele conseguiu ser mais forte que você?

- Ele conseguiu ser mais forte do que eu naquele instante. – a voz saiu firme às costas de Rey – Sei o que está pensando e está correta. Eu não insisti em te procurar.

- Por quê? – ela tremia, o cristal em sua mão. O coração de Ben em sua mão.

- Porque eu percebi que Ben estava certo quando assim decidiu. – a dor dele arranhava suas palavras – Nem eu mesmo deveria saber onde você estava, para sua própria segurança. Se eu fosse encontrado e capturado, você ainda teria uma chance de ficar viva.

Faça a pergunta!

Ela se voltou e encarou Luke, os olhos marejados de lágrimas, porém com a determinação no semblante. Seus olhos verdes ardiam, os dentes arreganhados contendo as palavras.

Os dois permaneceram naquele embate. O silêncio absoluto na noite.

- Fale – grunhiu ela.

Luke inspirou profundamente.

- Você já sabe a resposta.

- Quero que diga. – as lágrimas escorriam até a boca, as palavras salgadas – Eu preciso ouvir de você.

Ele se enrijeceu.

- Eu sou seu pai.

Rey ouviu as palavras que tanto deseja ouvir mas elas saíram vazias. Sem emoção. Sem abraços. Sem pedidos de perdão.

Sem nada.

E esse nada ressoou dentro dela como um tudo. Seu coração se apertou, encolheu-se, espasmo de dor. O som de um cristal se partindo.

Ela sentiu que iria desmaiar. Forçou-se a voltar a respirar.

- Minha mãe?

Os olhos de Luke se apertaram, como se ele agora tivesse levado uma facada.

- Sua mãe morreu antes de você nascer. – as palavras carregadas com toda a emoção que Rey queria para ela...

A moça fitou o cristal quebrado, o nada em seus olhos verdes

- Morreu no parto?

O homem estava muito pálido, mas uma determinação o impeliu a responder sem hesitação.

- Ela foi morta a poucas semanas para dar a luz. Você foi arrancada às pressas do útero. Você quase não sobreviveu.

Uma sombra escureceu o rosto lívido de Rey.

- Quem a matou? Foi você?

Ele a fitou penetrantemente, a mandíbula tensa.

- Não.

Ela também apertou os dentes.

- Quem matou minha mãe?

A noite estava muito escura. As ondas batiam no rochedo num estrondo ritmado.

Luke respirou fundo.

- Foi Ben. Ben matou sua mãe.


Notas Finais


A expressão Príncipe sombrio de um mundo perdido é da autoria conjunta de scharamouch (autora de A História Secreta de Ben) e minha. Muito orgulho dessa parceria.


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