História Death Hotel - Way of death

Hoseok

A música clássica, extremamente alta, que saía do velho toca-discos ecoava por todo aquele imundo quarto, rodeando-me com as lembranças de minha infância e adolescência. Eu conseguia lembrar-me nitidamente de todas as pessoas que matei naquele cômodo, em todas as vezes que torturei o meu próprio irmão ali, em todas as vezes que degustei da carne humana de garotas inocentes, mas, também, lembrei-me de cada vez que corri para chorar naquele lugar frio, escuro e sem vida, para assim me refugiar da dor e das vozes que me procuravam, mesmo que fosse completamente em vão. A fumaça do cigarro incomodava o meu nariz, mas não tanto quanto às lágrimas que desciam descontroladas a cada foto minha e de minha família que eu olhava, com tanta felicidade que era impossível achar que um dia fomos tristes, que eu estava triste.

Faziam alguns meses que as vozes voltaram a me incomodar, que voltaram a sussurrar para eu matar as pessoas, para que eu matasse a mim mesmo, mas por sorte o Jimin conseguia me ajudar, mesmo com toda a sua insanidade mental, ele ainda se preocupava comigo acima de qualquer outra coisa, assim como eu em relação a ele, porém, eu sabia que em breve isso terminaria e morreríamos, como deveríamos ter feito naquele maldito dia.

A música abaixou quando as luzes foram acesas, distraindo-me de tais pensamentos, então direcionei o meu olhar à porta, onde Hye Sun estava, com sua expressão séria e um tanto receosa, e logo atrás dela Chanyeol também estava.

- O que fazem aqui? – Levantei-me rapidamente, empurrando-os para fora.

- Não precisa se comportar desta maneira, Hoseok. – Chanyeol agarrou meu braço, rangendo os dentes ao olhar em meus olhos. – Nós já sabemos de tudo! Sabemos o que pretendem, sabemos o que fizeram no passado e também sabemos que você não é tão ruim assim...

- Não sei sobre o que estão falando.

- Jung Hoseok! – Hye Sun gritou, empurrando-me para dentro do quarto outra vez. – Não adianta esconder, nós já sabemos de tudo e acabamos de receber uma ligação do Jin, então acho bom você largar esse seu demoniozinho de merda e nos contar exatamente o porquê do Jimin ter enviado aquele maldito Íncubo ao orfanato.

As palavras agressivas dela me fizeram entrar em pânico, mas ao mesmo tempo um alívio enorme preencheu cada parte do meu corpo, como se eu tivesse revelado um grande e sufocante segredo, pois já não aguentava mais guardar todo aquele ódio e dor dentro de mim. Em poucos instantes eu concordei, puxando-os para dentro do quarto antes de trancar a porta e iniciar:

- Quando eu e o Jimin conseguimos sobreviver ao incêndio, meu irmão enlouqueceu, perdeu a cabeça e qualquer razão que ainda possuía. Mesmo com seus graves ferimentos e dores por todo o corpo, ele só conseguia pensar em vingança e em como se livrar do sofrimento que foi colocado assim que nasceu. Eu sempre pensei que o Jimin fosse ingênuo e ignorante, mas ele se mostrou tão ou mais inteligente do que eu. Durante anos ele observou em silêncio o Jin, lia escondido todos os livros e artigos que o meu irmão escrevia sobre magia. O Jimin conseguiu dominar energias poderosas, aprendeu a manipular muito bem as pessoas, os objetos naturais e tudo o que eu ainda desconheço... ele continuou a praticar rituais, continuou a estudar, mesmo com a crise em que nossa família se encontrava. Após o incidente, Jimin me contou tudo... contou sobre seus desejos e suas invejas, mas o que mais me assustou foi quando ele me contou que passou a desejar que o demônio do NamJoon o possuísse. O Jimin nutria uma inveja enorme do nosso irmão, desejava ter o poder e atenção que ele conseguia através do demônio, mas existia algo que fez meu irmão perder completamente a sanidade mental. Ele desejava algo que eu nem mesmo imaginava almejar tanto assim...

- E o que seria isso? – Perguntou Chanyeol ao cruzar os braços, então forcei um riso.

- Ele desejava a Sophie. A inveja e o ódio dele aumentaram quando ele descobriu que NamJoon conquistou o amor da nossa irmã, o amor e o corpo que ele não conseguiu atrair para si. Quando nós... quando eu fiz a besteira de nos “salvar” da morte, Jimin aproveitou a oportunidade para tomar a posse do Alcander, então assim conseguiria atrair facilmente a Sophie para si, já que naquele dia o NamJoon conseguiu se livrar dele, assim como o restante de nós conseguiu se livrar do que nos atormentava. Ah, se eu não tivesse feito aquilo... se eu não tivesse aceitado a proposta...

- Proposta? – Hye Sun segurou um dos meus braços, apertando-o. – Hoseok, como conseguiram sobreviver?

Os olhos irritados dela encontraram-se com os meus e, quando estava prestes a responde-la, senti meu corpo inteiro formigar e as vozes novamente me ameaçarem, sussurrando para que eu não dissesse nada, ou estaria morto. As lágrimas ameaçaram cair, mas antes que eu permitisse, empurrei Hye Sun e corri para fora do quarto, para o mais longe que conseguia, pois se eu ficasse ali, sei que os mataria.

