História De Paris, com amor - Cavani - Apaixonado pela noiva.

Edinson Cavani

O cheiro de rosas e outras flores que não consigo identificar está por toda parte, e eu vejo David pegar uma flor do campo e dar a Elena que o repreende por ter arrancado do vaso, mas sorri. Emily me cutuca e faz um sinal com a cabeça pra que eu olhe para o lado onde Amélie conversa com o dono da estufa.

- Tudo bem com essa coisa toda? – Emy pergunta e eu finjo não entender sua pergunta. – Você entendeu. – ela diz e eu dou de ombros.

Não tem motivo pra eu não estar bem por estar ajudando a escolher flores pro casamento de Amélie. Somos amigos e é isso que amigos fazem.

- Eu adoraria um buquê de girassóis, mas não combina com a decoração. – Amélie diz segurando um girassol quando nos juntamos no centro da estufa.

- Decoração que a bruxa escolheu. – Elena fala e Amélie revira os olhos.

- Quem é a bruxa ? – David pergunta e Amélie bufa.

- Elena não vai com a cara da Sra. Dupont. Minha sogra. – Amélie diz dando de ombros. – O que vocês acham dessas gardênias?

- São lindas. – Emily diz se aproximando da fileira de flores brancas.

- São bregas. – a voz alta e firme faz nós cinco virarmos pra entrada da estufa.

Uma senhora loira elegante desce as escadas analisando o lugar. O rosto dela traz altivez e imponência e de repente vejo todos nós endireitarmos a postura automaticamente.

- Sra Dupont. – Amélie quase ofega e abre um sorriso indo até a sogra. Ela dá um beijinho em cada bochecha da mulher e se coloca ao seu lado.

- Por favor me diga que você não está pensando em combinar girassóis com a decoração azul e rosa tiffany. – A mulher diz arqueando uma sobrancelha de forma inquisidora. Amélie nega abaixando o girassol.

- Não! Eu sabia que não combinaria. – ela diz andando novamente até as gardênias. – Gosto das gardênias ou quem sabe as gérberas. São tão lindas. – Amélie sorri e a mulher faz um gesto de negação.

- Onde estão os lírios? – ela pergunta ao dono da estufa que faz um sinal pro outro empregado buscar. Em menos de um minuto tem um buquê de lírios nas mãos da Sra Dupont. – Lírios são lindos. Pensei que orquídeas também ficariam magníficas no centro da mesa dos convidados, são tão elegantes... – A mulher dispara a falar enquanto anda pela estufa analisando as opções.

Elena bufa do meu lado e passa a mão no cabelo impaciente. Isso parece atrair a atenção da Sra Dupont que se vira em nossa direção.

- Quem são? – ela faz um gesto com a mão em nossa direção e olha pra Amélie. Mel sorri e vem pra perto da gente.

- São meus amigos. Emily, Elena, Edi e David. – ela nos apresenta e a mulher nos analisa. Todos parecem prender a respiração e eu fico impressionado com o quanto ela é imponente.

- Porque estão aqui? – ela pergunta.

- Ah, eu queria ajuda pra escolher.

- Claro! Você dispensou o consultor que eu lhe contratei pra ter ajuda de leigos. Muito inteligente, Amélie. – a mulher sorri enquanto volta a nos olhar passando os dedos no colar de pérolas em seu pescoço. Amélie parece murchar ao seu lado e eu tenho vontade de tirá-la dali. – Eu conheço você, não? – ela aponta pra Elena que parece perder a voz. David passa um braço ao redor do seu ombro instintivamente e Elena parece relaxar.

- Acho que não. – ela responde firme.

- Ela é minha melhor amiga. Uma das minhas madrinhas. – Amélie diz e a mulher assente.

- Lírios e orquídeas então? – ela muda de assunto voltando a andar e Amélie solta um suspiro. – Por favor, preciso ver algumas combinações. – ela pede com um gesto, fazendo Amélie e o dono da estufa a seguirem pro outro lado.

Todos soltamos a respiração quando ela se afasta.

- Meu Deus do céu. – Emily diz. – Eu tenho que lidar com um monte de gente mandona, mas ela... Ela me assusta.

