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História Delírio - Único.


Escrita por: LolaLovett

Capítulo 1 - Único.


Algo latejava em sua cabeça desde o instante que sentou-se à mesa para o café da manhã. Não era fome, ou noite mal dormida. Ele só não conseguia identificar a procedência, de fato uma sensação ruim, como se o próprio corpo avisasse que aquele dia tinha tudo para começar sendo o seu último.

 

Fora recepcionado com o cheiro do cigarro que sua mãe sempre fumava, odor este que apareceu antes da mesma, a mulher de meia idade que em algum momento de seus anos devia ter sido linda, agora aparentava tudo o que uma desgraçada vida podia lhe dar.

Olheiras, marcas de expressão, cabelo desgrenhado era o menor em seu aspecto.

Milagrosamente hoje ela não estava ao telefone, os dedos longos com unhas enormes e vermelhas batiam de forma irritada na mesa enquanto o assistia engolir aquele café com leite.

 

Renan odiava café, odiava leite, odiava a soma dos dois. Odiava o cheiro de cigarro, odiava o perfume doce da mãe, odiava a profissão duvidosa da mesma e o fato dela aparentar querer estar em qualquer lugar, menos ali.

 

Nada mudou em sua aula, os colegas deixavam de ser interessantes ao passar dos dias, as conversas perdiam a graça, sentia sono e amargura. Talvez estivesse doente, mas assim como nem toda as doenças tinham cura, o rapaz sabia que não poderia ser diferente.

Quando retornou a casa, a mãe estava dormindo no sofá com o telefone no colo e um cinzeiro portando algumas guimbas de cigarro manchadas de batom.

Recolheu a sujeira, levando também o que se espalhava pela sala, evitando fazer barulhos. Limpava o local sem humor algum, odiava também esse trabalho, pior ainda era saber que após limpar, se quisesse se alimentar teria que fazer algo, por quantas vezes acabou dormindo sem comer nada? Já tinha perdido as contas.

 

Foi quando a noite caía que Renan jogou em uma frigideira velha tudo em sua geladeira que fosse menos suspeito, escutando o som forçado dos ovos ao serem fritos, espirrando contas de óleo pelo fogão e subindo um cheiro enjoativo.

Esse cheiro somou ao perfume agora noturno e mais forte que a mãe tinha administrado, ela estava arrumada e pronta para sair, ou trabalhar. Não exigiu-lhe um pouco de comida, o que o rapaz agradeceu.

 

Mas se soubesse o que a noite lhe separava, teria dividido o alimento. Talvez dito que apesar da vida deles ser um infortúnio, ele a amava.

Sua mente pesava tão quanto seu estomago quando acabou o banho, o quarto que passou toda sua vida, hoje parecia mais sombrio que o normal. Um vento frio o acompanhou conforme foi caminhando até a cama solitária no cômodo composto por apenas mais um guarda-roupas embutido e uma mesa vazia, se enrolou nas cobertas sem sequer estar com frio.

Haviam outras formas de frieza e o medo era uma delas.

 

E como se pudesse prever, sentiu um par de mãos em suas pernas e o corpo retesando diante a fragilidade. Aqueles dedos apertaram seu joelho ao ponto de sentir também as unhas.

Em meio as cobertas, abriu os olhos sem ousar olhar para baixo, cingiu a lanterna do relógio em seu pulso vendo que marcava onze horas e vinte e nove minutos. Seu peito estava latejando tanto que tinha medo de ser descoberto o fato dele fingir inutilmente que dormia.

Seja o que fosse que estava ali, tinha consciência de sua debilidade, solidão e pânico. Não podia ver o que era, não tinha coragem para tal ato.

 

Aquelas mãos passavam o gelo mesmo estando acima das cobertas, e agora elas subiam para seu abdômen, nesse momento, todo seu corpo passou a tremer com força, e se até então tentava enganar essa “coisa”, agora podia desistir.

As unhas afiadas subiam por seu torso, rasgando o tecido, levando sua camisa e cortando sua pele, Renan mordeu os lábios frente aquela dor, rezando para qualquer coisa que fora instruído em sua infância, implorando a forças superiores para fazer aquilo parar, necessitando que suas rezas fossem ouvidas.

 

Seus olhos agora ainda mais fechados não impediam das lágrimas escorrerem e molharem o travesseiro, ele nem tinha um celular para pedir ajuda, e pediria ajuda a quem?

A constatação óbvia e final que sempre estaria só, apenas serviu para que o pânico aumentasse na mesma medida que aquelas mãos se aproximavam de sua face, então, como último ato de coragem, sentindo o frio do quarto em sua face e sabendo que estava completamente exposto, Renan abriu os olhos...

 

Foi recepcionado pelo quarto escuro, e levou cerca de cinco segundos para perceber que tinha tido um pesadelo.

Sua coberta havia caído no chão, estava tão suado que a cama parecia enxugá-lo, também notou que o choro aconteceu, uma vez que seu travesseiro e rosto davam indícios disso.

 

A primeira reação foi sentir alívio, e acabou sentando na cama tentando dissipar a tenção e disposto a pegar a coberta que rinha caído quando algo lhe chamou a atenção: o relógio em seu pulso que marcava onze horas e vinte e oito minutos.

O flash de memória com seu sonho foi automático, lembrava de ter visto a hora enquanto morrida de medo, no pesadelo estava marcando onze horas e vinte e nove minutos, faltava um minuto.

Foi perante tal percepção que escutou o som manhoso e medonho do guarda-roupas embutido sendo aberto, não teve a audácia de virar para o lado.

 

Contudo Renan tinha certeza que ao contrário da primeira vez, agora não era mais um sonho, e esse seria seu último minuto.

 

��

 

No dia seguinte, Renan foi encontrado por sua mãe após a mesma dar falta dele durante o café da manhã, o mesmo café com leite gorduroso que o rapaz odiava, esfriava na mesa enquanto a mulher se desesperava com a cena do filho enforcado ao lado da cama.

Alguns poderiam dizer que ele encontrou descanso, outros a desgraça eterna.

Mas a verdade é que não tem como se esconder dos monstros que nos assolam. Ainda que estejam apenas em nossas cabeças.


Notas Finais


Happy halloween!!!
Se chegaram até aqui, muito obrigada ❣

E por favor, comentem sobre o que acharam, ficarei muito feliz, até mais ✌


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