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História Dead Roses - A Serenade for the Dead Roses - Part 1


Escrita por: minklyestaoff

Notas do Autor


Oie oe oe (parei com a piada sem graças). E aí, como vocês passaram, de Natal? Espero que bem e aqui está mais um capítulo da sofrência de "Dead Roses" com um clima um pouquinho mais familiar, mas não menos triste. Link das músicas, para quem tiver interesse, nas notas finais, pois devido a certos "probleminhas" tive que apagar minha conta do 8tracks, mas vou dar um jeito de organizar as músicas que compõem a OST da direitinho. Capítulo dividido em duas partes, pois ele saiu mais de 12 mil palavras.

Boa leitura ^^

Capítulo 12 - A Serenade for the Dead Roses - Part 1


Aeroporto de Sheremetyevo — Sábado — 04h00 (Horário Russo)

Yuri Plisetsky chegou sem menores intercorrências no seu voo sem conexões, abriu a porta da sala de desembarque, quando viu seu avô e seus pais após três anos sem pôr os pés na terra natal, somente falando por telefone ou videochamada.

— Vô! Mãe! Pai! — gritou o russo, saindo correndo para receber o abraço coletivo da família e aproveitou a ocasião para chorar todas suas dores no seio familiar. Finalmente pode, de fato, compartilhar seu luto com a família como deveria.

— Chora, chora tudo que você tem que chorar, Yuratchka! — disse o pai do cantor, emocionado com a situação.

— Sinto muito pela sua perda, Yuratchka. Eu entendo, pois quando eu perdi minha melhor amiga, a sua avó, doeu e, na verdade, dói até hoje… mas dê tempo ao tempo para tudo passar. Tenta pensar nos bons momentos que você teve com o Yuuri. — o cantor não chegou a conhecer a avó, falecida por causas naturais durante as semanas finais da gravidez da mãe do homem.

— Como o seu avô disse, lindeza, não tenta pensar nos momentos terríveis que você passou naquele hospital, tenta pensar em quando você trouxe ele para conhecer a gente. Ele estava tão feliz, filho! É esse sorriso dele que você tenta pensar sempre que a saudade bater e, como seu avô disse, não apresse o tempo Yuratchka. Viva cada etapa do seu luto com o seu tempo. — consolou a mãe, também emocionada pelas lágrimas do filho. — Vamos para o estacionamento? — Yuri concordou acenando positivamente com a cabeça.

XxxX

Dentro do carro moderno, fruto do trabalho duro de Yuri ao enviar dinheiro para sua família, os pais e o avô do cantor ouviam atentamente os desabafos do homem, principalmente os sobre os anos terríveis na ex-agência, mas ao mesmo tempo eles também tentavam de todas as formas distrair as dores do filho e neto: desde o resgate de lembranças positivas, passando pelas boas novas que não puderam ser contadas à distância, até falar sobre assuntos aleatórios. A família Plisetsky morava duas horas de carro do aeroporto, em uma mansão localizada em uma área nobre de Moscou — a primeira coisa que Yuri comprou com os primeiros milhões resultantes do seu trabalho como idol.

— Ah, mudando de assunto, convidei o Nikolai e todos os seus amigos do seu ex-curso de japonês, o Dimitri mais aquela sua amiga japonesa imigrante, a Miu, e aqueles seus amigos lá da sua ex-banda de Visual Kei, a Yulia e o Mikail para almoçarem aqui em casa, por mais que eu ainda ache eles todos muito esquisitos. — avisou a mãe de Yuri.

— Mãe… você, o pai e o vô não existem! Muito, muito obrigado, gente!

— Ah, e a sua mãe convidou o Otabek, tem algum problema? — comentou o Senhor Ivan Plisetsky, pai do cantor.

Ivansha, pelo amor! O Yurachka terminou com o Otabek em bons termos e há um bom tempo. Eles são só amigos atualmente. Esqueceu da videochamada que ele comentou que o Otabek até já conheceu o Senhor Kenjirou Minami? — respondeu o avô de Yuri.

— Quando o Otabek ganhou na loteria e foi para Tóquio? — perguntou o pai de Yuri.

— Não, pai! É que você não estava quando eu liguei para a mãe e o vô em Hastesu. Quando eu e o Kenji ainda não tínhamos oficializado nosso namoro, eu fiz uma videochamada com o Otabek e eu estava na casa do Kenji, então o Beka conheceu ele e eles se deram muito bem, por sinal. Ele ainda não é tão próximo do Kenji pelo jeitão dele, sabe?! Mas algo me diz que assim que eles se conhecerem… eles vão se dar melhor ainda do que na videochamada. — comentou Yuri, um pouco mais animado.

