História Demons - 'Cause all of me loves all of you

Jimin P.o.V. 

Jungkook saiu do banheiro com os cabelos úmidos e sentou ao meu lado, esticando as pernas e apoiando as costas na cabeceira da cama. Tirou um dos fones do meu ouvido e colocou no seu. Eu estava mexendo no celular e ele deitou a cabeça no meu ombro, também prestando atenção nas imagens fofas de animais que apareciam na tela. Deu uma leve risada quando um hamster caiu de sua rodinha. 

- Lembrei de uma coisa. - Falou com um fraco sorriso. - No início de tudo, quando eu era pequeno, peguei o ratinho de estimação da Jisook e, bem... - Ele parou de falar quando notou que meu olhar parecia assustado. - Deixa pra lá, foi péssimo. Minha mãe ficou sem dormir por alguns dias, e eu achei que Jisook nunca mais fosse me perdoar. 

Não sei se queria saber os detalhes da história, mas notei que pela primeira vez ele mencionou sua mãe. Eu não sabia onde ela estava, ou o pai dele, nem se estavam vivos, e não tinha coragem de perguntar. 

Ele percebeu que eu estava pensativo, cruzou as pernas como um indiozinho e pegou minha mão, brincando com meus dedos. 

- Meu pai morreu quando eu era bem novo, não me lembro dele. - Falou, adivinhando meus pensamentos. - E minha mãe nos abandonou quando eu fiz 11 anos. - Deu de ombros, como se fosse a coisa mais normal do mundo. 

Ele riu da cara de espanto que eu fiz. Juro que tentei lidar normalmente com a notícia, mas era uma coisa horrível de se fazer com o próprio filho. Como ela teve coragem? 

- Ela saiu perdendo. - Murmurei, tímido. - Por não ter você na vida dela. 

Jungkook bagunçou meus cabelos e, delicado como um rinoceronte, passou seu braço pelo meu pescoço e me levou para perto de si. 

- Jimin, nunca conheci ninguém tão adorável quanto você. - Ele falou, ainda me apertando contra si. 

Dei leves soquinhos em sua barriga, para que ele me soltasse, fazendo-o rir. De repente, ele revirou os olhos. Senti meus músculos se tencionarem. 

- Ele acabou de falar que deveríamos voltar para a piscina. - Jungkook apontou para sua cabeça, mostrando quem falava. 

- Pra quê? Ele acha que ganha de mim em uma competição? - Provoquei e Jungkook abriu um sorriso travesso. 

- Ele te xingou. - Falou e eu ri. - Disse que te afogaria. 

Olhei dentro dos olhos de Jungkook como se, de alguma forma, aquela besta pudesse me ver. Sorri presunçoso. 

- Quero ver ele tentar. Meu recorde são 4 minutos sem respirar. - Cruzei os braços. 

Jungkook riu e tapou a própria boca, lembrando-se de Hoseok adormecido. 

Ficamos deitados, ao som de Coldplay, esperando o sono chegar. Jungkook estava meio sentado, meio deitado. Seu braço estava em cima do travesseiro, sustentando sua cabeça e evitando que os fios úmidos molhassem o travesseiro. Minha cabeça estava perto do peito dele e eu podia sentir sua respiração quente batendo em meus cabelos. Foi sentindo o aroma mentolado de seu corpo que acabei pegando no sono. 

Ao abrir os olhos, Jungkook não estava mais comigo e sim encolhido no colchão que coloquei ao lado. Ele parecia confortável naquela posição, os joelhos estavam próximos ao peito e as mãos entre as pernas. Ouvi um som baixo de música e me sentei, olhando para o colchão que estava na ponta da cama. Hoseok estava com os olhos fechados e uma expressão dolorosa no rosto. Ele massageava as têmporas com as duas mãos e os fones em seus ouvidos pareciam querer explodir devido ao volume da música. Acenei quando ele abriu os olhos e ele tirou os fones. 

- Hobi, pensei que você acordaria de ressaca. - Falei e ele riu ao mesmo tempo que fez uma cara de dor. - Como está aguentando a música nesse volume? 

Ele olhou para a parede e depois para mim. 

- Era isso ou ouvir os gemidos que vinham do quarto do seu irmão. - Ele balançou a cabeça, tentando se livrar das lembranças. - A dor passa, mas as memórias são pra sempre! 

