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História De Paris, com amor - Amélie e Cavani - Não quero esquecer.


Escrita por: CookieHanz

Notas do Autor


Bom, aqui está um capítulo giganorme que eu queria ter dividido em dois, mas não consegui. Então aproveitem esse cap cheio de revelações. Beijocas. <3

Capítulo 17 - Amélie e Cavani - Não quero esquecer.


Fanfic / Fanfiction De Paris, com amor - Amélie e Cavani - Não quero esquecer.

Amélie Bouvier

Meu coração está acelerado de um jeito que me faz arfar. Eu praticamente corro de volta pro meu carro e dirijo feito louca pra casa. Ligo o rádio muito alto dentro do carro, porque a música me impede de pensar. Eu começo a cantarolar porque estou sentindo uma carga estranha provocar pequenos choques de consciência em meu corpo. E eu não quero. Eu não posso pensar agora. Não posso pensar no que aconteceu alguns minutos atrás. Não posso pensar no cheiro dele invadindo minhas narinas e se prendendo à minha pele. Não posso pensar que eu correspondi aos seus toques. Não posso pensar na proximidade. Não posso. Não posso. Não posso.

Quando estaciono o carro na garagem de casa e olho meu reflexo no retrovisor, consigo enxergar a confusão que eu estou. Minhas bochechas estão tão vermelhas e meus olhos parecem duas bolas de bilhar. Eu tento controlar minha respiração e saio do carro. Entro pela porta da frente e meu coração salta quando encontro August sentado no sofá. Seus olhos saem da tela do seu celular e param intensos em mim.

- A-August? – eu gaguejo de repente assustada com sua presença. – Cadê a Elen...

- Ela foi embora quando eu cheguei... Há uma hora atrás. – sua voz é dura e eu engulo em seco, rezando pra que Elena não tenha dito onde eu estava. De qualquer forma, eu não poderia mentir pra ele.

- Não sabia que viria.

- Percebi. – ele diz e eu solto o ar que não percebi que estava prendendo. Saio da sala e vou pra sala de televisão, mas não vejo Camille lá. – Eu a coloquei no quarto.

- Obrigada. – eu murmuro e sigo pro meu quarto, sentindo que ele está vindo atrás de mim.

Não consigo olhar pra August, então ele puxa meu braço e me faz parar no meio do corredor.

- O que você foi fazer na casa do Edinson Cavani a essa hora da noite, Amélie? – ele me pergunta e suas sobrancelhas estão quase unidas em uma expressão dura. Tento respirar direito.

- Bauti estava doente. Passando mal.

- O pai dele já ouviu falar em hospital? E essa criança não tem mãe? – ele solta as perguntas e sua voz soa alta, então eu o puxo pra dentro do meu quarto, pra que ele não acorde Camille.

- Ele já tinha levado o Bauti no hospital, mas o mandaram pra casa de novo. E a mãe do Bauti está no Uruguai... É uma história comprida, Auggie. Eu só quis ajudar.

- Você largou sua filha sozinha a essa hora, pra ir atender um chamado desse cara!

- Eu não larguei a Cami sozinha! A Elena estava aqui! – eu disse na defensiva e ele bufou frustrado e muito irritado.

- Pelo amor de Deus, Amélie! Porque não mandou ele me ligar então? Eu sou pediatra! Podia ter auxiliado ele por telefone mesmo. Ou então você mesma podia ter dado algumas coordenadas por telefone! Mas você atravessou a cidade por esse cara!?

Eu sabia que ele tinha razão. Agora eu sabia. Agora as minhas atitudes não pareciam ter nenhum sentido, mas na hora tiveram. Na hora pareceu a coisa mais certa a fazer! Mas eu não conseguiria explicar isso a August, porque eu não sabia explicar nem pra mim mesma.

- Esse suéter é dele? – August pergunta de repente com o cenho franzido e eu olho pra mim mesma. O suéter grande de Cavani parece um vestido em mim. Me amaldiçoo em pensamento por não ter tirado antes.

- Eu tomei chuva... Ele me emprestou. – eu murmuro, sabendo que não ajudaria em nada.

- Você pode me explicar o que está acontecendo? – sua voz soa muito irritada. Eu nunca tinha visto August daquele jeito.

- Eu não sei o que você quer que eu diga, August!  - sou eu quem estou irritada agora. E eu sei que não tenho direito de estar, mas estou. Porque odeio todas essas perguntas que ele está fazendo. Odeio não saber como respondê-las.