— E falando em Hasetsu, Japão, quando é que o Senhor Kenjirou Minami virá para Moscou, para finalmente conhecermos o homem que roubou o coração do nosso Yurachka e provar dos meus famosos pirozhki?

— Assim que a gente voltar de Okinawa, o Senhor Kenjirou Minami provará dos pirozhki do Senhor Nikolai e Senhora Lena Plisetskaya. — respondeu Yuri para mãe, utilizando seu famoso senso de humor distorcido.

Em um país onde o governo tem incentivado o extermínio da população LGBT , Yuri Plisetsky agradecia diariamente por ter uma família acolhedora, bem resolvida e totalmente tranquila em relação a sua bissexualidade. Volta e meia, lembrava de quando contou sobre sua sexualidade para os pais e o avô, aos dezesseis anos, mais as reações deles na época:

“— Grande bosta, já fez seu dever de casa hoje?” — reagiu o pai.

“— Yurachka, o gênero de quem você namora ou deixa de namorar não é importante. Para nós, o que importa é se essa pessoa te fará feliz. Se ela te fará feliz, quem somos nós para irmos contra a sua felicidade?” — respondeu a mãe.

“— Infelizmente eu aprendi da pior maneira, através do terrível assassinato do seu tio Afon, que você só conheceu quando era bebê, que todas as formas de amor são justas e eu não vou repetir o erro. Yurackha, eu, sua mãe e seu pai amamos você pelo que você é, não por quem você escolheu se apaixonar.” — reagiu o avô, emocionado, e deu um caloroso abraço no neto.

O avô de Yuri, no passado, não aceitava a homossexualidade do próprio filho, fato que fez ele ficar brigado com a filha, o genro e até com a própria esposa durante muito tempo, até a vida desconstruir sua homofobia da pior maneira possível: através da dor, pela perda do filho amado, assassinato por um grupo neonazista e como o Governo aplaudia as ações desse tipo, eles não puderam fazer nada. Além desse baque, os Plisetsky também pagaram por um alto preço por defender a felicidade do filho: perseguição dos vizinhos, apelarem para um parente distante ensinar defesa pessoal para Yuri, ameaças de morte, livrar o filho e o neto amado de uma tentativa de internação compulsória pelos vizinhos perseguidores.

Depois do lamentável ocorrido, a família mudou-se para um bairro mais “tranquilo”, porém eles sabiam que a “recepção tranquila” era apenas tolerância, porque os pais do cantor eram donos do único mercadinho de importados dali e por lá ficaram até Yuri a lucrar de verdade como idol e tirá-los daquele local. Após comprar a mansão em um bairro nobre, com mínimo de contato com a vizinhança, mais o carro, Yuri comprou também uma casa de câmbio e um restaurante quase falidos para a família gerenciar. Atualmente, a casa de câmbio dos Plisetsky é uma das multinacionais mais bem-sucedidas do país e o restaurante do avô de Yuri é um dos mais renomados de toda Rússia.

Já a relação de Yuri com Otabek Altin era um pouco mais complexa: amigos desde os tempos de colegial, ele também foi o primeiro namorado sério de Yuri. O relacionamento durou um ano e dois meses e o motivo do término foi as fases diferentes que eles passavam na época, no auge dos seus dezoito anos de idade: Otabek queria fazer faculdade de engenharia mecânica, continuar a trabalhar como garçom de meio período e alguém para crescer junto com ele em Moscou. Yuri queria o Japão e o mundo através da sua música. O término foi de comum acordo, sem brigas e continuaram muito amigos depois, tanto que Otabek infelizmente virou pivô de términos de relacionamentos anteriores de Yuri, que não conseguiam compreender a possibilidade de ser amigo do ex, sim.

Era por isso que Minami era tão especial para o cantor: ele foi o primeiro namorado a aceitar a amizade dos dois sem problema algum e a se dar bem, de fato, com Otabek.

Os Plisetsky continuaram a conversa no carro até:

— Falando em pirozhki, agora que você está numa gravadora mais tranquila, a dieta maluca que a tua antiga gravadora obrigava você a fazer acabou, né?! — o cantor teve a vontade de fechar a cara com a observação do avô. Obviamente ninguém da família de Yuri sabia da anorexia do homem, pois ele disfarçava-a da pior maneira possível: como seus pais e seu avô estranhariam o homem só tomar sucos, sopas não-calóricas e água, Yuri comia a comida e assim que terminava de comer, ele falava que iria para o quarto fazer uma sesta, porém, na realidade, o cantor ia até o banheiro da suíte do seu quarto para forçar o vômito de toda a comida ingerida.