- Como a Amélie aguenta? – David pergunta e Elena sacode a cabeça.

- Mel é boa demais pra se importar com essa bruxa. – responde irritada.

Eu as observo andar pra longe da gente e tenho pena de Amélie. Ela não merecia aquela sogra. Esperava que August fosse melhor como marido pra compensar a mãe tirana.

Não demora muito pra que Amélie e a sogra escolham as flores pra decoração, buquê e mesas. E quando saímos da estufa e a Sra Dupont entra em seu carro, Amélie dá um sorriso amarelo dizendo que vamos pra confeitaria. Eu me estico pra abraçá-la de lado.

Tava na cara que a sogra era mandona e queria tomar conta do casamento, e quando olhei pra David, Emily e Elena eles piscaram e sorriram pra mim. Era o dia dela. O casamento dela. Ela é quem tinha que escolher e ser feliz com aquilo. Ela tinha chamado a gente e a gente iria tornar o dia dela pelo menos mais divertido.

- Porque não vamos todos na minivan. Estou ansioso pra saber qual é a sensação de andar nesse... Carro lindo. – David zomba e faz Amélie rir.

- Vamos.

Deixamos nossos carros no estacionamento e entramos na minivan com Amélie dirigindo. Não demora pra Emily e David engatarem numa cantoria irritante, mas que faz Amélie rir feito louca.

Quando entramos em uma confeitaria incrivelmente chique, uma moça nos leva a um salão onde estão dispostos vários docinhos e bolos em várias mesas. David praticamente quica do nosso lado fazendo Amélie rir. A sogra malévola já está perto de uma das mesas conversando com uma mulher vestida num terninho parecido com o seu, e não disfarça a cara de insatisfação quando vê nosso bando chegar.

A moça diz que vamos começar escolhendo os sabores do bolo e nós nos sentamos em uma mesa grande. Alguns garçons trazem bolos pequenos e enchem a mesa com plaquinhas indicando os nomes dos sabores, e dá um bloco de notas a Amélie pra ela escrever o que gosta mais.

- Meu Deus! Isso é um sonho. – Emily afunda na poltrona saboreando um pedaço de bolo. – Qual é esse?

- Chocolate com castanhas.

- Caramba. Esse é bom.

- Olha esse de coco. É a melhor coisa que já comi. – David diz e Elena dá uma garfada no seu.

- Caramba! Eu me casaria com esse bolo. – Elena diz com a boca cheia. Amélie não para de sorrir, e escreve no bloco de notas.

- Amélie, essa parece a melhor... – a Sra Dupont surge perto da nossa mesa estendendo um dedo para um bolo no centro, mas antes que ela consiga terminar David dá uma garfada no bolo com recheio de coco e se estica pra enfiar na boca de Amélie.

- Prova só esse... Cê devia considerar ter uma camadinha de coco. – David diz interrompendo a sogra que recolhe a mão. – Mas claro se você quiser, porque o casamento é seu. Você decide. – David diz com um sorriso e Amélie ri tentando mastigar o bolo.

- É muito bom, David. Caramba. – ela se inclina pra frente e pega mais um pedaço, não notando a Sra Dupont parada ignorada ao seu lado. Ela retoma sua pose altiva e volta para perto da outra mulher. Elena dá um beijo na bochecha de David, de repente muito animada. Apenas Amélie parece não ter notado o fora que David deu em sua sogra.

Continuamos comendo bolos e provando docinhos. Amélie faz uma lista enorme, e depois de acabarmos de provar tudo, ajudamos a escolher os favoritos.

- Esse com recheio de morango tem que ter. – Emily diz e Amélie assente.

- É como comer um pedacinho de amor. – ela diz animada escrevendo no papel.

- Cê gostou desse de lavanda? – Elena fez cara feia. – Desde quando fazem comida com flor?

- É chique. – David diz e Amélie ri.

- Não. Lavanda não. – ela risca da lista.

- Essas amêndoas açucaradas são boas. – ela escreve e todos nós concordamos.

- Você experimentou esse com menta? É bizarro de tão gostoso. – eu digo e Amélie pega o doce da minha mão pra comer.

