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História Dear, Sophie. - Quarto


Escrita por: DebArenas

Notas do Autor


Confesso que falhei na intenção de liberar logo o capítulo da ceia, mas como estamos ainda há tempo (até que chegue o ano novo), decidi adiá-lo para quinta. Percebi que o reencontro dos dois merecia um capítulo especial. Espero que gostem, beijos!

Capítulo 5 - Quarto


Fanfic / Fanfiction Dear, Sophie. - Quarto

 

Camas, Sevilla. Dezembro de 2017

 

Era incrível a sensação de pertencimento. Sergio sentia-se assim, sempre que estava em solo sevillano. Foram tão escassas as vezes que estivera aqui novamente, na maioria delas por confrontos diretos pela Liga Espanhola, contra o Sevilla, um de seus primeiros clubes profissionais. Sua visita era tão rápida que, se quer podia passar pelo seu antigo bairro; ou por lugares que frequentava na infância.

De todos os seus familiares, apenas a irmã residia ainda em Sevilla, sendo assim, não haviam motivos, além do mero sentimento de saudade, para voltar a sua terra natal. Sentimento o qual Sergio se recordava bem, pois desde que adotaram a ideia de realizarem a ceia natalina na casa da irmã, Miriam, havia percebido o quão nostálgico estava se sentindo.

De uma forma paterna e orgulhosamente, Sergio mostrava cada detalhe seja das ruas, ou da arquitetura para seu filho mais velho, o qual levava seu nome. O menino observa com os olhos atentos a cada detalhe que o pai gesticulava, enquanto a mãe comentava alguma brincadeira com o outro herdeiro, Marco.

Sergio até se deu a luxo de procurar algum hotel próximo ao seu antigo bairro, pois gostaria de estar na presença dos antigos amigos nesse final de ano. Depois de alguns longos anos afastado e com poucas conversas trocadas, Sergio havia mencionado a Adrián, seu amigo de infância, que passaria algumas semanas em Camas. Para alegria de todos, já que era costume os antigos amigos se reunirem algum dia antes do Natal.

Era evidente o seu entusiasmo, pois além de Adrián, Ramos guardava lembranças boas de outros companheiros. Vivera momentos bons em terras Sevillanas e uma das coisas que mais sentia falta, era da velha e boa amizade. Não que não tivesse amigos em Madri, pelo contrário, levara bons anos até se sentir acolhido por alguém da equipe, os quais pôde chamar de amigos; porém, nada tão surpreendente como aos tempos em que passara aqui e das velhas companhias.

 

__ Sergio, se recorda bem dessa praça? __ Sergio estava entretido com a visão a sua esquerda que mal dera conta de que estavam em um bairro que costumava frequentar.

 

__ Sim, estamos no centro ou não? __ Perguntou, sabia que a lembrança que guardava dessa praça era a sua localização próxima ao centro.

 

__ Sim. Sergio adorava trazer as namoradas a esta praça, Pilar. __ Típico de irmã, Miriam sabia fazer comentários nada discretos como este.

 

__ Ora, ora. Importantes? __ Pilar disse com seu tom carregado de ironia, Sergio agora a observava um pouco envergonhado e desconcertado com o assunto.

 

__ Algumas sim, outras não. A Julia por exemplo, a gente jurava que o Sergio ia se casar com ela. Minha mãe amava ela. __ Miriam comentou se lembrando bem da ex- cunhada.

 

__ Vocês estão gostando bastante desse assunto, não é mesmo? __ O jogador falou, um pouco receoso de até que ponto chegaria tal conversa.

 

__ Ela era especial? __ Pilar o olhou firme. Os anos que passaram juntos e a total confiança que tinham um no outro, era primordial para Sergio saber que não havia nada a mais em sua pergunta, a não ser mera curiosidade.

 

__ Julia? __ Perguntou, rapidamente.

 

__ Sim, você nunca me falou muito dela. Apenas soube que ela foi a sua última namorada antes de namorarmos. __ Sergio pode perceber o interesse da mulher em saber algo mais, poderia desviar o assunto e restringir essa conversa a apenas os dois, mas sabia que se o mesmo não respondesse, a irmã falaria algo.

 

__ Julia era especial. __ Fora tudo que o jogador conseguiu dizer no momento.

 

Era complicado, talvez mais complicado do que ele imaginava. Sergio não se sentiria assim, estranho, em pensar na lembrança de um antigo amor se estivesse sozinho em casa. Mas ele sabia bem que esse sentimento confuso, como um misto de saudade e recordação, era por saber que estava de volta a Camas.

Mal tivera tempo para colocar todas as ideias em ordens desde o fatídico clássico contra o Barcelona, o qual sua equipe foi goleada pelos Culés, por 3x0 e, já estava em solo camiano logo pela tarde. E de fato, seria um pouco mais difícil para o gajo lidar com os relapsos de memórias que o dominavam a cada minuto que seus olhos passavam a fixar algum local que percorriam dentro do automóvel.

 

__ Droga. __ Disse tão audivelmente que todos no carro se assustaram, pois se encontravam em silêncio.

 

__ Aconteceu algo? __ O cunhado que dirigia o carro em silêncio, desta vez pôde notar a inquietação de Sergio.

 

Sergio queria poder dizer que seu gesto negativo com a cabeça possuía alguma convicção, mas não a tinha. O motivo de sua irritação fora a pequena lembrança que invadira seus pensamentos, tão rapidamente, que poderia ser chamada de lapso. A visão de Julia sentada ao banco, se deliciando com seu sorvete da barraquinha do Sr. Guzmán; logo depois seu rosto inundado por lágrimas.

