De Ponta-Cabeça
Capítulo Quinze - Incerteza e Arrependimento
Ele pensou que Itachi contaria para seus pais a respeito de sua situação, mas surpreendeu-se ao ouvir os dois perguntarem do hematoma na boca e o mais velho responder que foi consequência de uma luta entre os dois.
Agradeceu mentalmente a ajuda de Itachi, não estava afim de levar um sermão àquela hora da manhã.
Sasuke foi para a escola andando como em todos os dias, já que a OHS não era tão longe de sua casa. Logo na entrada, notou os olhares em si e já sentiu-se irritado.
Ninguém nunca havia visto um hematoma, não? Que raiva!
Ele seguiu diretamente para o seu armário e não demorou mais que um minuto para a figura de cabelos cor-de-rosa parar ao lado dele, com os braços cruzados.
— O que aconteceu? — ela perguntou de cara, e Sasuke sorriu de leve e fechou o armário para visualizá-la melhor. Sakura parecia brava. — Pensei que tivesse dito que mudaria. — completou, atenta a cada reação dele.
Sasuke, por sua vez, apenas a fitou. Não estava irritado nem nada com a intromissão dela, se fosse outra pessoa, talvez ficaria, mas com ela era diferente.
— Eu estou tentando, mas algumas coisas não são fáceis de mudar. — respondeu e viu-a suavizar a expressão.
Sakura só estava preocupada, e ele gostava disso, não era sempre que as pessoas se importavam consigo.
— Quer conversar? — ela perguntou, segurando uma das alças da mochila.
— Quero esquecer, por favor. — ele respondeu, o “por favor” saiu como um sussurro, porém ela ainda ouviu e assentiu com a cabeça.
— Desculpe, é que eu fiquei preocupada. — admitiu, o que o fez sorrir.
— Não se preocupe comigo.
Entretanto, aquele pedido, ela não podia acatar. Era impossível não se preocupar com ele, Sakura gostava muito de Sasuke. Ainda não sabia ao certo quanto, talvez fosse uma paixão ou até mesmo amor.
A Haruno, em um ato repentino, abraçou o corpo do garoto enquanto fechava os olhos e imaginava o que podia ter ocorrido. Tinha tanto medo de acontecer algo ruim com ele…
Sasuke sorriu e retribuiu o abraço, embora sentisse um certo incômodo com o aperto no abdômen, pelos socos que levara ali. Era bom tê-la por perto. Seu carinho, seu cheiro, sua voz, seu jeito… Gostava tanto dela e de ficar perto dela que não conseguia descrever em números qual a intensidade, talvez nem houvesse números suficientes para isso.
E ficaram ali em silêncio, não precisavam dizer nada. Aquele abraço já dizia tudo.
— Vamos, temos aula. — ele disse quando ouviu o sinal tocar instantes depois e soltou-a de seu aperto.
— Vamos. — ela concordou, também soltando-se dele.
Entretanto, ambos sentiram falta do calor um do outro quando afastaram-se e foram para a sala de aula, era como se seus corpos necessitassem de mais contato.
Estava cada vez mais difícil manterem-se perto um do outro apenas como amigos. Ou melhor, amigos coloridos.
— Ah, Sakura. — ele interrompeu sua caminhada pelo corredor em direção a sua carteira, parando ao lado da menina, que já havia se sentando em seu lugar. A sala ainda estava meio vazia. — Não vamos poder estudar mais durante a tarde, vou começar a trabalhar.
Sakura olhou-o meio atônita primeiramente, em seguida, assentiu, mas havia ficado um pouco decepcionada com aquilo, a ideia de não passar mais tanto tempo com ele não lhe agradava.
— Tudo bem, mas onde? — perguntou, curiosa.
— No dōjō de karatê do meu irmão.
— Ah, sim, entendi. — sorriu fraco, porém Sasuke conseguia notar a decepção através da voz dela, que era a mesma que ele próprio sentia.
Não queria perder aquele tempo ao lado dela, mas era preciso.
— Podemos marcar nos sábados se der para você. — ele sugeriu, dando de ombros, e Sakura sorriu com a ideia, embora fosse mais difícil para ela ir até a casa dele.
— Pode ser. — sorriu de leve e, em seguida, Sasuke acenou em despedida, pois o professor Yamato havia entrado na sala.
. . .
— Eu vou dar aula para crianças de cinco anos? Isso é sério? — Sasuke perguntou, estava deitado no meio do tatame no dōjō do irmão, com as mãos embaixo da cabeça como um travesseiro e olhando para o teto enquanto aguardava a hora da primeira aula chegar.