- Quero que me diga a verdade! Droga, Amélie! – ele passa a mão no rosto frustrado. – Você tem saído com esse cara, e feito coisas com ele, e você conversa com ele o tempo todo, e agora mais essa... Caramba! Como quer que eu me sinta?

- Eu não estou traindo você. – minha voz soa esganiçada. E falar isso em voz alta soa ridículo, mas faz August me olhar. – Se é isso que está pensando. – eu completo ainda com a voz estranha. August sacode a cabeça em negação e me dá as costas saindo do quarto.

Eu solto o ar com raiva e tiro o suéter o jogando de canto, antes de ir atrás de August.

Porque eu tinha que ir atrás dele. Porque ELE era o meu NOIVO. Edi era só meu amigo e o que tinha acontecido... Era errado. Não podia ser mais errado. E eu precisava consertar. Precisava erradicar qualquer sentimento estranho que estivesse entre a gente. Porque eu ia me casar. Eu vou me casar!

- Auggie! – eu chamo quando o vejo pegar a jaqueta no sofá e começar a vestir pra sair.

- Não, Amélie. Esquece. – ele diz visivelmente bravo e eu ando até ele. Seguro suas mãos, mas ele me afasta. Eu o puxo de novo e seguro seu rosto perto do meu.

- Me desculpa. – eu murmuro. – Parece idiota agora, mas fez sentido na hora. Eu adoro o Bauti, e fiquei preocupada.

- Isso é sobre o Bauti mesmo, Am... – antes que ele termine, eu o beijo.

Beijo sua boca colando meu corpo no seu, tentando provar pra ele (e pra mim) que estava tudo bem.

- Eu te amo. – digo de olhos fechados. Minha boca ainda muito perto da sua. – Você não precisa se preocupar com nenhum outro homem, porque eu amo você, Auggie. Vamos nos casar! – eu tento controlar o tom meio desesperado da minha voz, mas isso só faz ela soar mais esganiçada.

August continua parado e eu o olho, tento abrir um sorriso, mas ele ainda está bravo, e não posso tirar sua razão.

- Não vai embora... – eu sussurro.

- Acho melhor eu ir.

- Não... Eu acho melhor você ficar. – eu digo com um sorriso e ele sacode a cabeça. Eu o empurro pra trás encostando-o na parede, colando meu corpo no seu. August segura minha cintura por reflexo.

- Estou bravo, Amélie. – ele grunhe e eu beijo sua bochecha, e seu pescoço, e sua boca.

- Eu sei. Mas acho que posso resolver isso. – eu sussurro em seu ouvido e escorrego minhas mãos por seus braços tirando sua jaqueta novamente. August não diz nada, até eu beijar sua orelha e sussurrar. – Fica, por...

Antes que eu termine, August acaba com a distância entre nós dois e me ergue em seu colo. Envolvo minhas pernas em sua cintura e agarro seu pescoço enquanto ele me carrega rápido pro quarto.

- Você nunca vai me deixar ficar bravo com você não é? – ele diz quando me joga na cama com um meio sorriso no rosto. Eu rio ainda nervosa sacudindo a cabeça em negação. Quando August tira a camisa e vem pra mim eu sei que isso é o certo.

August é o certo. É ele que eu amo. É com ele que vou me casar.

Mas eu não consigo explicar pra mim mesma porque a sensação do corpo de Edi muito próximo do meu no escuro não me abandona. Eu não consigo explicar porque ainda sinto o cheiro dele em mim, mesmo com August tão perto agora. Não consigo explicar porque sinto cada pedaço da minha pele que ele tocou formigar. Eu não consigo. Então só sacudo a cabeça e repito as frases mentalmente, como um mantra.

August é o certo. É ele que eu amo. É com ele que vou me casar.

 

Edinson Cavani

Achei que Amélie me evitaria pelo resto do mês, mas na manhã seguinte à noite chuvosa recebo uma mensagem sua.

(09:43AM) Amélie: Tudo bem com o Bauti?

Respondo e nós mantemos uma conversa normal como se nada tivesse acontecido. Eu tento dizer pra mim mesmo que nosso momento na noite passada tinha sido real, mas ali agora com ela falando tão tranquilamente comigo eu duvidava da minha própria capacidade de distinguir realidade de sonho.