Tentei me segurar mas acabei rindo mais alto do que deveria, acordando Jungkook. Contei a ele o que Hobi havia me dito e ele riu alto, jogando a cabeça para trás. Me peguei sorrindo enquanto olhava-o rindo. 

- Parece que alguém se divertiu ontem, não é Hobi? - Jungkook falou maliciosamente, referido-se à nova amiga de Hobi. 

Hoseok coçou a nuca, envergonhado. 

- Não sei do que você está falando. - Ele colocou o travesseiro em seu rosto. 

Jungkook ficou de pé em um pulo, colocou o dorso da mão na testa e encarnou o melhor ator de drama que conseguiu. 

- Oh, acho que estou apaixonado! – Ele jogou a cabeça para trás, imitando o Hoseok bêbado da noite passada, e riu de si mesmo. 

Comecei a rir também. A barriga de Hobi subia e descia rapidamente, mostrando que ele também ria de baixo do travesseiro. 

- Aish, minha cabeça vai explodir. - Reclamou tirando o travesseiro do rosto e protegendo os olhos da luz que vinha de fora. - Acho que vou pra casa. Não estou conseguindo pensar direito. 

- Posso pedir pro Yoongi te dar uma carona na moto dele. - Falei me levantando. - Nesse estado você não vai conseguir chegar em casa. 

Hobi assentiu e eu saí do quarto procurando meu irmão. Bati no quarto dele, mas não havia ninguém ali, só uma cama bagunçada e algumas pequenas embalagens metálicas rasgadas jogadas pelo chão. A noite deve ter sido boa. 

Desci as escadas e ao chegar no último degrau, Yoongi abriu a porta de casa com um capacete de baixo do braço. Me deu bom dia e jogou as chaves da moto na minha direção, para que eu as colocasse no chaveiro ao lado da escada. 

- Dormiu fora? - Perguntei já sabendo a resposta. 

- Não, fui deixar Taehyung na lanchonete. - Falou com um sorriso no rosto. 

- Está ficando sério, heim?  

Yoongi apenas piscou para mim. Ele havia se apegado rápido ao Taehyung, nunca o vi tão sorridente como costumava estar. 

- Pode dar uma carona para o Hoseok? Ele está de ressaca. - Pedi. 

Ele fez um bico para mim. 

- Jiminie, não dormi nada essa noite. Por que você não o leva? - Falou. 

- Você sabe que a mamãe não gosta que eu ande de moto, Yoongi. 

Ele veio na minha direção e colocou as mãos em meus ombros. 

- Ela não está aqui, Chimchim. E você sabe como pilotar uma moto. - Ele tirou as chaves que eu havia acabado de colocar no chaveiro e me entregou. - O outro capacete está no banco da Holly. 

Eu adorava andar de moto, mas graças à Yoongi e suas imprudências na adolescência, meus pais me proibiram de andar. Depois que meu irmão criou um pouco de juízo eles o presentearam com a Holly, a moto de Yoongi. 

Subi novamente até o quarto, rodando as chaves no meu indicador. Hobi estava no banheiro e Jungkook já estava trocado. Estava sentado na minha cama, mexendo no meu celular. 

- Queria um sorvete agora. - Falou quando eu entrei e ergueu uma sobrancelha quando viu as chaves. 

- Vou levar Hoseok. - Disse colocando a chave em cima da cômoda. 

- Você é mesmo cheio de surpresas. - Ele falou, impressionado. 

Eu ri envergonhado. Peguei roupas limpas e entrei no banheiro assim que Hobi saiu. Ele ficou preocupado quando eu disse que o levaria, mas Jungkook pediu para que confiasse em mim. 

- Hobi, não se preocupe. - Falei. - Da última vez que cai de moto só fraturei três ossos. 

Jungkook riu alto e Hobi fingiu uma ânsia de vômito. 

Do lado de fora, Jungkook tinha um sorriso no rosto enquanto nos olhava subindo na moto.  

- Vou passar no mercado próximo da minha para comprar sorvete para nós. - Ele disse. - Depois volto aqui. Tomem cuidado. 

- Te busco lá. - Falei virando a chave. - Hobi, não vomite no capacete ou Yoongi ira te matar. 

Hoseok gemeu e se apertou contra mim, me fazendo rir.  

-x- 

Jisook P.o.V. 

