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História Dependence (Em revisão) - The country of Santa Claus.


Escrita por: kaisooisreal

Notas do Autor


Eaí gente fina?
Eu tive que escrever todo o cap ontem e quase que não saiu, porque né, eu sou ARMY, e ser ARMY é uma bosta (quem viu o comevolta sabe do que eu to falando)
No fim, tive que publicar hoje mesmo, porque minha mãe faltava me ameaçar com uma faca se eu ficasse mais tempo no PC.
Desculpem mesmo pela pequena demora, mas eu acho que vai valer a pena.
Estamos com 150 fav, e eu quero agradecer à todas as pessoinhas que acompanham isso aqui, um abraço gigante para os amores que comentam sempre, para os que favoritaram e leem todas as baboseiras que eu escrevo, e, claro, para os fantasminhas que eu sei que existem ^^ como vão vocês?

É isso, boa leitura '3'

Capítulo 10 - The country of Santa Claus.


O almoço do sábado se resumiu à minha mãe elogiando SeokJin por sua habilidade na cozinha enquanto fazia brincadeiras como “Nem vai precisar de uma esposa” e eu a repreendia, em parte porque aquilo estava me incomodando, e incomodando SeokJin, e porque, bem, minha mãe era a prova viva de que uma “esposa” não servia apenas para cozinhar.

Além das gracinhas dela, também houvera as famosas pérolas e micos que ficam para sempre na memória da gente: Tae derrubando o copo de suco em todos enquanto corria até a mesa com o mesmo; a careta que todos fizeram ao provar a comida de JungKook e como JiMin comeu tudo aquilo, alegando estar delicioso, recebendo um olhar choroso mas agradecido de JungKook, que ficara todo o tempo dizendo que o namorado não precisava comer aquilo. Claro que depois dessa, eu não pude evitar e comentei que JungKook era muito bem vindo ao clube dos “expulsos da cozinha”, recebendo um tapa de Park e risadas de todos os outros na mesa, incluindo SeokJin, que fora o único além de Park que terminara sua porção da comida de JungKook, e jurara ao mais novo que não estava tão ruim quanto todos alegavam.

Eu posso dizer que, apesar de ter feito muitas caretas e reclamado bastante (porque essa era minha obrigação como mal humorado), principalmente por causa das brincadeiras e indiretas de minha mãe e meus amigos para mim e SeokJin, não me sentia assim bem fazia muito tempo. As brincadeiras há muito já não eram tão sorridentes e as conversas tão verdadeiras e descontraídas. Eu me sentia tão calmo e...feliz, era uma sensação muito boa. Claro que por um momento pensei que agora só faltava YoonGi ali, mas eu não estava mantendo nenhum pensamento por muito tempo em minha cabeça: o vento ensolarado que entrava por todas as grandes janelas da casa e o gelado dos azulejos do piso me davam uma sensação de sonolência que apenas contribuía para que meus olhos, sem aviso prévio desviassem para a criatura que se encontrava do lado oposto ao meu na mesa.

Ele parecia tão aéreo que eu sentia que poderia sair voando dali. Depois de um tempo, ele fez como eu e passou a não prestar atenção nas besteiras que os outros falavam e a mirar a copa das plantas que estavam próximas da janela. Ele parecia aproveitar o vento da mesma forma que eu e, depois de um tempo o observando, os sons externos passaram a se tornar apenas ecos e os raios de sol que chegavam à sua pele pálida pareciam cada vez mais claros, fazendo-o brilhar aos meus olhos. Meu devaneio foi cortado quando, com seus olhos amendoados, ele capturou meu olhar.

Sustentei o contato visual sem expressão na face, como ele, mas se eu estivesse tão parecido consigo, provavelmente meus olhos diziam muito mais do que seria seguro deixar alguém notar. Por um momento me perguntei se ele conseguiria ler meus olhos sobre ele, se conseguiria entender tudo aquilo, algo que nem eu compreendia.

Depois do que se pareceram horas para mim, quando eu já estava quase me perdendo na profundidade de seus olhos, que agora eu notava serem um pouco vesgos – de forma discreta, era esquisitamente charmoso -, ele sorriu para mim sem mostrar os dentes e quebrou o contato, olhando novamente para a janela.

Quando terminamos o almoço, minha mãe nos fez (eu fui mandado a ficar sentado no canto da cozinha) arrumar a mesa antes de comer o bolo.

Quando vi o doce, notei imediatamente que minha mãe não havia feito aquilo sozinha, e, ao examinar as decorações cuidadosas sobre o bolo de chocolate, quase todas feitas com morangos e glacê rosa, olhei para SeokJin no mesmo segundo.

- Joonie acertou. – Minha mãe disse, deixando o bolo na mesa, rindo quando a observei confuso, desviando com dificuldade o olhar de SeokJin, afinal, eu não havia dito nada. – Eu tive ajuda para fazer essa belezinha, na realidade eu apenas dei os comandos, Jinnie realmente é muito bom com essas coisas. – Completou, com o sorriso gigante no rosto, olhando ternamente para o garoto ao seu lado.

- Por que tem tanto morango? – JiMin choramingou, e SeokJin assumiu uma expressão preocupada.

Mirei meu amigo com irritação, pedindo com o olhar para que não fizesse cena. Ele não reclamou mais, apesar de ficar resmungando baixinho enquanto retirava os morangos de cima do bolo e os colocava no prato de JungKook, que comia as frutas sem problemas.

Eu tampouco gostava muito de morango, por isso não me importei em me sentar ao seu lado e seguir o exemplo de JiMin, colocando todos os morangos no prato de SeokJin, que nem começara o bolo mas já havia comido todas as frutas. Ele me olhou agradecido, não parecendo se importar por eu tampouco ter comido os morangos, e devorando os que eu havia lhe dado rapidamente.

Ele comeu as frutas do mesmo jeito que suas anteriores e soltou um choramingo chateado quando as mesmas acabaram. Ri de seu jeito e peguei uma porção do bolo, arregalando os olhos ao mastigar o doce. SeokJin me olhou apreensivo, como se tentasse ver por nossa expressão, já que os outros tinham o mesmo olhar, o que havia de errado.

- Você já provou isso? – Perguntei, após engolir, mirando-o com os olhos ainda um tanto arregalados. Ele arregalou os seus também, acenando negativamente com a cabeça.

- Tem algo errado? – Ele perguntou, ficando mais apreensivo, virando levemente a cabeça para o lado. – Eu nunca havia feito algo assim, sinto muito. – Disse, curvando o corpo para se desculpar, parecia um pouco desesperado, já que ninguém falava nada.

- ...Você está brincando. – JiMin falou, cortando o silêncio, fazendo com que todos olhassem para ele. – Como assim você nunca fez isso? É impossível!

- Nem parece minha receita. – Minha mãe concordou com JiMin.

- Eu...me desculpem... – O garoto baixou mais a cabeça, fazendo com que todos nos mirássemos com risadas guardadas nas gargantas.

