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História Dependence (Em revisão) - What the fuck I got myself into?


Escrita por: kaisooisreal

Notas do Autor


Hello people o/
Olha quem tá no prazo :3 (solta fogos) ~~falando em fogos, feliz ano novo atrasado <3

Então, eu sempre penso em um monte de coisa pra dizer aqui e lá embaixo, mas sempre esqueço tudo '^^
Mas eu quero agradecer pela quantidade de gente que acompanha essa coisa, pela quantidade de gente que comenta, sempre dando essa força que me anima mais que chocolate <3 só tenho agradecimentos à vocês <3

Não vou demorar muito aqui, mas vejo vocês lá embaixo o/
Beijinhos '3'

PS.: vocês viram que por pouco não tem 11k palavras nessa merda? Não foi intencional, o capítulo que quis, e eu não posso negar um pedido de minhas crianças ;)

Capítulo 14 - What the fuck I got myself into?


- Na-NamJoon? – Ouvi a voz suave de Jin soar baixinho em meu ouvido. Ele estava estático com o abraço repentino, e eu sentia seu coração bater mais rápido perto do meu. Na realidade, eu não sabia se era o dele ou o meu, mas respirei fundo, apertando mais meus braços ao seu redor antes de soltá-lo.

- Desculpe. – Soprei, olhando em seus olhos, que me miravam curiosos, apesar de eu notar, com certa alegria, que o medo não parecia mais habitar suas orbes, ao menos não no momento.

Tentei falar algo, abrindo e fechando minha boca algumas vezes, sem conseguir resultados. Ao notar meu desconforto, Jin sorriu pequeno, apertando os olhos. Paralisei por um momento ao vê-lo fazer aquela expressão, logo desviando o olhar do seu, e passando a mão atrás da cabeça.

Quis me xingar alto por ser tão impulsivo, mas a vontade havia sido tão forte que eu apenas havia me entregado. Uma recaída, a primeira de muitas.

Estava resmungando quase inaudivelmente enquanto olhava para a parede machada da loja ao lado do trabalho de Seok quando senti sua mão apertar de forma hesitante meu pulso. Olhei para ele, logo olhando para sua mão ao redor de meu pulso e em seguida para ele de novo.

- Desculpe por te deixar preocupado. – Disse, com um sorriso em suas palavras, soltando meu pulso.

Olhei para ele, levemente impressionado. Nunca me considerei uma pessoa fácil de se ler, até porque sempre soube esconder as emoções que seriam problemáticas ao ser notadas. Mas aquele garoto parecia precisar de pouco mais de um sorriso para me desequilibrar, e menos ainda para saber o que se passava em minha cabeça.

Levei a mão novamente para sua testa, tocando levemente no curativo que estava ali.

- Foi ele que fez isso com você? – Perguntei, minha voz soando sem expressão aparente. SeokJin olhou para mim, logo desviando os olhos. Seus ombros encolheram e ele pareceu menor do que era realmente.

Olhei para o canto de sua mandíbula direita, que ele me deixara ver inconscientemente, e cerrei os dentes ao ver a marca roxa que jazia ali, fraca, mas visível. Desci o olhar, vendo marcas em seu pescoço também. Imaginei quantas daquelas cicatrizes suas roupas escondiam, e senti o peito apertar. Cerrei os punhos, sentindo a raiva subir como fogo em óleo por todo meu corpo.

SeokJin olhou hesitante para meus punhos cerrados, levando, lentamente e com essa mesma ânsia, a mão direita até a minha, em punho. Assim que senti o aperto leve ali, esqueci por que estava irritado, na realidade, esqueci qual era meu nome ou o que eu estava fazendo ali, nada pareceu importar muito naquele instante, com seus dedos quentes ao redor de minha mão.

- Está tudo bem. – Ele sorriu, fraco, ao receber minha atenção. – Não fique assim por minha causa, eu estou acostumado.

- Estar acostumado com isso não é algo que você devia dizer com um sorriso no rosto, SeokJin. – Olhei sério para ele, tentando ignorar o formigamento que sentia onde ele tocava em minha mão.

Um sorriso triste fugiu de seus lábios quando ele abaixou a cabeça, levantando um pouco minha mão e a abrindo, desfazendo o punho cerrado que eu nem notei ainda estar mantendo.

- Onde você machucou a mão? – Perguntou, olhando para a gaze que cobria minha mão com um olhar gentil, mas melancólico. Franzi o cenho. Ele estava fugindo do assunto, mas se parar de falar daquilo fosse aliviar aquela expressão em seu rosto, eu não me importava em esquecer o assunto por um tempo.

- Eu caí. – Respondi, e ele me encarou com a sobrancelha levantada, descrente e um tanto cínico. Não conseguindo sustentar seu olhar, porque ele provavelmente havia notado a mentira, desviei os olhos dos seus.

Ele deu de ombros, suspirando.

- De qualquer forma, vamos voltar lá pra dentro. – Disse, se virando, sem soltar minha mão, e me puxando para sair da ruela. – Eu vou levar uma bronca se ficar aqui fora.

Segui-o, olhando meio bobo para aperto de sua mão. Entramos no café de novo, fazendo o sininho da porta tilintar, atraindo imediatamente a atenção da garota, que permanecia sentada num dos bancos do balcão.

- Oppa! Eu achei que não ia mais voltar! – Disse, inflando as bochechas, e logo olhando para nossas mãos juntas com a expressão curiosa. – Vocês foram lá fora se casar? – Perguntou, arregalando os olhinhos. Imediatamente soltamos as mãos, SeokJin se abaixou para falar com ela, e eu olhei para qualquer canto da cafeteria, com a mão na nuca. O jeito que aquela garota falava, e essa sua capacidade absurda de ser irritante me lembravam alguém, que eu não sabia quem era no momento. – Por queeee não me avisaram, oppa? Eu queria ter visto! – Choramingou alto, fazendo com que todas as tentativas de SeokJin de explicar que não era nada do que ela estava pensando, ou de acalmá-la, fossem falhas.

