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História Décalcomanie - Schizo Boy


Escrita por: Jaesa

Notas do Autor


Primeira fic postada, eu revisei umas 4 vezes, mas sempre tem um errinho t-t

Capítulo 1 - Schizo Boy


Eren se sentou no banco de pedra que ficava no meio do jardim da clínica. Estava um dia chuvoso, combinando com o início da estação do Inverno, mas ele definitivamente não se importava, gostava da sensação que o frio passava. Abraçou suas pernas e ficou observando o nada enquanto bocejava. Passou os últimos dias dormindo muito, mas isso não pareceu lhe influenciar de modo algum, de qualquer forma, gostava de dormir. Era como uma válvula de escape de sua doença, apesar dos seus pesadelos pouco constantes.

 

          Logo sentiu uma mão em seu ombro, fazendo com que virasse para trás e encarasse a figura loira que sorria para si. 

 

          — Hora do seu teste, vamos? — perguntou Armin, seu médico, enquanto estendia a mão para si. 

 

          — Mas já é quarta-feira? — aceitou a mão estendida e se levantou, limpando a poeira de suas calças. 

 

          — Você passou Segunda e Terça praticamente desmaiado na cama, não me admira que esteja tão perdido. — explicou durante o caminho que fizeram do jardim até a porta da clínica. — Sasha, a Sala 03 está disponível? — perguntou para a recepcionista do local, que deu uma rápida olhada nas câmeras de segurança. 

 

          — Sim, pode ir lá. — a mulher respondeu enquanto apertava um botão para destrancar a porta da tal sala. 

 

          Armin acenou com a cabeça em forma de agradecimento e seguiu junto de Eren para dentro da sala. Era um lugar branco, com duas carteiras escolares de mesma cor, uma de frente para a outra. O médico instruiu Eren para que se sentasse na cadeira e esperasse até que ele voltasse. O moreno fez o que lhe fora dito e se sentou na carteira. Não demorou muito até que Armin voltasse com uma caixa em mãos. 

 

           — Escuta Eren, eu irei te vendar  agora. Você precisará sentir alguns objetos e me falar o que eles são. Isso é um teste, mas não se preocupe se errar. Digo isso pois sei o quanto você fica nervoso em provas. — o loiro riu soprado enquanto terminava de amarrar a venda ao redor dos olhos do moreno, este passando a enxergar nada além do breu completo. 

 

          O médico se sentou na carteira de frente para Eren e pegou uma bola de basquete. 

 

          — Estenda sua mão. 

 

          Eren cuidadosamente ergueu sua mão direita para frente, sentindo as mãos delicadas do doutor segurarem seus pulsos e levá-los em direção ao objeto, fazendo com que Eren tocasse-o. 

 

          — Leve o tempo que precisar. — comentou Armin enquanto destravava uma caneta de tintura azul, fazendo um click audível. 

 

          — Isso é... — o moreno passou a tocar a bola com as duas mãos, passando as unhas e as pontas dos dedos. — uma bola. 

 

          — De que? — o médico lhe incentivou à continuar. 

 

          — Uma bola de basquete! 

 

          — Muito bom. — elogiou enquanto marcava um "correto" ao lado do ícone de uma bola de basquete em sua prancheta. — Agora tente adivinhar esse aqui. 

          Colocou um patinho de borracha nas mãos de Eren, este passou menos tempo tateando o objeto antes de dizer com convicção: 

 

          — Um patinho de borracha. 

          Armin fez mais um "correto" ao lado do ícone de um patinho e deixou  o próximo objeto ao tato do moreno. Um laço grande para enfeitar cabelo já armado. 

 

          — Isso é... Uma flor? 

 

          — Quase, um lacinho. — o loiro respondeu, marcando um "x" ao lado do laço. 

 

          Foram dez objetos ao todo. Eren acertou seis: a bola de basquete, o patinho de borracha, um chinelo, um livro, um ursinho de pelúcia e um óculos. Errou quatro: o laço, um controle remoto, uma vela e um carrinho de brinquedo. Isso foi um susto para Armin já que dá última vez que fizeram esse teste, o moreno sequer acertou metade dos objetos impostos. 

 

          — Eren, eu vou te fazer algumas perguntas, okay? Responda com sinceridade, por favor. 

 

          — Certo. — respondeu com disposição,  já sem a venda nos olhos. 

 

          — Você tem escutado vozes ultimamente? 

 

          — Sim. 

 

          — O que elas te dizem? 

 

          — Elas ficam me julgando por tudo o que eu faço, além de ficarem me dando ordens. 

 

          — Pode me dar alguns exemplos? 