Taehyung chegou atrasado naquele dia. De dentro da lanchonete, vi quando ele desceu da moto de Yoongi e se despediu com um beijo demorado. Vi também Yoongi dar um tapa na bunda dele, mas essa parte preferi esquecer. Tae entrou envergonhado e correu para vestir seu uniforme, se desculpou comigo quando passou por mim e eu só lancei um sorriso malicioso para ele. 

- Você sumiu. - Fingi estar brava. - Parece que a noite foi boa. 

Ele abriu seu sorriso quadrado. As bochechas estavam começando a corar. 

- Foi ótima. - Suspirou apaixonado.  

Cruzei os braços e me apoiei no balcão. 

- Se você me contar, eu te conto também. - Disse e seus olhos se iluminaram. 

- Você e Namjoon? - Perguntou animado e eu assenti com a cabeça. - Ok, você começa!  

Eu sorri envergonhada e contei sobre o beijo. Entrei nos detalhes pois sabia que nele eu podia confiar. Contei como as mãos de Namjoon eram fortes e apertaram minha cintura, me fazendo soltar um gemido baixo, e como sua boca tinha gosto de bala de uva. 

- E você? Da última vez que te vi na festa as coisas pareciam estar esquentando. - Falei, ainda sentindo minhas bochechas queimarem graças às lembranças da noite anterior. 

- As coisas pegaram fogo, a noite inteira. - Ele falou e eu abri a boca, surpresa. - Yoongi tem um fôlego e um desejo insaciável por sexo. - Tae escondeu o rosto depois de falar. - Estou todo dolorido. - Ele riu, envergonhado. 

Eu o empurrei de leve. 

- Então a noite foi realmente boa!  

Taehyung sorriu e começou a fazer gestos, me fazendo gargalhar. O cozinheiro olhava para nós como se fossemos loucos.  

Bati o olho na janela da lanchonete e pensei ter visto alguém nos encarando, mas quando olhei novamente não tinha mais ninguém lá. De repente, senti um arrepio na espinha. 

-x- 

Jimin P.o.V. 

Deixei Hobi em casa e fui em direção ao mercado para buscar Jungkook. Acelerei mais do que o permitido, mas eu adorava sentir o vento contra mim e a sensação de liberdade que ele causava. Parei no estacionamento e mandei uma mensagem para Jungkook, avisando onde eu estava.  

Me apoiei em Holly e enquanto o esperava, peguei meu celular para passar o tempo.  

Vi dois garotos do segundo ano se aproximando de mim. Eles eram encrenca, eu sabia disso. O primeiro, Sun Lee, era um armário. Jogava no time de futebol americano e constantemente pegava no meu pé e de Hoseok. O segundo, Kwan, era só sua sombra. Ria de tudo o que Lee falava. Era exatamente o oposto de Lee, apenas ossos e um sorriso nojento. Os dois estavam com uma garrafa de vodca na mão. Respirei fundo. 

- Ora, ora. A cadelinha do psicopata sabe pilotar? - Lee falou, parando na minha frente. Kwan riu, como sempre. 

Eu respirei fundo e os ignorei, como sempre fazia. 

- Onde está o casalzinho? O louco e sua namoradinha? - Ele insistiu. 

- Cala a boca, Lee. - Murmurei. Minhas mãos tremiam de raiva. Odiava como eles se referiam a Jungkook. 

Os dois riram alto e Lee empurrou o capacete que estava no banco da moto, derrubando-o no chão.  

- Ei! - Falei e o empurrei, com as duas mãos em seu peito. Ele tropeçou nos próprios pés e caiu de bunda no chão. 

No instante seguinte senti a pancada em meu maxilar, logo o gosto metálico de sangue dominou minha boca. O babaca do Kwan havia me socado e estava pronto para mais. 

Coloquei o braço na frente do rosto para me proteger e de repente Jungkook estava em cima do magrelo. Ele socou seu rosto várias vezes. Vi Lee se levantando, prestes a ir para cima de Jungkook. 

- Kookie! - gritei para avisá-lo. Ele olhou para mim, direto em meus olhos. Suas pupilas estavam contraídas e a raiva tomava conta de seu rosto. Era ele. 

Apontei para Lee mas quando Jungkook se virou, o armário acertou o joelho em seu rosto. Jungkook caiu ao lado de Kwan, que estava desacordado. Lee queria mais, mas num momento de coragem eu voei para cima dele, derrubando-o no chão e ficando em cima dele. 