- MinNa ssi, por favor, se acalme. – A voz de Seok era suave, para transmitir calma à criança, mas a garota parecia decidida a cantar ao mundo inteiro que eu e Seok havíamos “nos casado” e não a convidáramos.  –Nós não nos casamos, somos muito jovens para isso. – Disse, depois de uma imensidão de argumentos que foram ignorados pela garotinha.

- Então quando vocês crescerem vão se casar? – Ela parou com o berreiro, passando a mãozinha sobre o olho direito. – Eu posso ir, oppa? – Completou, animada de novo, como se nunca tivesse berrado até eu perder meus tímpanos há poucos segundos atrás.

- Não, hã... – Seok olhou para cima, para mim, com a expressão meio confusa e perdida, logo franzindo o cenho e virando novamente para a garota cuja qual ele estava ajoelhado na frente. – Nós não vamos nos casar, somos só...amigos. – Ele disse, após um momento de hesitação, como se buscasse o termo certo.

- Amigos pegam nas mãos? – Ela perguntou, olhando-o legitimamente curiosa.

Seok sorriu, acenando com a cabeça.

- Pegam sim. – Disse, a voz suave. – Não tem problema nenhum pegar nas mãos de amigos.

A garotinha emitiu um “ah”, logo se virando para mim, e soltando uma risadinha travessa. Franzi o cenho, sem entender, mas acabei por deixar de lado quando a criança continuou falando com Seok sobre qualquer coisa que não me interessava.

Olhei para a janela do café, lembrando do que fora fazer ali. Aconteceu tudo tão rápido que eu nem havia parado para pensar no fato de que, ei, eu havia encontrado Seok, num estado muito melhor do que minha mente desesperada havia imaginado, e o alívio iminente pareceu se apossar de meu corpo, mesmo que um pouco atrasado.

- NamJoon! – Pisquei pelos dedos que foram estalados na frente de meu rosto, e olhei para Jin com o cenho ligeiramente franzido. Ouvi-o suspirar. – Voltou pra Terra? Ótimo, eu estava perguntando se não quer comer alguma coisa.

- Eu... – Franzi o cenho, tentando desviar o olhar de seus lábios, que apertavam um ao outro, tornando-se mais vermelhos e carnudos. Controle-se, por que está encarando a boca do garoto? – Eu acho que não tenho dinheiro. – Disse, por fim.

SeokJin sorriu, gentil.

- Você veio até aqui porque estava preocupado comigo, o mínimo que posso fazer é te oferecer comida, não?

- Mas não vai ser descontado do seu salário? – Perguntei. Uma vez, há mais ou menos um ano e meio, Hope havia tentado trabalhar numa lanchonete perto de casa para poder comprar o presente de natal de TaeHyung, e eu lembro dele reclamando sobre os refrigerantes e cervejas que Suga roubava freqüentemente, deixando na “conta de HoSeok”.

- Não se preocupe com isso. – Me tranqüilizou. – O que quer?

Acabei por pedir um suco, na realidade, uma mistura de vários sucos, que Seok me jurou ser gostoso. A insistência do garoto para que eu provasse aquilo, quando perguntei o que era, me fez ficar com o pé atrás sobre a quantidade de morango que havia naquilo, mas era bem saboroso.

Assim que me serviu, Seok foi para as outras mesas, atendendo os poucos clientes que havia ali. Era um horário em que o movimento estava apenas começando, então ele sozinho dava conta do recado. Segui-o com os olhos enquanto rodopiava entre as mesas, respondendo a todos com um sorriso no rosto e a voz gentil. Me senti meio estranho quando ele ficou falando com um grupo de garotas que chegara recentemente, todas balançando os cabelos tingidos e soltando risadinhas finas enquanto o garoto tentava fugir de suas inúmeras perguntas e cantadas nada discretas.

- Você não me engana. – Pisquei algumas vezes ao ser puxado bruscamente de meus pensamentos pela voz infantil de MinNa, que se sentara ao meu lado e me olhava profundamente.

- O quê?

- Eu sei que você quer casar com o oppa. – Ela sorriu, convencida, cruzando os braços e olhando para SeokJin, que conseguira se livrar das garotas e atendia a um senhor no canto oposto do café. Engasguei com o suco que bebia, olhando-a exasperado. – Ele acha que vocês são só amigos, mas você não me engana.

Olhei incrédulo para aquela criatura. Eu normalmente negaria de primeira, pouco me importando se pareceria muito na defensiva, mas algo no que ela disse me fez travar. A ingenuidade (não tão ingênua) com que ela falou aquilo me fez hesitar com a resposta. Se para os olhos de uma garotinha de não mais que dez anos, eu parecia gostar daquela forma de Jin, o quanto daquele estranho afeto eu estava deixando transparecer?

Ao invés de respondê-la, afinal, eu não tinha uma resposta para aquela garota, e sabia que se falasse algo como “não é nada disso” ou “eu sou só amigo dele mesmo”, ela me atazanaria até a morte, decidi perguntar algo que me incomodara assim que notei a quanto tempo que a garota estava no café, aparentemente sem responsáveis e borboleteando por aí.

- Você não tem casa não?

- Tenho. Mas é longe daqui, e eu gosto de acompanhar meu appa até o trabalho. – Disse, sorrindo.

- Seu appa?

- Sim. – Acenou com a cabeça. – Ele é dono desse café.

Joguei minhas costas contra o encosto de couro sintético do banco, suspirando. Finalmente entendera de onde aquela garota era tão irritante.

- Não tem nada de bom pra fazer? – Perguntei, me perguntando o quanto demoraria para o expediente de Jin acabar.

- Claro que tenho! Eu não sou que nem você, que fica encarando o oppa sem fazer mais nada da vida! Eu sou ocupada! – Disse, cruzando os braços, convencida.