“O vô está certo, por um lado. Finalmente eu trabalho no que eu amo, estou em uma gravadora que não dá uma foda para o meu peso, meu namorado muito menos, mas… eu não me sinto bem gordo. Eu estou gordo, Yuri Plisetsky, e enquanto eu não emagrecer, eu não posso comer tudo o que eu quero. Não, cocaína, não! A cocaína era somente um auxiliar para suportar aquele inferno e a fome da dieta, agora que passou, eu não preciso mais. Trouxe Valium e Ritalina suficientes para suportar bem e suprir a cocaína. Depois que meu corpo não precisar mais de Valium e Ritalina, eu estou totalmente limpo. Eu posso parar a qualquer hora.” — pensava Yuri para depois responder — Sim e… como estão os negócios na casa de câmbio, mãe? — desviou com sucesso o assunto “comida”.

“Ah, como é muito mais fácil não pensar em comida quando você está com amigos, bêbado, ou até… Não, Yuri, cocaína, não!” — e para “melhorar a situação”, tocava de trilha sonora na rádio do carro:

(…) Quando o seu dia acaba

E você quer escapar

Cocaína…

Ela não mente,

ela não mente,

ela não mente.

Cocaína (…)”

(Eric Clapton — Cocaine)

Após uma hora de carro, os Plisetsky finalmente chegaram em casa. Yuri sentia um nostálgico reconforto, mas, ao mesmo tempo, uma certa melancolia, pois a última que veio para Moscou foi com Yuuri Katsuki, três anos atrás. Só de lembrar o falecido ator elogiando a casa do cantor, tinha vontade de chorar, porém preferiu segurar as lágrimas.

— Meu netinho, não precisa segurar suas lágrimas, pelo seu olhar dá para ver que você sente muita a falta do Yuuri. — o cantor deu um abraço forte no avô, que durante um bom tempo confortou a dor do neto, com direito a disfarçar o próprio choro junto. Enquanto a mãe e o pai acarinhavam o filho em lágrimas disfarçadas também.

Quando Yuri parou de chorar e soltou-se do abraço do avó mais os afagos dos pais, eles avisaram que iriam apenas terminar de ajeitar algumas coisas na garagem e mandaram ele entrar. O cantor tirou os sapatos, colocou-os no lugar adequado, calçou as típicas pantufas russas, destrancou a porta, abriu-a, ligou a luz para trancá-la de volta, guardou as chaves no bolso, andou até a cozinha, porta aberta e quando ele ligou a luz:

(…) A dança de um corpo que é além da salvação, é bonita como Serimiramis (…)”

Yuri Plisetsky apenas completou o cantar daquele coro tão especial:

(...) Enquanto os fluídos internos dos nossos corpos estão desordenados, você se rende para mim

Seria ótimo se pudéssemos fazê-lo em cima do Santo Graal

Mágico ou gratificante. Comunhão com Nimrod (…)” — cantou o coro especial junto com Yuri o último verso de Illuminati, sua música favorita da legendária banda de J-Rock e uma das pioneiras em popularizar o Visual Kei, Malice Mizer.

O cantor não conseguia segurar a emoção: ver os velhos amigos junto à família, a boa vontade deles de fazer uma “festa café da manhã”, com os pratos favoritos do cantor, os amigos cantando a música favorita dele do Malice como boas-vindas. Yuri desabou no choro do abraço coletivo e nas condolências deles pela perda de Yuuri… Ah, como sentia falta de estar literalmente em casa, mas, ao mesmo tempo, o cantor também sentia-se indigno daquela recepção e comemoração toda:

“Se vocês soubessem da verdade, vocês não estariam aqui comigo. Eu sou o pior amigo do mundo, a pior pessoa do mundo. O Yuuri com certeza me odeia, onde quer que ele esteja. Eu matei ele a partir do momento que entreguei aquele maldito pacote contendo cocaína para ele. Como eu queria voltar no tempo e não fazer o que fiz. Voltar o Yuuri para aquele Yuuri saudável dos tempos de trainee e onde apenas eu era o bosta total, sem arrastar ninguém comigo.”

Após o abraço, todos se sentaram na mesa e passaram a comer os pratos e guloseimas. Yuri não sabia o porquê uma lágrima caiu após “comer” vários pratos típicos que não comia há tempos, como kacha, oladi, blini, syrniki, zapekanka de tvorog, chá à moda russa, mas sabia de uma coisa: líquidos não-calóricos nunca serão melhores do que a comida caseira da sua mãe, seu pai, seu avô e seus amigos. Por outro lado, todos sentados à mesa estranharam o jeito do cantor comer: quase passando mal de tanto comer, como se não tivesse comido há semanas ou talvez meses; tanto que a Senhora Plisetsky perguntou:

Yurachka, você tem comido bem no Japão? Você está bem?

A pergunta fez Yuri praticamente gelar naquela mesa, porém rapidamente pensou em uma justificativa:

— A minha agenda no Japão era tão corrida que nem dava tempo de eu comer direito ou até mesmo tomar café, aí eu tomava água. Mas agora, estou conseguindo comer direito. — respondeu ele, internamente bem desconfortável com o assunto.