- Que tal você pegar um pedaço? – Sugeri, vendo-o me olhar confuso e em seguida acenar com a cabeça, pegando timidamente uma porção do doce com o garfo. Assim que colocou o alimento na boca, seus olhos se arregalaram e foram tomados por aquele brilho inocente e animado que já se tornara familiar para mim.

- Isso é... – Ele disse, olhando para mim, como se tentasse entender o que estava acontecendo.

- A melhor coisa que já comeu na vida? Foi o que eu pensei também. – Disse, dando de ombros, e me segurando para não sorrir com sua expressão aliviada, falhando miseravelmente.

SeokJin mirou os outros da mesa ao notar seus olhares sobre nós, que estavam todos com caras retardadas enquanto nos encaravam. Franzi o cenho, recebendo uma piscadela travessa de minha mãe e bufando. Nunca mais seria deixado em paz.

Depois dessa situação um pouco estranha, visto que ninguém mais falou nada além de elogiar o bolo, que era verdadeiramente o doce mais gostoso que eu já provara (e eu nem era muito fã de doces), quando tocava a língua, começava a derreter na mesma hora, mesmo sendo gelado. O chocolate ocupava todas as papilas e tinha um leve gosto de caramelo, o que não fazia sentido, visto que aquela era a receita de minha mãe, e ela não colocava caramelo em seus bolos. Nós terminamos a sobremesa e nos dividimos para fazer as coisas necessárias para deixar a cozinha em ordem. Eu, depois que a mesa foi liberada, recebi uma vassoura de minha mãe e fui indicado a varrer todo o cômodo, que tinha comida jogada em vários pontos, com a ameaça concreta de morte se quebrasse alguma coisa com aquele cabo.

Tae, depois de guardar todas as compras na geladeira e despensa, alegou que precisava ir para casa, sendo seguido por JiMin e JungKook, que haviam terminado de limpar a mesa e o balcão, quando agradeceu por tudo e seguiu para fora da casa.

Acenei para eles, me limitando a acenar com a cabeça quando perguntaram se eu não queria sair no dia seguinte. Eu não ia fazer nada mesmo.

SeokJin e minha mãe, que estavam lavando a louça juntos, com ele lavando e ela enxaguando, foram os últimos a terminar, secando as mãos e seguindo para a sala, onde eu me encontrava, enquanto conversavam sobre algo que eu não prestava atenção.

Eu estava sentado no chão da sala jogando no console de Tae, que havia ido embora sem levar o vídeo game de novo quando os dois se sentaram no sofá atrás de mim, continuando a falar por alguns minutos. Eu não prestava atenção no conteúdo da conversa, mas tinha atiçado a audição quase que inconscientemente, apenas capturando a voz baixa e melodiosa do garoto que dominava meus pensamentos durante todo o dia.

Perdi uma partida contra o vídeo game e resmunguei alto, ouvindo a risada de minha mãe. Ela se levantou, alegando ter coisas para fazer, e negando a ajuda de SeokJin quando ela lhe foi oferecida, dizendo para que ele apenas relaxasse e jogasse um pouco comigo.

Ele demorou alguns instantes antes de descer do sofá e se sentar ao meu lado, mexendo nos dedos distraidamente.

- Quer jogar? – Perguntei, sem tirar os olhos da tela, mas observando-o dar de ombros com a visão periférica. – Sabe jogar? – Perguntei, pausando o jogo e oferecendo o controle a ele. Ele olhou para o eletrônico e em seguida para mim, negando com a cabeça. – Você não fez muitas coisas na vida, não é? – Perguntei, abafando uma risada com os lábios. Ele confirmou com a cabeça. – Isso inclui falar? – Perguntei, brincalhão, rindo ao vê-lo inflar as bochechas e me encarar zangado.

Não parei de rir baixinho enquanto ele cruzava os braços, bufando, e jogando a cabeça para trás, ficando apoiado no sofá. Eu começava a me sentir mais à vontade, visto que, com minha mãe longe, ele não era tão cuidadoso com tudo e pouco se importava em parecer infantil em minha frente.

- Quer que eu te ensine? – Perguntei, depois de algum tempo, vendo-o me encarar curioso. – A jogar. – Justifiquei, balançando o controle em minha mão.

 

Kim SeokJin era, definitivamente, o pior jogador de vídeo game de todo o planeta, afinal, ele estava conseguindo ser pior que eu. Mas não era só isso: o garoto não entendia o objetivo de juntar artefatos, então os ignorava, ele tampouco entendeu (ou sequer prestou atenção) quando eu lhe expliquei como se chutava ou socava os inimigos, como se recarregava a arma ou como se faziam os combos. A única coisa que ele verdadeiramente entendeu foi como se pulava e como se andava, rindo divertido quando apareciam uns bichos coloridos em nosso caminho (que devíamos matar) e brincando com ele, enquanto sua barra de vida diminuía e eu gritava para que saísse dali, matando os bichos e sendo repreendido por ele, que me perguntava, choroso, por que eu matava todos os seus amiguinhos.

- Não são amigos, criatura! – Disse, já ficando irritado com seus caprichos pelos personagens do game. – Olhe, vamos entrar em área inimiga. – Alertei. Estávamos surpreendentemente avançados, considerando que eu não era tão bom jogador assim e que SeokJin me fazia gastar todas as poções de cura de nosso inventário pois ficava brincando com seus “amigos”.

- Aquele monte de bicho feio vai aparecer de novo? – Ele perguntou, em resposta ao meu aviso. Acenei com a cabeça, e ele fez uma careta. – Você pode dar um jeito neles sozinho?

- De jeito nenhum. – Falo, sem olhar para ele. – Estamos jogando no modo 2players, então os inimigos vem em dobro, eu não dou conta.

Ele não respondeu, mas bufou indignado, olhando para a televisão de novo, arrancando uma pequena risada de mim.

No fim, não fazia muita diferença se ele me ajudava ou não, porque SeokJin era aquele tipo de jogador que para lutar apenas apertava todos os botões disponíveis e se estivesse com o controle1, já teria desligado o jogo fazia tempo. Passamos por aquela e por mais umas três áreas inimigas, com SeokJin reclamando o tempo todo e gritando como um desesperado quando apareciam grandes inimigos do nada, tentando matá-lo.

Posso dizer que, apesar de ter me irritado com algumas coisas (principalmente porque vídeo game tem esse efeito estressante sobre mim), eu me diverti como nunca trocando argumentos, farpas e elogios disfarçados de provocações com SeokJin enquanto jogávamos.

Quando eram cerca de cinco da tarde, eu e SeokJin havíamos finalmente morrido, e desligáramos o vídeo game, cansados. Ficamos jogados no sofá por um tempo, num silêncio confortável enquanto ele olhava distraidamente para a televisão desligada e eu olhava para ele.

- AI MEU DEUS! – Ele gritou, levantando as costas do sofá, ficando ereto com uma expressão assustada.

- O que foi? – Perguntei, levantando as costas do apoio do sofá também e o encarando preocupado.

- Eu não fui ao trabalho ontem! – Ele me olhou com as feições preocupadas e exaltadas. – E não avisei ninguém! A essa hora já devem ter ligado para minha mãe! – Colocou as mãos nos cabelos, parecendo muito mais desesperado do que alguém deveria ficar numa situação assim.