Soltei uma risada fraca. Não liguei muito para a acusação dela. Sabia que era perda de tempo ficar discutindo com aquela garota, mas ela falou sobre “estar ocupada” de forma tão segura que me deu vontade de rir.

- Ocupada é? E está fazendo o quê? – Perguntei, com um fio de sorriso nos lábios enquanto me inclinava para olhá-la me encarar meio chateada por não estar sendo levada a sério.

- Estou esperando minha unnie. – Empinou o nariz, virando o rosto. – Ela vai me levar pra jantar, às sete e meia.

- Sua...aish. – Soltei o ar de uma vez, suspirando cansado. – Ei! Jin! – Gritei, chamando atenções da loja toda. O garoto virou pra mim com o cenho franzindo, logo se aproximando a passos meio hesitantes.

- O que foi?

- Que horas seu expediente acaba? – Perguntei, meio sofrido. O garoto me olhou como se tentasse entender o que eu estava querendo, mas acabou por responder.

- Normalmente seria às nove e meia, mas eu não fui à aula e cheguei mais cedo, então vou sair antes das oito. – Assim que ele terminou de falar, suspirei pesadamente de novo. – O que foi?

- Nada. – Sorri para o nada, sentindo a paciência acabar sem que seu motivo de esgotamento sequer estivesse ali. – Parece que vou ter que agüentar aquela garota de novo.

- Que garot- ah, Suzy ah? – Perguntou, olhando rapidamente para MinNa, que parecia meio perdida. – Veja pelo lado bom, vocês podem ficar várias horas conversando de novo. – O sorriso de Seok saiu tão carregado de cinicismo que eu fiquei com um pouco de medo. Ele se virou, dando alguns passos antes que eu o chamasse.

- Seok... – Chamei, tentando pôr um pouco de manha na voz. Não sabia como se fazia aquilo, mas eu realmente não queria agüentar os papinhos de Suzy de novo. Ela era uma boa compositora, mas era apenas isso, e eu pouco me importava sobre o fato dela ser bonita, porque sua personalidade era insuportável, grudenta e irritante. SeokJin se virou com o meu chamado, parecendo meio dividido entre rir e fazer careta. Ele emitiu um “hm?”, pedindo que eu continuasse. – Não tem como sairmos mais cedo?

SeokJin suspirou, mas eu via o projeto de sorriso escondido no canto de sua boca.

- O senhor pode sair na hora que quiser. – Disse, apontando para a porta com a mão. – Mas eu tenho que trabalhar. – Disse, se virando de novo.

- Até parece que eu vou embora sem você. – Franzi o cenho. Achei que não fosse necessário dizer uma coisa daquelas. Óbvio que não ia deixar aquele moleque sozinho.

- Ah é? E onde pretende passar a noite? – Perguntou, ainda de costas. – Na minha janela?

Sorri, ignorando sua provocação. Ele estava putinho de novo, e mesmo que eu não entendesse o motivo, ia aproveitar: SeokJin ficava muito mais provocável quando irritado, essa era uma das coisas que eu havia aprendido nos últimos dias.

- Na minha casa, no colchão do lado da minha cama, onde você vai dormir, senhorita. – Completei a fala com um sorriso sacana, me divertindo ao ver Seok ficar gradualmente da cor de um tomate. Ele me olhou feio, competindo com o olhar enquanto eu sorria, me divertindo. Fomos interrompidos de nossa lutinha interna ao ouvir um gritinho agudo.

- Eu sabia! Eu sabia que você queria casar com ele! – MinNa disse, apontando pra nós enquanto colocava a mão sobre a boca, emitindo um gritinho supersônico bem irritante. Os olhos brilhantes de animação. Franzi o cenho, aquela garota era realmente estranha.

- Não, eu não posso casar com a princesa, eu sou apenas um monstro. – Disse, me virando para a garota, mantendo a seriedade na expressão enquanto explicava a ela. – Mas eu tenho que cuidar da princesa, porque tem uns caras maus que machucam ela se eu não estiver por perto. – Sorri, vendo que a garota parecia ter entendido. Ela já não me olhava com o desprezo de costume, e sim com uma nova admiração entusiástica. – Entendeu?

- Entendi! – Respondeu, balançando as mãos, animada. – Você protege o oppa! Mas... – Virou a cabeça levemente para o lado, formando um bico, confusa. – Por que o oppa é a princesa?

- Olhe pra ele. – Puxei a garota para que ela pudesse se ajoelhar no banco, apoiando-se no apoio de costas, e olhar para Jin. – Não parece uma princesa? – Perguntei, olhando para ela. A garota encarou Seok com a boca aberta por um momento, logo se virando para mim, com um sorriso no rosto.

- É verdade! – Disse, acenando com a cabeça. Tentei não cair na gargalhada ao ver a expressão incrédula de Seok com tudo aquilo, e prestar atenção em MinNa, que enumerava animadamente quais as características de Seok o fariam se parecer uma princesa.

Olhei para ele, com um meio sorriso no rosto enquanto ele me fuzilava com o olhar, ouvindo, apenas ao longe: “...sua boca também, e seus olhos, e o cabelo dele é muito bonito, e ele é branquinho...”

 

 

 

 

- Liberdade! – Disse, juntando as mãos e esticando os braços, alongando minhas costas assim que senti o ar da rua em meu rosto. – Ei, Jin, você quer comer alguma coisa? Eu quero tomar sorvete! – Me virei para o garoto que fechava a porta atrás de si, me olhando com o cenho ligeiramente franzido.

- Por que está tão animado? – Perguntou, mantendo a expressão de estranhamento enquanto descia os degraus do café.

- Por que não estaria? – Perguntei, olhando por cima do ombro para ele com um meio sorriso no rosto. – Eu estou fora daquele lugar chato, me livrei da garotinha, não tive que agüentar a Suzy e, não estou indo pra casa às nove e meia da noite, e sim às sete e meia.

