História De Paris, com amor - Amélie - Quem precisa relaxar?

Amélie Bouvier 

- Mel! - Elena me chama e eu olho pra porta da saída e depois pra ela, e olho pra porta de novo e pra ela de novo.

- Tenho que buscar Cami na escola. - eu digo girando a chave do meu carro na mão. 

- Eu sei, mas é que o chefe quer falar com a gente. Ele disse que é rápido. - faço uma careta quando Elena revira os olhos.

Nunca é rápido quando se trata do Vince. Meu chefe é o rei da conversa fiada. Se você está com pressa fuja dele.

Saio da parte do restaurante com Elena e entro num corredor que dá acesso ao escritório de Vince. Passo os dedos em um quadro e sorrio.

O Tous L’Arts é um restaurante bem frequentado de Paris. Pessoas cultas, e amantes da arte vem aqui, porque além de restaurante o Tous L’Arts é um tipo de museu ou galeria.

Todo o bar e salão de espera são decorados com algumas imitações de quadros de pintores famosos de todas as épocas. No andar de cima está o restaurante de fato, e no subsolo o acervo de quadros de Vince. Onde estão quase todos os seus quadros arrematados em grandes leilões. Só pessoas de confiança têm acesso ao subsolo.

Eu sou apaixonada por esse lugar. Trabalharia de graça aqui, (que Vince não me escute). Bom, é claro que trabalhar num restaurante não era o meu sonho de consumo, mas depois de um tempo você descobre que os sonhos foram feitos pra ficar ali na cabeça e te fazer suspirar. A realidade é que vale. E minha realidade é essa. Formada em Arte e trabalhando no Tous L’Arts.

- Amélie e Elena! Minhas garotas de ouro! – Vince abre os braços quando nós entramos no escritório dele. Eu tento não rir da revirada de olho de Elena e foco em Vince que parece especialmente feliz hoje. Seu cachecol vermelho deixa seus cabelos ruivos ainda mais evidentes, e suas sardas parecem mais escuras. Eu dou um sorriso.

- Vamos ganhar um aumento? – sugiro enquanto ando até uma das poltronas dispostas na frente de sua mesa. Ele ri alto.

- Vocês sabem que merecem. Eu milionaria seus salários. – Elena revira os olhos de novo e eu rio da mania de Vince inventar palavras.

- Então, se não se importar de ser breve... É que tenho que buscar minha filha na escolinha... – eu digo e ele assente se levantando.

- Preciso de vocês na quinta à noite da semana que vem.

- Quinta à noite? Vince, nós trabalhamos durante o dia, lembra? – Elena fala e ele assente atrás dela.

- Sim, claro, meus doces! Mas é que receberemos muita gente! Um time de futebol inteiro! – ele ri de sua própria analogia. – Preciso de vocês me auxiliando. Aquela mocinha que fica aqui de noite, não vai dar conta. Tão lenta! – ele balança a cabeça e eu rio. Elena olha pra mim e eu dou de ombros. – Eu vou pagar o extra é claro. – ele acrescenta e nossas expressões mudam.

- AH! – eu e Elena falamos juntas.

- Você vai fechar o restaurante só pra esses convidados? – pergunto.

- Não. Por isso que quero vocês aqui. Quero que deem uma olhada nas reservas do dia pra gente arrumar tudo perfeitamente e não reservem mais nenhuma mesa. Podem fazer isso por mim? – ele pergunta enfiando a cabeça entre Elena e eu, e nós assentimos rindo.

- Tudo bem, Vince. – eu digo e me levanto.

- Ah! Obrigado! Obrigado, meus doces. – ele sorri e beija minha bochecha e depois a de Elena.

- Vou ter que cancelar o show da banda. – Elena sacode a cabeça quando voltamos pelo corredor.

- Porque não disse a ele que não podia?

- Porque eu preciso de grana, e o dinheiro extra que ele vai me dar com certeza é mais do que eu ganharia do show naquele barzinho de quinta. – ela bufa e eu rio de lado.

- Pensei que amasse cantar e tocar. – eu digo.

- Eu amo pagar meu aluguel. – ela suspira.