- Ei, calma, por que seu chefe ligaria para sua mãe? Ele não tem que ligar para você? – Perguntei, colocando a mão sobre seu ombro. Ele olhou para mim, com a expressão sofrida.

- Eu perdi meu telefone faz seis meses, agora eles ligam para minha casa quando precisam.

- Seis meses? – Pergunto, escandalizado. Por que ele não comprara outro aparelho? – Está há seis meses sem telefone? – Ele acenou com a cabeça. – Bem, o que pretende fazer?

Ele pareceu considerar minha pergunta.

- Acho que vou até meu trabalho, falar com meu chefe para justificar minha falta e compensar trabalhando hoje. – Relaxou um pouco os ombros, apesar de que seus olhos ainda pareciam temerosos. – Eu tenho que ir agora se quiser chegar a tempo. – Disse, se levantando do sofá.

- Você não vai sozinho querido. – A voz de minha mãe se fez presente na sala, e eu vi-a na porta dos fundos e me perguntei por quanto tempo ela estivera ali. – Joonie vai te levar.

- Vou? – Perguntei, vendo-a acenar com a cabeça com o cenho franzido como se me ameaçasse a negar. Dei de ombros, olhando para SeokJin em seguida. Eu provavelmente iria acompanhá-lo sem a intromissão de minha mãe. Aquela super proteção e possessividade que se apoderavam de mim quando o assunto era SeokJin teria me assustado se eu a notasse na época, mas eu havia fechado completamente meus olhos para o poço sem saída que minhas ações não-pensadas estavam me levando.

Peguei meu telefone e as chaves de casa, além de um pouco dinheiro com minha mãe, já que havia deixado minha carteira na escola (claro que levei um tapa no braço de minha progenitora quando contei isso), e segui para fora de casa, com SeokJin logo atrás de mim.

Andamos em direção à estação em silêncio, pois SeokJin não parecia muito concentrado para falar. Seus olhos miravam a rua, mas o que ele parecia ver não estava ali. Me preocupei com sua expressão, ele parecia muito preocupado com tudo aquilo, era possível que tudo aquilo fosse medo de seu chefe?

Mais de uma vez eu tive que puxá-lo para fora do caminho de carros ou de postes de luz que pareciam atraí-lo, amaldiçoando-o por estar tão distraído. Agradecia de verdade por ter ido com ele, sem mim, ele estaria morto uma hora destas.

Quando finalmente chegamos à estação, eu tive que segura-lo quando o cabeça oca tropeçou na calçada mais alta do lugar, repreendendo-o por estar tão distraído e recebendo um “desculpe” fraco de sua parte. Soltei-o  depois de alguns segundos, seguindo-o quando ele foi até um dos trens da plataforma.

SeokJin me olhou com o cenho franzido quando me viu entrar atrás de si no trem.

- O que foi? – Perguntei, segurando na barra de ferro do metrô que ficava acima da cadeira em que eu lhe mandara sentar.

- Por que está vindo comigo?

- Como assim? Eu vou te levar até seu trabalho.

- Achei que me deixaria na estação.

- Se eu te largasse na estação, minha mãe ia acabar com a minha raça. – Dei de ombros. – Além do mais, não custa nada.

- Na verdade custa sim. – Ele me olhou, segurando o riso, travesso. – Você está pagando a passagem.

- Pode parar de estragar meu humor? – Bufei, sem estar verdadeiramente irritado, ouvindo uma risadinha sua. – Eu só não queria te deixar sozinho. Feliz? – Falei, sem olhar para ele ao notar que havia verbalizado pela primeira vez aqueles pensamentos.

Virei minha cabeça para ele ao notar que não me respondera. Ele me encarava com os olhos levemente arregalados, e quando sustentei seu olhar, ele não hesitou em sorrir para mim, olhando para as próprias mãos em seguida.

Seguimos em silêncio até a próxima estação, quando entrou uma senhorinha no trem, e todos automaticamente fingiram olhar para a janela ou dormir. O trem não estava muito cheio, tanto que eu era um dos poucos de pé, mas não havia bancos livres.

Antes que eu falasse qualquer coisa, SeokJin se levantou, oferecendo seu lugar à senhora, que agradeceu gentilmente. Seok se segurou ao meu lado, sorrindo para a senhora e me olhando com o semblante curioso ao me notar encarando-o. Dei de ombros, notando que ele ainda me olhava como se me perguntasse por que eu o olhara daquele jeito. Por um momento pensei em como aquele garoto era pouco perceptivo às coisas à sua volta. Eu o encarava muito mais do que seria saudável para qualquer hétero com um praticamente desconhecido.

- Você é uma boa pessoa. – Falei, bagunçando seus fios e recebendo um “yah” dele, que ria. Ação que apenas me fez bagunçar mais seu cabelo castanho. Ele soltou uma das mãos da barra, tentando tirar minha mão de seus cabelos. Eu apenas segurava a risada de seu jeito, insistindo em manter meus dígitos sobre seus fios. Ele fazia de tudo, já estava até mesmo solto da barra de segurança, se apoiando no meu braço que ele tentava tirar de perto de seus cabelos.

Claro que aquela história de ficar livre leve e solto num trem em movimento deu merda, e na primeira curva mais brusca, SeokJin voou para a frente, caindo sobre mim. Não consegui pensar em mais nada além de que graças às forças extraterrestres superiores ele havia caído na minha direção, e não na do chão, quando arregalei os olhos pelo susto, segurando-o com um dos braços.

Ele levantou a cabeça, me mirando, seus olhos tão arregalados quanto os meus. Nos encaramos por alguns segundos em silêncio, até que, sem aviso prévio, nós dois explodimos em gargalhadas ao mesmo tempo.

- Se segure direito dessa vez, princesa. – Disse, dando um peteleco em sua testa quando ele voltou a se segurar na barra, abandonando o apoio de meu tronco.

- Vá se ferrar. – Disse, mostrando a língua pra mim, com o ar de brincadeira na face.

Dei uma risada baixa, balançando a cabeça, e olhando para baixo ao notar que era encarado com um sorriso largo da senhorinha para quem SeokJin cedera o lugar. Curvei a cabeça, envergonhado por termos feito tanto barulho. SeokJin, ao notar meu gesto, arregalou os olhos em preocupação.

- Desculpe se a incomodamos. – Ele disse, abaixando a cabeça de novo.

- Sim, desculpe esse idiota por não se segurar num trem em movimento. Ai! – Exclamei, encarando-o irritado. – Por que me bateu?

- Porque me chamou de idiota. – Deu de ombros, fazendo birra. – E pare de reclamar, não foi forte.

- Não foi, mas não precisa me bater! – Disse, esfregando meu braço.

- Você é a única pessoa na face da terra em que eu bato, se sinta honrado.