 

(...)

 

Depois de ter borrifado seu perfume e arrumado seu penteado em frente ao espelho do quarto do hotel, Sergio gesticulou com a esposa, talvez pela milésima vez ao dia, se a mesma não queria o acompanha-lo no encontro. Mas esta se dizia cansada da viagem e também, queria deixar que as crianças descansassem.

De fato estava certa, apesar da viagem ser rápida, para crianças tão pequenas como os dois, era mais que cansativo. Algumas horas de voo, conjunto a espera no aeroporto e o caminho de carro até o Hotel, fora o suficiente para derrubá-los. Estavam lá, deitados a cama ao lado de Pilar, uma cena um tanto quanto convidativa a Sergio que, se não fosse pelo convite do amigo e a necessidade de vê-lo, já estaria descansando ao lado dos filhos.

Não tardou a chegar no endereço marcado pelo amigo. A frente do local havia mudado, mas pelo nome que ainda era estampado na placa, Sergio recordou se tratar do antigo clube da cidade. Agora como dito por Adrián, o local havia virado um salão imenso, com local para jogos, dança e até uma boate. Confessava estar entusiasmado, mas este misto de insegurança que pairava em sua mente, estava o inquietando a ponto de ficar por alguns minutos preso ao cinto de segurança.

Adentrou o local percebendo o quão cheio ele aparentava estar. Se aquela quantidade de gente se tratasse do “encontro dos amigos”, saberia do seu caso de esquecimento, pois se quer se recordava da maioria daquelas que passavam pelo seu campo de visão. Dificilmente se deparara com alguma face conhecida, ou algum semblante suspeito.

 

__ Não creio que você veio. __ Sergio observou Adrián surgir em seu campo de visão e o estender um longo aperto de mão, seguido de um abraço.

 

__ Como vai? __ Sorriu, perguntando ao amigo.

 

__ Eu vou bem, senti sua falta companheiro. __ Adrián poderia contar no dedo as poucas vezes que viu ou visitou o amigo desde que se mudara de Sevilla e Sergio sabia bem que se tratavam de escassas vezes.

 

__ Também senti bastante a falta de todos vocês. __ Concluiu, já não se sentindo tão disperso, pelo menos um rosto conhecido.

 

(...)

 

Diferentemente de alguns minutos atrás, Sergio não se sentia tão indiferente. Adentrara em uma conversa animada com alguns conhecidos, que faziam questão de recordar de algumas aventuras que cometiam no passado. Como das vezes que acabavam bêbados em um passeio, depois de uma longa noite de diversão. Ou também da viagem a Ibiza que acarretou em grandes problemas com a polícia.

Sergio já se sentia em casa, talvez pelo fato dos amigos terem contribuído para sua introspecção. Estava tão atento as piadas e histórias da turma que se quer se dera conta de quanto tempo havia passado. Apenas se deu ao direito de questionar o passar das horas, quando Adrián, impaciente com a demora da esposa e da amiga, foi ao encontro delas, alegando logo estar de volta.

 

__ Sergio, quero que você conheça minha esposa, Catarina.

 

Sergio se levantara para receber o amigo de volta e cumprimentar a sua mulher, porém, a contrário de como planejava e mandava a cordialidade, não conseguira manter seus olhos fixos na mulher. Estes, por tão subitamente já se encontraram com as duas órbitas castanhas e redondas que ele bem se recordava.

Os lábios eram os mesmos, sempre semicerrados e tão ligeiramente rosados. A ponta do nariz rosada, como se houvesse algum propósito naquilo. As madeixas lisas e escuras, com leves encaracolares nas pontas. A expressão assustada e corajosa no olhar. Sergio não podia negar que não havia nada de diferente nela. Ela continuava perfeita ao seu ver.

O riso dela que já podia ser audível ao seu subconsciente, não se fazia audível no momento. A expressão era fechada, mas nada parecido com a rudeza. Tudo era calmo e insolente, como algo nunca pensado. Um encontro ao acaso, diria os deuses. Mas não ao acaso comum, o acaso dos arcanjos, que agora tocavam as harpas para que a cordialidade fosse despertada em qualquer um dos dois. Sergio seria o detentor desta, se no momento não se encontrasse tão perdido em recordações passadas, ao mesmo tempo que a procura de palavras certas a dizer.

Eram ambos olhares tão atentos. Fitavam cada feição um do outro como se houvessem sentido a necessidade daquilo há anos. Mas sabiam que tudo isto não era suficiente. Aquele misto de sentimentos confusos não poderia ser o bastante para lhes retirarem da realidade. Tal qual a curiosidade de Sergio em ouvir a sua voz, Julia sentia a necessidade de também escutar sua rouquidão.   

Julia estava tão estática quanto, não esperava por aquele reencontro. Se há algumas horas se perguntava se deveria mesmo vir ao encontro que ocorria todos os anos, já que estava exausta; agora, já não tinha tanta certeza ter se tratado de uma escolha, certa ou não, não fora apenas uma escolha. Não acreditava em destino ou coisa do tipo, mas viria a repensar seus motivos de descrença, se soubesse o quanto esse dia já estava premeditado a acontecer.

Um sentimento verdadeiro não morre. Por mais decepcionado que fique, por mais machucado que seja, pode até se esfriar, ou adormecer, mas tal como o vento jamais deixa de assoprar. Sempre haverá um reencontro a aqueles que deixaram algo para trás ou talvez um até breve, isso se chama destino.

 

__ Julia.

__ Sergio.



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