- Posso te emprestar o dinheiro...

- Valeu Mel, mas você já me emprestou dinheiro demais. E eu nem quero fazer esse show. – ela dá de ombros e eu assinto sabendo que não é verdade.

- Sabe o que você precisa? Relaxar! – eu digo entrelaçando minha mão em seu braço.

- Eu já relaxo demais.

- Não. Você precisa relaxar com a mamãe aqui. Vem, vou te dar uma boa dose de relaxamento. – eu digo e a puxo pra fora do restaurante depois de pegar nossas coisas.

Elena ri da minha minivan (como sempre) e eu ignoro fazendo um gesto pra ela entrar.

- Eu nunca nunca quero ser mãe.

- Claro que quer.

- E dirigir um troço desses? Nunca. – ela debocha enquanto coloca o cinto.

- Fica quietinha aí. – eu dou de ombros começando a dirigir.

- E como vai seu lance com o August? – Elena pergunta ligando o rádio.

- Não é um lance. Nós vamos nos casar! – eu mostro minha mão direita e ela dá de ombros.

- Você e essa necessidade de cumprir as obrigações sociais.

- Qual o seu problema com o Gus? – eu a olho de lado e ela sacode a cabeça com o cenho franzido.

- Não tenho problemas com o Gus. O cara é médico e cuida de criancinhas, é rico pra caramba, adora você e a Cami, porque eu teria problemas com ele? – ela fala e eu a encaro, aproveitando o sinal vermelho. Ela me olha e revira os olhos.

- Obrigada por apoiar meu relacionamento. – eu digo irônica antes de rir.

- Eu só não gosto do jeito que a mãe dele te trata. Ela é esnobe e não gosta de você.

- O que? Mas é claro que ela gosta de mim! Ela... Ela só é um pouco durona...

- E intrometida...

- E preocupada...

- E insuportável...

- Elena!

- Só estou dizendo a verdade! – ela levanta as mãos e eu sacudo a cabeça.

- De qualquer jeito não vou me casar com ela.

- Você que pensa, amiga. – ela pisca pra mim quando paramos em frente à escolinha. Buzino duas vezes pra chamar a atenção da professora na porta e vejo-a sorrir e acenar pra mim, antes de chamar Camille que vem correndo feito louca para o carro com uma coroa de princesa na cabeça.

- Oi mamãe, oi tia Ellie! – ela fala quando entra no carro.

- Oi princesa! – Elena vira pra ela e beija sua bochecha. – Como foi hoje, hein? Brincou muito? Mostrou pros meninos idiotas como as garotas jogam melhor? – ela perguntou enquanto prendia Cami na cadeirinha.

Eu ri. Elena bancava a durona o tempo todo, mas no fundo era um coração mole, principalmente quando estava perto da Cami.

- Eu mostlei pa eles. – ela se embola nas palavras e eu rio de lado.

- Nada de arranjar briga dona Camille.

- Não briguei não mamãe. Só mostlei como se faz. – ela diz e eu assinto rindo. – Coloca no rádio, mãe. – ela diz.

- Mas já tá ligado. – Elena fala enquanto eu volto a dirigir.

- Ela tá falando do canal do PSG. – eu digo e Elena franze o cenho.

- O PSG tem um canal de rádio?

- Ela descobriu sozinha. Maldita hora. – eu sussurro e Elena ri alto quando eu começo a procurar a frequência.

- Aí, aí , aí. – ela ouve a voz do locutor de sempre e me manda parar. Elena não para de rir. – Shiu tia! – Cami reclama e dessa vez eu que rio.

- Essa coletiva de imprensa é importante pra Laurent falar das mudanças pra nova temporada. – um dos comentaristas fala.

- E ainda é aberta ao público! O que é ótimo, porque assim os jogadores conseguem manter um contato maior com os fãs. Isso é muito importante para o Clube.

- Com toda certeza! Olha só a alegria dessas crianças tirando fotos com seus ídolos.

- Mamãe!!!!! – Cami grita e tenta se esticar pra perto do meu banco, mas os cintos da cadeirinha não permitem.

- O que foi? – eu a olho pelo retrovisor.

