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História De Repente É Amor - Feira Nostálgica E Um Canadense Perdido.


Escrita por: VitoriaAlex

Capítulo 16 - Feira Nostálgica E Um Canadense Perdido.


Ponto de vista: Florence Elliott.

Soquei-o mais uma vez, mas, Castiel foi mais rápido ao segurar meu punho, girar minha cintura e impedir meu movimento. Arfei a medida que fui impedida de bater nele, e logo ele me soltou, querendo que eu tentasse novamente. O encarei com determinação, e ergui meu joelho para golpear sua cintura, mas, ao que parecia, isso foi previsível demais, pois com apenas uma mão, o ruivo fez com que eu fosse rumo ao chão, e se não fosse seus braços a me agarrem e me erguerem, eu teria levado um belo tombo.

      Quando nossos corpos se encontravam separados, peguei uma toalha e enxuguei minha testa, molhada de suor, após nossa pequena sessão de luta.

        Na vez em que Castiel fez com que eu desabafasse, usando meu corpo, eu me senti estranhamente bem, por isso, após minha insistência, ele concordou em fazermos isso de vez em quando. Apenas para descontarmos nossa irritação diária.

      Eu não tinha motivos dessa vez, estava socando apenas para me exercitar, mas, o ruivo parecia ter um bom. Pois se encontrava com aquela expressão de garoto impenetrável, e eu realmente não queria ser o saco que ele estava esmurrando agora.

—O que esse saco fez a você? — questionei divertidamente.

—Você sabe que eu e Lynn estamos ficando as escondidas, não sabe? — a questão não me surpreende. Ele não era burro, faziam duas semanas que ele estavam nessa. Era obvio que eu já tinha notado.

—A pergunta é quem não sabe. — não sou nem um pouco sutil, ao dizer isso.

—Essas saídas não estão sendo suficientes para ela, aparentemente. — ele fala frustrado.

—Como assim? —quero que ele complemente aquilo.

—Ela tem sugerido que namoremos sério. Assumirmos um compromisso na frente de todos. — suas palavras me fazem suspirar.

—Deixe eu adivinhar: Você não se sente preparado para isso. — constato.

—Da última vez que assumi um compromisso, me ferrei com a Debrah. — Castiel comenta com um suspiro.

—Mas, a Lynn não é a Debrah. Ela é meio louca? Sim! Mas, ela é incrível e se você for se arriscar com alguém, tem que ser com ela. Deixe-a entrar, você me deixou entrar, e está lidando muito bem com isso. A Debrah só foi um acorde errado na sua música. Escreva outra, ou apague essa parte. — falo tocando seu ombro.

—Mas, não há nada romântico entre eu e você.  Por isso, damos certo.— ele pontua.

—Isso não faz o laço ser mais fraco. — digo com um meio sorriso.

—Brigamos, ela acha que eu não quero assumi-la, por não leva-la a sério. — Castiel explica.

—Então prepare algo grande, algo que faça com que ela perceba que você a considera especial, e que você quer tentar. Use aquilo no que você é melhor. — aconselho.

—Na música. — ele afirma.

—Na música. — concordo.

—Você é uma ótima conselheira, Florence Elliott. — Castiel fala, e então em um gesto carinhoso, bagunça meus cabelos.  

   Lanço um sorriso para ele.

—Eu faço meu melhor. — digo dando de ombros.

—Terminamos o desabafo por aqui. — comenta, e então cata suas coisas, e saí da academia particular dos meninos do basquete. — Faraize havia me dado permissão para usa-la nos horários livres, com a aprovação da diretora. — Também, peguei minhas coisas e sai dali

              Cheguei ao estacionamento, lotado de gente, por ser a hora da saída, e chequei meu celular como de costume, para ver se havia alguma mensagem da minha tia. Mas, não tinha nada. Antes que eu alcançasse meu carro, uma muralha conhecida como Dake West surgiu na minha frente.

—Ainda estou chateado com você, por não ter vindo comigo hoje. — ele diz divertido, antes de me puxar pela cintura, sem se importar com meu suor.