- Ah, obrigado, estou muito honrado. – Disse, revirando os olhos. Apesar de que seu comentário tenha me dado uma sensação estranha no estômago, era quase como se...eu realmente estivesse feliz por aquilo. Francamente, o que estava acontecendo comigo? – Vem cá, desde quando você é tão metido a besta? – Falei, levantando a sobrancelha para ele. Eu não estava irritado nem nada do tipo, só tratava de fazer o que se tornaria meu passatempo preferido: provocá-lo.

- Cale a boca, idiota. – Ele tentou me bater de novo, mas eu segurei seu pulso, sorrindo ladino para sua expressão birrenta.

- Se segure, se não vai cair de novo. – Disse, soltando seu pulso. – E não faça tanto barulho, estamos incomodando as pessoas de novo.

Ele me olhou com a boca aberta, incrédulo de como eu havia jogado a culpa em si quando eu disse isso, e eu apenas ri dele, desviando sem querer o olhar para a senhora, que mantinha o sorriso e soltou uma risadinha quando eu coloquei a mão sobre a cabeça de SeokJin, forçando-o a curvá-la.

- Desculpe, acabamos fazendo bagunça de novo. Não queremos incomodar.

- Não foi nada querido. – Ela disse, seu sorriso sempre em sua face. – Não me incomoda de forma nenhuma, e eu estou me divertindo aqui, então não precisam ficar tímidos. – Comentou, soltando uma pequena risada ao nos ver arregalar os olhos.

- Não, nós não deveríamos estar fazendo tanta bagunça no trem, desculpe. – SeokJin disse, soltando a barra de novo para colá-las ao lado do corpo e se curvar corretamente para a senhora.

- Cuidado idiota. – Disse, segurando sua camisa, para que não se desequilibrasse. – Não esqueça de que está num trem em movimento.

A senhora soltou mais uma de suas risadas baixas, parecendo muito entretida na forma que eu erguia SeokJin pela parte de trás da gola, como uma mãe gata carrega seu filhote, para que ele se segurasse de novo na barra.

- Quais são seus nomes, queridos? – Ela perguntou, e eu prestei atenção nela. Havia gostado da senhora, ela era bem humorada e parecia gentil.

- Eu sou Kim NamJoon, a criança é Kim SeokJin. – Disse, apontando para SeokJin, que me olhou feio.

- Eu sou mais velho que você, me respeite. – Ele disse, com um bico complementando a careta.

- Você é? – Perguntei, curvando as sobrancelhas.

- Eu sou do final de 97, você é do final de 98, então, sim, eu sou mais velho. – Ele disse, assumindo um ar metido. – Você pode me chamar de hyung agora.

- Nem em sonhos. – Disse, rindo debochado. SeokJin torceu a boca em uma careta. – Você não sabe nem andar na rua sem bater de cabeça nos postes e não consegue tomar sorvete sem se melecar todo, então eu não tenho a menor obrigação de te chamar de hyung. Viu? – Disse, rindo quando ele respondeu à tudo o que eu disse com uma língua fora de sua boca.

- Vá se ferrar. – Seu bico pareceu ficar com o dobro do tamanho, e eu já não me importava com a senhora, que observava tudo, divertida.

- Não seja tão mal educado, eu não fiz nada demais. – Disse, alfinetando-o mais. – Que decepção, o SeokJin que eu conheço nunca mandaria alguém se ferrar. – Completei, fazendo um bico forçado e rindo silenciosamente quando ele se virou e me olhou feio.

- Você já pode morrer, NamJoon.

- Nossa, isso foi um avanço! Onde está o “ah”? – Continuei enchendo o saco, sem me importar com seu comentário. – SeokJin, já que você avançou um passo na vida, eu posso te chamar por algo mais curto?

- Não.

- Por que não? – Levei a cabeça para a frente e olhei para ele, me pendurando na barra de metal acima de mim.

- Porque você é um maníaco por apelidos, e eu não confio em você. – Respondeu, parecendo decidido a não olhar para mim.

Soltei uma risada.

- Tudo bem, Jin, vamos ser educados e continuar a conversar com a senhora. – Disse, me virando para olhar para ela, mas segurando um sorriso ao ver SeokJin me olhar escandalizado com o canto dos olhos. – Desculpe, é muito fácil perdermos o fio da meada. – Disse para a senhora, que se limitou a rir e balançar a cabeça em negativa, como se dissesse que não era nada. – Qual é o seu nome?

- Eu sou Park JaeHwa. – Ela disse, sorrindo novamente.

Continuamos falando com a senhora por mais alguns minutos, apesar de que na maior parte do tempo desviássemos da conversa por causa de minhas provocações a SeokJin, nas quais ele caía com uma facilidade que ainda me assombrava.

- É a próxima. – SeokJin disse baixo, para que apenas eu ouvisse.

Olhei para JaeHwa ajumma, sorrindo, eu realmente me sentira confortável com ela, coisa que nunca acontecia comigo a respeito de desconhecidos. Parece que eu estava com as duas exceções existentes na Terra.

- Foi ótimo te encontrar, ajumma. – Disse, curvando a cabeça. – Se fosse qualquer outra pessoa, teria nos xingado pelo barulho e nos olhado torto, obrigado. – Vi com o canto do olho SeokJin se curvar também.

- Vão descer agora? – Perguntou, vendo-nos acenar com a cabeça. – Ora, que coincidência. – Disse, se levantando quando o trem parou e as portas se abriram. –Eu também.

A senhora andou até fora do trem, e nós dois a acompanhamos com os olhos, logo nos olhando e dando de ombros, um sorriso de canto esboçado em nossas bocas.

Seguimos o exemplo de JaeHwa ajumma e fomos para fora do veículo, saindo da estação ao lado dela.

Uma vez do lado de fora, não consegui não me impressionar com o que via: ruas de paralelepípedos, casas pintadas de vermelho com placas com “Cafeteria”, “Sapateiro” e “Vestidos” soldado em metal com letras enroladas.

A única coisa que evidenciava que estávamos em Seul e não na casa do Papai Noel, eram as pessoas, em grande quantidade, que andavam pelo calçadão com sacolas de compras e coisas do gênero.

Fui andando, acompanhando os dois que estavam comigo, já que não conhecia nada ali, olhando para tudo o que me chamasse à atenção, o que era bastante coisa. Passamos em frente a uma floricultura que tinha todas as cores e sabores de flores possíveis, em seguida por uma chocolataria que tinha uma cascata de chocolate e pequenos animaizinhos entalhados de chocolate por toda a parte.

- Fecha a boca, senão pode ser presenteado com uma mosca invasora. – Ouvi SeokJin comentar, brincalhão.

- Nunca havia vindo para MinCheon, querido? – Ajumma perguntou, recebendo com um sorriso meu aceno negativo de cabeça. – Pode ser bem impressionante na primeira vez. Deixe-o, SeokJin querido. – Disse, continuando a andar. Sorri, seguindo-os.

Depois de mais uns cinco minutos caminhando, JaeHwa parou em frente a uma loja discreta, que ficava um tanto escondida por estar entre dois cafés, mas que era digna de um conto de fadas com suas paredes brancas bem cuidadas e sua porta e janelas pintadas em azul claro. Ela tirou uma chave de sua bolsa e colocou-a na fechadura, girando-a até ouvir-se o barulho da porta se abrindo.