Mas eu ainda podia sentir a sensação de seu corpo muito próximo de mim. Eu podia sentir seu hálito em meu rosto. Seu cheiro...

Talvez ela estivesse bloqueando achando que tinha sido errado. Ou talvez ela não quisesse. Ou... Não sei. Não consigo entender. Mas também não consigo pensar em outra forma pra ela agir. O que eu esperava? Que ela me chamasse pra terminar o que tínhamos começado?

Sacudo a cabeça de repente me sentindo muito ridículo. Se ela não tinha dito nada ainda era porque ela queria que eu esquecesse. Ela ainda estava noiva. Ela ainda iria casar.

- Esquece, Edinson. Esquece.

Talvez eu devesse ocupar minha cabeça com outras coisas. Ficar pensando nela e em seu cheiro o dia todo não ajudava.

Desbloqueio meu celular e como num passe de mágica vejo uma mensagem de Jocelyn.

(0957AM) Jocelyn: Isso deve parecer meio ridículo e desesperado, mas... O que acha de jantarmos qualquer dia desses?

Leio a mensagem novamente e mordo o lábio inferior tentando espantar a quase sensação de beijar Amélie.

- Porque não? – pergunto pra mim mesmo.

                                                                 

                                                                                                              *****************
 

Quase duas semanas sem falar direito com Amélie. Não nos víamos e nem nos falávamos pelo whatsapp. Tudo que eu tinha sabido sobre ela nos últimos dias era o que Bauti me contava quando a via na escola, e surpreendentemente o que Soledad tinha me dito depois de conversar com ela quando foi buscar Bauti.

- Ela é... Legal.

Ela disse exatamente essas palavras e sorriu. Um sorriso sincero depois de meses.

Santa Amélie.

Eu estava sentindo sua falta. Sentia falta de conversar com ela e de ficar perto.

Eu não tinha contado pra ninguém, além de David, o que tinha acontecido lá em casa na noite em que Bauti ficou doente. Eu sabia que se falasse a Emily ela criaria muita expectativa, então escondi o fato. Mas não deu muito certo, porque lá estávamos todos no meu carro indo em direção à Escola Primária pra um show de talentos das crianças quando Emily soltou a língua.

- COMO VOCÊ PÔDE NÃO ME CONTAR?!

- Emily! – David interveio, tentando impedi-la de falar;

- Não posso mais guardar isso, David! Meu melhor amigo escondeu de mim que teve um MOMENTO com a mulher que ele é apaixonado!!!!! – claro que ela faria drama.

- Traidor. – fiz uma careta pra David e soquei seu braço.

- Foi mal. – ele riu do meu lado no carro.

- Como vocês estão agora? – Emily pergunta se esticando pra frente, enfiando quase o corpo todo entre os bancos do carro.

- Não estamos. – eu sacudo a cabeça. – Não estamos nos falando direito.

- Droga, Edi.

- Você devia jogar limpo com ela. Dizer o que sente. – David sugere e eu reviro os olhos.

- Claro, vou chegar pra Amélie e dizer que estou louco por ela, e que ela deveria abandonar seu quase marido pra ficar comigo.

- Bom... Não é uma ideia horrível. – Emily diz e eu bufo.

- Esquece isso. Estou saindo com a Jocelyn de novo.

- O quê?

- Só essa semana foram três vezes.

- Fala sério.

- Até conseguimos conversar... Foi... Legal. – dou de ombros e Emily se joga no banco sacudindo a cabeça em negação. – Você queria que eu saísse com alguém. Estou saindo e talvez dê certo. Então esqueçam da Amélie, porque é isso que vou fazer. – eu digo tentando soar firme. Estaciono na frente da escolinha e nós descemos.

Bauti iria apresentar um número de dança com os coleguinhas de classe e por isso tinha ido mais cedo com Soledad.

- Elena disse que elas estão na entrada do auditório. – David disse sorrindo pro celular.

Eu sabia que encontraria Amélie ali. Bom, talvez aquele reencontro depois de duas semanas me desse o que eu precisava pra tirá-la da minha cabeça de uma vez.

Entramos na escola e fomos guiados até o auditório . Só Elena estava na porta, e abraçou David antes de falar com Emily e eu. Os dois ainda insistiam nessa coisa de não assumir que estavam se pegando.