—Eu precisava vir mais cedo, por estar na equipe de organização da feira. — explico mais uma vez.

—Não importa, eu poderia ter acordado mais cedo. — diz manhoso, e eu lhe dou um selinho.

—Não. Temos que dar um pouco de espaço um para o outro;  Estudamos juntos, somos vizinhos. Não quero enjoar da sua cara. — brinco e em resposta Dake revira os olhos, em um gesto rotineiro.

—Você está suada. — ele nota somente agora.

—Estava treinando vôlei. — Tudo bem que ele já havia aceitado minha amizade com Castiel — bem mais do que aceitava a minha com Nathaniel. — Mas, eu não queria contar sobre minhas “lutas”. Era algo nosso, que não queríamos que ninguém soubesse. Era algo que marcava o que tínhamos.

—Não sabia que jogava vôlei. — Dake fala franzindo as sobrancelhas.

—Quantas palavras...Por que não me beija logo, e arrumamos um jeito melhor de ocupar nossas bocas? — indago para mudar de assunto, e Dake gargalha, antes de me beijar com satisfação.

             Ao que parece, as coisas estavam entrando nos trilhos finalmente. Uma semana sem brigas era um recorde para nós. Uma semana com programas de casais, como: Cinema, praia, jantares era realmente um milagre.

   [...]

    Mais tarde naquele mesmo dia, marquei com Peggy para almoçarmos na praia, e ocorrendo mais um milagre diário, ela aceitou sem precisar de muita insistência da minha parte.

          Após nos servimos com um prato leve, acompanhado de um suco delicioso, passamos a conversar sobre o assunto da semana: A "relação não relação" do Castiel e da Lynn.

—Eu acredito que isso possa dar certo. Se você e o Dake deram, não vejo motivos para o Castiel e a Lynn não darem. — essas palavras fizeram com que eu a encarasse sem entender.

—Como assim? — indaguei curiosa.

—Vamos ser sinceras, Florence. Fazem duas semanas que você estão juntos, e Dake ainda não te traiu. Isso pode ser considerado algo inacreditável. — murmura sem a miníma sutileza.

—Você fala como se o Dake fosse um... — ela não deixou que eu terminasse.

—Um galinha, viciado em sexo, e quebrador de corações alheios? Sinto te informar, mas, ele é isso. — diz como se fosse obvio.

—Ele era. — corrijo, sem muita convicção.

—Sério? Acha mesmo que se por um acaso você terminar com ele, e o Dake se sentir frustrado com isso, ele não irá voltar as origens e agir como um babaca? — ela tinha ótimos argumentos. —E se quiser discordar de mim, partiremos do principio que até mesmo, sendo seu namorado, ele tem seus momentos de imbecil. — Por que a Peggy tinha que ser tão sincera?.

—Tudo bem, você não está totalmente errada. — admito, com uma revirada de olhos.

—Eu estou completamente certa. — retruca.

—Podemos dar alguns créditos a ele? Dake está se esforçando. — peço e ela suspira.

—Okay. — fala sem dar importância.

—A parti de que momento isso se tornou uma conversa sobre mim e Dake? O foco aqui é o Castiel e a Lynn. — digo incrédula.

—Desculpe, você e o Dake são muito interessantes, é ótimo critica-lo e ver você tentando criar argumentos inexistentes para defende-lo. — anuncia.

—Você é má. — afirmo.

—Sincera é um termo melhor. — corrige.

              [...]

Alguns dias depois.

                  Algo inacreditável e inesperado aconteceu; Dake e eu completamos e resistimos á  um mês de namoro. Sobrevivemos as  brigas calorosas, aos ciúmes e a nossa total falta de experiência em namoros sérios.

          Outras coisas aconteceram ao longo dos dias; Lynn e Castiel continuaram a se pegar as escondidas, mas, estava bem nítido que ela não estava satisfeita com isso. Só que eu acho que essa situação mudaria em breve, para ser mais especifica, mudaria hoje, na feira dos alunos estrangeiros, em que o Castiel tocaria.

