História Deadly Desire - Proposta

 Passei sábado e domingo remoendo minha noite de sexta. Resolvi um caso: ótimo. Dormi com um colega de trabalho: Merda. Apesar de ter bebido bastante, não perdi a noção total do que havia feito, sim, eu transei com Michael, e fiz questão de voltar para casa –de táxi, claro- minutos depois de nós... bom, termos passado momentos juntos, a contragosto do rapaz, decidi ir para meu apartamento, ele não poderia esperar muito mais do que isso. Quanto ao beijo com Wilmer, talvez isso tenha me feito “fugir” dali e acabar ir parando na cama do meu colega. O charme que ele naturalmente exalava, não poderia ser um motivo de distração.

 Assim que cheguei ao departamento, ainda não tinha trabalhos pendentes então decidi treinar na pequena academia para funcionários, Marissa havia me mostrado no primeiro dia. Poucas pessoas estavam lá, talvez por ainda ser cedo ou já estivessem cheios de coisas para fazer. Comecei o treino com alongamentos e segui para a esteira, e por fim o saco. Já fazia um bom tempo, eu estava coberta e suor, porém isso não me incomodava, sempre gostei de treinar e dar o máximo de mim pelo meu próprio corpo.

_Que sexy!_ Ouvi a voz de Marissa do outro lado do saco, olhei para ela sem para o que fazia e sorri da sua tentativa de fazer uma voz sensual._ E que força de vontade.

Parei os socos e segurei o saco para poder olhá-la, ela já estava com sua farda e um copo de café em mãos.

_Ao seu dispor._ devolvi no mesmo tom, soltei o saco e comecei a retirar minhas luvas de proteção.

Ela andou até parar na minha frente, se inclinou um pouco para poder baixar o tom de voz.

_Talvez agora você possa me explicar a noite de sexta.

_Não há nada para explicar, eu já disse._ dei de ombros._ Eu bebi, Michael pareceu atraente e nós transamos, só isso, não irá se repetir.

_Disso eu já sei._ revirou os olhos, franzi o cenho e a encarei._ Tão ingênua, quero saber o que aconteceu antes. Pelo o que eu fiquei sabendo, você arrastou nosso chefe até a pista e depois saiu de lá correndo, para só então cair nos braços de Michael.

_Nós dançamos Marissa._Dei ênfase na palavra._ E depois eu saí.

Peguei minha bolsa e me dirigi até o vestiário, cada um tem acesso a um armário privado, muito conveniente, minha amiga veio logo atrás.

_Ainda há algo ai._ insistiu.

Suspirei, destranquei o pequeno armário e me virei.

_Houve um beijo, aliás um beijo bem quente._ disse por fim.

Ela me encarou, não parecia de tudo surpresa, um sorrisinho desenhou em seus lábios como quem diz: “eu sabia”.

_O que eu não entendo é porque trocar Wilmer por Michael._ gesticulou com as mãos.

Estava prestes a responder qualquer coisa quando o celular dela vibrou, ela checou e disse que precisava subir, não sem antes me deixar de sobre aviso com um “isso não termina aqui”, revirei os olhos, mas acabei sorrindo, ela sempre deixava as coisas mais leves. Tomei um banho relativamente rápido e voltei apenas de calça e sutiã para pegar uma blusa que havia esquecido, sobressaltei-me quando vi Wilmer com os braços cruzados perto do meu armário, ele tinha uma feição séria, porém não parecia irritado ou algo do tipo, quando me viu não fez esforço para desviar o olhar de meu busto semi descoberto, tombei a cabeça e virei minhas palmas para cima, ele olhou para meu rosto com um sorriso sacana, revirei os olhos e me aproximei, a forma como estava vestida não me incomodou por mais que ele estivesse ali.

_Você pode entrar aqui?_ indaguei com o cenho franzido, destranquei o armário novamente, ele estava perto o suficiente para que eu sentisse seu perfume.

_Não um local aqui dentro onde eu não possa entrar Demetria._ respondeu de forma descontraída, seus olhos não desviavam de mim por um segundo sequer, pareciam me avaliar e me colocar em chamas.

_Sua obsessão por controle é impressionante._ rebati sem olhá-lo._ Existe uma coisa chamada respeito, deveria utilizá-la.

Ele riu, um som anasalado.

_Fico me perguntando, qual é o seu jogo?_ ele parecia confuso consigo mesmo.