- Eles tão tilando fotos! O Vani tá lá! Mamãe! – ela fica elétrica e Elena a olha rindo.

- Cami, nós nem sabemos se ele está lá.

- Ele tá mamãe!

- Nem sabemos onde é isso!

- Essa é a Radio PSG, e estamos transmitindo ao vivo do Hotel Sanvart ... – O comentarista fala o endereço exato e Elena desata a rir da minha cara.

- AÍ MAMÃE! – Cami grita e eu paro no sinal vermelho.

- Cami...

- Por favô mãe. Você pometeu que eu ia vê o Vani um dia. – ela faz uma carinha e erra um monte de palavras por estar tão eufórica e eu simplesmente não posso dizer não.

- Tudo bem!!!

- ÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊ!

Controlar a animação de Camille era quase impossível e Elena fazia questão de deixá-la ainda mais animada.

Quando paramos em frente ao Hotel, vi que nem estava tão cheio assim. Alguns seguranças indicavam algum lugar dentro do Hotel, e eu tirei Cami da cadeirinha para entrarmos no lugar, percebendo que ali dentro estava muito mais cheio.

- Acho que temos que pegar aquela fila ali. – Elena aponta a fila em direção a um painel enorme do PSG e eu assinto.

- Vou perguntar ao guarda. – eu digo e deixo Cami na fila com Elena que segura sua mão e ri da euforia da pequena. – Ei, licença, esta é a fila pra tirar foto com os jogadores? – eu pergunto, e antes que ele assinta, ouço a voz de Elena soar por cima das vozes animadas dos torcedores.

- CAMI ESPERA!

Olho rápido pra trás e vejo Camille correr em direção ao painel onde tem um aglomerado de pessoas, e flashes estão sendo disparados. Eu corro no automático e Elena vem atrás de mim.

- Cami! – eu grito. A pequena passa entre algumas pessoas e eu a perco de vista. – Droga, Elena!

- Ela correu! Disse que viu o tal do Cavani! - Elena diz e ri, mas eu não rio de volta. Não consigo ver minha filha e isso me deixa apavorada demais pra rir.

- Com licença... Licença... Licença... – eu repito enquanto tento passar pelas pessoas.

Espere sua vez! Ei!

Ouço alguns berros irritados, mas continuou tentando passar.

- El matadooooor! – ouço um gritinho seguido de muitas risadas.

Ai meu Deus.

Passo pela última pessoa em minha frente e dou de cara com Camille com os dois bracinhos ao redor do pescoço de Edinson Cavani que ri divertido ajoelhado em sua frente.

- Oi meu amor. – ele fala com uma voz muito doce e eu tento chegar mais perto. Cavani a abraça e passa a mão em seus cachinhos.

- Eu adolo adolo adolo você! – ela troca o R pelo L e sei que está muito animada.

- Ah é?! Você gosta de futebol? – ele pergunta e ela assente muito rápido. – Mas você é uma princesinha. – ele diz apontando pra coroa que agora está torta em sua cabeça.

- Pincesas também podem gostar de futebol, Vani. – ela diz como se desse uma bronca nele e as pessoas riem ao redor.

- Essa é minha garota. – Elena fala e só então eu a noto do meu lado.

- Você deixou ela furar fila. É uma péssima influência. – eu faço cara feia e ela ri.

- Qual é o seu nome? – volto a minha atenção pra Cavani que continua ajoelhado conversando com Camille.

- Camille!

- Muito prazer, Camille! – ele estende a mão e ela a aperta toda orgulhosa.

Muitos flashes estão sendo disparados na direção deles dois e eu vejo outro jogador ajoelhar ao lado de Camille. David Luiz. Não dá pra confundir os cachos.

- Você só gosta do Cavani é? – ele pergunta e Cami o encara abrindo um sorriso.

- É! – ela fala sincera e todo mundo ri. Cavani gargalha e faz careta pra David que finge estar triste. – Mas você é legal também, tá? – ela estende a mão e toca os cachinhos dele que ri do gesto.

- Então eu quero um beijinho. – ele pede e ela ri antes de beijar sua bochecha.

