História Delena- Apenas Amigos, ou Não - Impessoal

Elena Gilbert 

  O corpo esguio de Damon se afastava rapidamente até que sua silhueta sumisse na escuridão, o silêncio pairou sob o comodo, Lilian havia largado os talheres ao lado do prato, tinha as mãos apoiado o rosto, parecia cansada e desolada 

 _Ele nunca vai me perdoar, sempre vai me culpar pela morte do pai e eu nem sei porque 

 _Desculpe Lilian, Damon só está exaltado vou falar com ele 

_Elena, obrigada 

 Assenti indo em direção ao corredor por onde Damon havia seguido, a porta do escritório estava aberta então deduzi que ele estaria lá, parei perto ao batente e pude ver o moreno parado de costas, no mesmo momento ele se virou encarei seus olhos que estavam em um ton de azul mais escuro que o habitual havia um copo em sua mão, vazio, deduzi que qualquer que seja o conteúdo que havia ali já tinha sido posto para dentro 

 _Faça o que eu digo mas não faça o que eu faço

 _Não bebi nada, não acho justo criticar você por beber muito e acabar fazendo o mesmo- só então percebi o braço que não estava segurando o copo estirado ao lado de seu corpo, segurando uma garrafa de uísque, não sabia se o motivo era realmente o que ele estava me dizendo ou se eu tinha chegado a tempo de impedi-lo de beber

 Antes eu não gostava quado Damon bebia, odiava a forma como ele via a bebida, como uma válvula de escape para momentos ruins, as brigas com Giuseppe ou Lilian ou por qualquer outro motivo, nos sempre brigavamos por isso, ele me tinha, eu era sua amiga e estava disposta a ouvir qualquer que fosse a sua angústia mas ele se fechava quando tinha problemas, se tornava uma outra versão do Damon que conheço, mas aqui estou eu mordendo a língua e fazendo o mesmo que tanto criticava 

 _Espero que continue pensando assim durante essas semanas que Lilian passara aqui 

_Tentarei 

 Ficamos nos encarando, Damon não falaria, ele nunca fala, me tornei um pouco como ele, fria

 _O jantar está ótimo, tem certeza que não quer comer nada?

 _Tenho, perdi a fome, como algo mais tarde 

 Fiquei na duvida se voltava e jantava com Lilian ou se ficava e tentava fazer com que o humor de Damon melhorasse, optei pela opção dois, adoro Lily ela é quase como uma mãe porem não culpo Damon por se sentir magoado em relação a ela, mesmo ela sendo sua mãe Entrei no comodo olhando o escritório onde Damon passava a maior parte do seu tempo livre, era impessoal, um espaço que não remetia muito a imagem do homem que ele é, nada de fotos ou objetos pessoais, apenas algumas pinturas famosas, uma mesa grande de madeira fundida, uma cadeira de couro preto, alguns livros localizados na estante a direita, passei os dedos por eles, já havia lido alguns, esse escritório pertencia a Giuseppe com a sua morte Damon remobiliou o local, confesso que gostava mais de como era antes, haviam fotos minhas e dos Salvatore, um quadro enorme da familia Salvatore atrás da cadeira de couro que antes era cinza agora só há móveis e coisas do trabalho 

_Esse lugar mudou muito

 _Sim 

 _Apenas o escritório, a casa continua a mesma, sua mãe também percebeu a mudança 

 Damon ficou em silêncio, decidi continuar 

 _Claro que eu também notei que está um tanto, impessoal demais 

 _É a casa de um homem, o que esperava? 

 _Não estou falando de cor ou dos móveis diferentes, estou me referindo a fotos, não tem quase nada a não ser as da lareira que estão lá desde de a época da escola

 _Não acho que é impessoal Rodeei mais uma vez o escritório as cores escuras davam um ar sombrio ao comodo, era tão _

Solitário- sussurrei 

 _O que?

 _Nada- pisquei algumas vezes, seguindo até sua mesa e me sentando na mesma, Damon ainda em pé me olhava intrigado__Me conte mais sobre os três anos que passou fora 

 _Já tivemos essa conversa, foi bom, cresci profissionalmente, foram bons anos realmente 

 _Isso eu sei, quero saber o que você não me contou

 _Conheci algumas mulheres, mas não foram grande coisa, não queria me envolver, só queria me forçar a trabalhar e esquecer o resto 

 _Você nunca quer 

 _O que?

 _Se envolver 

 _Você sabe porque- assenti, Lilian, esse era o motivo pelo qual Damon odiava casamentos ou qualquer tipo de relacionamento__Eu provei algumas coisas enquanto estava lá

 _Tipo o que?

 - Red Savina, é uma pimenta chinesa, eles usam lá como acompanhamento de comidas locais, um amigo me desafiou a come-la pura e eu fiz, passei uma hora sem sentir a língua de tanto que ardia- comecei a rir imaginando Damon perder a linha desse jeito, por mais que nossa amizade fosse livre e totalmente pessoal, Damon nunca deixava esse lado isolado de ser, um pouco pensativo demais, algumas vezes eu conseguia decifrar o que estava passando pela cabeça dele porem na maior parte das vezes era impossível__ Você ri porque não foi você quem ficou com a língua ardendo como o inferno

 _Quem manda provar esse tipo de coisa

 _É, foi bem idiota da minha parte

 Voltei a rir sendo acompanhada por ele, logo estávamos as gargalhadas, a imagem de um Damon todo vermelho bebendo rios de água me fazia rir mais, deve ter sido hilário. A conversa foi fluindo, situações constrangedoras, relacionamentos fracassados, coisas do trabalho, falamos sobre tudo que passamos durante esses três anos que ele havia passado fora, sem perceber eu tinha sido atingida por um sentimento de saudades, de Damon, de todos. O trabalho tinha me tomado muito tempo e antes mesmo da morte dos meus pais eu já estava me afastando deles mesmo sem perceber, até mesmo de Caroline, nos víamos sempre porem não tínhamos mais aquela coisa entre amigas, as coisas ficaram um tanto, impessoais 

 Essa deve ser minha palavra do dia, impessoal, sem perceber tudo e todos ao meu redor estavam ficando impessoais, até mesmo, eu. 