Balancei a cabeça, encontrei a blusa e me virei de frente para ele enquanto a vestia, mais uma vez seus olhos desceram sutilmente até meus seios. Passei uma mão por meus cabelos ainda úmidos e sorri.

_Não há jogo delegado._ fechei o armário e me recostei da mesma forma que ele no metal frio. _Eu só não sou como as mulheres que costuma pegar.

_Claro que não, você é a do tipo que fica com Michael._ ele disse, mas seu tom de voz não parecia decepcionado, chateado ou qualquer do gênero.

_Na verdade não sou de tipo nenhum Valderrama._ respondi diretamente._ Sem querer soar rude, apesar de já parecer, mas sou uma mulher solteira e não devo satisfações a você, a não ser que isso se encaixe no meu trabalho._ ergui o queixo, nós estávamos bem próximos, ele mantinha uma expressão que eu não conseguia ler.

Ele desviou o olhar por um momento e assentiu, crispando os lábios.

_Aquele beijo é o que me intriga._ comentou em um tom mais baixo.

Quase me remexi incomodada, porém me mantive imóvel.

_Foi só um beijo._ estalei a língua no céu da boca._ Pode lidar com isso, certo?_ provoquei.

Sem resposta, ele apenas se inclinou em minha direção parando a poucos centímetros do meu rosto.

_Você tem uma interpretação errada de mim.

_Tenho?_ abri um sorriso sínico.

_Teremos que mudar isso._ foi a vez dele de abrir o mesmo sorriso.

Continuamos na mesma posição por alguns segundos, até sua expressão mudar completamente e ele se afastar.

_Te vejo na minha sala, temos trabalho a ser feito._ em passos precisos ele rapidamente chegou a porta.

_Quanta pressa._ desencostei-me dos armários.

_Sabe como é não posso entrar aqui._ deu de ombros e saiu do local ainda com o sorriso no rosto.

 Revirei os olhos sorrindo, pelo visto eu teria problemas a mais com Valderrama. Terminei de arrumar minhas coisas, tentei secar um pouco mais meus cabelos e o acompanhei, no caminho até sua sala não houveram mais provocações, somente duas pessoas, adultas e colegas de trabalho, nenhum crime. O que me surpreendeu, no entanto, foi o fato de encontrarmos um homem no escritório de Wilmer até então estranho para mim, concluindo que o latino não parecia surpreso e de que Dinah não avisara sobre a presença, eles já eram conhecidos e já era esperado.

_Demi, este é Elder Futhark._ Wilmer apontou para o homem, ele era branco, de estatura média, cabelos curtos e castanhos, além de um cavanhaque, estendi a mão e ele fez o mesmo._ É um dos responsáveis pela segurança do país._ Assenti com a cabeça, embora não entendesse o real motivo de estar ali com eles._ E Elder, esta é a Detetive Devonne, da qual te falei.

Lhe lancei um olhar rápido, um pouco desentendida.

_É um prazer._ sorri gentilmente.

_O prazer é todo meu._ ele devolveu o sorriso e apontou para a cadeira, para que eu me sentasse, ele fez o mesmo, assim como Wilmer._ Bom, o motivo de eu estar aqui hoje é que preciso de um serviço de vocês, como já disse a Wilmer.

_Do que se trata?_ perguntei, visto que eu não sabia de nada sobre o tal serviço.

_Em duas semanas , Mike Malarkey presidente de uma empresa de celulares uma das maiores do mundo, a negócios, porém isso pode colocá-lo em risco,. _Wilmer continuou._ Há suspeitas de que alguém vá para matar o senhor Malarkey e sua família, um atentado, digamos assim.

_E foi para isso que vim procurar vocês, preciso que se infiltrem e façam até o impossível para descobrir se há um traidor e quem é._ Elder completou.

_Ainda não entendo o porquê de eu estar aqui, com todo respeito._  respondi revezando o olhar entre os dois.

_Por que você é nova, poucos conhecem você e além disso é uma ótima profissional, nós dois já havíamos visto de longe seu trabalho e agora que pude te acompanhar de perto, tenho certeza de que é a pessoa perfeita._ Wilmer estava com o corpo inclinado, as mãos entrelaçadas sobre a mesa impecavelmente organizada.

_O que nos diz?_ o mais velho.

_Então minha contratação foi o tempo todo baseada nisso?

_Não exatamente._ Wilmer respondeu se recostando sobre sua cadeira e ajeitando a camisa social._ Mas não vem ao caso agora, o que precisamos saber é se você quer esse caso, ou como prefira chamar.