- A Mel foi levar a Cami pra coxia. – ela diz com um sorriso. – A pequena estava nervosa.

- O que ela vai fazer? – Emily pergunta.

- Vai cantar Let it go a capela. – Elena diz parecendo muito orgulhosa e eu sorrio já imaginando Cami cantando. – Vamos?

Nós seguimos Elena pra dentro do auditório todo decorado com estrelinhas douradas. O palco está cheio de luzinhas e as cortinas vermelhas ainda estão fechadas. Vejo Soledad sacudir a mão a quatro fileiras do palco e sigo com os outros pra perto dela. Sento entre Soledad e Emy que fica do lado de David e Elena.

- Como o Bauti está? – pergunto pra Soledad que sorri.

- Tá lindo, Edi. Você tinha que ver. – ela diz toda orgulhosa. – Amélie estava com ele e a Cami. – eu franzo o cenho e ela dá de ombros sorrindo.

- Já vai começar. – a voz vindo da minha esquerda me faz virar o rosto muito rápido, só pra ver Amélie. E o mesmo que acontece toda vez que a vejo, aconteceu de novo.

Droga, droga, droga. Como ela conseguia ser tão linda? Amélie estava usando um vestido azul que fazia seus cabelos parecerem mais claros.

Antes de sentar ela me lança um sorriso de lado, eu não consigo não retribuir. Então as luzes da plateia são apagadas e tudo que eu sinto é a sensação da noite em que estivemos muito perto. Emily belisca meu braço e inclina a cabeça na direção do meu ouvido.

- Vai esquecer ela, não é? Tá bom. – ela diz em tom de deboche antes de voltar sua atenção pro palco.

Eu tento me esquecer do meu total descontrole na questão Amélie quando vejo a orientadora da escolinha subir no palco e começar a apresentar as crianças. Algumas crianças nos fazem rir com seus números e outras nos deixam realmente impressionados com seus talentos brutos. Um garotinho toca piano e nós ficamos boquiabertos.

Quando Bauti sobe no palco com os colegas e começa a dançar algum hip hop, eu, David e Emily começamos a gritar da plateia. Todo mundo ri e bate palmas de incentivo. Soledad filma e grita do meu lado.

- Vai lá, filho!

- Arrebenta, Bauti!

Bauti dança e ri, e eu fico incrivelmente feliz por ver meu filho se divertindo tanto. Fico feliz por não estar discutindo com a mãe dele. Fico feliz por aquele momento.

Quando a dança acaba e Bauti e os meninos agradecem no palco, todos aplaudem e nós gritamos e assoviamos feito loucos.

- Agora quero convidar uma das nossas alunas mais criativas e adoráveis. Camille Bouvier!

- Vai lá Cami!!! – Elena grita e nós batemos palmas antes de ver Camille entrar linda no palco usando um vestidinho azul e uma coroa de princesa. A professora entrega o microfone pra ela e sai. Cami fica parada no meio do palco. Ela olha pra plateia e depois pros próprios pés, e parece travar.

- Vai, Cami! Você consegue! – Elena grita de novo irrompendo o silêncio, mas isso não faz Cami destravar. Antes que Cami caia no choro, Amélie levanta e anda em direção ao palco. Cami corre em sua direção quando a vê, e Amélie a abraça enquanto diz alguma coisa em seu ouvido.

Amélie sobe no palco e coloca Cami no centro de novo e dá o microfone pra ela.

- Mamãe tá aqui, tá bem? – nós conseguimos ouvir porque o microfone fica no meio do abraço delas.

Quando Amélie atravessa o palco e se senta no banco em frente ao piano eu ajeito a postura franzindo o cenho.

- Ela vai tocar. – Elena diz sorrindo.

Tocar?

Antes que eu consiga entender, Amélie começa a tocar a melodia conhecida. Ela dá um sorriso meneando a cabeça e Cami começa a cantar olhando pra ela.

Let it go, let it go, can hold back anymore...

- A Amélie toca? – David pergunta do meu lado, mas eu não tô escutando mais.

Porque estou imerso naquele momento. Amélie está linda tocando com suavidade e destreza. E ela está sorrindo. E é como se tivesse feito aquilo a vida inteira. Então me lembro do quartinho de música em sua casa e lembro do que Claude tinha dito sobre a Escola de Música.

Era isso que ela fazia antes da Cami. E ela é incrível. Absolutamente incrível.