- Estranho. – Ouvi-o dizer, em meio a uma risada entrecortada. – Vamos. – Disse, batendo em meu ombro e andando pelo caminho que nos faria voltar à estação.

- Hm? Pra onde? – Perguntei, o ar de brincadeira na voz. – Você não tinha dito de definitivamente não ia dormir na minha casa? Hm? – Provoquei. Depois de MinNa cansar de falar sobre as características “reais” de Jin, ele deu um pití meio inaudível, de onde eu só consegui ouvir “eu não vou na sua casa de jeito nenhum!” sair várias vezes de sua boca.

Ele se virou pra mim, me olhando feio, mas logo sorrindo.

- Você perguntou se eu queria sorvete. Eu quero. Vamos. – Disse, se virando de novo e voltando a andar. Balancei a cabeça em negativa, sorrindo, e corri até ele, bagunçando seus cabelos quando o alcancei. – O que foi?

- Nada. – Sorri.

- Você é estranho. – Disse, num bico, fazendo apenas com que eu soltasse uma risada curta.

“E você é fofo”. Balancei fortemente a cabeça ao pensar nisso. Droga, não se deixe levar, idiota.

- O que você está fazendo? – Parei de balançar a cabeça ao ouvir a voz de Jin direcionada a mim. Ele tinha as sobrancelhas erguidas juntas e sua boca estava curvada num meio sorriso. Balancei levemente os ombros, apontando para uma loja de paredes cor de rosa que tinha a placa “Sorvetes” pendurada na porta. – Esse é um dos lugares mais caros pra sorvete em toda Seul. E você não tinha dito que não tinha dinheiro?

- Eu perguntei se queria sorvete. Nunca disse que ia pagar. – Coloquei as mãos atrás da nuca, voltando a andar.

- Babaca. – Ouvi-o murmurar, parado atrás de mim.

- Hm? O que disse? – Perguntei, virando a cabeça em sua direção. Eu o havia ouvido, claro, mas era bom vê-lo perder a compostura. Ele murmurou um “nada”, desviando o olhar do meu quando encontrei seus olhos. SeokJin apertou o passo, andando rapidamente à minha frente. Eu soltei uma risada e o segui. – Do que você me chamou, pirralho? Venha e diga na minha cara! – Gritei, alcançando-o em seguida. Passei o braço direito ao redor de seus ombros, abaixando sua cabeça e passando a mão esquerda com força em seus cabelos.

- Por quanto tempo vai continuar me chamando de pirralho? – Reclamou, ao conseguir se livrar do aperto. – Eu já disse que sou mais velho que você.

- Mas é mais baixo. – Falei, vendo com o canto do olho a careta que ele fez.

- JeongGuk ah é mais novo mas é mais alto que JiMin ssi, que por sua vez é mais novo que eu e é mais baixo. – Disse, elevando um pouco o tom de voz enquanto andava, olhando para a frente. – Então isso não importa, certo?

- Sim, você tem razão. – Acenei uma vez com a cabeça, andando ao seu lado. – Então eu vou te chamar de pirralho porque gosto de fazer isso. Que tal essa explicação? Boa o suficiente pra você? – Perguntei, olhando para ele.

Ele me olhou de canto, parecendo tentar me entender. Por fim, soprou uma risada pequena.

- Você é definitivamente estranho.

- E você já disse isso. – Falei, pausadamente, meio cantarolando. Jin olhou para mim, parecendo se segurar para não rir. – Ah, olha, tem uma sorveteria ali. – Apontei, o lugar era umas três construções antes da loja da ajumma, e parecia menos sofisticado que o anterior. – É mais barata? – Perguntei, olhando para ele. Jin balançou a cabeça em negativa, levemente.

- Qualquer sorveteria aqui vai custar uma fortuna. – Jin disse, com a expressão suave.

- Aish, então venha aqui. – Resmunguei, pegando em seu pulso e o puxando, andando muito mais rápido do que quando o acompanhava na caminhada.

- NamJoon! O que está fazendo? – Ouvi seus protestos, mas só parei de andar, ou olhei para ele quando parei em frente à construção, aparentemente pequena, branca e azul que guardava uma das lojas mais incríveis que eu já havia visto.

- Estava te puxando. Queria ver se a ajumma estava aqui. – Falei, ao notar a placa anunciando o “fechado” virando levemente o rosto para ele.

- Isso...isso eu sei, mas... – Abaixou a cabeça, parecendo envergonhado. Franzi o cenho, olhando para onde ele olhava, onde encontrei, bem, minha mão, e seu pulso. Soltei o aperto imediatamente, mas não contive a risada pequena que saiu de meus lábios. Ele levantou o olhar para mim, como se perguntasse qual era o meu problema.

- “Amigos pegam nas mãos”, Jin. – Cantarolei ao dizer seu nome, sorrindo sacana ao ver a compreensão chegar aos seus olhos levemente arregalados. – E eu nem peguei na sua mão, pra que tudo isso? – Me virei para voltar à rua, colocando as mãos nos bolsos. Apesar de tudo, eu ficara nervoso. Vê-lo com vergonha daquele toque me fazia sentir estranho, mas um estranho estranhamente bom.

Continuei andando, sem olhar para trás, mas sabendo que ele me seguia. Andamos em meio às pessoas que se aglomeravam na área mais movimentada dali, próxima da estação.

O trem que levaria à estação de nossa escola – e também de minha casa – já estava ali, e apenas esperava que os cinco minutos de espera obrigatória nas estações importantes se cumprissem para partir. Olhei para trás, chamando-o com o olhar. Seok torceu os lábios, recuando levemente.

- É melhor eu ir para casa. – Disse, sua voz fraca sendo ainda mais abafada pelas vozes na estação.