— Céus… ainda bem que você saiu daquele inferno, cara! Ninguém diz que por trás do idol Yurio, amado por todos, havia um Yuri Plisetsky louco para se libertar, apenas esperando o momento certo. — refletiu alto o engenheiro mecânico especializado em motocicletas Otabek.

— Só de você estar com a sua aparência de verdade, Yura, e sem aquele teu empresário vigiando você e o Yuuri, ligando para vocês de dois em dois dias, é algo libertador. — comentou o advogado Dimitri Orlov.

— Dimitri! — ralhou Miu com o amigo — Me desculpa, Yura, a gente fez uma promessa de não tocar no nome do Yuuri para você não ficar triste, mas…

— Miu, galera, obrigado por tudo, mas pensando melhor… pelo que a gente conheceu do Yuuri, onde quer que ele esteja, ele não ficaria feliz da gente lembrando dele com pesares e lágrimas. Ele com certeza gostaria de ser lembrado com muita alegria, pois foi o que ele deixou aqui, não foi?! — surpreendeu o cantor.

— É, você está certo. Como daquela vez em que a gente tentou ensinar o Yuuri a beber à nossa moda e nem precisou? Confessa, vai, Senhor Yuri Plisetsky, você treinou ele lá no Japão antes de vir para cá, né?! — provocou de brincadeira a professora de japonês, imigrante naturalizada russa.

— Senhora Miu Kareshima, caso você tenha esquecido, Senhor Yuuri Katsuki veio de uma família hoteleira lá do interiorzão do Japão. Portanto para quem dominava a arte de virar uma garrafa de saquê tranquilamente, beber vodca à moda russa é fichinha. — comentou Yuri utilizando seu peculiar senso de humor sarcástico, arrancando risos de todos.

— Vocês se lembram de quando o Yuuri foi com os meus tios aprender tiro, aí ele se assustou com o barulho e saiu correndo? — relembrou aos risos o comerciante, dono de uma loja de instrumentos musicais, Mikail Nikulin.

— Meu, eu me lembro disso, tadinho! Mas a cena mais épica das “Aventuras de Yuuri Katsuki na Mother Russia” foi naquele feriado de Ano Novo, quando a gente deu a louca de subir na minha caminhonete e ir até Kraskovo acampar, lembram?! A gente foi nadar num lago ali próximo, o Yuuri tinha acabado de sair de lá e aí quando ele começou a andar até o Dima para pegar as roupas dele e vestí-las, apareceu do nada aquele javali querendo dar chifrada nele. Desculpa aí, gente, mas o Yuuri nu, correndo e gritando para caramba no pasto do lago por causa do javali foi hilário! — recordou a mecânica Yulia Pietrova, fazendo a mesa inteira dar altas risadas.

— Como não lembrar de Yuuri Katusuki correndo do javali bêbado, peladão e berrando em japonês “Socorro, socorro!”? Meu, aquela cena foi épica! A gente ri agora, mas na hora deu o maior desespero, véi! Eu tive que atirar um dardo tranquilizante para o bichinho parar, coitado. — relembrou o “que a profissão não deve ser citada em público”, traduzindo garoto de programa que trabalha para a parte LGBT da Máfia, Nikolai Fiedorov.

Eles continuaram a rir, a conversar, relembrar os velhos tempos, contar as novidades, entretanto aquela parte do cérebro de Yuri dominava seus pensamentos:

“Faz vinte minutos que você comeu e foram três mil e quatrocentas calorias de uma vez, Yuri. Portanto se eu ficar mais tempo aqui, tudo que eu comi fará a digestão completa e vou engordar ainda mais. Não, não e não! Tenho que sair daqui é agora e dar um jeito nisso e droga… os tremores e a “fissura” estão voltando! Tenho que sair daqui.” — logo em seguida, anunciou:

— Gente, o papo está ótimo, você vão me desculpar, mas o jet lag está batendo e… — foi interrompido por Nikolai.

— Relaxa, vai dormir e lembre-se: você não está em Tóquio para seguir um ritmo alucinado. Você está na sua casa em Moscou e temos todo o tempo do mundo, tá.

— Mata saudades do seu quarto, Yurachka, descansa bem, pois, de tarde, teremos um almoço bem especial comemorando sua volta. A mãe e todo mundo que está aqui te ama!

Yuri deu um sorriso, agradeceu pela comida e foi para o quarto.