_Tudo bem, e o que terei que fazer?_ perguntei._ Só chegar lá e sair procurando um suspeito em potencial?

Elder deu um sorrisinho diante a minha ironia, ele não parece ser um cara de muitos sorrisos.

_O que precisa saber é que vocês deverão encenar o tempo que precisarem para descobrir o suspeito e retirá-lo de lá, com vida ou não._ explicou calmamente.

_Vocês?_ franzi o cenho.

_Você e o senhor Valderrama.

Olhei para Wilmer, o sorrisinho de lado estava lá, toda a cena mais cedo fez sentido, as intenções dele não eram somente um caso policial.

_Os dois assumiram uma nova identidade._ Elder prosseguiu._ Duas pessoas casadas há um bom tempo, donos de empresas multinacionais, importantes na economia do país. Quanto à burocracia não se preocupe, cuidaremos de tudo, desde os documentos falsos até o contato com a empresa em questão, só precisamos que memorizem a história de vida dos dois e prendam o assassino ou seja lá o que ele for.

Assenti levemente, várias dúvidas se passando em minha mente, porém, preferi guardá-las. Pensei se a proposta seria uma coisa boa para mim, se aquilo não me fizesse correr um risco de distrair-me, dei de ombros, eu não tinha nada a perder.

_Eu aceito._ respondi por fim.

Nenhum dos dois parecia surpreso, como se já soubessem desde o início minha resposta. O mais velho explicou mais alguns detalhes, deixando claro que aquilo era sigiloso, todas as informações ditas ali, deveriam ficar ali, se saísse, provavelmente alguém morreria. Tivemos de assinar um contrato que ficou com ele, por questões de segurança. Fui informada que continuaria recebendo casos de assassinatos e roubos de Los Angeles, mas que me mantivessem ocupada por pouco tempo, que não me envolvessem por muito tempo, evitando assim, suspeitas. Depois disso voltei ao meu trabalho, alguns relatórios me esperavam e infelizmente Michael também.

_Não adianta querer me ignorar agora._ Ouvi o moreno dizer após se inclinar sobre minha mesa.

O olhei rapidamente sobre os óculos de grau e voltei para a tela do computador, beberiquei um pouco do meu café.

_E não estou._ dei de ombros colocando o copo sobre a mesa.

_Então porque não atendeu minhas ligações?_ indagou._ O dia todo praticamente nem olhou na minha cara.

_Por que não quis._ dei de ombros mais uma vez, retirei os óculos e apoiei meus braços sobre a mesa, começando a me irritar._ E estou ocupada, aliás é isso o que faço desde que entrei aqui.

_Não somente trabalha._ um sorriso malicioso me fez revirar os olhos.

Respirei fundo e me ajeitei na cadeira.

_Escuta, não quero te magoar ou acabar com a boa convivência nesse lugar._ continuei olhando-o._ Mas foi só uma noite, nós bebemos e nos divertimos, foi só isso. Não comece a pesquisar nossa lua de mel no Google, pois ela não vai acontecer. Você é ótimo, realmente, porém se pudermos ser apenas bons amigos, eu adoraria.

Esbocei um sorriso sem mostrar os dentes, ele ficou calado sem me encarar, parecia decepcionado ou quase. Notei que atrás dele Kat nos olhava com os olhos arregalados, não faço ideia de há quanto tempo ela já estaria ali. Michael ergueu o corpo, pegou um papel em sua mesa e saiu apressado.

_Homens._ bufei e olhei para Kat, ela ainda estava parada, acabamos rindo da situação.

_Você é do mal._ ela comentou se sentando no seu lugar.

_Apenas sincera._ respondi e voltei ao que estava fazendo.

Quando cheguei em casa joguei-me no sofá, minutos depois Selena chegou com uma pizza em mãos que, mesmo sendo em uma segunda-feira não pude resistir, colocamos um filme qualquer depois que tomei um banho e vesti um pijama confortável, a morena já era praticamente de casa, devido as várias vezes em que ela ia para lá ou eu para o apartamento dela.

_Pensei que tivesse alguém com você._ comentou sem tirar os olhos da TV.

_Por quê?

_O carro na sua vaga._ deu de ombros.

_É meu._ ela me olhou surpresa._ Comprei hoje, algumas economias e um presente de Eddie.

_Ah._ ela fez._ É um ótimo carro.

Assenti e nós continuamos assistindo o filme, enquanto minha cabeça borbulhava com o acordo, o emprego e tudo o que aquilo traria.