Suspirei, indo até ele, o que me exigiu pouco mais que três passos. Levantei a mão, levando-a em direção a seu rosto. Ele se encolheu imediatamente, como se temesse qualquer toque. Com outro suspiro, apoiei a palma levemente em sua bochecha esquerda, sentindo a tensão abandonar um pouco sua postura, e ele suspirar, os olhos fechados.

- Olhe para mim. – Ele hesitou por um momento, mas abriu os olhos lentamente, me mirando em seguida. – Eu sei que não nos conhecemos o suficiente para sequer nos chamar “amigos”. – Parei por um instante, logo continuando, sempre olhando para seus olhos escuros. – Mas eu me preocupo com você. Nem sei por que, mas me preocupo. – Me preocupo demais até para o que se consideraria saudável. Emiti um ruído meio frustrado, embora curto, e ele arregalou quase imperceptivelmente os olhos, mantendo a atenção em mim. – E não tem nada nesse mundo que me irrite mais que pensar em alguém te machucando como te machucam. Então, por favor, não volte para casa... pelo menos, não hoje. – Completei a fala com um tom sofrido que raramente era ouvido em minha voz. Meu rosto estava próximo do dele, não o suficiente para se tornar constrangedor, mas sim para que eu pudesse ver seus olhos absorvendo o que eu dissera, o brilho gentil transbordando de suas orbes enquanto ele acenava levemente com a cabeça.

- Por isso que eu estava fugindo de você, seu idiota. – Jin parecia meio relutante em sorrir, mas a gentileza de sua expressão naturalmente ingênua e calma me fazia até cogitar não me socar por ter dito tudo aquilo a ele. Eu estava muito vulnerável, sabia disso, e mesmo que quisesse me irritar e me fechar, uma parte bem maior de mim queria apenas ignorar tudo aquilo e ser gentil com ele, sem me importar com como aquilo se pareceria, em me aproximar dele o quanto quisesse, sem temer a que ponto meu apego com ele poderia chegar.

- Uou, me xingou. Chegamos a outro nível, huh? – Disse, fingindo surpresa, mas sorrindo por ele ter aliviado o clima perigoso que se instalara entre nós. Ele soltou um risada nasal, murmurando outro “idiota”, me fazendo sorrir. – Vem. O trem vai vazar se continuarmos aqui, e as pessoas estão olhando. – Segurei uma risada curta ao ver seus olhos se arregalarem, logo olhando em volta, constrangido. Hesitei por menos que uma fração de segundo antes de retirar minha mão de seu rosto, e desejei que tivesse sido rápido o bastante para que nem ele tivesse notado. Me virei, colocando a mão direita no bolso enquanto a esquerda passava por meu cabelo descolorido como forma de acalmar meus batimentos que, quer eu negasse ou não, haviam acelerado.

Entrei no trem, passando os olhos rapidamente por tudo, vendo um lugar vago no fundo do vagão. Apontei silenciosamente para lá, seguindo Seok quando ele se dirigiu para lá. Ficamos presos numa discussão silenciosa sobre quem sentaria. Para mim era óbvio que ele sentaria, então demorei pra entender o que estava acontecendo quando vi ele parado na frente do banco com um olhar meio desnorteado para mim. Por fim, consegui fazê-lo – forçá-lo – a sentar, e me posicionei à sua frente. Alguns poucos minutos depois de termos entrado no trem, o mundo decidiu que ia pagar o trem, e o veículo antes quase vazio se ocupou a ponto de lotar num segundo. Eu fui meio que levado pela multidão, e tive que me manter a uns cinco assentos de Seok, segurando na barra de segurança como se daquilo dependesse minha vida quando o trem começou a andar.

Fiquei emburrado enquanto era apertado pelas pessoas, meus olhos nunca deixando de mirar SeokJin, que olhava para o nada com uma cara brisada que eu notara ser bem presente em sua face.

Em algum momento, enquanto eu o olhava com “PACIÊNCIA: OVER” estampado na testa, por causa de duas garotas que estavam se agarrando ao meu lado enquanto todas as amiguinhas – e eram várias – que estavam com elas soltavam gritinhos agudos, Seok virou o rosto para mim, me lançando um olhar compadecido e logo sorrindo pequeno antes de voltar a olhar para o nada. Sabe quando o mundo parece entrar em mute e nada mais parece importar porque você está muito ocupado praticamente babando porque um moleque sorriu pra você? Não? Que bom, porque eu não tava nem mais me importando com as duas mocinhas nada discretas que quase me faziam entrar pra uma ménage enquanto se beijavam ao meu lado, e muito menos para os gritinhos absurdamente agudos das amiguinhas também nada discretas delas. Gente, eu andava com TaeHyung, J Hope e JiMin, eu sabia o que era pagar mico por causa de amigos, mas se a gente se parecia com aquilo em público...meus amigos, podem dizer adeus, que eu não saio mais de casa.

Enfim, perdi o foco. E eu estava falando exatamente sobre ter perdido o foco, olha que ironia da vida. Acabei por ficar naquele estado morto vivo/parede/retardado mental durante toda a viagem do trem, e levei um susto quando vi que já estávamos na estação que tínhamos que descer. Seok me olhava como se perguntando “cara, a gente não devia descer aqui?” e eu meio que literalmente puxei ele pra fora do trem antes que o veículo fechasse as portas de novo.

Saímos da estação relativamente vazia e seguimos lado a lado, em silêncio, pela rua nada movimentada que levava para minha casa. Olhei para a rua diagonal que levava para a praça que eu estivera antes de sair correndo até o trabalho de Seok, e diminuí o passo por um segundo, pensando se não seria bom passar por lá. Descartei a hipótese quase que imediatamente, e aumentei o ritmo de minha caminhada, fazendo com que Seok se assustasse e tivesse que dar uma pequena corrida para me alcançar.

Assim que chegou a mim, vi ele acompanhar meu passo com uma careta. Virei a cabeça para olhá-lo, franzindo levemente o cenho.