          Peggy e Armim assumiram seu namoro, assim como eu e Dake, e pelo que parecia, as pessoas ficaram mais incrédulas com essa relação, do que ficaram com a nossa. Achei isso engraçado, no fim não era uma competição.

         Dake descobriu que minha tia namorava Faraize, de uma forma engraçada. Digamos que seguindo a pequena tradição diária que criamos, de tomarmos café juntos. O West apareceu as seis da manhã, e  eu não tinha conhecimento que Faraize havia dormido com minha tia nesse dia e foi bem constrangedor nos depararmos com Agatha e ele saindo do quarto dela vestidos de pijamas. Poderia ser pior.

            Parei com minha avaliação do mês, quando avistei um Cupcake coberto por corações, surgir em frente ao meu rosto e sorri.

—Feliz um mês de namoro, Elliott. — Dake falou com um sorriso enorme.

 

Eu estava esperando ele no estacionamento para irmos juntos para feira. Minha tia nos encontraria mais tarde, ela estava bem animada com esse evento.

—Você lembrou realmente? — questionei arqueando uma sobrancelha, e aceitando o “presente”.

—Na verdade...Não! Mas Peggy é uma ótima agenda e calendário ambulante. — ele admite e eu lhe dou um selinho.

—Sobrevivemos um ao outro por um mês. — digo, notando o quão incrível era aquilo. Dake revira os olhos.  — A propósito, tenho um presente também. — falo, tirando o porta retrato da minha bolsa e o entregando.

—Ele tem os dizeres “Amo você” Isso significa alguma coisa? — questiona sério.

—Significa que não havia um com os dizeres “Eu te suporto”...Fique tranquilo quando eu pronunciar as palavras desse quadro, terei certeza disso. — anuncio e em resposta, Dake me beija lenta e apaixonadamente.

—Pronta para irmos? — questiona após mais dois beijos.

—Podemos trocar só mais alguns beijos? — questiono manhosa.

—Sempre temos um carro para isso. — anuncia malicioso.

[...]

      Observei Peggy pedindo — lê-se — ordenando, que Armim a ajudasse a limpar as câmeras que a mesma usaria para registrar o evento de hoje. A ideia dela era entrevistar todos os estrangeiros que viriam representar seu país nessa feira. Como Peggy queria ser o centro das intenções,  fui dispensada dos meus afazeres de "Jornalista". No geral, até gostei disso, seria bom aproveitar a feira sem ter que trabalhar nela.

         Olhando bem, a relação da Peggy com o garoto gamer era engraçada. A pseudo jornalista dava mais patadas nele do que se pode contar, mas ele era tão relaxado que nem ao menos ligava para isso. Peggy era mandona, controladora e tinha um leve talento para o drama, mas Armim não dava a miníma para isso, ele enxergava apenas o que ela tinha de bom; Peggy era leal, quando se tornava amiga de alguém, ela apoiava as pessoas que gostava de verdade, e ela sempre era sincera. Eles eram diferentes, isso é verdade. Mas ele arranjavam um jeito de fazer esse namoro dar certo.

—Por que está olhando desse jeito para os dois? — Lynn se posicionou ao meu lado no corredor,e questionou.

—Eles são incríveis juntos. As brigas deles são as mais ridículas do mundo; Brigam para saber que filme de ficção científica é melhor, para no fim a Peggy pontuar que suspenses é que são melhores de verdade. De um modo estranho, os dois se completam. — comento com um sorriso.

—Ao contrário de mim e do Castiel. Até conhece-lo eu achava que conseguia arcar com um relacionamento sem títulos, mas eu gosto dele de verdade, e é complicado aceitar o fato de que ele não me leva a sério. — as palavras da morena fazem com que eu suspire.

—Castiel notará que namorar você é inevitável, mais rápido do que você imagina. — ela franze as sobrancelhas, mas não me questiona sobre isso. —E se formos falar de complicações, temos que falar sobre eu e o Dake. Nós brigamos umas cinquenta vezes por dia, e eu sou tão louca por ele, que ao invés de parar de falar com ele por algumas horas, que nossas discussões sempre acabam com nós dois nos agarrando. — explico minha situação dramática e ela gargalha.