Lá dentro, deitado em cima da cama, o cantor abraçou seus gatinhos de pelúcia, presentes dos fãs nos tempos de idol, quando a antiga agência despachava eles para a casa por falta de espaço no seu apartamento. Em seguida, segurando um deles, andou até a sua coleção de CDs e achou uma relíquia de grande valor sentimental: o primeiro CD cujo cantor comprou na vida, Bleach, o primeiro álbum da famosíssima banda que alguns ainda insistem em dizer que é marca de roupas, Nirvana. Ligou o mini system e colocou o CD para rodar.

Enquanto Kurt Cobain gritava que era um “estanho negativo”, Yuri Plisetsky botava toda a comida para fora no banheiro de suíte, através de um vômito autoinduzido por um dedo na úvula e após vomitar tudo o que comeu e bebeu, tomou seu Valium com Ritalina para não pensar em cocaína. Na verdade, o cantor até armou algumas carreiras de cocaína, mas desistiu quando teve a mesma visão em Tóquio, de si mesmo morto pela droga. Aproveitou que já estava no banheiro para tomar um bom banho e ao som de Big Cheese, o cantou lembrava do namorado, exatamente o quanto ele adorava transar ao som dessa música. Lembrava dos beijos calorosos do tatuador, os toques, as sensações de prazer que seus corpos sentiam quando se fundiam em um só, como se o corpo de Kenjirou Minami fosse uma extensão da sua própria alma e corpo. Depois, Yuri passou a imaginá-lo ali, naquele instante junto a si, novamente a beleza de vestir, despir e apreciar a obra de arte que era a nudez dele, os beijos, os toques, os carinhos mais íntimos, os momentos únicos deles no ápice da privacidade deles, os gemidos, palavras sensuais, declarações de amor misturadas, combinadas.

— Kenji… ah… Kenji! Eu te amo, Kenji, ah… eu te amo! Eu te amo… com toda a minha alma! Kenji… — o clímax veio, de maneira explosiva, franca e quando Yuri menos percebeu, o próprio gozo já estava nas águas da banheira. Saiu do local, mandou a água suja ralo abaixo, terminou de tomar banho, enxugou-se, colocou um pijama quente e foi dormir, cujos sonhos eram novamente com Minami.

A família e os amigos de Yuri nem ligaram, pois sabiam do hábito do homem dormir com o som ligado.

Após várias horas de bom sono, Yuri acordou. Estava todo melado, pois teve um sonho erótico com o namorado, retirou as partes debaixo do pijama, colocou-as na cesta de roupas sujas, depois retirou a parte de cima do pijama e teve uma ideia: pegou uma tiara com orelhas de tigre, tirou fotos eróticas amadoras no celular e mandou-as para o LINE do namorado com a seguinte mensagem no chat privativo do casal: “Sinto sua falta, gatinho arisco! Como você vai cuidar do seu tigrão?”.

De banho tomado, Yuri trocou de roupa, trocou o CD para a raríssima demo antes da estreia da banda norte-americana de Nu Metal Slipknot, chamado Mate, Feed, Kill, Repeat. Detalhe: demo original e autografada pela própria banda, quando ele foi para o primeiro de vários Knotfest, já como idol. Ainda se lembrava da surreal sensação de ter conhecido a sua banda favorita do estilo, na época, mais as fotos e todos os CDs autografados. Nunca imaginaria que, anos depois, teria intimidade com eles a ponto de sair de rolê com eles em Tóquio e trocar mensagens no LINE. Além de pensar em quantos ídolos de puberdade e adolescência conheceu com a fama e conseguiu manter uma boa relação, mesmo sendo um idol.

“Realmente, você chegou muito longe, Yuri Plisetsky!” — pensava o músico, enquanto ouvia sua música favorita do álbum, Slipknot, quando ouviu a porta bater:

— Pode entrar, a porta está destrancada! — gritou o cantor.

Yuri ficou espantado pelos seus amigos segurarem garrafas e mais garrafas de vodca, uísque e cervejas. Apenas perguntou:

— E os meus pais e o vô?

— Eles tinham afazeres na caixa de câmbio e no restaurante a fazer, então vamos relembrar nossos tempos de adolescência, onde a gente bebia e fumava escondido para cacete no meu antigo apartamento? — sugeriu Nikolai.

— Opa, esse tipo de coisa nem precisa pedir, né?! — respondeu Yuri para o melhor amigo, apenas terminou de trocar de roupa, passar um perfume, pegar suas coisas e ir.

XxxX

Nikolai vivia em uma casa de médio padrão no centro de Moscou, puro disfarce para ocultar o quanto era rico com as suas atividades ilícitas, e dentro do quarto, eles curtiam a volta de Yuri como queriam de verdade: com muita bebida, música, conversa jogada fora e com direito ao cantor reviver momentaneamente a banda de Heavy Metal que tinha com Mikail e Yulia na adolescência, chamada RISK:er, fortemente influenciada por JRock, J-Metal, Grindcore, Thrash Metal, Nu Metal e Power Metal. Se pudesse, colocaria todas as pessoas por quem possui afeto ali e as colocaria naquele momento, cantando sem nenhuma preocupação, somente sua voz, o violão e suas pessoas queridas, para sempre.