- Ai meu Deus. – ela diz depois de mastigar. – Esse tem que estar. – Amélie anota e de repente Sra Dupont solta o ar tão alto que nos viramos para olhá-la.

- Essa será a mesa de doces mais diversificada da história dos casamentos. – ela disse totalmente desgostosa.

- Mas também será a mesa de doces da noiva mais feliz da história dos casamentos. – Emily diz fazendo todo mundo sorrir em resposta. Amélie gesticula um obrigada.

Ainda passamos um tempo na confeitaria olhando um longo álbum de fotos de bolos de casamento onde Amélie escolhe qual será o modelo do seu.

- Não sei se consigo andar agora. – Elena diz e nós rimos enquanto andamos de volta pra minivan. Vemos a Sra Dupont entrar num carrão a nossa frente e Elena bufa.

- Porque ela tem que ficar seguindo você em todos os lugares?

- Ela vai pagar a maior parte das coisas, El.

- É óbvio que ela tem que pagar a maior parte. 90% dos convidados são dela. – Elena diz e Amélie dá de ombros enquanto afivela o cinto de segurança.

- Eu sei que a Sra Dupont não é a pessoa mais paciente ou gentil do mundo.

- Não mesmo. – nós respondemos em uníssono e Amélie ri.

- Mas ela é a mãe do Auggie. Vou ser parte de sua família. Vamos acabar nos dando bem. E eu sei que ela tá tomando conta do casamento, mas no final... Eu só quero que vocês estejam lá. E eu vou ficar feliz. – ela disse com um sorriso.

Eu me encolhi um pouco do seu lado. Involuntariamente. Não sabia porque. Tinha passado boa parte do dia ajudando-a a escolher coisas pro seu casamento com outro cara, mas tudo parecia tão vago. Era sobre ela. Não ficávamos falando sobre seu noivo. E talvez isso tivesse me feito esquecer que existia um noivo. Até agora.

- É a última parada. – Amélie anuncia estacionando. – Escolhi fazer tudo num dia só porque a agenda da Sra Dupont é meio... Cheia. – dá de ombros. – Por isso precisava da ajuda de vocês com os docinhos e bolo. Se eu comesse tudo aquilo, não entraria no vestido. – ela ri quando descemos e andamos em direção à loja de noivas.

- Me diz uma coisa. – David chama sua atenção antes de entramos. – Porque temos que ficar chamando-a de Sra Dupont? Qual é o nome dela? – Amélie meio que arregala os olhos com a pergunta de David.

- Ai meu Deus. Eu não sei. – ela diz cobrindo a boca com a mão, antes de todos nós cairmos na gargalhada.

- Você não sabe o nome da sua futura sogra? – pergunto e ela sacode a cabeça em negação.

- Eu só a chamo de Sra Dupont. Todo mundo só a chama de Sra Dupont. E o Auggie chama de mãe. Como poderia saber?

Nós entramos na loja às gargalhadas e David quase derruba um arranjo de flores da entrada, o que faz o olhar de repreensão da Sra Dupont cair sobre ele.

- Bem vindos ao nosso ateliê. – uma mulher morena elegante nos recebe. – Amélie! – ela abre um sorriso simpático e Amélie a cumprimenta com beijinhos.

- Olá, Giulia. Tudo certo com o vestido? – ela pergunta e a mulher assente.

- Está esperando por você. – Amélie bate palminhas silenciosas. – Queiram me acompanhar. – Giulia faz um sinal com as mãos e nós a acompanhamos até uns sofás numa sala grande na parte de trás do ateliê.

Tem flores brancas por toda parte e tudo é branco e dourado. Muito elegante. Tem um palquinho de um degrau no meio da sala. Nos sentamos no sofá e eu perco Amélie de vista.

- Aceitam champagne enquanto esperam? – Giulia pergunta e só Emily e Elena aceitam.

Vejo quando a Sra Dupont se senta em uma poltrona do outro lado da sala. O palquinho entre nós. Seus olhos recaem sobre mim e eu me permito encará-la. Sua altivez me irrita, e eu gostaria de repreendê-la por ser tão insuportável com Amélie. Mas antes que eu tenha coragem de abrir a boca, David fala.

