História Deadly Desire - Talvez nos tornássemos amigos

A campainha soou pela sétima vez em menos de trinta segundos, levantei da cama um pouco assustada, o relógio mostrava sete horas da manhã, xinguei mentalmente qualquer pessoa que estivesse atrapalhando meu último dia de folga. Caminhei até a porta da sala esfregando meus olhos, ajeitei meus cabelos da melhor forma possível e peguei a chave para destrancar a porta. A campainha tocou mais três vezes seguidas.

_Mas que porra é essa?_ elevei meu tom de voz impaciente, assim que abri a porta fiquei paralisada, minha segunda reação foi sorrir e pular no colo do rapaz em minha frente._ Niall!

Praticamente gritei, ele retribuiu o abraço e no mesmo instante me senti mais próxima de casa.

_Não achou que fosse escapar de mim tão fácil, não é?_ perguntou com um tom de voz animado.

Afastei um pouco para encará-lo, não que fizesse tanto tempo assim e nos falávamos quase todos os dias por mensagem, mas ele estava diferente. O sorri doce que ele sempre tinha para me oferecer estava bem ali.

_O que você fez com seu cabelo?_ perguntei passando a mão por seus fios que antes eram loiros e agora tinham uma tonalidade castanha mais escura. Olhei para seu corpo, ele estava um pouco mais forte do que antes._ O que você está fazendo aqui? Entra logo.

_Apenas me cansei do loiro._ deu de ombros pegando a mala atrás de si, dei espaço para que ele entrasse em meu apartamento, coloquei sua mala em um canto perto da TV, ele encarava o lugar com certo orgulho._ Você fez um bom trabalho aqui.

_Obrigada, mas eu tive ajuda._ coloquei as mãos no bolso da calça moletom._ Quando foi que você chegou e porque está aqui?_ perguntei ansiosa, de jeito nenhum eu o esperava em Los Angeles.

_Agora mesmo._ soltou uma risada._ Como o seu endereço era a única coisa que eu tinha por aqui, vim para cá._ totalmente a vontade ele se jogou no sofá._ Sobre a segunda pergunta, consegui um emprego aqui, uma empresa de design me contratou.

Tapei minha boca em surpresa parando a sua frente.

_Porque não me disse?_ indaguei com falsa indignação cruzando os braços sob meus seios, apesar de ter gostado da surpresa.

_Pois eu queria te surpreender e jogar na sua cara pessoalmente que você me abandonou._  deu de ombros com um sorrisinho.

Abri a boca me fazendo de irritada.

_Mas que mentira, eu ligo todos os dias e se não ligo sempre mando mensagens._ ergui uma sobrancelha.

_Aha._ Fez._ Bom, não vamos discutir sobre isso agora. Você está acabada Demetria._ comentou me analisando dos pés a cabeça.

Sorri de forma sínica.

_Eu estava dormindo._ respondi da mesma forma._ Você está acabando com meu último dia de folga._ Respondi, no fundo eu estava extremamente feliz por tê-lo ali, ao contrário do que eu disse ele acabará de melhorar meus dias de folga.

_Olha, você pode me contar as novidades após fazer um café para nós, o que acha?_ perguntou passando a mão pela barriga, provavelmente faminto.

Segurei sua mão o puxando para a cozinha e o apresentando ao apartamento ao mesmo tempo. Fiz o café para nós dois enquanto conversávamos, mesmo trocando mensagens quase todos os dias tudo ainda parecia novidade.

_Há uma coisa que você ainda não me contou._ observou tomando o café de sua xícara.

O olhei por cima da minha xícara, o olhar que ele trocou comigo me fez entender de que se tratava de Wilmer. Coloquei a caneca sobre a mesa com minhas mãos envolta dela recebendo seu calor.

_As coisas meio que saíram de controle._ respondi devagar, ele me encarou com cuidado e então abriu a boca.

_Não me diga que vocês...

_Sim._ o interrompi antes que ele terminasse, revirei os olhos e quase ri da cara que ele fez._ Nós ficamos mais próximos por causa de um caso e, uma noite ele pareceu mais atraente, enfim, não importa.

_Não me surpreende vindo de você._ deu de ombros tomando outro gole do café. Dei um tapa em seu braço o repreendendo.