 

          — "Lá vai o idiota tomar banho", "Eren, vá fazer tal coisa".

 

          — Certo, certo. — fez uma pequena pausa para escrever mais em sua prancheta. — São vozes predominantemente masculinas ou femininas? São vozes conhecidas por você? 

 

          — Não, mas acho que femininas. Apesar de eu não conseguir distinguir o sexo de boa parte delas. 

 

          — Entendi. Em relação à sua visão: você enxerga algo "fora do normal"? 

 

          Eren assentiu positivamente com a cabeça. 

 

          — Sim. 

 

          — O que? 

 

          — Algumas formas geométricas, animais e... um demônio. 

 

          — Um demônio? Como ele é? 

 

          — Alto, geralmente ele vai do chão até o teto de qualquer quarto em que eu esteja, ele é como uma sombra de olhos brancos, vive me encarando. 

 

          — Ele fala com você ou te faz algo? 

 

          — Não. Mas as vezes ele sorri, o sorriso dele é horripilante. Há muita carne e sangue em seus dentes, e eu sinto um cheiro horrível de carniça toda vez que ele faz isso. 

 

          — Com que frequência ele aparece, ou em que situação? 

 

          — Não há um padrão. Mas sempre que eu me sinto assustado.  — deu uma pausa antes de arregalar os olhos e olhar para o loiro em sua frente. — Ele está atrás de mim. 

 

          — Eren, não há nada atrás de você. — disse após olhar por cima do ombro do moreno, encontrando apenas a parede branca e vazia da sala. 

 

          O paciente olhou para trás por um momento, constatando que de fato não havia nada lá. Porém assim que voltou a olhar para frente, o monstro agora estava atrás do médico, apontando para o mesmo. 

 

          — Ele não gosta quando falamos dele. — disse sem tirar os olhos da criatura. — Ele não quer que outras pessoas saibam de sua existência. Ele tem medo que vocês tentem me tirar de perto dele.

 

          O médico ergueu as duas sobrancelhas, claramente  surpreso com a declaração inesperada. 

 

          — Então vamos mudar de assunto. Você sente algum tipo de odor que não bate com a realidade? 

 

          Eren não disse nada até a criatura desaparecer completamente, o que demorou mais ou menos um minuto. 

 

          — Além daquele cheiro de carniça... as vezes quando eu acordo, sinto o cheiro de flores. 

 

          — Sente gostos estranhos na boca? 

 

          — Não. 

 

          — Muito bem. — o louro suspirou, dando uma rápida lida em todas as informações que anotara. — Você pode ir para seu quarto, estarei indo para lá levar a sua janta. 

 

          Eren assentiu com a cabeça e se levantou, se dirigindo para seu quarto na grande clínica. Assim que abriu a porta, se jogou na cama. Logo suas vozes mentais voltaram a lhe atormentar, conversando entre si como se o moreno nem lá estivesse. 

 

          — Calem a boca! — gritou em um acesso de raiva, batendo diversas vezes em sua própria cabeça. 

 

          — Eren? 

 

          Escutou a voz em tom preocupado de seu médico por trás da porta e gritou um "pode entrar", as outras vozes imediatamente se calaram. 

 

          Armin entrou no quarto carregando uma bandeja com uma tigela de sopa e um copo com suco encima. O moreno se sentou na cama e sentiu o louro colocar a bandeja em seu colo. 

 

          — Eren, precisamos conversar. — suspirou. 

 

          — O que foi? — perguntou despreocupadamente enquanto saboreava a sopa com alguns legumes. 

 

          Armin puxou uma cadeira que havia no canto do quarto para perto da cama de Eren e se sentou. Havia ensaiado para aquele momento durante um bom tempo, porém agora tudo parecia diferente. 

 

          — Eu serei transferido para um outro caso. — disse em um fôlego só. 

 

          Eren engasgou com a sopa e foi preciso que o médico lhe desse alguns tapinhas nas costas para que o mesmo pudesse voltar a falar. Estava abalado com a notícia, afinal Armin foi o único que cuidou de si desde que chegara na clínica que realmente se importava com os gostos do mesmo. O louro nunca deixava que lhe dopassem ou lhe dessem muitos medicamentos, fazendo o possível para não prejudicar a saúde de Eren. Ele se perguntava quem mais seria capaz de fazer tal coisa. 

 

          — Por quê? 

 

          — É o meu trabalho, casos vêm e somem o tempo todo. Apenas me acharam o mais indicado para cuidar de um paciente. — explicou cuidadosamente. 

 

          — Você vai me abandonar? — o moreno perguntou com voz derrotada. 