- Vocês estão com pressa, queridos? – Ela perguntou, entrando na loja, que tinha as luzes apagadas. – Senão, que tal entrar um pouquinho? E posso preparar um chá.

                Encarei SeokJin, como se perguntasse o que ele achava. Ele olhou para o grande relógio de madeira que estava no canto da loja, vendo que ainda tínhamos meia hora antes de seu suposto expediente.

- Adoraríamos. – Eu disse, entrando na loja na frente de Jin, que demorou alguns segundos antes de me seguir.

- Então venham aqui, podem se sentar. – Ela disse, acendendo as luzes e iluminando todo o espaço de supetão, me cedendo alguns momentos de cegueira. Quando meus olhos se acostumaram, nem SeokJin pôde me encher por não conseguir manter a boca fechada, ele estava na mesma situação que eu.

A loja tinha tudo, todas as paredes e teto disponíveis cheios de estantes e pinturas, cômodas e fotografias, lustres de todos os tipos pendurados elo teto, e no chão, sofás e mesas sobre tapetes de todos os tipos. Tudo isso organizado numa harmonia inacreditável, que deixava o ambiente com um ar bonito, retro e caseiro.

Seguimos até a mesa que ela nos indicara, ao fim da loja (que era mais extensa do que se poderia imaginar olhando de fora), olhando para todos os cantos, para os vasos de cerâmica e vidro; os broches e grampos, todos organizados em almofadas de jóias; os colares e brincos, de todos os tipos, cores e tamanhos, postos em pescoços manequins revestidos de veludo. Mais adiante, havia uma imensidão de discos vinis, organizados cuidadosamente em estantes de madeira, com toca discos postos elegantemente ao lado das mesmas, em mesas envernizadas. Depois disso, e era a penúltima seção antes de nosso objetivo, estava um dos arsenais de instrumentos de cordas (em especial guitarras, baixos e violinos) mais completos que eu já havia visto em minha vida. Tudo em ótima conservação e tinindo, como se chamasse alguém a tocá-los. Eu não era muito talentoso com instrumentos musicais, mas os apreciava como qualquer outro amante da música.

Fui tirado de meus pensamentos, que me levavam a me inclinar em direção à exposição de música silenciosa, desesperado por deixá-la fluir, quando senti a mão de SeokJin segurar meu pulso, me chamando para andarmos.

Balancei a cabeça, seguindo o garoto, ainda um pouco aturdido enquanto olhava para seus cabelos balançando a medida que ele andava. Saímos do paraíso musical e chegamos a uma área que tinha expostas inúmeras bonecas, de pano, cerâmica, porcelana, plástico, e até vidro, todas organizadas em estantes tão delicadas quanto elas. Foi a vez de Jin empacar no caminho, me fazendo chocar com seu corpo.

Fiz uma careta com o impacto, olhando para ele e imediatamente aliviando a expressão. O garoto olhava para tudo aquilo com um olhar inocente e maravilhado tão intenso quanto eu nunca havia visto. Ele continuou mirando as bonecas, com a boca levemente aberta, arrancando uma risada curta de minha parte.

Segurei seu queixo, forçando-o delicadamente a fechar a boca.

- Fecha a boca, senão pode ganhar uma mosca intrusa de presente. – Comentei, brincalhão, rindo ao vê-lo fazer uma careta. – Vem, vamos tomar chá, que ainda temos que ir até seu trabalho.

Ele acenou com a cabeça, mirando mais uma vez as bonecas antes de se deixar ser puxado por mim.

Chegamos à mesa e nela já havia pequenos biscoitos coloridos e tortinhas de recheio vermelho postos. Nos sentamos, e eu segurei uma risadinha ao ouvir SeokJin exclamar animado ao ver que as tortinhas eram de morango.

Não muito tempo depois, JaeHwa ajumma apareceu, com um bule de chá de porcelana branca, com pequenos desenhos nas bordas.

- Vocês gostaram da loja? – Perguntou ela, amigavelmente, enquanto se sentava. Ambos acenamos com a cabeça enquanto comíamos. – E os doces? Eu os fiz hoje de manhã, antes de sair.

- Estão ótimos. – SeokJin respondeu, sorrindo. Acenei com a cabeça, normalmente, eu já teria desencanado de doce no dia, mas aquilo estava mesmo bom. Não tanto quanto a comida de Jin, mas suficientemente saboroso.

 Continuamos a comer, ouvindo ajumma contar histórias de todos os tipos: das fantásticas às suas aventuras de infância e, principalmente, coisas sobre seu neto.

- Ele mora comigo, sabe. – Ela contou, em algum momento da conversa. – Eu sou a única família que ele tem, e nos damos muito bem. – Quando ela falava do neto, seus olhos brilhavam com muito mias intensidade, e eu senti vontade de conhecê-lo. – Vi que se interessou pela ala de música, menino NamJoon, ela foi toda organizada pelo meu menino. – Disse, sorrindo ternamente. – Você toca alguma coisa?

- Eu sou muito desastrado pra esse tipo de coisa, mas gosto de cantar e compor. – Respondi, sorrindo para ela um tanto constrangido. – Eu já tentei o piano e o violão, mas simplesmente não tenho jeito pra coisa.

- Você compõe? – Ela arregalou os olhos, parecendo verdadeiramente admirada. – Meu menino diz que compor é muito difícil, ele toca mais que canta, e quando canta, são músicas existentes.

- Na realidade depende muito. – Disse. – Depende da pessoa, do lugar, do seu estado de espírito e de sua inspiração. Mas eu costumo ter facilidade para compor.

- Parece que você e o neto dela já podem se casar. – Jin comentou, travesso, enquanto bebia o chá.

Olhei para ele fazendo uma careta, que foi respondida com um simples sorriso.

- Não precisa ficar com ciúmes querido. – JaeHwa ajumma afirmou, fazendo SeokJin se engasgar e arrancando uma risada alta minha. Bem feito, ficou provocando pra quê? – Meu menino tem um namorado.

- Um namorado? – Pergunto, mais por curiosidade do que qualquer outra coisa.

- Sim. – Ela acenou com a cabeça, mexendo a colher no chá. – Uma gracinha, apesar de ter uma personalidade meio ruim e ser cabeça dura.

- Parece alguém que eu conheço. – Comentei, olhando para Jin, que se limitou a me mostrar a língua pela milésima vez naquele dia.

Continuamos falando por mais alguns dez minutos, até nos despedirmos cheios de agradecimentos à ajumma e promessas de que voltaríamos para olhar a loja com mais cuidado e conversar novamente.

 

 

 

Andamos lado a lado nas ruas de paralelepípedos, que ficavam menos cheias à medida que avançávamos para mais adiante do calçadão.

Paramos, enfim, em frente a um café grande e bonito no canto esquerdo da rua. As paredes eram de cor bege, e as portas e parapeitos das grandes janelas eram de madeira escura, dando ao lugar um ar de “casa dos três ursos”. Olhei para a placa do lugar, que era feita de madeira, com “Paradise” escrito em letras douradas.