Me sinto mal por não conseguir prestar atenção em Cami, mas meus olhos não saem de Amélie. Eu não consigo evitar. Só acordo do transe quando ouço as palmas, assovios e gritos ecoarem pelo auditório. Todos se levantam e batem palmas e vejo Amélie levantar pra pegar a filha no colo com um sorriso.

E eu estou sorrindo também. Estou sorrindo que nem um idiota. Eu bato palma e grito alguma coisa, enquanto vejo ela deixar Cami voltar pra coxia e descer do palco e voltar pro seu lugar. As luzes estão baixas e não consigo ver seu rosto direito, mas sei que está com vergonha, mas ao mesmo tempo feliz. Eu posso ver a felicidade estampada bem na sua cara.

- Você foi incrível, Mel! – Emily e David ficam elogiando, e eu queria estar bem com ela só pra dizer também. Mas ao invés disso eu me ajeito na poltrona ainda com um sorriso no rosto e assisto ao resto do show.

Quando acaba nós saímos do auditório e ficamos no pátio, num semi círculo. Algumas crianças vem pedir fotos a mim e a David, e nós atendemos todas. Bauti e Cami aparecem depois de alguns minutos e eu abraço os dois.

- Você estava linda, Cami! – eu digo e ela sorri beijando minha bochecha.

- Tio Vani, você e o Bauti, e a tia Emy, e o tio David, e a... Soledad não podem ir pra minha casa? – ela diz gesticulando muito com as mãos e tendo dificuldade pra dizer o nome de Soledad. Eu sorrio um pouco.

- Acho uma ótima ideia, Cami. – Emily diz e eu a olho de lado, antes de olhar pra Amélie. É a primeira vez que nos olhamos por tanto tempo naquele dia.

- Se vocês não forem fazer nada agora... – Amélie diz com um sorriso.

- Eu não posso. – Soledad diz e ajeita a bolsa. – Tenho que resolver umas coisas. – ela me olha.

- Tudo bem. – Amélie diz. Soledad se despede de todos e eu não consigo evitar sorrir com sua evolução.

- O que eu perdi? – Emily faz uma careta e eu dou de ombros rindo.

- Partiu casa da Mel? – Elena bate as mãos.

- Partiu! – todos gritam em resposta, mas eu só consigo pensar no quanto estou dificultando as coisas pra mim mesmo.

 

                                                                                                                    ***************

A sala da casa de Amélie não é muito grande e agora está meio cheia. David está deitado no chão, e Elena está deitada com a cabeça apoiada em sua barriga. Emily ocupa uma poltrona enquanto ri de alguma piada besta de David. Cami e Bauti correm entre a sala e o quarto de Cami, e eu estou no sofá sentado tentando não levantar pra ir atrás de Amélie, que está na cozinha.

Eu queria conversar com ela. Eu precisava. Aquele climão não podia continuar. Eu sentia falta dela, caramba.

- Trouxe alguns aperitivos... – Amélie aparece na sala segurando duas bandejas com torradas, pedacinhos de queijo, patê, biscoitinhos. Ela as coloca na mesa de centro. – Vou buscar o vinho pros adultos, e suco pras crianças e atletas. – ela pisca pra mim com um sorriso e eu engulo em seco.

- Ah não, Mel! Amanhã não tem jogo! Quero vinho! – David reclama e Amélie ri voltando pra cozinha.

- Vou ajudar. – Elena levanta e vai em direção à cozinha também.

- Consegue segurar a onda por mais algum tempo? – David meio que sussurra e eu reviro os olhos sabendo do que ele está falando.

- Cala essa boca.

- Vocês tá caidinho.

- Totalmente.

- Vocês dois podem calar a boca? – eu afundo no sofá, antes de ver Camille voltar correndo pra sala com um porta retrato nas mãos. Bauti vem logo atrás segurando outro. Os dois riem.

- O que vocês dois estão vendo? – eu pergunto e Cami me olha com um sorrisinho contagiante.

- Tô mostrando o meu papai pro Bauti, Vani. – ela diz e eu ajeito a postura.

- Posso ver também?

De repente estou interessado demais. O pai de Cami era uma lacuna enorme ainda. Tudo que eu sabia era que ele tinha morrido num acidente de carro, antes de Cami nascer.