- O que foi? – Ele negou levemente com a cabeça, mas manteve a careta de desconforto no rosto. Suspirei, já sabendo do que se tratava. – Desculpe, onde dói? – Ele se virou para mim com os olhos levemente arregalados naquela expressão de surpresa singela com a qual eu já me acostumara de certa forma.

- Não é nada, não se preocupe. – Disse, a voz baixinha e o rosto também baixo, sem me olhar nos olhos. Torci a boca em descontentamento. Olhei para sua postura enquanto ele andava, e notei o leve mancar da perna esquerda que eu não notara. Mas se me pedissem para apostar, eu diria que o problema não era a perna, era...

- Eu vou tocar no seu quadril agora.

- O quê? Ai! – Sua expressão foi da surpresa iminente para a dor tão rapidamente quanto eu toquei sua cintura.

Murmurei um “desculpe”, e toquei com a maior leveza possível a área de cima da barra de sua calça no canto esquerdo, indo da barriga às costas. Estávamos parados na rua nesse ponto, e eu sabia que Jin segurava ao máximo os gemidos de dor. Eu ia arregalando os olhos e cerrando a mandíbula à medida que sentia a lesão em sua pele. Não tinha como eu saber ao certo qual era, mas toda a área muscular daquela parte de seu corpo parecia inflamada, como se tivesse sido puxada bruscamente, ou acertada de forma desagradável.

- Você já foi ao hospital? – Perguntei, sabendo a resposta. Se aquilo fora feito pelo pai de Seok, ele provavelmente não buscaria ajuda. Como esperado, ele arregalou levemente os olhos, logo abaixando a cabeça e negando timidamente. Suspirei. – Jin, você está com o músculo distendido. Precisa ir ao hospital. – Meu conselho era mais como um pedido que, embora feito num tom calmo, tinha um tanto quanto de desespero nele.

Eu sabia como era distender músculos, sabia que aquilo era absurdamente desconfortável. Eu não conseguia imaginar como era ter distendido um que se usava para qualquer movimento diário. Não conseguia imaginar como ele conseguira se manter andando o dia todo, e mais: como conseguira disfarçar o desconforto e a dor a ponto de nem eu notá-los.

- Eu estou bem. De verdade. Não preciso ir ao hospital. – Ouvi-o dizer, e tentar voltar a andar. Quando digo tentar, foi porque eu apertei sua cintura com um pouco mais de força, propositalmente, estalando a língua quando ele se curvou em resposta, quase caído pela dor.

- Se continuar mentindo para mim, eu não vou mais acreditar no que você diz, e vou fazer as coisas do meu jeito. – Disse, olhando-o sério quando ajudei-o a se equilibrar de novo. – Vem. Vamos para casa. Lá eu vejo o que fazemos. – Completei ao não receber resposta dele, passando seu braço esquerdo por cima de meu ombro e segurando o lado direito de sua cintura, ajudando-o a andar. A verdade era que eu o carregaria sem problemas, mas não achava que ele fosse topar, além de que meus amigos estavam moscando por aquele bairro naquele exato momento. Não era seguro fazer algo tão comprometedor já que eles não entendiam nada além de “estávamos nos pegando” quando se tratava de SeokJin e eu.

Eu não falei mais até chegarmos à minha casa. Estava irritado e queria bater em alguém. De preferência em quem fizera aquilo a Seok.

Abri a porta de casa sem grandes problemas, pois Seok havia se soltado de mim e se arrumara numa postura normal. Se eu não soubesse que ele estava machucado, nem suspeitaria.

Assim que abri a porta, ouvi a voz de minha mãe antes de vê-la. Sabendo que eu chegara, ela já começara a falar alto, da cozinha, coisas como; “Joon, eu já disse para me avisar quando chega mais cedo, senão eu acho que é um ladrão. E tranque a porta quando sair, quantas vezes eu tenho que dizer?”. Revirei s olhos para Seok, que soltou uma risadinha curta. Minha mãe continuou falando, e sua voz se aproximava do corredor de entrava, o que indicava que ela estava vindo em nossa direção.

- Ah, e amanhã você vai falar com o Jaennie. Você já enrolou a semana toda- – Ela travou no meio da frase quando levantou o rosto que se focara na embalagem do pirulito que não saía do doce, e soltou um gritinho agudo ao ver Seok. Olhou rapidamente para mim, com o rosto surpreso, logo virando para olhar Jin de novo, sorrindo. – Olá querido. Eu não sabia que viria. – Ela parecia legitimamente feliz. Feliz até demais.

Seok fez uma reverência com a cabeça, sorrindo, tímido.

- Olá nonna. – Disse, encolhendo levemente os ombros. Minha mãe o fizera chamá-la assim, porque era “muito jovem para ser chamada de ajumma”. – Eu não pretendia vir. Me desculpe. Seu filho me arrastou pra cá. – Completou, cúmplice. Eu olhei para ele, que estava de costas para mim, pois avançara um pouco para falar com minha mãe, e sorri fraco, balançando a cabeça em negativa. Esse garoto...

- Que bom que ele fez isso então. – Ela disse, sorrindo enquanto tocava levemente no ombro de Seok para indicar que entrasse de uma vez na casa. – Bom trabalho. – Completou, apenas para que eu ouvisse, piscando para mim antes de dar uma risadinha e ir atrás de Seok para dentro da casa.

Assim que cheguei na sala depois de quase perder uma batalha para os cadarços de meu All Star, vi minha mãe saindo da cozinha com duas tigelas cheias de gelatina escarlate nas mãos, balançando perigosamente à medida que ela andava. Jin estava sentado no sofá, e parecia bem mais confortável do que eu esperava.

 Agradeci silenciosamente por minha mãe ser daquele jeito estranho e maluco que ela era. Porque com ela era ou 8 ou 80: ou as pessoas a amavam ou a odiavam, e eu ficava feliz que ela conseguira uma imagem positiva com Seok, de modo que ele parecesse muito mais certo ali, conosco, que em qualquer outro lugar. Na realidade, eu não me sentia mais certo que como ficava quando estava com ele. Era, sem dúvida, a companhia mais agradável que eu conseguira em toda minha vida. Mesmo que viesse com o combo de “ataque-de-raiva-quase-todo-dia”, eu gostava de estar com ele.