_Desse jeito você me faz parecer uma maníaca por sexo.

_Não deixa de ser._ respondeu rindo. _Mas é sério, até onde eu sabia, você não veio para ter uma aventura com o chefe.

Mudei minha expressão, fiquei mais séria.

_E não está errado._ ergui minhas mãos em sinal de rendição._ Nesse tempo que estou aqui, o acompanhando, convivendo com ele, não parece que ele seja filho de quem é ou que tenha alguma relação com ele. Ele nunca o citou e a forma como trata as pessoas, como exerce seu trabalho com orgulho, com dedicação. Não sei se fiz a coisa certa... em vários sentidos.

_Se não te conhecesse diria que até gosta dele._ implicou. Revirei os olhos fazendo uma careta._ De uma forma ou outra ele vai te levar onde você quer.

Desviei os olhos encarando a bancada de mármore, assenti com a cabeça, Niall tinha razão, eu não poderia me desviar agora, a justiça pelos meus pais e por mim tinha de ser feita.

_E como está Dallas? Tem visto ela?_ mudei de assunto, aliás eu sentia ainda mais falta dela.

_Não a vi muito para ser sincero, depois que você veio para cá a casa dos Jonas não parece um lugar tão agradável para mim.

_Que besteira._ fiz uma careta.

_Mas às vezes em que a vi._ continuou. _ Ela me pareceu bem melhor, a velha Dallas, sabe? Sempre arrumada e o mais importante, animada, já não a vejo sem o sorriso no rosto.

Sorri com a notícia, eu e ela nos víamos todos os dias por vídeo, por mais que as conversas durem poucos minutos nos dias em que eu ou ela estamos muito ocupadas, ou até horas a fio nos dias mais tranquilos. Depois que minha irmã mais velha descobriu um tumor no fígado, tudo nela mudou, as fortes cessões de químio a deixaram fraca, ela emagreceu, perdeu seus cabelos e sua autoestima foi junto. Felizmente ela conseguiu operar e teve uma melhora significativa, agora que ela está se adaptando aos poucos, sinto por não estar fisicamente ao lado dela, no entanto, só de saber que ela está recuperando a si mesma aos poucos, já que conseguiu recuperar seu peso e seus cabelos crescem aos poucos, isso já faz com que me sinta bem mais feliz e tranquila.

_Sinto tanto a falta dela._ murmurei._ Ainda vou convencer ela a vir pra cá.

_Acho que não vai conseguir. _seus olhos encaravam a vista de prédios vizinhos._ Ela é apaixonada por aquele lugar, ainda mais agora que conseguiu o emprego como professora duvido que queira deixar.

_Ela sempre foi mais apegada aquele lugar._ comentei seguindo seu olhar. Voltei a olhar para ele e me endireitei._Bem, acho que você está cansado.

_Pode acreditar que sim._ respondeu esticando os braços, abrindo a boca em um bocejo longo.

_O único quarto que dá para dormir nesse apartamento é o meu, então pode dormir lá, à noite você vai para a sala._ dei tapinhas no balcão._ Pode tomar um banho se quiser. Vou aproveitar que já estou desperta e vou correr, volto antes que você acorde. _ dei a volta na cozinha ficando a sua frente para poder abraça-lo, ele me recebeu no abraço com tanta saudade quanto eu._ Estou feliz que esteja aqui.

_Também senti sua falta.

Assim que terminei de arrumar a cozinha com ajuda de Niall, por mais que fosse contra minha vontade, me arrumei para sair, me vesti com roupas esportivas e corri por mais de uma hora, quando voltei, ele ainda estava dormindo como previsto, preparei o almoço da melhor maneira que pude devido as minhas experiências como cozinheira, e cá entre nós não são muito boas, mas quando se mora sozinha elas se tornam mais do que necessárias. Chequei alguns e-mails e li alguns relatórios do trabalho. Quando meu amigo acordou nós almoçamos e entramos em assuntos aleatórios sem fim. À noite pensei em levá-lo para o Casey’s, porém, ele ainda estava cansado e eu tinha de trabalhar no dia seguinte, então ficamos em casa com a melhor programação: Séries e pizza, como dois adolescentes.