—Relacionamento quente, hein? — debocha e eu reviro os olhos.

—Você não imagina o quanto. — murmuro, mordendo os lábios.

       Antes que Lynn pergunte sobre issso, a mesma é interrompida quando Peggy se aproxima de nós.

—Seja lá sobre o que falavam antes, parem e foquem em mim; Os estrangeiros são gostosos. Eu vi um americano que me fez chorar. E eu não vou dizer por onde. — Peggy dramatiza se abanando e nós duas arregalamos os olhos.

         É! Eu tinha acabado de encontrar uma falha no relacionamento perfeito da Peggy; ela era nada sútil em relação aos outros caras. Se bem que...Isso não me parece uma falha, se o Armim não liga para isso.

—Peggy você tem um namorado. — a lembro disso.

—Armim quase babou ao ver uma aluna mexicana. Direitos iguais, querida. — diz irônica.

—Uou...Vocês não são normais. — Lynn murmura, me olhando assustada.

—Disse a garota que ficou uma semana se pegando com Castiel, no armário do zelador, achando que ninguém sabia, quando todos tinham o conhecimento disso. — Peggy diz sorrindo amarelo.

—O armário do zelador é muito frequentado. — noto fazendo uma careta.

—Quem nunca teve um momento nele? — Peggy indaga erguendo uma sobrancelha.

—Espera...Vocês sabiam sobre eu e o Castiel? — Lynn só nota isso agora.

—Não que isso justifique algo, mas eu e a Florence somos jornalistas...Alias, não leve isso em conta, qualquer um notava isso. — Peggy fala com descaso.

—Vocês não valem nada, alguém já disse isso a vocês? — Lynn dramatiza, e em resposta Peggy e eu abraçamos ela, sob protestos.

—Sabe, eu não sei porquê, mas sinto que tenho que dizer isso: Eu amo vocês. — falo e elas me olham sorrindo.

—Eu também amo vocês, um pouquinho. —Peggy é Peggy quando diz isso.

—Vocês fizeram com que eu me sentisse em casa aqui, obrigada por isso. Amo vocês. — Lynn murmura.

      E é ai que eu noto o quão sortuda sou por te-las.

[...]

    Vou até Castiel, que montava seus instrumentos no palco, com a ajuda de Dake e cumprimento meus garotos. Meu namorado com um beijo rápido e Castiel com um beijo na bochecha.

—E ai? Como vão os preparativos para o evento? — questiono camuflando minha real pergunta.

—Tudo certo. — fala me olhando com cumplicidade.

—Okay...O que estão escondendo? — Dake questiona desconfiado.

—Você verá. — comento com um sorriso sapeca.

                  Os alunos, junto com familiares e amigos começam a ocupar o ginásio, onde a maioria dos stands culturais já estão montados. Alguns alunos dos outros países já estão posicionados, prontos para falar um pouco sobre os lugares que moram. A diretora se encontram surtada como sempre, enquanto supervisava as coisas com Faraize.

                 Aceno para minha tia, quando a vejo adentrando o ginásio e ela vem até mim.

—Você e o Faraize no mesmo ambiente sem poderem admitir que estão juntos. Isso vai ser tão constrangedor. — anuncio com a voz baixa e ela sorri.

—Você está adorando isso, não está? — indaga.

—Levando em conta todas as situações vergonhosas que passei por sua causa? Sim!. — brinco e ela me abraça de lado.

            Dake começa a conversar com ela, e fica claro que os dois se dão muito bem. Aproveito que eles estão juntos e tenho meu momento de nostalgia ao visitar o stand do Canadá. Abro um sorriso triste, a medida que observo todos os detalhes e características do meu país. Uma das alunas responsáveis por aquele stand, conta algumas curiosidades, e eu noto que ainda sou uma boa canadense, quando constato que já tinha conhecimento de tudo aquilo.

           Engulo as quase lágrimas, quando a diretora sobe ao palco e faz um de seus discursos longos para anunciar o inicio da feira. Assim ela passa a bola para Castiel que é o responsável pela parte musical do evento.