- Sra Dupont... Se me permite... Qual é o seu nome? O primeiro. – ele pergunta na maior cara de pau e Elena dá um tapa em sua coxa. – O quê? – ele sussurra pra El reprimindo uma risada.

Demora um tempo até que a mulher responda.

- Grace. Grace Dupont. Mas continue com o Sra Dupont. – ela diz firme e David assente rápido.

- Vocês estão prontooooos? – A voz de Amélie irrompe a sala, quebrando o silêncio constrangedor que tinha se formado.

- Sim!

- Sejam sinceros! Mas sejam bonzinhos também! – ela grita e nós rimos.

E então eu não sei o que acontece comigo. Amélie sai de traz das cortinas douradas e anda até o palquinho. O gritinho de Elena e Emily não me faz despertar. Eu entro num tipo de transe porque... Ela está perfeita. O vestido é perfeito. Ela é perfeita.

Eu não saberia explicar os detalhes daquilo, mas seus ombros estavam à mostra e as mangas do vestido branco iam até os punhos. Os cachos loiros de Amélie estavam bagunçados ao redor do rosto do jeito de sempre e isso a deixava ainda mais linda.

- Lindaaaa! – Emily vai até ela e toca na saia do vestido.

- Você acha? – Amélie sorri se olhando no espelho.

- Sim!

- Você tá incrível, Mel. – Elena diz com um sorriso de admiração.

- Eu me casaria com você agora mesmo. – David brinca e me empurra com o ombro. Eu aperto um pouco os olhos e engulo em seco.

- Vai precisar de alguns ajustes... – Sra Dupont começa a falar.

- Está perfeito. – eu ouço minha voz soar interrompendo-a. Ela me olha e eu sorrio pra Amélie. – Perfeito. – ela sorri pra mim.

- Será que a saia não vai atrapalhar na hora da valsa? Se o Auggie pisa e eu caio? – ela pergunta rindo. – Giulia, pode colocar uma música? – ela pergunta e Giulia assente indo até um aparelho no canto da sala. Amélie desce do palquinho e estende a mão pra mim. Eu demoro a entender. – Dança comigo, Edi. Preciso saber que não vou cair no dia. – ela me chama rindo.

Eu demoro a levantar, mas quando seguro a mão de Amélie tudo que sei é da música que ecoa em meus ouvidos. E dos olhos castanhos dela em mim. E da confusão loira que é seu cabelo. E da minha mão em sua cintura. E da sua mão em meu ombro. E de nós dois dançando uma valsa improvisada no meio da sala. E ainda assim eu não sei de mais nada. Meu peito se enche de uma coisa que não consigo nomear. E quando a música é pausada e Amélie se afasta eu me sinto diferente. Como se estivesse eletrizado.

Amélie engata numa conversa com Giulia e Emily, e eu volto ao sofá ainda sem entender.

- Tá tudo bem cara? – David pergunta e eu assinto no automático. Mas a sensação não me abandona até estarmos novamente na minivan, voltando pro estacionamento da estufa.

Quando começamos a nos despedir meu coração começa a bater de um jeito que parece que vou ter um ataque.

- Obrigada, obrigada, obrigada. Vocês são os melhores. – Amélie diz enquanto abraça Emily e David.

- O prazer foi nosso, garota. – David beija sua testa.

- Obrigada, Edi. – ela me olha sorrindo e eu assinto tentando sorrir também. Quando Amélie me abraça e seu cheiro invade minhas narinas tudo se faz na minha mente.

Eu vejo seu rosto no dia da sessão de fotos em que a vi pela primeira vez. E a vejo equilibrando bandejas com sorvetes no aniversário de Cami. E lembro da sensação de dançar com ela no galpão. E de me frustrar ao saber que era noiva. Cada momento com ela surge num flash em minha cabeça até estarmos ali novamente. E então tudo parece fazer sentido.

- Nos falamos logo. – ela diz antes de beijar minha bochecha e ir embora com Elena.

Quando eu entro no meu carro com Emily e David, eles me olham e eu sei que esperam que eu diga alguma coisa. E dessa vez eu não nego, nem minto. Eu só solto um longo suspiro e apesar de ser loucura, eu digo com um sorriso no rosto.

- Eu estou apaixonado por ela.