(…) Amor sem forma mudando dia a dia

O tempo passa

Vamos ficar assim, tendo sonhos que não conseguiremos alcançar

Longa estrada que nos leva para a montanha calma

Eu me vou, deixando minha tristeza para trás

Boa noite…minha amada

Meu último paraíso (…)”

(Last Heaven — the Gazette)

— O Yura nasceu para o sucesso, né?! Infelizmente, para nós, a banda foi apenas uma diversão que se revelou inviável na nossa vida adulta, mas você se lembra da promessa que ele fez para nós, Mika? — cochichou Yulia no ouvido do amigo, enquanto Yuri entonava os últimos versos da canção.

— Claro que eu lembro, a promessa de realizar nossos sonhos de alcançar o sucesso através da música. O Yura pensa que só conseguiu realizar esse sonho agora, mas mal sabe ele que, apesar dos pesares dos tempos dele de idol, quando ele tirou a família dele do sufoco, cantou Tears com Yoshiki e LILIA com o Subaru, ele já realizou nossos sonhos e ainda foi além. Ele finalmente quebrou as correntes e permitiu-se ser o que sempre foi: um artista completo. — respondeu Mikail, com lágrimas nos olhos.

(…) Se sou capaz de te encontrar novamente algum dia, quero lhe dizer:

Não importa quão alto fosse o muro, nós o ultrapassávamos”

Obrigado, você pode dormir agora, porque posso caminhar por mim mesmo”

O sonho que nós dois sonhávamos, transforma-se para a chave para o coração

Certamente, algum dia, trarei o amanhecer para o céu noturno (…)”

Todos os presentes no local, inclusive o próprio Yuri, choravam ao ouvi-lo cantar Serenade, da renomada banda de JRock Versailles Philarmonic Quintet. A emoção não era somente pela melancólica letra da música em si mais o significado por trás dela — homenagem ao falecido baixista e eterno integrante Jasmine You —, aquela era também a canção favorita de Yuuri Katsuki e Yuri Plisetsky de todas da banda. Não havia como não se emocionar durante e principalmente após o final da canção, onde todos fizeram um minuto de silêncio pelo falecido.

— O Yuuri amava tanto essa música… por quê? — questionava-se Miu com um tom de voz choroso de lamento.

— Tem coisas que é melhor não se perguntar, o melhor é aceitar e guardar as boas lembranças enquanto o Yuuri esteve vivo. O ator formidável, que, com certeza, será influência para algum ator ou alguma atriz da nova geração, o homem inteligente, fascinante e único que deixou tantas lembranças nos nossos corações. — comentou Otabek, enxugando as lágrimas, para depois começar a cantar os primeiros versos de Helios, famosa canção da banda de JRock Manterou Opera, acompanhado por Yuri e os outros em um coral até afinado. Em seguida Yulia e Mikail voltaram para os instrumentos e reviveram os tempos de início de banda, em que apanhavam para conseguir tocar as músicas da aclamada banda de J-Metal — especificamente Power MetalGalneryus de forma aceitável, como United Flag, Struggle For The Freedom Flag e Rebel Flag. Saudades de tempos que não voltam mais!

Um bom tempo passou e eles continuaram a tocar, conversar, curtir um som, beber, fumar um pouco de maconha, dar uma volta por aí, voltar para a mansão de Yuri (ainda sem os pais e o avô), apresentar o estúdio após a reforma, recomeçar a tocar, conversar, cantar, reviver, criar lembranças… Yuri Plisetsky realmente precisava da sensação de “lar doce lar”, que só a fria Moscou poderia lhe dar.

(…) Quero ouvir o seu choro mortal

Sim, vocês não estão ouvindo?

Terremoto “Califórnia” virá aqui

Ninguém pode parar o desastre

Mas eu sou o único (…)”

Cantava Yuri os versos da pesada canção Megalomania (Herbert Mullin) da banda de J-MetalStoner RockChurch of Misery, pois a banda era também famosa pelas músicas temáticas sobre famosos assassinos em série ao redor do mundo e continuaram a reunião normalmente.

XxxX

Aeroporto de Sheremetyevo — Sábado — 23h20 (Horário Russo)

Kenjirou Minami estava sentado na área de desembarque, utilizando um disfarce por motivos óbvios e respirava fundo, pensando em como dar a notícia para o namorado, principalmente após ver as fotos que Yuri mandou e ter respondido qualquer coisa dentro do contexto delas. Depois, enviou uma mensagem para Lisa, que chegou às 20h00 (sendo muito bem acolhida pelos amigos de Viktor mais os amigos dele que estavam na Convenção e puderam ir para lá de imediato), seus outros amigos mais os amigos de Viktor, avisando que já chegou em Moscou.