Parei o carro no estacionamento do LAPD, me olhei no espelho por mania e peguei minhas coisas saindo do carro. Ainda era cedo, mesmo assim vários carros já estavam estacionados lá. Peguei o elevador vazio subindo para o primeiro andar, fiquei surpresa ao chegar e ver que todos me esperavam, quando as portas do elevador se abriram fui recebida com palmas, ri sem graça e tombei a cabeça fazendo uma careta. Quase todos estavam ali por ainda ser cedo, Marissa era claramente a mais animada, a mesma da faculdade sem dúvida alguma, no canto do outro lado avistei Wilmer encostado a parede, o seu sorriso esboçado discretamente no canto dos lábios ele acenou com a cabeça e fiz o mesmo.

_Ah, por favor._ disse fazendo um sinal com as mãos sorrindo sem jeito, no fim acabei fazendo uma reverência de brincadeira o que nos fez rir com que todos rissem.

_Não se preocupe, é o que sempre fazemos quando alguém resolve um caso desse nível e posso dizer que você fez um ótimo trabalho._ Paul disse se aproximando.

Agradeci a todos da melhor forma que pude e assim que todos voltaram a seus afazeres me dirigi até minha sala. Kat estava concentrada em alguns arquivos em sua mesa e Michael não estava lá. Nós conversamos um pouco e depois de um tempo a deixei voltar ao seu trabalho, levei meus relatórios para Dinah, notei que a loira estava mais feliz naquele dia, a visão de má humorada do primeiro dia definitivamente não se encaixava com ela, tive vontade de perguntar, no entanto, desisti lembrando que não tínhamos muita intimidade. Antes que eu pudesse sair, ela me chamou e disse que Wilmer precisava falar comigo. Segui até a sala dele, as persianas estavam fechadas o que me impossibilitou de vê-lo, já em frente a porta bati duas vezes, lá de dentro sua voz soou para que eu entrasse. Exatamente como de costume ele estava em sua cadeira com inúmeros papeis sobre sua mesa, me perguntei mentalmente como ele poderia dar conta daquilo tudo, por mais que sua organização fosse exemplar ele ainda se perdia no meio de todo aquele trabalho e as olheiras escuras ao redor de seus olhos apenas concluíam meu pensamento. Ao levantar o olhar para me ver ele esboçou seu sorrisinho mais uma vez, aquele que eu não conseguia ler.

_Olá Demi, espero que tenha aproveitado esses dias de folga, pois já tenho trabalho esperando por você. _ele disse de forma descontraída, porém, sincera.

_Um ótimo dia para você também delegado._ respondi com ironia.

Aproximei-me da mesa, pegando o papel de suas mãos, nele um endereço e fotos de uma mulher loira por volta dos 30 anos, morta sobre o sofá ensanguentado.

_O nome é Christine James, solteira, professora do ensino médio, 32 anos de idade, foi morta na própria casa, o principal suspeito é seu aluno que foi pego correndo da direção da casa da vítima, Vitor Miles, 16 anos._ passou as informações com mais seriedade que antes.

_Tão jovem._ comentei olhando o arquivo. Mais fotos da vítima antes do assassinato, documentação, histórico, tanto dela quanto do aluno.

_ Nenhum detetive foi até a casa no momento, Katherine trabalhará com você e Paul as acompanhará. _ continuou._ O corpo já está no legista sendo examinado.

_Pode deixar conosco._ Quase cheguei a dizer que Paul não seria necessário, mas sabia que isso levaria a uma pequena discussão e eu ainda era nova de mais ali, apesar de tudo._ Se for só isso eu já vou.

_Por enquanto sim._ ele disse voltando a esboçar seu sorriso antes de retornar sua atenção aos papeis._ Qualquer coisa me informe.

Antes de sair da sala me voltei para ele.

_A propósito, obrigada por me ajudar a chegar a meu apartamento aquele dia._ resolvi agradecer sem ser necessário relembrar muito mais.

Ele ergueu a cabeça e assentiu.

_Não há de que. _deu de ombros.

Agradeci mentalmente por ele respeitar a minha decisão. Se as coisas não saíssem da forma como planejei, talvez nos tornássemos amigos.