Vejo Verrati e Lavezzi chegarem mais perto dos três e começarem a falar com Cami também. Consigo reconhecer todos os jogadores na bancada e dou uma risada por isso. Cami tá conseguindo me contaminar de verdade.

- Tenho que tirar ela dali, ou ela não sai mais. – eu digo e dou alguns passos pra chegar mais perto de onde eles estão. Uma fita separa as pessoas fora da fila, e eu passo por baixo dela me atrapalhando um pouco. Sinto uma mão muito firme em meu braço e me viro.

- A senhora precisa entrar na fila. – o segurança que me segura me encara e eu tento falar direito.

- Não. Aquela... Ela é minha filha. – eu digo apontando pra Camille. Ele segue o meu dedo com o olhar depois me encara de novo, e então me solta. Faço uma careta involuntariamente e me viro pra onde todos os olhares estão. – Ei! Cami! – eu chamo e ela olha rápido em minha direção. Alguns pares de olhos viram-se pra mim. – Vamos!

- Mamãe, é o Vani! – ela berra e eu ouço mais gargalhadas e rio também. Vejo Cavani e os outros jogadores se virarem pra mim, e sinto meu rosto arder.

- Eu tô vendo filha. Mas tá na hora de ir, olha o tanto de gente que quer falar com ele! – eu aponto pra fila e ela faz um biquinho.

- Mas tila uma foto! – ela pede e eu rio sacudindo a cabeça. Pego o celular no bolso e vejo os jogadores rodearem Cami que sorri o maior sorriso do mundo. Eu tiro a foto, junto com um monte de outros fotógrafos que disparam seus flashes.

- Agora só com o Vani! – ela pede e os outros riem.

- Gente, fomos esnobados. – David diz rindo e Cavani agarra Cami e posa pra foto. Eu tiro outra foto e faço um sinal de ok. Cami agarra Cavani de novo e ele levanta com ela nos braços pra vir em minha direção.

- Me desculpa... E-Ela correu... Quando viu você. Ela te adora. – eu tento falar direito e ele sorri.

- Sua filha é linda! – ele diz e eu sinto como se já tivesse escutado sua voz várias vezes. Ele é mais alto do que eu imaginava, e eu preciso levantar um pouco o rosto pra olhá-lo. Seus olhos são muito escuros, e seu cabelo parece tão macio que sinto vergonha por não ter hidratado o meu essa semana.

- Obrigada. – eu tento sorrir enquanto passo uma mão nervosa entre meus cachos bagunçados. – Ei, Cami. Vem! – eu chamo e estendo as mãos. Ela faz um bico e vem pro meu colo. Cavani segura sua mãozinha e beija ali.

- Foi um prazer conhecer você, Cami! Você é uma princesa muito linda e inteligente. – ele diz enquanto conserta a coroa em sua cabeça, e ela sorri toda orgulhosa.

- Obigada! – ela diz sorrindo e se estica toda pra beijar a bochecha dele de novo, me fazendo dar um passo desequilibrado pra frente e pisar em seu pé.

Cavani ri e eu sacudo a cabeça.

- Desculpa. – quase sussurro e ele assente com um sorriso. – Dê tchau Cami.

- Tchau Vani! – ela acena e ele acena de volta com um sorriso grande.

Eu dou as costas com Elena em meu encalço e viro só um segundo pra ver Cavani ainda acenar pra Cami. Sorrio e sigo pra fora do hotel.

- MAMÃE! EU VI O VANI! – Camille berra quando já estamos no carro. Elena não para de rir.

- Eu sei, mas me prometa que nunca mais vai correr desse jeito, Cami! Você furou fila! Isso é feio. – eu digo e ela assente encolhendo os ombrinhos.

- Desculpa mamãe. Era o Vani. – ela diz como se justificasse e eu não consigo não rir.

- Tudo bem, Cami. Mas não faça mais isso.

- Tá bem. – ela diz e sorri olhando a tela do meu celular onde a foto dela com Cavani brilhava no visor.

Elena ri mais observando a pequena.

- E eu que preciso relaxar né? – ela retruca e eu solto uma lufada de ar tentando me recuperar da loucura que é ser mãe de uma minifã de Edinson Cavani.