- Jinnie, desculpe a bagunça, mas é que eu não estou com muito tempo de arrumar a casa, já que o trabalho fica dobrado nas férias porque todo mundo sai pra viajar e eu fico quase sozinha na equipe. – Ouvi minha mãe dizer, sentando ao lado de Jin, que olhava para ela com um pequeno sorriso gentil no rosto.

- Você não sai de férias também? – Perguntou, com a clássica educação/timidez desnecessária que ele sempre trazia com ele. Balancei a cabeça levemente, soltando uma pequena risada nasal ao vê-lo agir daquele jeito. Eu já notara que ele não era de todo forçado, digo, sua gentileza e educação. Claro, era algo dele para se proteger, mas também fazia parte ativamente de sua personalidade natural, ser gentil e essas coisas.

- Ah, eu tiro alguns descansos durante o ano todo, mas nas férias de verão, como Joonnie passa na casa do pai, eu não vejo muita necessidade de ficar livre do trabalho, já que não tem nada pra fazer.

- Ou ninguém pra atazanar. – Eu disse, entrando de vez no cômodo. Os dois olharam para mim com certa surpresa, como se tivessem esquecido que eu estava na casa. – Eu quero gelatina.

- Vá pegar. – Minha mãe disse, me mostrando a língua. – Essas são pra mim e pra Jinnie. – Fiz uma careta descontente, andando preguiçosamente até a cozinha, e ouvindo minha mãe perguntar alto: – Joonnie! Você não tinha dito para Jinnie que iam passar as férias na casa do seu pai? – Bufei. Eu não falei pra ninguém, mas beleza. – Ah, não se preocupe querido, todos os garotos vão, e você vai também. – Ouvi-a dizer no outro cômodo enquanto abria a geladeira.

Parei por um momento. Ele ia também. Por um momento me senti estranhamente desconfortável com a idéia, mas em seguida notei que aquilo era perfeito: se ele passasse as férias inteiras comigo, longe de Seul, eu poderia evitar, pelo menos por um tempo, que aquele cara nojento o machucasse.

Assim que me servi, voltei à sala, e vi que Jin provavelmente desistira de argumentar com minha mãe sobre como ele não iria naquela viagem. Minha mãe conseguia dar um “cala boca, faz o que eu digo” muito melhor que o meu, então imaginei que ela não teve grandes dificuldades em fazer com que o garoto aceitasse seu destino.

Me sentei no canto direito do sofá, ao lado de Jin, que olhava com atenção par a TV, onde se via um filme sobre uma bailarina cega que passava quase todos os dias ali, mas que minha mãe adorava. Um dos únicos filmes mais próximos de um romance que minha mãe curtia.

Não sei quanto tempo fiquei encarando ele, mas sei que provavelmente estava sendo bastante óbvio, porque minha mãe tinha o sorriso mais filha da puta que existia no rosto no outro lado do sofá. Minha sorte é que Seok é muito mais avoado do que parece, e não notou. Ou espero que não.

Depois que o filme acabou, minha mãe nos levou para a cozinha para ver o que faríamos pra jantar, e acabou se perdendo numa discussão com Jin sobre o que cozinhariam. Eu estava completamente boiando na conversa deles, e já que sem duvidas iria ser excluído de todo o processo por causa da confiança absurda que minha mãe tinha em mim, me sentei na mesa da cozinha e tirei o celular do bolso, bufando com a quantidade de mensagens.

Ignorei as várias mensagens de Tae e Hobi, eu não era obrigado a ler surto de bicha louca necessitada. E de qualquer forma eles provavelmente só estavam me perguntando onde eu fora do nada e o que acontecera depois que eu me mandara. Ignorei, também, as mensagens do grupo das galinhas fogosas, e abri a mensagem que me fizera franzir o cenho assim que entrei na caixa: Biscoito do mal, era o remetente.

“Encontrou ele?”

Dei de ombros, ignorando o estranhamento que me causara ver uma mensagem de JungKook em minha caixa de entrada.

“Encontrei. Ele está na minha casa”

Saí de seu chat, esperando que ele demorasse para responder, afinal, ele não fazia o tipo que ficava grudado no celular o dia todo. Muito pelo contrário, porém, a mensagem foi instantânea:

“Só queria confirmar. Tae hyung disse que viu vocês andando juntos na rua, então quis saber se estava tudo bem”

“Está sim”

Respondi ao garoto, bloqueando o telefone. Eu não ia dizer a ele que Seok estava machucado, não fazia idéia de quanto sobre a família de Jin o garoto Jeon sabia, e não me sentia confortável falando sobre isso para alguém, muito menos para alguém que mal conhecia.

Assim que pousei o celular na mesa, voltando à cozinha, pousei também meus olhos na figura magra que ajudava minha mãe de forma tímida. Sorri ao notar que, mesmo que ele estivesse meio hesitante sobre no que tocar ou o que fazer a princípio, foi se soltando à medida que minha mãe conversava com ele e que eles entravam mais no ritmo do que faziam. Soltei uma risadinha quando ele bateu o dedo, fazendo uma careta de dor tão parecida com a manha de Tae que assustava.Posso dizer, realmente, que não tirei os olhos dele, e quando notava o que estava fazendo, estalava a língua e desviava o olhar para a porta que levava à sala, não me mantendo muito tempo ali e logo voltando à espreitar Seok.

Se minha mãe notou? Aquela mulher parecia estar se segurando para não surtar ali. Me olhava segundo sim, segundo não, e sempre soltava risadinhas silenciosas quando Seok não estava olhando para ela. Eu a ignorava quanto fosse possível, mas a atitude escandalosamente infantil de minha mãe era bastante chamativa.