Kris

“ – Esta noite acontecerá um baile de máscaras! – Jimin sorriu, abrindo sutilmente os braços. – Dentro dessa caixa estão as roupas que você e Sophie devem usar, porque sei que àquela que mandei anteriormente ao orfanato foi ignorada. Kris, você a convencerá e a trará para o baile, então nosso trato estará, finalmente, completo.

– E se você me trair?

Jimin sorriu, ajeitando-se na poltrona antes de erguer uma chave em frente aos meus olhos, então respondeu:

– Fiz uma promessa, Kris. Quando a Sophie estiver em minhas mãos, lhe darei a chave do lugar onde sua querida mãe está. ”

As palavras dele ecoavam por minha cabeça sem parar, mesmo com Sophie parada ao meu lado e insistindo para que eu dissesse o que havia dentro da caixa. Quando finalmente chegamos à casa, deixei a caixa sobre a mesa da cozinha e respirei fundo, abrindo-a sem pressa. Os olhos curiosos dela repousaram sobre o vestido vermelho que desdobrei, e aquele brilho que a imensidão azul de seus olhos me mostraram, fizeram-me recuar por um momento, mas a imagem da minha mãe me veio à mente, fazendo-me esquecer por completo o sentimento que invadiu meu peito.

- O que é isso, Kris? Um presente?

- Sim. – Sorri para ela, mostrando o convite em minhas mãos. – Ontem você disse a mim que passaria a viver no orfanato junto de sua família, então, nada mais justo do que você aceitar sair comigo.

- Claro, mas... o vestido não é um pouco brilhoso para sairmos?

- Nós iremos a um baile de máscaras, Sophie!

- Eu não sei... nunca fui a um antes.

- Por favor, apenas hoje! Se você não gostar, iremos para outro lugar!

- Promete?

- Prometo!

Sophie sorriu e abraçou o vestido em seguida, então apontei para o relógio, fazendo-a perceber que precisaríamos nos preparar para o baile, e assim ela correu para o quarto.

Por favor, Sophie, perdoe-me...

Yoongi

A belíssima noite estrelada dava um clima agradável àquela ocasião. A luz do luar iluminava e realçava os trajes e máscaras de cada convidado sorridente, os quais nem imaginavam o que poderia lhes acontecer pouco mais tarde. O enorme hotel, mais parecido com uma mansão antiga, estava muito bem decorado, cheio de vida, mesmo com a temática do Halloween; tudo estava impecável e iluminado, mas não tanto quanto Sophie, sempre tão sorridente e alegre. Seu longo, azul e brilhante vestido lhe caía tão bem quanto a máscara decorada, de longe a mais bela e detalhada de todas. Os grandes olhos azuis percorriam cada parte do hotel, mas ela não pareceu reconhecer o local onde estava pisando. Afinal, tudo estava tão diferente de antes. O rapaz ao lado dela, aparentemente, estava nervoso e ansioso por algo, mas não consegui distinguir o porquê, até que Jimin apareceu. Ele estava lá, no topo da grande escada, com suas mãos apoiadas no corrimão enquanto, lentamente, ele descia cada degrau, sorrindo para Sophie, a qual não acreditou no que vira até que ele parou em sua frente. Então, tudo escureceu.

O meu coração acelerado me fez pular da cama quando percebi o que acabara de sonhar e, mesmo descalço, corri para o andar inferior do orfanato, onde todos ainda estavam conversando, exceto Sophie.

JungKook percebeu a minha preocupação e meu tom de pele ainda mais pálido e perguntou:

- Yoongi! O que está acontecendo?

- A Sophie vai àquele baile.

- O que? – Jin balançou a cabeça ao rir. – Mas nós não dissemos nada a ela sobre o baile.

- E você acha que o Jimin não teria um segundo plano? Eu acabei de ver o que vai acontecer, ou parte disto, então vamos logo!

Não precisei de muito para convence-los de que eu dizia a verdade, pois estava evidente em minha face o que aconteceria se ficássemos ali, mas quando percebi àquela movimentação, algo veio à mente e um impulso tomou conta do meu corpo assim que JungKook passou por mim, fazendo-me agarrar seu pulso com força.

- Você fica.

- Por quê?

- Se estivermos todos reunidos, será mais fácil para o Jimin acabar com tudo isso de uma vez.

- Mas não estamos todos aqui, ainda falta o Taehyung.

- JungKook, apenas faça o que eu disse. É melhor prevenir, não concorda? – Direcionei o olhar ao dele após seu silêncio, então ele assentiu e soltou-se de mim. – Se demorarmos ou se perceber algo de estranho, procure-nos. Ah! Faça com que a Yang Mi também fique aqui, certo?

- Certo, mas vocês têm uma hora. – JungKook cruzou os braços, olhando brevemente para Jin que já estava devidamente vestido. – Se passar disso, iremos atrás de vocês.

- Como quiser.

JungKook sorriu e bateu em meus ombros, então puxou Yang Mi para si e explicou o que havíamos decidido. Quando estávamos todos reunidos na sala principal, Jin distribuiu amuletos com cristais que nem ousei perguntar o nome ou para que serviam, apenas o coloquei em meu pescoço e respirei fundo, para então, seguirmos rumo à morte.