Cami corre até mim e me dá o porta retrato. Na foto Amélie está abraçada à um homem só um pouco mais velho que ela. Eu franzo o cenho, porque eles são muito parecidos. Os olhos castanhos, o nariz, o formato da boca. Só não os cabelos, que do homem é liso e o de Amélie era cacheado, mas na foto ainda era castanho escuro e não loiro como agora.

Me lembro que o homem da foto é o mesmo que eu tinha visto num porta retrato no corredor no dia do churrasco.

- Esse é seu pai? – eu pergunto e Cami assente sorridente. Eu continuo de cenho franzido. A semelhança era absurda. Eu podia jurar que eram irmãos.

- O que foi? – Emily pergunta e eu viro a foto pra ela e David, que analisam com a mesma expressão de confusão.

- É o seu pai? – David pergunta e Cami torna a assentir.

- Trouxemos as bebidas! – Amélie e Elena voltam com os copos e taças e nós as olhamos. Amélie arqueia uma sobrancelha parecendo não entender nossas caras, e eu sacudo um pouco a cabeça.

- Cami estava me mostrando o pai... – eu digo, falando alguma coisa para ela depois de semanas. Amélie arregala um pouco os olhos. – Vocês se parecem... Tanto. – olho pra foto e depois pra ela que olha pra Cami e pra Elena, que tem uma expressão igualmente estranha.

Amélie entrega um copo da Dora pra Cami, e outro pro Bauti.

- Porque não mostra pro Bauti o filme que você gravou ontem? – ela sugere pra Cami, que fica muito animada de repente e puxa Bauti corredor adentro.

- Tá tudo bem? – Emily pergunta e Elena dá de ombros antes de servir nossas taças de vinho.

Eu espero que Amélie fale alguma coisa porque ela está muito estranha. Ela vem pro sofá e senta do meu lado. Elena ocupa seu espaço de antes, dessa vez sentada, porque David também sentou.

- É... Uma história grande e complicada. – ela diz e eu endireito a postura. Ela pega o retrato em minha mão e sorri passando um dedo na foto. – Esse era o Adrien. Meu irmão.

- Você namorou seu irmão?! – a voz de Emily soa esganiçada e corta todo o clima que de repente tinha se formado.

- O que? Não! Não! Meu Deus! – ela sacode a cabeça e ri um pouco, mas então volta a ficar séria.

- Cami disse que era o pai dela... – eu murmuro e ela assente.

- Ele é. – não estou entendendo mais nada, e espero Amélie falar de uma vez.

Mas Amélie demora o que parece uma eternidade. Seus olhos estão no retrato e ela parece tentar obrigar seus lábios a se moverem, antes de enfim soltar o ar junto com a frase.

– A Cami não é minha filha... Quer dizer, claro que é. Mas... Eu não fiquei grávida dela... Eu não... – Amélie puxa o ar com força e volta a falar mais devagar. - Na verdade eu sou tia dela. – ela diz de uma vez e todo mundo, com exceção de Elena que já devia saber, fica meio boquiaberto. Eu paro por um momento com a boca meio aberta e não consigo dizer nada. Eu quero dizer alguma coisa, mas não sei o quê. Estou tão incrivelmente surpreso que não consigo assimilar muito bem.

O rostinho de Cami surge em minha cabeça enquanto eu olho pro rosto de Amélie. É claro que elas se parecem. Talvez agora com essa afirmação eu consiga achar uma ou outra diferença um pouco gritante. Como Cami ser um pouco mais escura e ter o cabelo com cachos mais enrolados do que os grandes cachos de Amélie. Mas nada que antes eu pudesse ter reparado. Quem seria a mãe verdadeira? Como assim tia? Minha cabeça dá uma volta e antes que eu possa falar alguma coisa Emily levanta as mãos como se pedisse um tempo.

- Ok... Espera... Explica isso... – Emily diz e acho que não percebe que soa mandona.

- Vou explicar. – ela coloca sua taça de vinho na mesinha e inspira fundo antes de começar. – Eu não saio contando essa história por aí. Só Elena, August, minha família e os pais dele sabem. – ela começa. –. Nós morávamos todos juntos. Papai, mamãe, Adrien e eu. Adrien, meu irmão, tinha acabado de se formar em TI, e tinha conseguindo um emprego incrível. E aí numa feira na universidade que ele tinha estudado ele conheceu uma garota americana, Julie. Ele ficou loucamente apaixonado por ela. O que foi bizarro já que a garota era meio hippie. Tinha essa coisa de não se apegar a bens materiais e nunca ficava no mesmo lugar por muito tempo. Ainda assim ela conseguiu encantar meu irmão.– ela sacudiu a cabeça com uma careta. – Eu não gostava dela, mas meu irmão sim. Então eu não podia fazer nada.

