História Deixe-me entrar - Capítulo 6

Faltava pouco tempo para chegarmos, dessa vez não paramos, apenas trocamos de lugar. Agora Justin dirigia, eu estava ao seu lado e Júlia atrás dormindo.

  Eu não conseguia dormir, meus olhos estavam totalmente abertos e vidrados na estrada. Sentia que se eu dormisse, tudo de ruim poderia acontecer.

  Felizmente, até agora nada havia invadido minha cabeça. Até agora.

— Abby... — Justin me chamou fazendo-me sair dos pensamentos.— O que você vai fazer quando chegarmos?

— Primeiro vou ter que aguentar a bronca da minha mãe e meu pai... Depois eu vou seguir em frente. Meu pai quer que eu entre para a Caça há muito tempo, mas eu sempre inventei desculpas, agora não dá mais. Vou fazer dezoito e vou ser obrigada a entrar.

— A caça não é tão ruim, A.B. — Justin posou sua mão livre em minha perna. — Nós precisamos aprender à nos defender. Você sabe o mundo em que vivemos, as coisas estão mudando e nós ainda não sabemos como lidar com isso.

— Eu sei... Mas eu queria que as coisas fossem diferentes.

—Todos nós queríamos.

— Se não fosse a Caça, eles ainda estariam aqui. — Mordi o lábio inferior tentando não chorar.

— Pode acontecer o mesmo conosco.

  Nós ficamos em silêncio apenas prestando atenção na estrada. Sua mão ainda estava em minha perna, aquilo fazia eu me sentir um pouco segura. Sensação que eu só tinha com o Harry.

  Harry e Taylor sempre foram os queridinhos da Caça por serem filhos dos principais chefes do Conselho. Eu e Justin também éramos, mas nossos pais respeitaram ao dizermos que não estávamos preparados. Os pais de Júlia não eram tão importantes, mas ela se mostrou eficiente várias vezes.

  Desde criança, nunca escutamos histórias comuns como Peter pan ou cinderela, sempre ouvimos histórias de guerra da Caça. Nascemos e crescemos com espírito guerreiro.
Porém, de uns tempos para cá, as coisas estão difíceis. Vários jovens estão indo, mas não estão voltando. Estamos sem soldados. As coisas estão realmente piores do que imaginamos.

  […]

— Eu não aceito que fale assim comigo. — Robert gritava com seu filho, Owen.

— Eu falo sim. Você está ficando louco. Mamãe está doente, Abby está doente, e você não sai do trabalho um segundo para dar atenção a elas.

— Se não for eu trabalhando nessa casa, vocês vão morrer de fome. Ninguém aqui desprega a bunda para ir trabalhar, só eu. Você e Abby não querem ir para a Caça. Nicolle não aceitou ser chefe do Conselho.

— Papai... — Abby aparecera de trás de Owen, encolhida dentro do cobertor que estava enrolado em seu corpo. — Não briga com o Owen, por favor.

  No canto da sala, Harry e Taylor observavam tudo.

— Cale a boca, Abigail. Vocês são dois vagabundos. Eu não irei sustentar os dois mais, tratem de sair de casa. — Robert ficou vermelho indo para cima de Abby e Owen o segurou.

— Você pirou de vez? Não ouse encostar um dedo nela. — Owen cuspiu as palavras o empurrando em seguida.

  Robert como sempre não deixou barato a atitude do filho, virando-lhe um soco no rosto. O garoto ficara imóvel por alguns segundos. O rosto virado, a mão encima de onde o soco tinha acertado e os olhos fechados. Ele respirou fundo tentando segurar o ódio que crescia dentro dele. Ele abriu os olhos lentamente e Abby deu um pulo assustada.

— O- Owen... Seus... Por que diabos os seus olhos estão vermelhos?

  O garoto não respondeu, apenas olhou para o espelho atrás da garota.

— Eu sabia... Sabia que essa rebeldia tinha um motivo. Estamos com um infectado dentro de casa.

  Harry e Taylor saíram do canto da sala tirando suas armas da jaqueta enquanto iam para de cima de Owen, mas o garoto sumiu antes.

— Vão atrás dele. — Robert ordenou.

— Mas senhor... — Taylor tentou reverter a situação mas Robert apenas se virou e saiu do cômodo.

  Harry e Taylor saíram correndo da casa deixando Abby em choque para trás. Ela não sabia se ficava mais apavorada com Owen ser um infectado, ou com Harry e Taylor que estavam dispostos a mata-lo.

[...]

— Abby, acorda. Ja chegamos. — Justin me cutucou, mas eu já estava acordada, só estava com medo de abrir os olhos. A realidade é cruel.

— Ok... — Abri os olhos e olhei para fora. Júlia já estava na porta da minha casa conversando com minha mãe. Suspirei e comecei a tirar o sinto. Dei uma olhada rápida para Justin, tentando tomar coragem, em seguida abri a porta e sai.

— ABBY JENSEN, QUEM VOCÊ ACHA QUE É PARA SAIR ASSIM? — Mamãe gritou. Minha vontade era de voltar para o carro e sumir dali, mas continuei andando até chegar na porta.

— Desculpa...

— Não faça mais isso. — Mamãe me puxou para um abraço que não consegui retribuir. — Agora entrem. Irei fazer algo descente para vocês comerem.

  E assim entramos, comemos, escutamos a bronca de nossos pais e voltamos para nossas vidinhas.