 

          — Não! Eu nunca faria isso. Nós ainda vamos nos ver na clínica, só que com menos frequência. E eu não poderei mais tomar as decisões sobre seu tratamento. 

 

          Eren engoliu em seco. 

 

          — E quem fará isso? 

 

          — Um amigo meu. Relaxa, ele é de confiança. Eu lhe expliquei tudo sobre o seu caso e pedi para ele assumir. 

 

          O paciente franziu o cenho, abaixando o olhar. 

 

          — O que essa pessoa tem que você precisa tratar? 

 

          — Eu realmente não deveria te contar isso, mas é psicopatia com violência. Ele tentou matar a própria mãe e irmã. 

 

           Armin havia explicado aquilo com tanta calma que indignou Eren. 

 

          — Está me dizendo que você vai ficar sozinho em uma sala com um psicopata que tentou assassinar a própria mãe? Você corre perigo.  — segurou nos dois ombros do louro, sacudindo-o. 

 

          — Eren, eu corro perigo desde que me assumi no ramo psiquiátrico e vim trabalhar aqui. Eu reconheço isso e aceito. 

 

          O moreno soltou os ombros do médico e voltou a se sentar. 

 

          — Quando você começa ? 

 

          — Amanhã. Eu realmente não queria te contar muito perto da hora, mas me avisaram fazem poucos dias. — acariciou os cabelos do paciente. 

 

         — Quem irá cuidar de mim? 

         — O nome dele é Levi. Ele tem uma personalidade complicada, mas é um bom médico, ótimo, na verdade.

 

          — Ele vai deixar que me dopem? — perguntou com um leve medo da resposta, possuía uma tremenda fobia de agulhas, entrava em modo pânico toda vez que alguém se aproximava com uma. Quase tirou o olho de uma enfermeira durante estes ataques, assim que Armin descobriu o fato, proibiu completamente o uso de tranquilizantes ou injeções que não fossem extremamente necessárias para com Eren, não foi difícil já que o paciente não tinha muitas crises e, quando tinha, bastava conversar com Armin que já se acalmava. E como ele era total responsável pelo tratamento do moreno tiveram que obedecê-lo, foi assim que a amizade dos dois começou. 

 

          — Não, eu expliquei tudo para ele. 

          

          Isso pareceu acalmar um pouco o moreno, mas ainda sim havia aquele pequeno pé atrás. 

 

          — Eu preciso ir, já deu meu horário. — o louro olhou em seu relógio de pulso e quebrou o silêncio constrangedor que se sucedeu. 

 

          — Tchau. — Eren disse melancolicamente. 

 

          — Tchau. — respondeu o outro lhe dando um sorriso encorajador, fechando a porta atrás de si assim que saiu. 

 

          Eren terminou de tomar a sopa e o suco e foi para o banheiro que ali havia. Como já havia tomado banho pela manhã, apenas escovou os dentes e voltou para a cama. Constatando que alguém já havia buscado a bandeja, pois ela já não estava mais em sua mesinha de cabeceira. 

 

          Se cobriu com o edredom e fechou os olhos, seu coração começou a bater rapidamente. Mas o moreno nem ligou, era apenas sua ansiedade. 

 

          Quando acordou no dia seguinte, não fora Armin quem lhe levou café da manhã como o usual. Foi um homem baixo que se apresentou como Levi. Era um cara de palavras firmes, Eren apreciou isso. No entanto era bem frio. Pôde perceber isso pela forma como ele o tratava. Se Armin era compreensivo, delicado e cuidadoso, Levi era justamente o oposto. 

          

          — Eren, tem visita para você. — Levi bateu na porta do quarto de Eren e entrou, fazendo um gesto para que o mesmo lhe acompanhasse. Fazia uma semana que conhecia Levi e uma semana que não via Armin. 

          O paciente se levantou bufando de sua cama e seguiu Levi pelos corredores da clínica. Chegando no pátio principal, notou sua mãe, seu pai e sua irmã sentados em uma mesa. Seu pai estava neutro, porém sua mãe e irmã se encontravam aflitas. Eren correu para abraçá-las, seu pai ficou conversando com Levi sobre seu estado mental. Este não pôde dizer muita coisa pois só conhecia Eren faz uma semana, no entanto lhe passou os dados que Armin deu. 

 

          — Então Eren, como está sendo viver aqui? — perguntou Carla, acariciando a mão do filho por cima da mesa. 

 

          — Está normal, mãe. Não há muito o que se dizer sobre um hospício. — respondeu dando de ombros. Sabia que a decisão de interná-lo havia doído muito para a progenitora, por isso evitava lhe dar preocupações. 