Ele usava um quimono branco e uma faixa preta ao redor da cintura.
— Só quero ver como você vai se sair e com crianças acredito que seja mais fácil. — Itachi comentou, ele trajava a mesma roupa que Sasuke.
— Não estou com um bom pressentimento com isso. — Sasuke sussurrou para si mesmo, nunca soube lidar com crianças, não sabia se seria uma boa.
— Relaxa, vai dar tudo certo. São só crianças. — Itachi falou, achando graça do irmão.
E, de fato, não fora tão difícil aquele primeiro dia, pelo contrário, Sasuke se saiu até bem ao lidar com as crianças. Itachi ficou de olho só para a garantia e surpreendeu-se com a paciência e comprometimento do caçula.
O Uchiha mais velho pensou que se arrependeria ao aceitar aquela loucura, que Sasuke não levaria a sério, porém o garoto mostrou exatamente o contrário.
No fim da primeira aula, o mais novo despediu-se dos alunos com um aceno enquanto os mesmos saíam animados, chamando-o de “Sasuke-sensei”.
Itachi sorriu com a cena.
— Você foi bem. — elogiou o mais velho.
— Que bom. — Sasuke suspirou, aliviado.
— Gostei de ver, acho que vai dar certo isso. — Itachi comentou, passando ao lado do irmão e lhe bagunçando rapidamente os cabelos.
Sasuke sorriu com as palavras de Itachi, no fundo, orgulhoso de si mesmo por ter conseguido.
— Eu espero. — o mais novo disse, caminhando até o canto do dōjō, onde tinha um bebedouro.
Apertou o botão de metal e pôs-se a beber a água expelida.
— Ah, ontem à noite mesmo, eu falei com o Kisame e passei o dinheiro para ele. — Itachi disse calmamente, palavras que fizeram Sasuke parar de beber água no mesmo instante e olhá-lo.
— E o que ele disse? — Sasuke perguntou, curioso.
— Disse para você ficar longe, a Akatsuki não é brincadeira, e você é um alvo fácil para eles.
— Alvo fácil? O que ele quis dizer com isso? — Sasuke perguntou, as sobrancelhas estavam arqueadas em clara confusão.
— Ele não disse, o parceiro estava lhe esperando, não podia dar muitos detalhes. Para falar a verdade, eu nem sei se ele daria, Kisame não é mais o mesmo. — Itachi suspirou cansado e sentou-se em um banco na recepção. Em seguida, Sasuke fez o mesmo, ocupando o espaço vago ao lado do irmão mais velho. — Desde a morte do Shisui, ele não é mais o mesmo.
— Sim. — Sasuke concordou enquanto olhava para o nada.
Ele tinha treze anos quando o primo morreu, mas recordava-se perfeitamente do que houve.
Itachi, Kisame e Shisui sempre foram bem unidos, porém, quando o segundo se envolveu com as drogas, tudo mudou, Kisame virou outra pessoa. Shisui acabou sendo arrastado também para aquele meio pela influência do amigo, embora Itachi sempre lhe dissesse para não ir.
Mas ele entrou.
Shisui começou apenas usando, depois, a vendê-las por influência de Kisame, que já estava bem envolvido com a Akatsuki, embora não fizesse parte dela ainda. Sasuke e Itachi tentaram convencê-los do contrário, conheciam a fama do grupo criminoso e não queriam aquilo para seus amigos, mas não deu tão certo.
Shisui, quando tomou consciência do que fazia, tentou voltar atrás, abandonar aquela vida, principalmente, quando viu do que a organização era capaz, algo que ia muito além do tráfico, muito além de assaltos, mas a Akatsuki não deixava pontas sem nó. Não podiam haver testemunhas de seus crimes contra a vida, e Shisui era uma delas.
Sasuke ainda se recordava do dia em que receberam a notícia de que o primo havia sofrido um acidente de carro e falecido, segundo a perícia, o carro perdeu os freios, porém os irmãos Uchiha sabiam que havia sido sabotagem da Akatsuki.
Depois desse dia, o contato com o Kisame foi cortado — visto que o mesmo insistia em continuar naquele mundo do crime apesar de todos os riscos e, logo após, tornou-se parte da organização criminosa — e, principalmente, com o resto da Akatsuki, embora fosse inevitável não se encontrar com alguns deles por aí e estranharem-se, já que moravam no mesmo bairro, e os Uchihas — principalmente Itachi — nutriam um certo ódio incontrolável, e com razão, por aqueles membros.