- Você trabalha num café? – Perguntei, não muito surpreso, mas admirado mesmo assim.

- Sim. – Ele acenou com a cabeça. – Eu vou falar com meu chefe, se quiser, pode ir, sabe como voltar? – Perguntou, me encarando.

Neguei com a cabeça.

- Fala lá com ele e vem me dizer como ficaram as coisas. – Disse, colocando as mãos nos bolsos. – Qualquer coisa eu volto para a estação com você, se não for trabalhar hoje. – Ele se limitou a acenar com a cabeça, entrando no estabelecimento em seguida.

Com as mãos ainda nos bolsos, me apoiei na parede do lugar, olhando para o tempo limpo e suspirando cansado quando uma brisa quente me atingiu. Minha cabeça estava uma bagunça, mas eu tinha medo de que, se a organizasse, não gostasse do que encontraria. Continuei divagando por mais alguns poucos minutos, sentindo meu celular vibrar em meu bolso.

Tirei o aparelho do bolso e vi a notificação de “três novas mensagens” piscando na tela. Desbloqueei a tela, entrando na caixa de mensagens. A primeira mensagem era Jia:

“Vc tm 1 temp amanhã? Qro fzr algma coisa >.< estou cm tééédio ;-;”

Bufei.

 “Amanhã vou estar ocupado, arranja outra pessoa.”

Ela não demorou nem cinco segundos para responder:

“Xatoooo :P”

“Não sou obrigado a nada, e para de escrever desse jeito, irrita.”

“ Naum so obrigada a nd”

Soltei uma pequena risada com sua resposta, voltando à central de mensagens.

A segunda mensagem era de Jae hyung, me enchendo o saco para ir até o maldito consultório:

“Monster, eu sei que está recebendo essas mensagens, venha logo, deixa de ser teimoso. Se não tem nada de errado mesmo, não tem por que me evitar.”

Revirei os olhos, apagando a mensagem e me dirigindo à última delas:

“Gordo, pode me encobrir segunda? Eu não vou poder ir.”

Tratei de responder Suga.

“Que aprontou dessa vez, branca de neve?”

Ri curto, guardando o celular no bolso.

Foi nesse momento que ouvi a porta do café se abrir, e SeokJin sair lá de dentro com a expressão neutra.

- Ele não ligou para minha mãe, estava esperando eu entrar em contato. – Informou, parecendo imensamente aliviado. – Eu vou compensar meu expediente hoje, pode ir para casa, NamJoon ah. – Disse, sorrindo.

Forcei um bico.

- Eu gostava sem o “ah”. – Disse, fazendo-o rir. – Ok, então eu já vou. Tome cuidado quando for para casa. – Disse, me virando para ir embora e acenando para ele, que retribuiu o gesto.

Segui pela rua por mais alguns metros antes de me virar para o lugar em que estivera. SeokJin já havia entrado no café, e sorri pequeno por algum motivo. A verdade era que eu não queria ele andando por ali nem por lugar nenhum sozinho, mas não podia simplesmente esperá-lo até acabar seu turno, certo?

                Andei em silêncio, sem ânimo para ligar meus fones de ouvido quando ouvi um gritinho fino. No mesmo instante virei o olhar para a direção do barulho, encontrando um pequeno beco entre duas construções.

                Me aproximei dali, conseguindo distinguir figuras à medida que chegava mais perto.

                - Por favor, me deixem ir. – Disse uma voz fina, feminina. Provavelmente a mesma que havia gritado antes. Ela estava no meio de um semicírculo de três caras grandes, apoiada na parede em puro pânico.

                - Calma boneca, não vamos te machucar. – Disse o bastardo número 1.

                - A não ser que tente fugir ou gritar, então vai enfrentar conseqüências. – Um segundo cara disse.

- Podem pegar o dinheiro, mas me deixem ir, por favor! – A garota suplicou, com a voz provavelmente eleva alguns décimos de seu normal.

- Não queremos o dinheiro gracinha. – O primeiro nojento voltou a falar. – Queremos algo mais gostoso... – Disse maliciosamente, fazendo os outros bastardos rirem como retardados.

- Não! Me solta! – Ela disse, livrando seu pulso do aperto do babaca número 2, que rosnou e deu um tapa no rosto da garota, fazendo-a arfar surpresa. O canalha elevou a mão de novo para desferir um novo tapa, mas nesse momento eu já estava ali, atrás dele, que era um pouco mais alto que eu, segurando seu pulso com tanta força que poderia tê-lo quebrado se quisesse.

- Mas não vai mesmo. – Disse, socando seu rosto confuso.

O cara cambaleou para o lado com meu golpe, mas não chegou a cair, era grande demais.

Recuperados parcialmente do susto, os três me olharam raivosos, avançando e minha direção.

Desviei agilmente do primeiro, desferindo um soco no estômago do segundo, que se curvou em agonia, aquele cara tinha o abdômen muito fraco, não conseguiria levantar por um bom tempo ainda. Quando o terceiro veio em minha direção, abaixei a cabeça para desviar de seu soco fraco, ficando em frente a si. Analisei sua postura, era aberta e completamente vulnerável, era difícil acreditar que o garoto houvesse brigado com algo além da lixa de unhas na vida. Segurei seu braço quando ele tentou me socar com aquela base lixo que estava me deixando com vergonha alheia e o torci, acertando com os dedos juntos e esticados logo abaixo de suas costelas, entendendo sua expressão sofrida. Eu já havia recebido aquele golpe, não era agradável.

Nesse meio tempo, o primeiro voltou, tentando me atacar por trás. Eu tinha que admitir, esse cara era no mínimo melhor que seus parceiros: tinha a base atracada e segura, me deixando com poucas aberturas, ele conseguiu me acertar um soco muito bem dado na boca quando eu tentei desarmá-lo, mas, apesar de sua boa base, o cara não devia estar acostumado a brigar com pessoas com mais de 1,80 de altura, porque sua defesa de cabeça era horrível. Eu poderia ter deixado aquele cara inconsciente em questão de segundos quando percebi isso, mas no mesmo instante ouvi um “Ei!” do lado de fora do beco.

Todos viramos o olhar, encontrando um cara vestido de guarda, sendo acompanhado da garota, que eu não havia visto sair dali.

Os três caras se levantaram para fugir no mesmo instante, sendo seguidos pelo cara de uniforme, que gritava para que parassem. Observei meio sem reação quando os caras sumiram na escuridão da ruela. Suspirei, colocando as mãos nos bolsos de novo, caminhando de modo lento para a rua principal. Dobrei a esquerda, indo na direção da qual eu estava vindo, quando ouvi a garota me chamar:

- Ei, espere! – Ela chamou, correndo até mim. Olhei-a, entediado. Eu realmente não queria falar com aquela garota agora, eu finalmente havia conseguido a maldita desculpa que minha cabeça estava buscando, e agora nem o pior dos demônios poderia me tirar do lado de Seok até que ele estivesse seguro em casa. – Obrigada. – Disse, quando me alcançou, se curvando exageradamente, com os longos cabelos castanhos claros caindo à sua frente. – Eu não sei o que poderia ter acontecido se você não tivesse chegado. – Completou, sorrindo angelicalmente.

