A lembrança mais valiosa que tenho com a minha mãe é muito antiga
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-Mamãe, a gente pode tomar sorvete? -Me agarrei em seu vestido, os dedos prendendo de forma desengonçada na barra.
-Claro meu amor. -Ele se abaixou e soltou minha mão para me pegar no colo. -Que sorvete você quer? -Sua mão, com dedos finos e anéis delicados apertaram minha barriga infantil, me fazendo corar e rir baixinho.
-Eu não sei. -Disse, com um desânimo infantil para minha indecisão.
-Vamos ver. -Ela atravessou a rua em direção à sorveteria, deixando a praça com todos aqueles brinquedos pra trás. -O que você acha de picolé de limão? Está tão quente hoje. -Ela perguntou, depois de analisar o freezer com as sobrancelhas franzidas e eu assenti conpletamente animado com a possibilidade que qualquer sorvete porque era meu doce favorito.
Então ela comprou dois picolés de limão e voltou para a praça comigo. E nós ficamos sentados no banco por muito tempo, enquanto ela conversava comigo como se eu fosse adulto. Ela era a única pessoa que eu conhecia que não mudava a voz para falar comigo. Era natural para ela, simplesmente porque ela era muito gentil com suas palavras e ações.
-Você se sujou todo querido. -Ela riu alto, limpando meu rosto com o polegar mesmo. E eu não sei se era porque eu era criança na época, mas o sorriso dela, aquecia meu coração e era tão lindo, quando ela sorria eu sorria também. Porque ela costumava sorrir tão pouco, e então tinha esses momentos.
-Eu amo você mamãe. -Eu me lembro de abraçar a barriga dela, porque era o máximo que eu alcançava sentado naquele banco. E seus braços envolveram meus ombros e suas mãos afagaram meu cabelo.
-Amo você também querido. -E ela chorou baixinho, e nós ficamos ali mesmo assim.
Acho que essa é minha memória favorita porque ela parecia feliz naquele dia, e ela não me tratou como uma criança, mesmo que eu tenha me sujado todo com sorvete. Talvez essa seja minha memória favorita porque eu era novo demais para entender o que a morte significava. E essa foi a última memória antes de ela ficar presa em uma cama de hospital.
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"Mamãe, Eu sinto muito a sua falta, todos os dias...
Com amor, Harry."
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