       Querendo ver a reação da Lynn de perto, vou até ela.

—Hum, Hum... — Castiel pigarreia quando está com o microfone em mãos. — Bom, eu sou o Castiel, e esse é meu amigo Lysandre. — fala apontando para o platinado. —Nós tocaremos para vocês hoje. — todos os estrangeiros entendem a mensagem, porque a diretora se certificou que todos os alunos que fossem selecionados para virem falassem nossa língua padrão. — Mas, antes que as músicas chatas comecem... — todos riem e a diretora fica vermelha de raiva. — Eu tenho algo a fazer...Bem...Tem uma garota, e eu gosto dela. — Lynn segurou a respiração naquele instante. — Eu sou péssimo com palavras, mas, tenho um certo talento com a música, então...Essa música é para você. — ele não diz quem é, mas fica claro.

         Logo, Castiel dedilha o violão, e pela primeira vez, ouço sua voz rouca afinada nos presentear com uma canção que diz tudo.

Eu quero levar você em algum lugar.

Assim você saberá que eu me importo.

Mas, está tão frio e eu não sei onde.

Eu lhe trouxe narcisos em uma bela fita.

Mas, eles não floresceram como na primavera passada.

E eu quero beijar você, fazer você se sentir bem.

Estou tão cansado de dividir minhas noites.

Eu quero chorar, e eu quero amar.

Mas, todas as minhas lágrimas tem sido desperdiçadas.

Em outro amor, outro amor.

Todas as minhas lágrimas tem sido desperdiçadas.

         A essa altura Lynn já chorava, como uma criança que se perdeu dos pais no supermercado. Mas, o mais surpreendente em tudo aquilo, é que Debrah parecia abalada ao notar que ela era esse “outro amor”. Em todo caso, não tive pena dela. Se ela quisesse ser uma pessoa melhor, já teria se tornado.

Em outro amor, outro amor.

Todas as minhas lágrimas tem sido desperdiçadas.

Em outro amor, outro amor.

Todas as minhas lágrimas tem sido desperdiçadas.

 

—Então, garota, quer ser minha namorada? — é bem obvio a quem esse pedido se refere, e após um coro de “Aceita! Aceita!” Lynn sobe no palco com toda animação de seu corpo, e beija o ruivo. Assim ele teve um belo sim como resposta.

                  O ginásio explodiu em palmas e assobios. Ambre bufava de raiva e Debrah deu um jeito de sair daqui. Em todo caso, não foquei nos detalhes daquela cena, só fiquei feliz pelos dois.

      Em meio aquele momento feliz, passo a encarar o stand do Canadá novamente, e naquele instante, me permito ter algo que não tenho a muito tempo; Lembranças felizes.

            Lá estava eu, vestindo uma calça jeans e um blusão que eu achava super estiloso na época. Minha versão menor, adentrava a cozinha de sua casa. Larguei minha mochila na bancada da cozinha, quando avistei minha mãe adentrando ao cômodo, descartando suas luvas sujas de barro no lixeiro. Ela já tinha usado aquele par por muito tempo.

           Minha mãe, Mila, sempre fora muito observadora — herdei isso dela — por isso não foi difícil para ela, notar que eu estava animada naquela tarde.

—Chegou mais tarde do que de costume, querida. Aconteceu algo? — ela perguntou com seu sorriso acolhedor e carinhoso de sempre.

            Essa era uma das melhores coisas, chegar da escola e ser recebida por aquela mulher incrível.

—Bom, eu fiz algo hoje. — anunciei fazendo mistério e me sentei de frente para ela, em um dos bancos que faziam conjunto com o balcão da cozinha.

—Tirou uma nota muito boa? Porque isso não seria novidade. — minha mãe diz, antes de me presentear com um beijo nos cabelos. Sorri pelo ato.