 _Quero que faça uma sessão com um terapeuta- Damon falou do nada, eu já estava sentada no meio de sua mesa com as pernas cruzadas enquanto ele sentado em minha frente na sua cadeira de couro preta me encara profundamente

 _o que? 

 _Apenas uma sessão, se você não gostar então deixamos pra lá mas quero que tente

_Damon, sabe que não gosto de falar dos meus problemas ainda mais com um estranho 

 _Eu sei, mas eu o conheço ele é uma ótimo profissional vai te deixar a vontade, quero apenas que tente Elena, por mim 

 Mordi os labios pensando, eu podia fazer isso por ele, Damon abriu mão de tanto coisa por mim, sempre foi assim, eu podia fazer esse esforço por ele 

 _Prometo pensar no assunto 

                ∆∆∆ 

 Mais tarde, sentada em minha cama, coberta por meu cobertor branco e quente, o diário estava mais uma vez em minhas mãos, a indecisão de escreve ou não pairando em minha mente mais uma vez, sobre o que eu escreveria? 

Abri o livro de capa de couro, a folha em branco me desafiando, respirei fundo 

 Terça feira- 00:40

 Dois meses e quatro dias 

 Bem, não sei o que exatamente tenho que escrever, porem, sinto que preciso faze-lo ou acho que vou explodir Eu odeio a minha vida, odeio ter sobrevivido aquele dia, odeio que meus pais tenham morrido, odeio minha falta de coragem em enfrentar minha nova realidade, mais recentemente, descobri que também odeio meu trabalho, ficar atrás de uma mesa não é mais tão a minha cara como era a uns meses atrás, o motivo? Não faço ideia, e por ultimo, eu odeio ter que passar trinta dias na casa de Damon Salvatore, sei porque ele está fazendo isso mas não entendo, porque perder tempo comigo? É tão frustrante ver todos os meus amigos deixando suas vidas de lado para cuidar de minhas loucuras

 Minha mãe sempre dizia que cultivar o ódio só faz com que você mesmo apodreça por dentro mas ela não esta aqui agora então eu posso dizer com todas as letras, estou odiando a impessoalidade que se estalou em minha vida 

 Sinto sua falta mãe!

                ∆∆∆ 

 No dia seguinte, acordei pior do que quando tinha ido dormir, tive pesadelos, não só com meus pais, com Damon também, isso me surpreendeu bastante, por mais que eu não me lembre muito o que acontecia no sonho, eu sabia, que era algo ruim. Desci para o café com a certeza de que meus olhos estavam vermelhos, e com grandes bolsas em baixo, minha cara e o meu humor não estavam dos melhores mas quem me culparia, eu não peço por esses pesadelos, eles me perseguem

 _O Elena querida, teve uma noite ruim?- essas foram as exatas palavras que Lily me direcionou assim que entrei na cozinha, talvez minha cara esteja pior do que eu imaginei 

 _É- respondi simplesmente, Damon não estava por aqui, deduzi que ainda não tinha levantado, Lily tomava uma xícara de café então decidi fazer o mesmo, sentando ao seu lado com uma caneca de café nas mãos, não demorou muito e Damon desceu, a cara pior do que a minha porem com menos sinais de insônia, servil-se de um copo de suco já que, nas palavras dele, café é a pior bebida já inventada, encostado na pia Damon me encarou, levantou a sobrancelha indicando uma pergunta muda que eu respondi com um revirar de olhos, desde de que presenciou, por duas vezes, os meus pesadelos, Damon anda me perguntando sempre como eles são, eu não digo, não sei exatamente o porque, só sei que não quero que ele saiba Escrever ontem no diário que ele me presenteou fez me sentir mais leve, porem, não durou muito logo que fechei os olhos a inconsciência me abraçou com mais uma pesadelo e meu bom humor e leveza foi direto pelo ralo. Me nego a sair dessa casa para fazer o que quer que seja _

Ótimo já que tomamos o café, temos o dia cheio hoje- Lily estava empolgado enquanto se levantava pondo a xícara na pia e nos encarando logo depois 

 _Cheio do que exatamente? 

 _Ora, vocês se esqueceram? o baile de boas vindas será ainda essa semana, a cidade tem que saber que Lilian Salvatore está de volta

 Olhei para Damon que revirou os olhos jogando a cabeça para trás, se tinha alguém que odiava mais esses bailes do que eu, esse alguém era Damon, bom se eu vou ter que fazer coisas das quais não gosto ele também vai ter que faze-lo e talvez esse baile venha a calhar, posso mostrar a Damon que posso ser totalmente normal e agradável com outras pessoas e não uma maluca que surta e grita com os outros sem motivo. E então essa ideia de terapia vai pro beleléu 

 _Vamos adorar te ajudar nisso Lily, será um baile maravilhoso tenho certeza