“Respira fundo… e vai” — pensou o tatuador. Pegou o celular e ligou para Yuri através do LINE. Ao quarto toque, ele atendeu:

— Oi, amor, tudo bem?! Como estão as coisas aí na Convenção? — Minami se segurava para não chorar, diante do tom de voz alegre do namorado. Respondeu.

— Então… eu não estou na Convenção. Estou dentro da área de desembarque do aeroporto de Sheremetyevo, porque aconteceu algo gravíssimo. Vou pegar um táxi para me levar até sua casa e…

— Não, não precisa. Estou aqui com o Nikola, o Beka, a galera toda e a gente vai para o aeroporto te buscar agora. Fica aí. Até, gatinho arisco! — avisou o namorado com um tom de voz bem preocupado.

— Ah, estou com o mesmo disfarce de quando a gente se despediu lá em Tóquio. Te amo, gatinho fofo! Até! — finalizou Minami e desligou. — “Me desculpa por estragar este final de semana tão importante para você, amor…” — pensava Kenjirou, enquanto chorava com o rosto escondido entre as mãos e aguardava o namorado vir.

XxxX

— Ah, gatinho fofo! — tentaram descontrair os amigos de Yuri, após ouvirem a conversa entre eles através do viva voz no celular do cantor.

— Desculpa, gente, mas isso não é hora para tentar brincar.

— Relaxa, é a gente que tem que pedir desculpas, cara, foi mal. Com certeza é algo muito sério, o Minami nem fez questão de falar com a gente, coisa que ele certamente faria se estivesse bem. — comentou Dimitri, enquanto saíam do quarto e andavam rumo a porta da mansão.

— E outra, vocês repararam no tom de voz dele? Cara, deve ter sido algo bem sério. — disse Yulia.

— Nem é questão de tom de voz ou algo do tipo. Pensem, para o cara vir lá do Japão só para falar com você, Yura, pessoalmente, é porque aconteceu algo grave, mas muito grave mesmo. — acrescentou Otabek, enquanto eles aguardavam, no lado de fora da mansão, Yuri tirar o carro da garagem.

Para distrair um pouco, Altin resolve mexer no celular e ao acessar o Facebook e vê a notícia:

Gênio da fotografia Viktor Nikiforov morreu aos vinte e sete anos. Assim como Kurt Cobain, Viktor sofria, calado da mídia, de uma depressão profunda em tratamento desde os dezenove anos de idade. Entretanto, ele não resistiu e se matou, jogando-se nas águas da paradisíaca ilha brasileira de Fernando de Noronha. O inquérito já foi concluído, pois o motivo do suicídio era explícito em sua carta de despedida: ele não aguentou o tormento da doença, a perda da família e a perda do ídolo que, uma vez, salvou sua vida, Yuuri Katsuki. O advogado de Viktor Nikiforov já cuidou de toda parte jurídica mais o translado e a previsão de chegada do corpo em São Petersburgo, cidade onde o fotógrafo nasceu e viveu até os dezenove anos de idade, está para as 04h00 da terça-feira.

A temida “maldição dos 27” fez mais uma vítima?”

Ele mostrou a notícia para os amigos e eles compreenderam de imediato a vinda repentina de Minami para Moscou. Todos queriam chorar a perda do amigo querido de Yuri e principalmente poder contar para ele, porém todos decidiram que o melhor era o namorado do cantor falar. Por isso, quando entraram no carro eles fizeram de tudo para não fazer Plisetsky perceber o que acontecia: cantaram várias canções junto com ele e jogaram muita conversa fora durante o caminho até a chegada no aeroporto.

Dentro da área de desembarque, todos viram Minami disfarçado, mas preferiram dar “oi” de longe para ele e deixá-lo a sós com Yuri. O abraço apertado entre eles era o sinal de que aquele momento difícil, por enquanto, era só deles.

A hora chegou.

— Kenji, vou ser direto, o que aconteceu?

O tatuador não conseguiu segurar as lágrimas e falou:

— O Viktor… — respirou fundo e continuou — o Viktor infelizmente morreu, quer dizer, ele se matou. Ele foi para o Brasil justamente para se jogar nas águas de lá. Segundo o que os amigos dele me contaram pelo telefone e depois por mensagens no LINE, desde que o Viktor veio para Tóquio, ele fazia tratamento contra uma depressão profunda; fora o que ele sofreu no passado e falou sobre isso em várias entrevistas. É… assim como você, eu também fiquei chocado quando soube que ele sofria de depressão. Yuri, ele era tão alegre, aparentemente tão forte. Aquelas palavras dele na nossa despedida não era apenas um momento poético que deu na cabeça dele. — Kenjirou mostrou para o namorado a foto da carta de suicídio de Viktor que Georgi, o amigo do fotógrafo que foi para Fernando de Noronha junto com o advogado, enviou para o tatuador através do LINE — Sim… aconteceu de novo, mais um pedido de socorro que a gente não percebeu. Por que, por quê? — Minami chamou os amigos de Yuri através de um gesto com o braço.