“Bom, o tempo foi passando e depois de uns três meses dessa relação estranha, Julie apareceu grávida. Todo mundo ficou meio assustado, mas o Adrien estava tão feliz que tudo que pudemos fazer foi ficar feliz também. Julie foi morar na nossa casa, e tudo foi indo tranquilamente. Ela às vezes tinha uns ataques de não aguento ficar parada aqui, mas nada que Adrien não conseguisse contornar.”

Amélie passou as mãos no cabelo. Parecia não saber muito bem como contar a história.

- Julie já estava com oito meses de gravidez quando mamãe precisou viajar pra visitar uma tia nossa. Adrien foi leva-la porque papai tinha que trabalhar... E então... Aconteceu. Não sabemos muito bem como foi, só sabemos que uma carreta perdeu o controle na pista e... Eles... Eles morreram na hora. – ela praticamente sussurra.

- Eu sinto muito... – Emily diz no mesmo tom e Amélie sacode a cabeça em negação.

- Faz tanto tempo... – ela encolhe os ombros antes de apertar os olhos e parecer perceber que precisava terminar a história. – O meu pai ficou muito mal... Mal de verdade. Ele entrou num tipo de depressão e ninguém sabia muito bem o que fazer. Julie chorava o dia todo e eu morria de medo dela passar mal com o bebê na barriga. Eu não sabia como seria... Não fazia ideia.

“As coisas ficaram muito duras sem o Adrien e a mamãe. Eu tinha acabado de me formar no ensino médio e tinha conseguido uma bolsa na universidade... Eu tinha feito teste pra Juilliard... Eu entrei pra Juilliard. – ela sorri de lado e volta a ficar triste muito rápido. – Não demorou nem uma semana depois do acidente e Julie entrou em trabalho de parto... Cami nasceu e tudo ficou ainda mais louco. Era só Julie, papai e eu. Meu pai nem conseguiu ir ao hospital e Julie não parava de chorar um só segundo. Ela nem queria olhar pra Cami. – os olhos de Amélie se encheram de lágrimas e eu senti meu corpo se inclinar em sua direção quase involuntariamente. – Foram as duas semanas mais malucas da minha vida. Julie não queria dar de mamar, papai não saía do quarto e tinha um bebê que não parava de chorar um só segundo. Eu achei que não podia ficar pior, mas... Uma semana depois eu acordei com Cami chorando e um bilhete no berço. “Não posso fazer isso. Eu nunca pude.” – Amélie sacode a cabeça em negação, deixando sua voz soar muito gutural na última frase. – Foi tudo que ela deixou. Eu fiquei tão apavorada... Mas quando olhei pra aquela coisinha linda e chorona no berço... Eu sabia que não podia ser diferente.”

Ela dá um sorriso meio triste. Seus olhos parecem muitos distantes.

- Então eu cuidei dela. Registrei, alimentei, cuidei cada dia e cada noite... Ela é minha filha. – Amélie tem os olhos marejados agora e eu acabo com o espaço entre a gente pra abraça-la. Envolvo seu corpo com meus braços e beijo o topo de sua cabeça.

- Você é a mãe dela. – sussurro.

- Claro que é. – Emily toca seu joelho num gesto de apoio. – Eu achei que não desse pra te admirar mais, Mel... Estava enganada. – Emy diz fazendo todo mundo sorrir em concordância.

Eu também achava. Eu achava que não tinha como acha-la mais incrível, mais doce, mais bondosa. Eu estava completamente errado. Ela era tudo isso e ainda era forte, e corajosa e altruísta.

Caramba!

Ela era incrível. Eu nunca... Nunca conseguiria me esquecer dela. Nem se eu quisesse.

E droga, ali com ela ainda em meus braços sorrindo em meio a algumas lágrimas fujonas tudo que eu sabia era que eu não queria esquecer ela. Por mais difícil que tudo fosse ficar, eu queria tê-la por perto. Pra sempre. 


Notas Finais


E aí? Me contem o que acharam, tá? Beijin <3


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