Dei de ombros.

- Tome mais cuidado, talvez não tenha tanta sorte na próxima. – Disse, me virando e voltando a andar.

- Como eu posso te recompensar? – Ela disse, andando ao meu lado. Olhei para ele com o canto do olho, me perguntando por que aquela garota continuava me enchendo o saco.

- Não precisa, você apenas teve sorte de eu estar passando. – Disse, dando de ombros.

- Mas eu realmente quero agradecer! – Ela disse, colocando as mãos para trás do corpo e abaixando a cabeça, numa tentativa de me fazer olhá-la. Coisa que não fiz.

- Você já agradeceu. Agora, por que não vai para casa?

- Eu estou indo visitar meu pai. – Ela disse, e eu me limitei a soltar um “hm”. – Ele é dono de um monte de lojas aqui no Min, sabia? – Não respondi, mas a garota continuava falando. – Mas o favorito é esse que estamos indo. – Disse, parecendo animada, e eu agradeci mentalmente por ter chegado ao café. – Ah, olhe, é aqui!

Quando ela disse isso, não pude evitar olhar para a garota, apenas para confirmar o que eu temia: seu dedo fino indicava que o destino dela era o mesmo que o meu.

Suspirei, entrando no café sem prestar atenção no que a garota dizia. Quando entrei, o som familiar do sininho de cafeteria tocou, e eu olhei ao redor: as paredes eram todas de madeira escura, mas as grandes janelas deixavam o ambiente com uma iluminação incrível; o balcão mais à frente de onde eu estava era de mármore negro, e a vitrine com doces me fazia perguntar como SeokJin havia agüentado não assaltar o próprio local de trabalho ainda; o café, ao contrário do que o cenário lá fora poderia sugerir, estava quase completamente cheio, preenchendo o local com o som de conversas e risadas, além de gritos de crianças, que pareciam uma população numerosa na clientela dali.

Nem sequer havia começado a procurar, entre os garçons, SeokJin, quando vi ele andar em minha direção. Sorri pequeno imediatamente, na esperança de que ele não tivesse visto.

- NamJoon, o que está fazendo aqui? – Perguntou, e eu contive um sorriso por ouvi-lo cortar o “ah” novamente.

- Vou te esperar. – Disse, dando de ombros, tentando parecer despreocupado. Ele franziu o cenho.

- Por quê?

- SeokJin ssi! Você conhece ele? – Fui interrompido quando ia responder, e olhei desinteressado para a garota. SeokJin se limitou a acenar com a cabeça. – Ele me ajudou, mas não quer que eu o agradeça. – Ela disse, ficando emburrada. Revirei os olhos.

- Você já agradeceu, eu não quero mais nada além disso. – Disse, passando a mão na parte de trás de meu cabelo. SeokJin olhou de mim para a garota algumas vezes, antes de parar mirando meu rosto e franzir o cenho de novo.

- Você andou brigando de novo, NamJoon? – Ele perguntou, se aproximando mais para olhar a marca que começava a inchar em meu rosto. Não respondi, apenas desviei o olhar do seu. – Responda. – Engoli em seco, olhando para ele, que tinha uma expressão um tanto assustadora no rosto. Acenei com a cabeça sem olhá-lo, recebendo um suspiro irritado como resposta. – Sente-se ali, eu vou pegar a caixa de primeiros socorros. – Disse, apontando para uma mesa vazia perto de nós.

Não disse nada, apenas me direcionei até onde ele havia me mandado, sentando ali. Claro que aquele chiclete humano foi atrás, e se sentou à minha frente. Bufei, irritado. Aquela garota não ia me deixar em paz?

Depois de alguns poucos minutos, SeokJin voltou, pedindo (de forma surpreendentemente seca) para a garota se afastar para que ele pudesse ficar de frente para mim. Resmunguei durante todo o tempo em que ele desinfetou, limpou e passou um negócio pegajoso e transparente em minha bochecha, que deixava a pele com uma sensação de aquecimento, apesar de ser gelada.

Quando terminou, fechou a caixa e me mirou.

- Por que voltou aqui? – Perguntou.

- Vou te esperar sair.

- Isso você já disse, mas por quê?

Dei de ombros, olhando para a janela. Eu não ia dizer que estava preocupado com ele.

- Você devia agradecê-lo por isso, SeokJin ssi. – A garota se intrometeu. – Ele deve ter ficado preocupado que acontecesse a mesma coisa que aconteceu comigo, com você.

Ao ouvir a garota, Jin se virou para mim, com a expressão levemente confusa, logo olhando para ela novamente.

- O que aconteceu?

- Uns caras nojentos queriam tocar em mim. – Ela disse, fazendo pouco caso da coisa toda, como se não estivesse à beira de um ataque de lágrimas lá atrás. – Mas ele me ajudou e cuidou deles sozinhos. – Completou, sorrindo com as mãos no rosto, soltando risadinhas.

Franzi o cenho para a criatura, vendo SeokJin olhar para mim, sem virar a cabeça, levantando as sobrancelhas, descrente e...cínico?

- Ok, eu vou sair só as oito, tudo bem? – Disse, se levantando e pegando a caixa de primeiros socorros. – Quer alguma coisa?

- Quero. – Disse, vendo-o pegar um bloco de notas e uma caneta, como que esperando que eu pedisse. – Pode me dar esse bloco e essa caneta? – Perguntei, e ele me olhou, novamente levantando as sobrancelhas.

- Pra quê?

- Você está mal humoradinho, hein? – Comentei, vendo-o bufar. – Eu quero escrever. – Disse, dando de ombros.

Ele riu com escárnio, e eu franzi as sobrancelhas, o que inferno era o problema daquele garoto? Apesar disso, me disse para esperar, voltando em seguida com um novo daqueles blocos e outra caneta.

Assim que recebi aquilo, ele se afastou, voltando a atender as mesas. Peguei a caneta e comecei a batucar nas folhas enquanto olhava para a janela, pensando em todas as letras que haviam vindo à minha cabeça naquela semana,eu tinha material para muitas letras, mas sempre que tentava pensar nas coisas que havia acontecido na semana, aquele maldito rosto continuava voltando à minha mente. Olhei para ele, que andava habilmente por entre as mesas, acompanhando-o com o olhar.

Tive minha atenção atrapalhada quando notei alguém me encarando, eu era sensível para esse tipo de coisa, e não gostava de gente me encarando. Olhei para o outro lado de minha mesa, quase pulando de susto ao ver que a garota ainda estava ali, e sorri para mim.

- Não vai perguntar qual é o meu nome? – Perguntou, tomando algum tipo de suco pelo canudo.

- Por que eu faria isso? – Perguntei, dando de ombros.

- Porque é isso que as pessoas educadas fazem. – Disse, fazendo um bico.