—Não. Hoje uma meninas muito más estavam perturbando a Violette, e eu fui corajosa o suficiente para defenda-la, sem usar violência ou coisa parecida. Eu só disse que elas deveriam respeitar mais a situação da Villu, ela perdeu a mãe e isso deve ser terrível. No fim, elas notaram que o que estavam fazendo era errado.  — contei achando aquilo péssimo realmente.

—Estou orgulhosa, isso foi muito bonito, filha. E o que te fez tomar essa atitude? — ela indagou curiosa.´

—É aquilo que eu papai sempre diz; Quando você vê alguém que precisa de ajuda... — antes que eu terminasse a frase, meu pai surgiu na cozinha vindo da sala. Ele ainda carregava sua maleta médica, o que denunciava que ele havia acabado de chegar do seu turno.

—...E você pode ajudar, tem a obrigação de fazer isso. —ele complementa com um sorriso enorme nos lábios. — Minha garotinha é mesmo maravilhosa. — Landon anunciou e sem mais delongas eu corri para abraça-lo. Havia passado horas sem vê-lo, sentia mesmo sua falta.

                  Minha mãe nos olhou sorrindo. E naquele momento eu entendi aquele sorriso como uma forma dela expressar que se sentia sortuda por nos ter.

 

            Eu passei horas terríveis longe do meu pai, naquele dia. Nem imaginava que a dor da saudade de não ter os dois por anos, não podia nem ser comparada. Tudo naquele cenário era incrível. Era real. Era feliz. Era a minha vida. Antes de ser destruída. Antes das partes boas dali serem ignoradas, misturadas com as coisas ruins. Porque foi isso que eu fiz, me neguei a pensar nas coisas boas, pois cada vez que eu fazia isso o sentimento de que eu não as teria novamente me vinha a mente.

            Mesmo sem entender o porquê, enquanto observava aquele stand senti algo parecido com a sensação de casa. O sentimento de lar. Mas algo me dizia que nada tinha haver com aquela estrutura coberta por uma espécie de tenda.

                Antes que eu me aprofundasse naqueles sentimentos, a voz da diretora me desperta do estado nostálgico.

—Florence, será que poderia fazer um favor para mim? — ela indaga com seu tom sério.

—Claro. — concordo sem hesitar.

—Bom, segundo as informações presentes em minha prancheta, ainda falta um aluno estrangeiro para a feira estar completa. Preciso que o encontre, a escola Sweet Amoris está responsável por todos esses adolescentes. Ele com certeza está em algum canto desse colégio. — ela explica porque precisa da minha ajuda.

—E como eu saberei quem é ele? — pergunto sem entender.

—Você é uma ótima jornalista, conhece todos os alunos dessa escola. Saberá quem não pertence a Sweet Amoris, assim que o ver. — a diretora não me dá mais explicações, antes de me abandonar ali.

        Bom, pelo menos ela não está brava com o que o Castiel fez...Eu acho.

     Quando estava pronta para procurar esse tal aluno, eis que uma platinada surge a minha frente.

—Rosalya, precisa de algo? — questiono ao encara-la.

—Não. Escutei o que a diretora te pediu para fazer, e decidi te ajudar. Venha, temos um aluno possivelmente lindo para achar. — sem aviso prévio, ela me puxa pelo braço e assim vamos para o pátio.

              Não encontramos ninguém desconhecido lá, por isso entramos no prédio escolar, e seguimos pelo corredor principal.

—Como vai você e o Dake? — ela indaga a medida que andamos.

—Bem...Digo, damos um jeito de fazer isso acontecer. — falo fazendo uma careta.

—Todos ficaram surpresos quando vocês anunciaram o namoro... Sabe, ele o galinha, você a calada. Eu estava comentando isso com o Leigh e ele me falou algo sobre provabilidades, que eu não entendi bem. — Rosa comentou sorrindo, e eu sorri também, ao saber sobre o que ela se referia.

—Então, acredita em Provabilidades? — Leigh questionou.

—Se eu acreditasse em Provabilidades, nesse exato momento estaria em baixo dos lençóis do meu vizinho idiota...Levando em conta que após anos morando lado a lado, isso não seria improvável de acontecer.

