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História Definhando aos poucos. - .seu amor é só uma memória


Escrita por: knshm

Capítulo 1 - .seu amor é só uma memória


Fanfic / Fanfiction Definhando aos poucos. - .seu amor é só uma memória

 

definhar; v.i 

tornar-se sem vida, sem cor, sem ânimo

secar e decair

perder o vigor ou a saúde. 

 

"Hyelim-ah, eu odeio você!'' Juhee me dizia quando eu fazia alguma piada fora de hora, mesmo que ela estivesse rindo tanto que seu sorriso parecia querer saltar pra fora da boca. Eu achava graça e a enchia de beijos, a prendendo nos meus braços pra nunca mais escapar.​

Ela foi embora bem no final de semana que planejei. Eu mandei muitas mensagens – não liguei pois certamente a incomodaria, em seja lá o que estivesse fazendo. Depois de duas horas sem resposta, sentei no chão da sala com o nosso cachorro. Esperei o telefone tocar, me preparando para atender sua voz furiosa. E nem mesmo isso aconteceu.

Em conversas rasas no auge dos meus quinze anos, papai costumava me dizer que casamentos para os adultos são como contos de fada para as crianças. Ao contar uma história de final feliz para uma mente jovem, ela irá acreditar e se alegrar com a fantasia, até o tempo passar e o encanto se perder. Nas palavras dele, exatamente o mesmo acontecia após alguns anos de matrimônio. A energia do conto definhava aos poucos. A magia acabava, e sem muita demora, tudo o que restava eram cabeças cientes que o formigamento chegou ao fim.

Eu lembro da nossa primeira briga assim como lembro do nosso primeiro beijo e da nossa primeira conversa. Seus gritos estão marcados em lembranças cheias de detalhes. Quando a frustração me sobe a cabeça e eu me salvo de um possível afogamento – deixando a água que guardo sair pelos meus olhos –, revivo aquela noite. Ressuscito o jeito em que eu lhe mandava parar, lhe pedia calma, falava que a bagunça ia passar e que íamos dar um jeito, do mesmo modo em que fazíamos com nossos problemas no colegial, marcando datas aleatórias para ver a desordem rastejar pra longe de nós na mesma lentidão das horas. Mas Juhee sempre foi mais madura e mais inteligente, fazendo jus ao seu posto de unnie. Ela negava. Permanecia estragando sua voz, evidenciando o timbre doce totalmente transformado em algo estridente, desesperado.

Acreditei em cada argumento usado por ela pra me atingir, arranjei inúmeras formas de convencer a mim mesma que sua dureza era verdade. Eu não prestava, era só uma menina mimada que não tardou em destruir os sonhos de outra. Mas eu só dizia isso pra mim porque não queria acreditar que ela tinha mudado e que a previsão do meu velho pai sobre o laço estava se concretizando.

Também lembro de como fui tola achando que mais uma noite gasta nos nossos lençóis sujos seria o bastante para botar tudo em seu lugar. Não pareceu uma má ideia naquele momento. Ela gemia meu nome, puxava meu cabelo. Depois de derreter me chamava com a voz manhosa pedindo pra fazer de novo. Ali, parecia que nós duas nunca saímos da nossa própria rota, que tudo sempre foi tão fácil quanto a forma em que eu caía por ela toda vez que seus nuances tocavam minha existência. Seu sorriso acendia minhas luzes, seu toque arrepiava até a alma e seu cheiro de canela inebriava-me da cabeça até os pés. Juhee ia e vinha mas continuava sendo minha, só minha.

Eu ainda estava dando conta do quanto era bom sentir que estávamos funcionando de novo. Pensava alto, sentia meu corpo vibrar, traçando linhas sem sentido com meus dedos pela cintura magra da mulher ao meu lado.

A tempestade chegou sem alertar ninguém além dela e dos raios maltratando o solo lá fora.

E quando Juhee ergueu as mãos para castigar a si mesma, eu pude jurar que o brilho de nossa aliança estava opaco, quase morto.

Chorei conforme Juhee quebrava nossas coisas. Ela dizia que meus soluços a deixavam com raiva. Pouco soube que depois de ter pego no sono – uma maré adormecida depois de um tsunami fatal – eu chorei ainda mais, fui até a sacada do prédio e me perguntei como pessoas tão pequenas, só poeirinhas no meio da imensidão das galáxias e da enormidade dos multiversos, podiam conter catástrofes tão grandes dentro do peito. Fiz tudo o que ela insinuou: me julguei, me culpei, desejei voltar no tempo e pensar mil vezes mais antes de estender a aliança dourada acima do meu corpo de joelhos em nosso quinto aniversário de namoro. Não porque eu não a amava, mas sim, porque queria condições melhores para que pudéssemos crescer e viver antes desse passo.

Eu cresci e vivi ao lado dela, não se engane. Foi o suficiente e mesmo nesse caos o amor ainda vivia em mim. Juhee podia criar, recriar nossos dias do nosso jeito traumático, ainda assim eu não conseguia deixá-la. O que floresceu em mim era gigantesco a ponto de fazer parte de quem sou. Sempre que a observo dormir, noto que não posso simplesmente abandonar esse amor, o meu amor que se sustenta sozinho. É a única Juhee que ainda tenho.

Viramos isso: um amor unilateral, uma música confusa, um quadro desbotado.

Um texto mal acabado, uma cicatriz que não fecha.

Juhee não me olha de volta, não sorri. Em certos dias me agradece, em certas noites me deseja bom sonhos, mas nada disso tira a certeza de que estamos vivendo no automático. Está tudo bem, não me importo mais em me machucar. Só quero gravá-la até me dizer – em palavras concretas, na sua melhor tentativa – que a ponte falida que nos sustentava finalmente cedeu, que a longa caminhada no vazio exercida por mim e por ela alcançou algum ponto: o frio de uma despedida.

"Hyelim, eu odeio você." Passou a me dizer sem eu ter feito muita coisa. Eu olhava pra baixo e me perguntava o que fazer, pois já tinha gasto todas minhas reações.


Notas Finais




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