- Desculpe, eu não sou uma pessoa educada. – Disse, olhando para a janela de novo. Eu não gostava daquela garota, mas antes que falasse mais qualquer coisa, recebi um cardápio na cabeça. – Por que está sempre me batendo? – Perguntei, olhando raivoso para quem eu já sabia ser responsável por aquilo.

SeokJin riu debochado, se abaixando e sussurrando, perto de meu ouvido:

- Seja mais gentil, senão ninguém vai querer ficar perto de você. – Franzi a sobrancelha quando ele disse aquilo, ignorando o arrepio que me percorreu quando senti sua respiração em meu pescoço, mas acenei com a cabeça, bufando.

- Qual o seu nome? – Não me preocupei em forçar um sorriso, e Seok me olhou feio. Dei de ombros, não me importando com seu olhar repreensor.

- Bae Suzy. – Disse, parecendo feliz por eu ter entrado em seu joguinho. Obrigado, Jin, agora ela vai ficar no meu pé a tarde toda. – Qual é o seu?

Fiz a melhor cara de desinteresse possível e respondi, sem animação:

- Kim NamJoon. – Disse, pegando a caneta de novo e tentando pensar no que escrever.

- Você mora em Seul há quanto tempo, NamJoon ssi? – Ela perguntou, me olhando curiosa.

- Desde os dois anos. – Disse, respondendo automaticamente. Eu não tinha o menor interesse em conversar com ela.

- E onde morou antes disso?

- Goyang.

- Hm. – Ela disse, mexendo nos gelos de sua bebida com os dedos finos. – Eu morava com a minha mama na França, cheguei em Seul anteontem.

- Que ótima recepção você teve. – Disse, com ironia.

- Ah, mas foi ótima. – Ela sorriu, não parecendo ter notado minha ironia. – Afinal, você estava lá, e deu tudo certo. - Não respondi à Suzy, e me contentei em me virar para a janela novamente. – O que você escreve? – Perguntou, me fazendo olhar para ela de novo.

- Letras. – Disse, dando de ombros, em descaso.

- Você compõe? – Ela perguntou, parecendo animada. Acenei com a cabeça. – Eu também! – Disse, apontando para si mesma.

Arregalei levemente os olhos, e a partir daí, entramos numa conversa eterna sobre combinações de melodias e letras que havíamos feito ou que pretendíamos fazer. Eu ainda achava Suzy um tanto irritante, mas era uma boa garota, e, bem, ela conseguia manter uma conversa comigo, algo bem difícil de se fazer quando eu não estou a fim de falar. Não que eu me sentisse confortável perto dela para falar sobre algo além de músicas, mas ainda sim uma companhia para as horas que passei esperando por SeokJin.

Quando a lua já estava alta e as ruas escuras iluminadas pelos postes de luz, SeokJin apareceu em nossa mesa, com o uniforme novamente posto, olhando para mim e Suzy como se fôssemos extraterrestres gosmentos. Tudo bem que havíamos feito uma bagunça maravilhosa ali, com papéis espalhado por toda a mesa, mas eu sentia que ele não estava emburrado apenas por aquilo.

- Terminei. Vamos? – Perguntou, olhando para mim. Acenei com a cabeça, me levantando. Acenei para Suzy, que se levantou e depositou dois beijos em minhas bochechas, um de cada lado, me deixando um pouco perdido.

- Desculpe, não é normal fazer isso aqui n Coréia, não é? – Ela perguntou, dando uma risadinha, sem parecer nem um pouco arrependida.

Pisquei, dando de ombros e me virando para ir embora, dando de cara com SeokJin, que me olhava com aquela mesma expressão cínica de mais cedo. Dei um peteleco em sua testa, sem me importar com o fato dele estar irritadinho, e segui para a porta.

Coloquei as mãos nos bolsos, andando na rua silenciosa ao lado dele. Mais adiante, pude ver um grupo de caras agrupados próximo de um muro dali. Imediatamente, quando eles olharam em nossa direção, eu circulei os ombros de SeokJin com o braço esquerdo, trazendo-o mais para perto.

Caminhamos assim até que passássemos por aquelas pessoas, até SeokJin murmurar:

- Pode me soltar, já estamos longe deles. – Sua voz era baixinha, e ele saiu do alcance de meu braço, olhando para baixo.

- O que foi? – Perguntei, tentando olhar seu rosto, e notando que ele estava começando a corar. Ou parando.

Sorri, sacana, e o abracei por trás, fazendo-o se assustar.

- Yah! O que está fazendo? – Gritou, rindo enquanto eu me apoiava nele.

- Você fugiu de mim daquele jeito. – Disse, fazendo falsa manha. – Desse jeito não vai fugir.

- Não vou, mas você também não! – Disse, ainda rindo. – Eu vou cair, você é pesado!

Saí de cima dele rindo, bagunçando seus cabelos quando voltei a caminhar ao seu lado, recebendo uma careta sua, que não enganava ninguém: seu sorriso cobria qualquer outra emoção possível.

Caminhamos até a estação, conversando, por algum motivo, sobre como garotas conseguiam ser irritantes. Não sei bem por que começamos a falar disso, mas tinha a impressão que ambos falávamos de Suzy.

O segui até sua plataforma assim que entramos na estação.

- NamJoon ah, você não vai até minha casa comigo, está tarde. – Ele me olhou, com autoridade.

- Eu não vou te deixar sozinho. – Franzi o cenho.

- Eu vou ficar bem, apenas não se preocupe e volte para casa, sim? – Disse, sorrindo.

- Mas-

- Sem “mais” nem “menos”, Kim NamJoon. – Ele me olhou, desafiando-me a contrariá-lo. – Você já fez muito por mim. Vá para casa.

- Seok...

- NamJoon.

- Aish. – Baguncei a parte de trás de meus cabelos, desviando o olhar do seu repressor. Olhei de novo para ele, encontrando-o me olhando com uma cara bem ameaçadora. – Vai mesmo ficar bem? – Disse, por fim.

- Sim. – Ele disse, acenando com a cabeça e sorrindo. – Eu não chamo muito a atenção, vou ficar bem. – Eu não sabia se concordava com aquilo, mas me limitei a suspirar, acenando com a cabeça e ver o trem dele chegar.

- Tome cuidado. – Disse, bagunçando sua cabeleira. – Nos vemos segunda. – Ele afirmou com a cabeça, e acenou para mim, entrando no trem.

Observei o veículo se afastar, ganhando velocidade, e suspirei cansado, indo em direção à minha plataforma.

Eu estava preocupado, mas se havia algo que eu havia aprendido naquele dia, era que crianças adoráveis sabem ser ameaçadoras.


Notas Finais


So...?
Ficou bom? Ficou maçante? Eu achei meio "muita informaçao desnecessária", mas meio que esse cap estava planejado para isso mesmo.
Eu sei que tinha dito que ia maneirar nos crossovers, mas a Suzy é uma das últimas, juro (pelo menos por enquanto) >.<

Comentários? (mendigando coment, eu sou uma vergonha, mas eles verdadeiramente ajudam '^^)

Kissuuuuuuuuuuuus, e até fds que vem!

PS.: MinCheon é um bairro inventado ;)


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