          Sorri ainda mais com a lembrança. No fim, mordi minha própria língua, ao ficar com Dake.

         Estava tão distraída com isso que nem notei que Rosa tinha parado e me puxado junto.

—Acho que aquele é o estrangeiro perdido. Aposto que é americano. — levei meus olhos na direção do garoto que ela fitava, e acho que meu coração parou de bater por alguns segundos. Assim aquela manhã se tornou nostálgica com mais uma lembrança.

                    Nossos pés balançavam, a medida que nós dois sentados perigosamente no telhado da minha casa, dividíamos um saco de cookies de chocolate. Duas crianças agindo como crianças. Sendo imprudentes, mas não notando aquilo por sua inocência demasiada.

                Tínhamos 11 anos, mas costumávamos achar que eramos adolescentes.

—Você viu a Lissye do primeiro ano? Ela está surtando por causa daquele baile ridículo. Quem liga para vestidos longos, e danças lentas? — falei me referindo a uma  garota que pertencia ao grupo do colegial, que vigiávamos no intervalo.

—Toda garota? — Kentin indagou arqueando uma sobrancelha. Revirei os olhos.

—Nem todas. — murmurei me fazendo de diferente.

—Você não quer ir a um baile desses? — ele indagou me desafiando a responder.

—Quero. — admiti — Mas não pelo mesmo motivo deles. Não somos tão crianças quanto nossos pais acham que somos. Sabemos que nessas festas o único interesse das garotas são: Bebidas ilegais e garotos, e o dos garotos: Bebidas ilegais e garotas. —explico revirando os olhos de novo.

             Kentin não gostava quando eu fazia aquilo.

—E por que você quer ir a um baile? — ele não estava fingindo que queria saber. Ele realmente queria.

—Pelo momento. É especial. Algo que só acontece uma vez...Eu quero sentir aquela coisa de: Eu cresci. Quero me encantar ao notar que nessas festas não temos que ir acompanhados dos nossos pais. Eu amo flores, mas nesse dia só quero ve-las na minha pulseira, e no paletó do meu par. Não quero elas na decoração, só quero as luzes coloridas. Quero dançar, e sentir cada movimento, memorizando cada passo, para no fim dizer que aprendi a dançar valsa nessa noite. Não me importo se eu não ganhar a coroa de rainha do baile, só quero tirar uma foto com a minha câmera, na hora em que a garota sorrir pela vitória. Quero estar sóbria para aproveitar cada sensação. E quero compartilhar esse momento com alguém que seja uma ótima companhia. — Kentin fez algo que eu duvidava que pudesse acontecer um dia; Ele deixou seus preciosos cookies de lado.

             Seus olhos verdes me encararam. Naquele momento, ele não pareceu um garoto de 11 anos.

—Flore, você é a garota mais incrível que eu já conheci. A garota mais incrível do Canadá. Qual é! Você dá banho no meu cachorro quando eu estou preguiça. Você sempre enrola meu pai, fazendo aquela carinha de gato de botas, quando ele está prestes a brigar comigo. É você que me diz que tudo vai ficar bem, quando qualquer um debocha de mim, ou até mesmo quando me sinto mal pela Violette. Então...Quer ir ao baile comigo quando tiver 16 anos? — era a proposta mais sincera que já tinha recebido.

—Só se depois que ele acabar, viermos para o telhado e comermos mais um pacote de cookies. — dei minha condição e sorri.

—Combinado. — disse sorrindo, também.

          Apertamos nossas mãos.

       Tantas coisas aconteceram.

         Não cumprimos o trato.

        Deixamos de nos ver.

       ...Até aquele momento.

—É canadense. — corrigi Rosa e ela me olhou sem entender.

—Como assim? Espera, um Canadense reconhece o outro? Tipo um sensor? — ela indagou curiosa.

                Os olhos verdes familiares me notaram e uma enxurrada de sentimentos passou por eles. Kentin não era mais o garoto que eu conheci. Dava dois daquele. Tinha o corpo musculoso, e os traços de homem bem evidentes. O menino dos cookies se transformou.

