Fazia algum tempo que Suga havia saído e, por não ter nenhum modo de eu consultar as horas, apenas olhando para a janela. Não que fizesse horas, mas alguns longos minutos se passaram desde então.
Com a ausência de Suga no local, tive um tempo a mais para explorar aquele cômodo, a única coisa que eu tinha acesso livre. Frustrada, acabei por notar algo ali, que estava há muito tempo, mas que eu nem sequer tinha pensado em xeretar. A janela. Eu estava perdida, sem saber onde estava e havia janelas ali. Claro, é estranho um lugar não ter, mas era um modo de eu tentar me localizar. Mesmo que eu não conhecesse, seria útil ter uma idéia do que me cerca e isso é indispensável se eu realmente quiser fugir daqui.
Me aproximei da janela que mais parecia uma porta, puxando as cortinas escuras, revelando um céu ensolarado. Olhei ao redor, e senti minha esperança diminuir drasticamente. Apenas mato. Não há sinal de casas ou pessoas ali. É como se as chances de eu conseguir fugir, fossem zeradas. E, mesmo que eu consiga fugir da casa, me perderia com facilidade no meio dessa floresta amazônica. Nesse momento, passou a cena de um filme em minha cabeça. A vítima foge, fica alguns dias perdida em um local desconhecido e deserto. O assassino, conhecendo o lugar como a palma da mão, persegue a vítima, até que a mesma esteja esgotada de tanto correr e então, a leva de volta ao cativeiro, com direito a punições e torturas violentas, até finalmente, acabar com a vida dela.
Eu seria muito boba em pensar que, essa cena nunca aconteceria comigo, caso fugisse de Yoongi. Eu sei o amor que ele sente, sei o quanto quer cuidar de mim, mas principalmente, sei da sua insanidade, sei o quanto é impulsivo. Ele não pensaria duas vezes antes de acabar comigo.
Então, eu não tenho escolha. Eu terei uma única chance de fugir daqui. Estou entre duas estradas. Uma levará á essa casa no meio do nada, a estrada mais simples. A outra, estreita e cheia de obstáculos, levará á minha liberdade.
Vou trabalhar em cima dessa chance, planejar todos os detalhes, conhecer o lugar que estou e principalmente, ganhar a confiança de Yoongi. Eu não deveria fazer isso, sei que ele só quer ficar comigo como uma pessoa normal. Mas Yoongi não é normal, nunca foi e nunca será. Corro os mesmos riscos se ficar aqui e se fugir. Qualquer deslize, ele pode enlouquecer e me machucar. Eu sinto muito Yoongi, você tem razão.
Não podemos curar uma doença com a causa dela.
Fui despertada de meus pensamentos com o barulho da porta sendo destrancada, me virei rapidamente quando vi Yoongi entrar com uma enorme bandeja com pizza e alguns copos com refrigerante.
— Apreciando a vista? — Disse entrando com dificuldade por estar com as mãos ocupadas. Fui rapidamente até ele, para ajuda-lo.
— Pois é. — Sorri, sem graça.
— Achei que iria gostar, longe de tudo. — Falou, convencido, enquanto sentava-se em uma poltrona.
— Saudável sua escolha para o...— Gesticulei com as mãos, tentando entender se era jantar ou almoço. — Enfim, isso.
— Você sempre gostou de pizza, depois de virar psicóloga, resolveu virar fitness também? — Perguntou sarcástico.
— Não estou reclamando. — Respondi, pegando um pedaço grande de pizza.
— Realmente, não está. — Riu, assustado. — O que ficou fazendo enquanto eu não estava? — Perguntou, pegando também um pedaço da pizza.
— Me perguntando o motivo de não ter um único relógio nesse quarto, como uma pessoa pode viver sem saber as horas? — Perguntei incrédula.
— Eu não vejo necessidade, mas se você quer um, terá.
— Se eu pedir um unicórnio, você dá também? — Questionei, arqueando as sobrancelhas.
— Claro, eu acharei um unicórnio com facilidade! — Riu, irônico.
— Não é uma idéia ruim. — Sorri esperançosa.
— Sonhe. — Disse, devorando a pizza em seguida.
— Que lugar é esse, Yoongi? — Perguntei, desviando do assunto.
— Você não precisa saber. — Disse sério.
— Por quê? — Questionei.
— Porque nem eu mesmo sei.
— Você chegou aqui por acaso? A casa não é sua? — Perguntei, não acreditando no que ele falava.
— Claro que é minha. Você faz muitas perguntas.
— Eu estou confusa. — Cruzei os braços, esperando respostas.
— A única coisa que você precisa saber é que ninguém nos achará aqui. — Sorriu. — Seremos apenas nós dois, para sempre. — Percebi seu olhar mudar, com uma expressão doentia em seu rosto. Senti um pouco de medo, mas não deixei que me abalasse.
— Para sempre? Você não quer ter filhos? — Perguntei, mesmo sabendo o que ele achava de crianças. Vi Yoongi franzir a testa, com um olhar confuso e pouco irritado.
— Você quer? — Ele desviou o olhar, tentando não parecer desconfortável.
— Não é uma vida muito solitária sem crianças? — Perguntei inocente, gostando de provocá-lo com tudo aquilo.
— Você tem eu, não precisa de mais ninguém. — Coçou a nuca, demonstrando nervosismo. — Sabe, isso não é algo para pensar agora, certo? Estamos apenas começando...
— Começando o que? — Questionei.
— A viver juntos.
— Certo. — Sorri vitoriosa, percebendo que consegui algum efeito com aquela conversa.
— Você quer algo? Roupas? — Disse em um palpite, me analisando com a mesma camisa que usei quando cheguei, que por sinal, era dele. — Livros, sei lá...
— Roupas, definitivamente! — Levantei em um pulo. — E meu relógio, não esqueça! — Pedi manhosa.
— Claro. — Ele riu, recolhendo as louças.
— Obrigada. — Agradeci, dando-lhe um selinho demorado. Vi um sorriso tímido brotar em seu rosto. Estamos começando.
Logo Yoongi se retirou, trancando a porta novamente. Assim que ouvi seus passos se afastarem, corri para a janela, na esperança de ver algo. Não demorou muito para ouvir um barulho de motor, logo apareceu um carro, saindo da casa. Senti um pingo de esperança, até o carro sumir entre as árvores.
— Tem uma estrada. — Pensei, animada. — Talvez não seja tão difícil assim. — Não pude conter a felicidade, dando alguns pulos em comemoração.
Pode demorar dias, semanas, meses, mas eu vou fugir daqui, custe o que custar.
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