Eles imediatamente correram em direção ao casal e deram um forte abraço coletivo (pouco tempo depois, a família Plisetsky chegou, avisada por Nikolai), finalmente soltando as lágrimas contidas há tempos junto com Minami e Yuri, devastados pela notícia.

A dor de perder mais um amigo para o seu pior inimigo: ele próprio.


Notas Finais


~ Glossário da tia minkE:
* Yuratchka, Yura, Dima etc: são apelidos russos parecidos com o sentido aproximado de diminutivo no nome. Quis manter no original para demonstrar que todo mundo está falando russo, até o Minami chegar.

* pirozhki: pãezinhos fritos ou assados recheados com vegetais, carne (e katsudon também xD);
* kacha: cereais cozidos no leite, basicamente;
* oladi: panqueca feita à moda russa. Ela é menor, porém muito mais grossa do que uma panqueca normal, a grossura dela é quase a de uma panqueca americana bem generosa na massa;
* blini: outra panqueca à moda russa, porém bem mais fina do que oladi, quase da mesma grossura de uma panqueca normal e a massa leva aveia e cevada durante o preparo;
* syrniki: panqueca doce de queijo;
* zapekanka de tvorog: bolo doce de ricota russa (tvorog);
* chá à moda russa: esse link explica direitinho como é servido chá no país http://gazetarussa.com.br/arte/2014/01/02/conheca_a_tradicao_russa_do_cha_17075

* "Senhor Fulano de Tal", "Senhora Fulana de Tal": Não sei se vocês sabem, mas na Rússia, os nomes são feitos da seguinte forma - nome + patronímico (nome ou apelido de família, cuja origem vem do nome do pai, no caso do russo) + sobrenome e quando você não tem intimidade com alguém lá, você tem que chamar a pessoa pelo nome mais o patronímico. Em um contexto formal, isso é aproximado do nosso "Senhor Fulano de Tal" e há um detalhe: como estrangeiros, no geral, não possuem patronímico, os russos quando tem que se dirigir a eles de maneira formal, eles geralmente utilizam o pronome de tratamento "Senhor" ou "Senhora" em russo mais o nome da pessoa. Então tomei a liberdade de poder "brincar com isso", usando a domesticação do conceito para o português. Ou seja, as cenas em que o Yuri, a família dele brincam de "Senhor Fulano de Tal" entre eles, é como se eles estivessem falando o nome com o patronímico. Agora quando eles se referem ao Minami é do jeito formal mesmo para estrangeiros e a Miu (mesmo ela sendo naturalizada russa criança, a Miu é uma imigrante japonesa, portanto ela não tem patronímico) mais o Yuuri é mais zoeira com o tratamento formal mesmo da parte do Yurio. Este link explica direitinho como funciona os nomes russos: http://www.sorusso.com.br/conteudo/nomes.php

~Links das músicas:
* Cocaine - Eric Clapton: https://www.youtube.com/watch?v=qYS732zyYfU
* Illuminati - Malice Mizer: https://www.youtube.com/watch?v=4LUAaEd359M
* "estranho negativo", referência a "Negative Creep" do Nirvana: https://www.youtube.com/watch?v=-5ijtz6Du_s
* Big Cheese - Nirvana: https://www.youtube.com/watch?v=pVWmCjH8m2Y
* Slipknot - Slipknot (Mate, Fate Kill Repeat): https://www.youtube.com/watch?v=z9dcrbf6Yn8
* Last Heaven - the Gazette: https://www.youtube.com/watch?v=ItUCyJqS6r8
* Tears - X-Japan: https://www.youtube.com/watch?v=tTNybXzqb-g
* LILIA - Royz: https://www.youtube.com/watch?v=5PfLzomxnvU
* Serenade - Versailles: https://www.youtube.com/watch?v=e6j1upRvI7E
* Helios - Manterou Opera: https://www.youtube.com/watch?v=72RbMHylx2M
* United Flag - Galneryus: https://www.youtube.com/watch?v=70ngYkYVLOk
* Megalomania (Herbert Mullin) - Church of Misery: https://www.youtube.com/watch?v=BVEob6Ed6j0

Espero que tenham gostado e... Feliz Ano-Novo, seus lindos!!!!!

Ano que vem, é nóises xD , até a próxima!


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