- Eu vou acabar com a raça desse maluco – Ele cuspiu, raivoso. 

Senti duas mãos me levantando e me jogando para o lado. Jungkook foi para cima de Lee e o socou uma, duas, três, quatro vezes. O rosto de Lee estava coberto de sangue, mas o babaca ainda sorria presunçoso para Jungkook. 

- Jungkook, você vai matá-lo! - Gritei mas ele me ignorou. - JUNGKOOK! 

Ele parou com a mão no ar e me olhou. Eu estava desesperado e assustado com a violência do meu amigo. Bem, da outra parte do meu amigo. Jungkook se levantou e colocou o pé na garganta de Lee, apertando de leve. 

- Eu não vou parar da próxima vez. - Sibilou. - Fique longe dele. 

Peguei no braço dele e o levei próximo à moto. Seu supercílio estava aberto e havia sangue por seu rosto inteiro. Coloquei o capacete delicadamente em sua cabeça e subimos na moto. 

- O que deu em você para arrumar encrenca com aqueles dois? - Ele reclamava atrás de mim. - Se eu não estivesse lá, eles iam acabar com você! 

- E-eu não fiz nada. - Me defendi. 

- Quantas vezes ele já te disse para ignorar? - Disse "ele", referindo-se ao meu Jungkookie. - Nunca mais faça isso, Park Jimin. Nunca! Me entendeu? - Falou ainda com raiva, e soltou um longo suspiro. 

- Desculpe. - Pedi, envergonhado com a bronca que o outro me dava. 

- Desculpe. - Ele murmurou, me imitando. Murmurou mais coisas que eu não consegui entender. Seguimos em silêncio. 

Chegamos em casa e eu o levei até a cozinha. Peguei o kit de primeiros socorros e limpei o corte dele. Ainda era o outro que estava lá, apenas calado. De vez em quando eu chamava por Kookie, mas o outro apenas reclamava. 

- Jungkook, acho que precisa de pontos. - Falei quando o corte estava limpo e pude ver a gravidade. - Está muito aberto. 

Ele me olhou, as pupilas ainda contraídas, como ficavam quando o outro estava presente. Jungkook tocou meu rosto, delicadamente, onde levei a pancada. Só então lembrei do meu ferimento e comecei a sentir dor pelo rosto inteiro. Fiz uma careta. 

- Eu não preciso de pontos, talvez seu amigo precise. - Debochou. - Você precisa de gelo para desinchar. - Ele se levantou e foi até o freezer em busca de gelo. 

- Senta aqui, tenho que fazer um curativo pelo menos. - Pedi, puxando-o de volta. 

Jungkook reclamou mas acabou sentando. Enquanto eu fazia o curativo, ele fechou os olhos e respirou fundo. Estava ficando mais calmo. Quando terminei, me afastei para ver o resultado e ele sorriu, abrindo os olhos. 

- Kookie? - Perguntei em dúvida. Quando seu sorriso se abriu, mostrando os dentes, eu o abracei. - Você está bem? 

Ele se afastou e segurou levemente meu rosto com as duas mãos. 

- Jiminie, ele te defendeu. - Falou impressionado, mas depois o sorriso sumiu. - Defendeu quando eu não pude. 

Eu ia começar a falar quando ele colocou o indicador em meus lábios, sorrindo para a minha expressão de surpresa. 

- Você não entende? - Perguntou, mas parecia estar falando consigo mesmo. Seu olhar se iluminou. - Todo o meu eu está apaixonado por você. - Ele falou e eu senti meu corpo se arrepiando. 

Abri a boca para falar novamente, mas dessa vez seus lábios me calaram. Jungkook me beijou suavemente, suas mãos ainda seguravam meu rosto com delicadeza. Esqueci completamente da dor que sentia. O gosto de sangue voltou em minha boca, o corte devia ter aberto novamente com o beijo, mas ele não pareceu se importar. Continuou me beijando. Jungkook sorria enquanto seus lábios se movimentavam junto dos meus. 

Se afastou e olhou para mim. Os olhos brilhando e um sorriso doce no rosto. 

- Eu, inteiramente, amo você, Park Jimin. 

Fechei os olhos, sorrindo. Não acreditava que aquilo estava acontecendo. Jungkook distribuiu beijos por todo o meu rosto enquanto nós dois ríamos.  

Ele era completamente meu, e eu completamente dele.