 

          — E quem é aquele baixinho? Pensei que seu médico fosse Armin. — Mikasa, sua irmã, perguntou após um tempo em silêncio. 

 

          — Armin foi transferido, agora é o Levi quem cuida do meu caso. — explicou enquanto observava Levi conversar com seu pai, provavelmente contando sobre seu atual estado psicológico que, cá entre nós, não estava a melhor coisa do universo. Seus pesadelos aumentaram de frequência durante essa semana e as vozes pareceriam se intensificar. 

 

          — Como é que ele é? — sua mãe buscava continuar com a conversa. 

 

          — Chato. — Eren respondeu sem pensar, causando uma risada fraca vinda de Mikasa, pelo jeito a garota não havia ido com a cara do outro. — Mas é o trabalho dele então não vou ficar atirando pedras. Se bem que não iria doer se ele me desse um bom dia de vez em qua...  

 

          — Eren. — escutou a voz ameaçadora de seu médico logo atrás de si. O paciente se calou na hora, movendo a boca como se falasse "me fodi", porém sem sua voz sair. Estava de costas para Levi e seu pai, portanto não os viu chegando. 

 

          — Fala, doc. — o doutor revirou os olhos diante do apelido que Eren lhe dera. 

 

          — Hora do seu teste de sensopercepção. Anda logo. — após dizer isso, Levi deu as costas, nem esperou o garoto se levantar para lhe seguir. Este teve que dar um abraço rápido em seus familiares e seguir o outro até a Sala 04. 

 

          Levi fechou a porta atrás de si e colocou Eren no meio da sala. 

 

          — Esvazie sua mente, eu vou ficar no canto da sala. Me diga se você vir, ouvir ou sentir algo estranho.

 

          Eren fechou os olhos e respirou fundo, tentando ao máximo relaxar os membros, tendo pouco sucesso. 

 

          — Eu não consigo. — disse por fim. 

 

          Levi suspirou passando a mão pelo rosto, dizendo com a voz arrastada e cansada:

 

          — Por que não consegue? 

 

          — Eu não consigo com ele me encarando. 

 

          — Ele quem? 

 

          Eren apontou para o canto oposto ao que Levi estava. 

 

          — Aquele cervo, você não vê? 

 

          O médico anotou em sua prancheta, havia olhado para o local que Eren apontou, e definitivamente, não havia nada lá. 

 

          — Ele está me olhando estranho. Ele quer me matar. Todos querem. — as mãos do paciente tremiam e sua voz aumentava à medida que ele andava para trás, visando fugir do animal que só ele via. 

 

          — Garoto, ninguém quer te matar. Eu preciso que você se acalme. — Levi se aproximou de Eren, levando um pequeno susto quando este se jogou no chão com as mãos na cabeça, gritando. 

 

          — NÃO! TODOS QUEREM ME MATAR! VOCÊ NÃO ENTENDE? ELES ESTÃO ATRÁS DE MIM, ELES NÃO VÃO PARAR! 

 

          O doutor segurou ambos os pulsos de Eren, que se debatia, querendo se livrar de seu aperto. 

 

          — Eles quem? 

 

          O mais novo parou de se debater, olhando bem no fundo dos olhos tempestuosos. 

 

          — Os titãs. 

 

          Foi preciso que dois enfermeiros segurassem Eren e o levassem de volta para seu quarto, Levi não desgrudou os olhos do moreno desde então, mas este pareceu se acalmar. 

 

          — Como que o Armin fazia para te acalmar se ele não te dopava? — o mais velho perguntou enquanto preparava uma pílula de antipsicótico e um copo de água, observando Eren que estava sentado na cama, encarando a parede pouco interessante de seu quarto. 

 

          — Ele... conversava comigo. — disse enquanto pegava o copo de água e a pílula, tomando-os imediatamente. 

 

          — Sobre o que? 

 

          — A vida. 

 

          Levi respirou fundo, cruzando os braços em frente ao peito. 

 

          — Quer me falar sobre a sua família? — perguntou. 

 

          Eren negou com a cabeça, abraçando ambos os joelhos e colocando seu rosto entre eles. 

 

          — Eu quero dormir, boa noite, Levi. 

 

          Eram 18:56, o médico apenas deu de ombros, saindo pela porta e fechando-a. O moreno continuou encarando o nada no escuro até fechar os olhos, tentando ignorar a presença da enorme sombra de olhos brancos que lhe encarava todo o tempo


Notas Finais


Obrigada por terem lido, pretendo postar o 2 Cap amanhã bjoks


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