Até, claro, a fama de delinquente e rebelde de Sasuke cair nos ouvidos da organização, além da influência do garoto no bairro, seu ótimo desempenho com lutas e sua péssima mania de não intimidar-se com nada, fatos que atraíram a atenção da Akatsuki para um possível novo membro, mas que, para surpresa deles, recusou fazer parte dos esquemas ilegais.
E ninguém podia recusar tal coisa, a Akatsuki não permitia, o que resultou em Sasuke passando alguns dias no reformatório.
Sacudiu a cabeça, tentando afastar as memórias, o caçula não queria nem lembrar-se das férias do ano anterior.
Mas não era isso que o preocupava realmente. Para falar a verdade, embora Sasuke não quisesse nem passar perto do reformatório ou qualquer outra coisa que o lembrasse daquele lugar, ele não tinha medo de ir, não se fosse para proteger a garota que amava.
Era com ela, a única pessoa que lhe entendeu, que confiou em si, que ele estava preocupado e, por ela, ele enfrentava qualquer coisa.
— Espero que eles não se metam com a Sakura. — Sasuke sussurrou após segundos de silêncio, olhando para a frente enquanto continuava largado no banco da recepção do dōjō, ao lado do irmão que o fitava atentamente.
— Você gosta dela, não gosta? — perguntou o mais velho e direto, embora já possuísse certeza que sim. Porém, Itachi queria ouvir da boca dele.
Sasuke respirou fundo e, sem nem olhar para Itachi, assentiu.
— Mais do que qualquer outra pessoa. — admitiu, e Itachi sorriu com as palavras do mais novo.
Seu irmãozinho estava, de fato, crescendo.
— Isso é bom… A Sakura parece uma boa pessoa. — o Uchiha mais velho disse, também sem olhar para o irmão. — Estão namorando? — perguntou e, nesse instante, Sasuke lhe olhou.
— Não exatamente. — respondeu, pensativo.
Já havia a beijado mais de uma vez e admitido para si mesmo e para algumas pessoas o que sentia, mas não havia conversado com Sakura sobre isso.
Sobre eles.
— Como assim? — Itachi arqueou as sobrancelhas, confuso.
— Nós já ficamos, mas não falamos a respeito.
— E por que não falaram?
— Não sei. — Sasuke respondeu.
Talvez nenhum dos dois tivesse tido coragem para falar ou, mesmo, não soubessem o que dizer.
— Acho que… Sei lá, somos diferentes. — Sasuke comentou, pensativo.
— Como assim diferentes? — Itachi olhou para o irmão, que parecia perdido em pensamentos.
— Ela é… — Sasuke fez uma pausa, desviando os olhos para o teto enquanto apoiava a cabeça nas mãos no encosto do banco. — A Sakura é o completo oposto de mim, sabe? Toda certinha, meiga, sem contar que ela é milionária, e eu sou só… O garoto problema.
Itachi olhou para o irmão, entendendo finalmente o que se passava na mente dele. Sasuke gostava de Sakura, mas se achava pouco para ela. O Uchiha mais velho suspirou cansado antes de voltar a olhar para o chão e a falar:
— Sabe, Sasuke, quando se ama alguém, não importam as diferenças. Para falar a verdade, elas não importam em ocasião alguma. Ser pobre, rico, gordo, magro, alto, baixo, preto, branco, amarelo, azul, o que for, não faz ninguém melhor que ninguém. Somos todos humanos no fim das contas, então não se sinta inferior só porque não foi a pessoa mais comportada da face da Terra ou não possui a maior fortuna. O que importa é o que vocês sentem um pelo outro e, se é verdadeiro, não deixem para lá, vivam esse sentimento e sejam felizes.
Sasuke ouviu atentamente cada palavra do irmão mais velho. Ele sabia que Itachi tinha toda a razão, porém temia dar chance a esse amor e, depois, não poder mais ficar junto de Sakura. Temia não suportar tal distância.
Mas que diferença existe entre não tentar e, possivelmente, ter que se afastar em um momento posterior?
Seria igualmente doloroso os dois, não é mesmo? Visto que ambos resultariam em manter distância da Haruno.
E, entre desistir sem tentar e tentar, mas dar errado, era preferível a segunda opção, afinal, também havia chances de dar certo.
Sasuke sorriu de canto com a conclusão.
— Obrigado, Itachi. — disse ao irmão, imensamente grato por ele ter lhe aberto os olhos.
Definitivamente, era melhor a incerteza de um futuro do que o arrependimento por não ter tentado.
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