            Senti um embrulho no estomago e a vontade de chorar veio com tudo. Mas, resisti.

—Não! Eu o conheço. Ele era meu vizinho. — explico, enquanto ele vem em nossa direção.

—Sou só eu que senti que você tem um lance com vizinhos? — ela brinca, mas, não consigo rir.

               Não consigo reagir a nada, quando a minha lembrança mais viva de Canadá aparece em minha frente.

—Hey! Você cresceu. — Sua voz mudou também. Era rouca e serena. Uma contradição linda, por assim dizer.

—É o que acontece quando anos se passam. — falo, sem saber ao certo o que dizer.

—Nossa, sabia que haveriam chances de te encontrar se viesse para Austrália, mas não imaginava que conseguiria. — disse me olhando nos olhos.

—Então é um dos alunos estrangeiros? — indago.

—Na verdade, estou substituindo a Violette. Ela pegou uma virose. Sou um bom namorado. — aquela informação me surpreende.

—Você e a...? — não termino.

—É! Ela é incrível, você sabe.  — fala sorrindo.

—Ela é forte, leal e amorosa. — concordo e complemento.

—Ela parece com uma garota que eu conheci em um natal. Ela adorava flores. — Kentin anuncia.

—Ela as odeia agora. — conto.

—Todos mudamos. — Kentin diz.

—Bom, apesar desse momento estar incrivelmente estranho, receio que temos que o levar para o ginásio agora. — Rosa anuncia ao notar o clima presente ali.

             Concordo, e assim o guiamos até lá. Logo depois dele explica-la, que acabou se perdendo da outra garota do Canadá que veio com ele. Quando chegamos na feira em si, deixo Rosa responsável, por leva-lo até seu stand, e vou até onde meus amigos estão.

—Hey, estávamos procurando você para comentar; Até que seu país é interessante. — Dake anuncia sorrindo.

—É! O Canadá é incrível. — concordo forçando um sorriso.

—É! Mas todos concordamos que a Austrália é melhor. — Peggy diz com sutileza.

—Não seria vocês se não fizessem isso. — falei os olhando.

—É, e concordamos também que essa feira está um saco, e a diretora irá nos liberar daqui a pouco, então que tal finalizarmos o dia em uma Pizzaria? — Armim propõe.

—Ótima ideia! — meu namorado concorda.

—Apoio. — um Castiel abraçado a Lynn fala.

—Por mim, tudo bem. — ela diz.

—Certo, Pizzaria então. — Peggy não espera minha opinião.

             No fim, ela só queria finalizar um dia bom, com uma boa noite. E foi com esse pensamento, que encarei todo  ginásio em busca de Kentin, e o vi me encarando também. As lágrimas voltaram com tudo. Meu coração se apertou naquele instante.

             Então, meus amigos notaram que eu encarava o cara do outro lado, sem o minimo pudor. Eu podia sentir o olhar estranho de Dake sobre mim. Mas eu não me importei.

                  A verdade é que eu não me importei com nada, quando os deixei e praticamente corri até onde Kentin estava. Me vi de frente para ele, pela segunda vez naquele dia.

—Eu te abandonei. Abandonei a Violette. E nunca tive a oportunidade de te dizer; Você era o quase mais provável da minha vida. Porque quando eu imaginava um futuro, você estava incluído em cada parte dele. Te esquecer, foi a maneira mais fácil, de superar o fato de que eu nunca mais seria a Florence inocente que um dia achou que estava apaixonada por você. E quer saber? Se eu tivesse ido ao baile com você, seria incrível. Mas Violette, é o par mais perfeito para você. — as lágrimas já deslizavam por nossos rostos.

               Ele se calou. Naquele momento, seus olhos não expressaram nada.

         Mas, suas mãos sim, pois num gesto rápido, Kentin me puxou contra ele. Enquanto eu chorava em seu peito, ele alisava meus cabelos. Aquele abraço valeu pelos dez que ele me daria, quando meu coração se partisse, até que admitíssemos que queríamos ficar juntos. Porque no fim; Os abraços foram feitos para expressar o que as palavras deixam a desejar.



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