Demônios do Paraiso
Heavenville — Novembro de 2010
Estava frio. Estava sempre frio — Aquele era o preço que se pagava por ser uma falha da criação; por ser uma aberração. Um monstro. Tom acelerava os passos no imenso corredor atapetado, mas o caminho até a câmara de seu tio parecia não ter fim. As janelas se abriam para o céu estrelado, ladeadas por sombrias armaduras de ferro. Ele não queria estar ali...
Arrumando a horrível gola bufante sobre o colete de flanela carmim, o garoto esticou a mão gelada para a maçaneta — Inusitadamente destrancada. Mas quem atacaria seu tio em sua casa, afinal? Não havia motivos para todas as trancas daquele lugar mesmo, mas aquela era apenas a opinião de Tom, que costumeiramente era desprezada por todos. Principalmente pelo homem atrás da porta.
Tom não se anunciou antes de entrar — Seu primeiro erro da noite.
— Ora! Ora! — A voz se arrastou desde a piscina de mármore. — Não será meu querido sobrinho de décima sétima geração? Quantos modos... Já se esqueceu de que te trouxe aqui para aprender a SER UM SALVATORE! — As últimas palavras foram gritadas.
Se houvesse sangue suficiente em seu corpo, talvez esse tivesse desaparecido do rosto do garoto quando a reprimenda de seu tio o fez congelar. Lucius Salvatore era o severo patriarca de um dos clãs mais tradicionais de vampiros da história — A história por trás das mentiras das escórias humanas, como ele mesmo dizia. A cidade inteira o conhecia como o Barão, e por séculos ninguém suspeitou que todos os últimos barões haviam sido a mesma pessoa.
Nu dentro da água escura, o homem não teve o pudor de mandar o sobrinho se virar para enfiar a língua na boca da mulher ao seu lado, que tinha se tornado visível ao se aproximar da luz incandescente das velas. Não era um beijo — Parecia mais uma agressão da qual Tom não conseguia desviar o olhar. A mulher também estava nua, e pelas marcas das mordidas, com certeza era uma de sua espécie. Marcas que desciam de seu pescoço fino até a aréola dos seios, e se perdiam para baixo do umbigo afundado em água. Ela lançou um olhar sarcástico e promiscuo para o garoto, correspondendo aos lábios do outro e jogou seu corpo sobre o do Barão, puxando outra garota pela mão e, logo após, um rapaz.
— Diga logo o que você quer e saia, garoto!
A ordem de seu tio veio em boa hora. Tom se sentia nauseado e eufórico ao mesmo tempo, perdendo a atenção ao comunicado urgente que precisava dar e que o fizera correr o risco da ira de seu tio.
— Senhor... — Gaguejou. — Tâmira me enviou para avisá-lo que temos visitas.
— Visitas que podemos devorar? — Perguntou uma das garotas, deslizando a mão sobre o corpo até mergulhá-la na piscina e perdê-la entre as pernas num gesto obsceno.
Todos riram, exceto Tom.
— Gente dos Empaladores do Norte, meu tio.
As risadas morreram. Seu tio afastou a todos de si e arregalou seus olhos esbranquiçados para o garoto magrelo e assustado. Foi quando uma sombra passou por cima de Tom, e alguém cruzou a porta às suas costas.
— Que bom que você já avisou ao Barão, fedelho. Com sua licença, milorde.
Lestat recebeu a licença da mão estendida de seu mestre, que recebeu do criado o robe escarlate de sua preferência. Tom o detestava, mas precisava admitir que, em sua presença, seu tio se acalmava. Lucius confiava o suficiente nele para acreditar que os problemas que o faziam explodir em cólera podiam ser simplificados pela perspicácia do vampiro de cabelos compridos e de olhar doentio a sua frente.
Ele emergiu da piscina com um ódio capaz de fazer a água evaporar, mas não voltou a dizer qualquer palavra — Somente refletia. Ainda estava excitado, e isso fez o sobrinho virar o rosto envergonhado, o que — Por sorte ou azar. — foi percebido apenas por Lestat, que soltou uma risada muda e vestiu seu senhor com o robe que ele mesmo entregara.
— Myrcela está cuidando dos convidados, milorde. Selene Empalador veio com a comitiva, mas se recusa a dizer o motivo de tão soturna visita... Não são muitos. Não vieram em guerra.
As explicações mais precisas de Lestat o fizeram menear a cabeça com aprovação. O Barão odiava aquela mulher venenosa e sua gente; não fosse por devoção ao avô, ele teria o pescoço da neta. Pelo bem de seu nobre clã, contudo, ele precisa tratá-la com o respeito do qual ela jamais seria digna. E dentro de sua casa!
Os últimos a deixar a câmara de Lucius foram Tom e Lestat. Aquele era o momento de correr e se trancar no quarto até todos desaparecerem pela noite — O garoto refletia acelerando o passo em direção às escadas. Alguma coisa discordava de suas convicções: as mãos frias e mórbidas de Lestat em seus ombros. Segurando-o.
— Onde pensa que vai com tanta pressa, Tom? Não sabe que todos precisam estar presentes quando recebemos uma visita de outro clã? Principalmente... Esse tipo de visita? — Seus olhos vermelhos brilhavam para ele; Lestat havia se alimentado há pouco.
Com sua audição aguçada, o vampiro de aparência jovem, e séculos de existência e assassinatos, esperou o Barão subir os degraus em caracol e encostou o garoto na parede, apertando seu pescoço sem que ele conseguisse gritar. Sua boca encostou-se a sua orelha, ainda com o odor metálico do sangue de sua última vítima. — Um cheiro forte que desafiava a consciência de Tom e que ele adora, e sentia vergonha por adorar.
— Escute bem, moleque: eu devo fidelidade ao seu tio, mas não vou servir um garoto estúpido como você quando ele aposentar as presas. Quando o Barão passar o comando para você, eu mesmo o destruirei. Me entendeu?
Tom não sentia o chão. Seus pés estavam acima dele e, mesmo que o ar não significasse nada para seus pulmões inúteis, ele sentia muita dor com a força de Lestat em seu pescoço — Morrera aos dezesseis anos e seu corpo era leve.
O vampiro sorriu com uma maldade que não cabia nele ou naquela mansão imperiosa, e acariciou violentamente os cabelos escuros do garoto, que cerrou os olhos com o contato. Alguma coisa não estava certa, e Tom sentia. Mas foi Lestat que notou primeiro.
— Olhe só! O que é isso na sua calça, pivete? Você está gostando?! — O vampiro riu. — Eu não gosto de moleque, mas tenho que admitir que me enche de prazer ver você sem ação e gemendo. Consegue se ouvir gemer? — Lestat falou pertinho de seu rosto, batendo a cabeça do garoto com força na parede.
Era aquele cheiro de sangue... Tom dizia para si. Independente disso, ele não conseguia reduzir o volume infame em sua calça. Pelo contrário, ele aumentava e latejava, fazendo a cueca ficar apertada. Até que o botão foi aberto. Ele continuava com os olhos bem fechados e com medo. O corpo de Lestat o pressionou e o envolveu; a dor no pescoço aumentou e ele gemeu enquanto era empurrado várias vezes para a parede de pedra. A mão de Lestat desceu de seus cabelos, arranhando seu pescoço e deslizando por seu corpo, para entrar como intrusa em sua cueca. Tom mordeu os próprios lábios com força e gemeu mais forte — Sem perceber que seu pescoço já estava livre e seus pés pisavam novamente no chão.
Com um tapa no rosto, Lestat o derrubou e riu, partindo para deixá-lo com sua vergonha. Logo os dois precisariam se encontrar no salão.
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