História Dear Doctor - Wico Solangelo - Tudo termina onde começa

NARRADOR

"Antes de você vir eu era vazio, vazio, vazio
Era mais difícil, agora eu estou bem, tudo bem, eu estou bem
Tudo o que eu tenho que fazer agora é seguir, seguir, seguir
Era mais difícil, agora eu estou bem, tudo bem, eu estou bem

Você não precisa de nenhuma grande produção
A sincronia da voz já está ótima
Você não precisa usar sua maquiagem
Não há necessidade de mexer com o projeto de Deus
Você é tão simples e doce"

O silêncio tão almejado ao dia seguinte, os corpos ainda quentes se envolvendo em  uma grande armadura forjada de fogo, a profundidade dos sonhos tão coloridos, uma mistura entre a memórias e desejos. As cortinas balançavam, tão alvas como idealizavam a paz, contornavam, raspavam e derrubavam objetos leves sobre os moveis próximos. Fios de luz escorregavam pelo tecido, descendo como uma cascata pela madeira da parede- uma pequena fresta fora deixada quando Will entrara pela janela, por onde ela passava.
            Os cílios do moreno tocavam as pálpebras ou bochechas ao piscar durante o sono, ambos permaneceram na posição, a qual dormiram. O peito nu do loiro se levantava ao inspirar, os cabelos negros do menor se espalhavam pela extensão, sendo arrastados conforme sua cabeça se movimentava. Os lábios estavam entreabertos, o punho apertava o tecido do cobertor entre os dedos, o mesmo pressionado próximo ao queixo. O primeiro despertar de seu paraíso mental deixara um breve selinho na testa de Nico, que fizera-o acordar. Um sorriso se fixou em sua expressão, uma felicidade prevista, assim como a dor antes provocada, o espetar do dedo com os espinhos, antes de tocar as pétalas da rosa. O loiro se remexeu, espreguiçando, o estalar dos membros foram ouvidos, e então ele se voltou ao outro aninhado em si.
        "Dormiu bem?" um sorriso traiçoeiro brincava nos lábios do maior. O moreno riu, e permitiu-se apoiar o queixo no peitoral do outro, enquanto negava sua pergunta.
        "Talvez tivesse sido melhor se não fosse tão duro" cutucou onde antes descansara "Vou ficar uma semana na enfermaria para dar um jeito nesse torcicolo." brincou, ao jogar a cabeça para os dois lados, esticando o pescoço. A risada do loiro preencheu seus canais auditivos, em seguida, sentiu o puxar de seu quadril para cima, e logo, suas bocas ja se tocavam.
         "Eu te amo" sussurrou o pequeno ao afastar.
         Por alguns segundos o loiro não disse nada, algo parecia prender sua voz em sua garganta- incerteza, até mesmo orgulho. Então ele apenas sorriu, deu-lhe um selinho rápido, e assentiu. Nico pois-se a ficar de joelhos nos lençóis, puxou um dos cobertores consigo, se enrolando no mesmo. Assim que suas íris encontraram as de Will, algo pesou em seu peito- o outro estava pensativo, como se ainda não tivesse acordado-, mas, logo, chacoalhou a cabeça, começando a sentar-se.
         As roupas estavam espalhadas pelo chão. Não fora nada difícil distinguir as peças. Eram pessoas totalmente diferentes, tanto aos gostos, quanto ao tamanho- Nico era esquio, baixo, não tinha músculos como os de Will, o loiro era mais alto, e apesar de ter emagrecido por conta dos recentes acontecimentos, ainda tinha uma aparência saudável de quem nunca escapava de um treino. Enquanto o menor permanecia entre as cobertas, o parceiro as vestia. O calar do maior o deixara preocupado, talvez a carta contasse-o verdades, mas preferiu não comentar. Prometera a si mesmo nunca mais repetir tais palavras, pois as duas vezes que ele as havia dito, as reações o machucaram. Will e Percy não haviam correspondido, mas agora era diferente, dessa vez, ele realmente tinha a esperança de que fosse recíproco.
         "Preciso ir para a enfermaria" escutou a voz soar já próxima a porta, ela se fechou atrás do maior, no mesmo segundo que o medo invadiu-o.
O filho de Hades respirou fundo, largou o que cobria-lhe a nudez, caminhou em direção ao banheiro, se dirigindo ao chuveiro.

                                        *                      *                  *

O calor entrava pelos poros do moreno, enquanto caminhava ao por do sol. A lago estava vazio, apenas alguns semideuses entre treze e quinze anos treinavam mais ao longe. Após o banho, decidiu parar de remoer-se pelos atos passados trancado no quarto, afinal, não havia lugar próprio para se culpar. Os olhos contornaram o perímetro de todo  lugar, até encontrarem a rocha, a qual, havia beijado o loiro pela primeira vez, e se fixarem em tal ponto.
           "Deveria sentir ciúmes de como encara essa pedra?" o menor suspeitava de quem se tratava, e ao se virar, confirmou sua teoria. O filho de Apolo possuía um semblante divertido, estava sorrindo. Havia trocado de roupa, assim como Nico. Usava um jeans surrado e um moletom que lhe cobria a camiseta preta, a qual o moreno não conseguia ver o desenho.
           "Sentiu ciúmes de Reyna, pelo menos eu e a pedra temos mais possibilidade de ter um futuro juntos" disse, e deu de ombros, se virando de costas para ele. Lábios tocaram a pele em seu pescoço, reprimiu o arfar, se afastando. "Não..."
             "O que foi? Fiz algo errado?" o corpo de Will se enrijeceu. "Olha...desculpe por hoje de manhã, não quis ser rude...só me surpree..."
            "Não estou te obrigando a dizer nada, Solace" interrompeu-o, completamente rígido, o ouviu bufar, e puxa-lo para perto, selando seus lábios rapidamente, enquanto escorregava pelo corpo de Nico, até se prostrar de joelhos. " O-O que está fazendo?" gaguejou, percebendo o ato do loiro, o coração já acelerado. Suas mãos se encaminharam até a gola do moletom, puxando-o para fora de seus membros. "Will, não acho que seja uma boa hora pra isso, estamos em público".
            Um riso foi solto pelo garoto, e então Nico percebeu qual era o desenho da camiseta do maior. Uma gravata, e as pontas do paletó estavam marcadas no tecido, os traços como se, realmente se trata-se de um terno, não apenas uma estampa. Uma caixinha preta aparecera na palma de sua mão, a qual, esticou para o menor.
          "Nico Di Angelo" um sorriso se elevou aos lábios, do qual, o nome fora pronunciado, uma mistura de surpresa e felicidade tomou-o "Eu te amo..." disse primeiramente "Aceita namorar comigo?" o loiro deu uma leve piscadela. 
        Naquele momento, as cartas e ameaças de Reyna foram jogadas ao ar, mentiras repetidas, assuntos que jamais seriam levados em consideração novamente, porque não importavam, porque a consideração de sua existência seria um presente, o qual ela nunca receberia.
          A caixinha fora aberta, e lá se encontrava um anel, com um sol desenhado, os dedos do moreno tremeram ao retirarem da almofadinha e o encaixarem nos mesmos, respondendo a pergunta feita.
        "Poderia ter me avisado sobre tudo isso" disse "Teria colocado um véu pra combinar" brincou, arrancando uma risada de Will.

        Talvez, dessa vez, o "felizes para sempre" se curvasse para alguém.