História Delírio - Acorde, Úrsula.

Acorde, Úrsula.

- Que brincadeira de mau gosto é essa? - Fred olhava confuso.

- O que tem ai? - Tentou espiar sem sucesso a cartas nas mãos da namorada.

- O Arthur. - Úrsula continuava imóvel com os olhos vidrados em um ponto qualquer da sala.

- O que tem o Arthur?

- Essa carta é dele!

- Pode parar com essa grosseira, Valentina. Eu só estava perguntando. - Ela encarou o menino e tacou a carta nele.

- Pode ler com gosto. - E saiu da sala levando a amiga em choque.

Úrsula continuava perdida em seus pensamentos, a carta tinha sido a última bomba em sua já bombardeada mente.

Quando voltou à si estava em seu quarto com Valentina sentada do seu lado e Fred parado na porta.

- Como você ta? - Valentina perguntou.
- Bem, eu acho.
- Mentira. - Fred continuou na porta em silêncio.
- O que você quer que eu diga? É claro que meu mundo ta de cabeça pra baixo agora, nunca em um milhão de anos eu esperaria essa atitude vindo dele. Mas eu to bem, eu vou ficar.
- Parece que você tentando se convencer disso. - Úrsula olhou indignada.
- Eu já to ficando can-
- Você vai responder? - Pela primeira vez Fred se pronunciou.
- Responder o que?
- A carta ué. - Valentina o fuzilou com os olhos. - O que foi?! - Revirou os olhos.
- É claro que não. - Semicerrou os olhos diante da atitude do menino.
- Eu perguntei pra ela, não pra você. - Ela abriu a boca pra retrucar, mas desistiu. - O namoro dos dois era como uma guerra fria. Fred vivia em seu próprio mundinho fantasia para sequer perceber as necessidades da namorada. Úrsula costumava dizer que o nariz o atrapalhava de ver o resto do mundo.
- Eu acho que já é hora de você ir embora. -- Oi? Eu estou preocupado com a minha amiga. Posso? - Fred tentou dizer mais alguma coisa, mas foi impedido por Úrsula.
- Eu preferiria ficar aqui com a Val, desculpa. - Sem opção, menino caminhou em silêncio para a porta.

Arthur não foi condenado ou sequer foi para prisão, a polícia nunca teve provas contra ele além de suspeitas. Depois que a investigação foi finalizada (os crimes continuaram sem solução) Arthur desapareceu da face da terra. Até agora.

- Você não precisava ter expulsado ele. - Valentina olhou para Úrsula.
- Você viu como ele tava me tratando? E você concordou com a saída dele.
- Primeiro que você começou sendo grossa com ele, lembra? E depois eu só concordei porque o clima ficou pesado aqui.
- Ah, então, eu sou a bruxa má aqui? Oh, pobre Fred! Ele sempre é o coitadinho da história!
- Perai, eu não falei nada disso. Eu só disse que você estava tratando ele mal.
- Eu estava tratando ele do jeito que ele merece porque quem sempre sai machucada nessa história aqui sou eu! E ele não percebe o quanto me machuca. Aliás, quando ele percebe alguma coisa?
- Fala isso para ele, se você não falar ele nunca vai perceber. Não dá pra esperar muita coisa do Frederico. - Valentina sempre foi de guardar tudo pra si mesma, principalmente em relação aos (muitos) problemas da relação entre ela e Fred.
- Eu já tentei, ele parece que entende no começo, mas depois tudo volta ao que era antes. Eu… sei lá… Às vezes ele nem fala comigo, sabe, eu queria que ele agisse como um namorado de verdade… Ele diz que se importa mas olha o jeito que ele age, que ele me trata. Juro queria entender. - Úrsula assistia triste a amiga chorar baixinho.
- Se você não ta feliz, então termina.
- Não, não vou terminar. Eu gosto dele.

Úrsula percebeu que ficava tão ocupada sofrendo e pensando em seus problemas que nunca havia notado que sua melhor amiga também estava sofrendo. Ela era pior e mais egoísta das amigas, Valentina sempre apoiou e esteve lá por ela e quando ela fez isso de volta?