Quando eles terminaram de cozinhar – o que demorou séculos – sentamos os três ao redor da mesa da cozinha. Olhei com um suspiro para a comida. Minha mãe gostava de cozinhar, mas não se animava a fazer isso sozinha, e parecia gostar particularmente da comida de Seok, porque ela certamente caprichara aquela noite.

Eu não falei muito enquanto comíamos, apenas respondia às perguntas que minha mãe fazia de vez em quando, normalmente com acenos de cabeça. Ela e Jin pareciam amigos de longa data, e eu comecei a me perder nos assuntos que de maneira alguma eram minha praia. Eles começaram falando de doces, e em algum momento depois já estavam comentando sobre a crise financeira da América do Sul. Minha mãe, por causa do trabalho e da curiosidade incontrolável, tinha muito o que oferecer quanto à “conhecimentos gerais”, e Jin, lendo como lia, provavelmente era alguém muito agradável com quem se trocar idéias.

- Ah, eu daria tudo por um sorvete agora... – Ouvi minha mãe falar, a voz arrastada enquanto se esticava no sofá, ocupando-o por inteiro, se alongando. Olhei para ela, que me mirava com uma expressão que eu sabia muito bem o que significava.

Bufei, me levantando do tapete, onde havia me posicionado ao lado de Jin por minha mãe ter ocupado o sofá.

- Vamos. – Falei, pegando no braço de Seok, que brincava entretido com alguns pedaços de papel, fazendo dobraduras.

- Aonde? – Perguntou, me olhando curioso e um tanto alarmado enquanto eu o erguia do chão e ele soltava o origami que fizera.

- Estou te devendo um sorvete. – Respondi, num sorriso de canto. Eu me distraíra e acabara esquecendo, então não fôramos à sorveteria depois daquilo tudo. – Qual você quer que eu traga? – Perguntei, indiferente para minha mãe, que me olhava com um esforço aparente de não surtar. Ela parecia... como eram que chamavam aquelas garotinhas que davam gritinhos cada vez que Hobi e Tae se beijavam em publico no colégio? Fu..alguma coisa.

- Pode ser chocolate. – Ela parecia ter dificuldade de manter o sorriso pequeno. – Ou limão. Ou manga, mas o de morango também é bom. Não, já sei! Pistache!

Fiz uma careta, acenando com a cabeça. Andei até o corredor da frente, sendo seguido por um SeokJin afobado. Me curvei, calçando os sapatos e tocando os bolsos antes de sair da casa; celular, fones e dinheiro, ok.

Abri a porta e a segurei, olhando para Jin, que ainda colocava os sapatos. Sorri, fazendo uma reverência exagerada enquanto ele passava por mim. Fechei a porta, sorrindo divertido para a cara emburrada dele, que tentava a todo custo conter o sorriso bastante visível.

Andei com as mãos nos bolsos pela rua iluminada precariamente pelos postes amarelados. Soltei a respiração, me perguntando por que a noite estava tão frio sendo que era verão. Meus braços estavam arrepiados pela camiseta de mangas curtas, e olhei com o canto do olho para Jin, que parecia se encolher pelo vento frio como eu.

- Acho que o universo não quer que tomemos sorvete hoje. – Comentei, olhando para o céu escuro. As luzes da grande Seul não permitiam que as estrelas fossem vistas, o que resultava num laranja artificial poluindo o negro do firmamento durante a noite.

- Hm. – Ouvi a afirmação de Jin, um sorrisinho de lábios selados em seu rosto.

- Minha mãe vai querer mesmo assim. – Observei. – Você também, né? Crianças não sentem frio.

- NamJoon! – Ele me olhou com um começo de bico no rosto, e eu ri.

- Aah, isso está errado. – Resmunguei, vendo Jin me olhar curioso, como se pedisse que eu soltasse o drama. – Não pode me chamar de outra coisa? Que não seja NamJoon? – Perguntei, olhando-o sofrido. Fazia um tempo que eu tentava não implicar com ele por isso, mas estava realmente me incomodando.

- Por quê? É seu nome. – O garoto parecia verdadeiramente confuso.

- É sim, mas eu não gosto de nomes completos. Me chame de outra coisa. Por favor, Jin, eu estou te implorando. – Sim, eu tinha uma espécie de tique nervoso com isso: pra mim, chamar as pessoas pelo nome completa era estranho e doentio. Parecíamos uma espécie de robô ou algo assim. As pessoas sempre disseram que o esquisito doente era eu, mas não posso fazer nada, eu não gosto.

Jin levantou um sobrancelha, descrente.

- E eu não gosto de apelidos, mas você me chama por eles mesmo assim. O que faremos sobre isso? – Cruzou os braços, me desafiando com o olhar.

Fuzilei-o com os olhos por um tempo, vendo a expressão determinada e mal criada do garoto à minha frente e sorri malicioso quando uma idéia me veio à mente.

- Ok, então. – Sorri de lado, fazendo-o me encarar, desconfiado. – Vamos fazer assim: eu vou te chamar apenas por apelidos, e você – Apontei para ele. – vai me chamar apenas por meu nome. – Ele descruzou os braços, parecendo relaxar. Ele provavelmente pensou em algo bem pior. – Espera aí, eu não acabei. – A expressão de desconfiança voltou à sua expressão, me encarando com as sobrancelhas contraídas. – Se eu ou você sairmos dessa regra, perde.

- Perde? Perde o quê? – Ele indagou, me olhando como se dissesse “deixa de ser chato e me deixa ir tomar sorvete”.

- Além do orgulho? – Ele acenou com a cabeça, dando de ombros. Eu tinha bastante noção de que orgulho não era um problema para ele, então precisaria mais que isso para convencê-lo. – Se você vencer, eu paro de te chamar por apelidos. Todos eles.

- Até princesa? – Ele me olhou como se não acreditasse, os olhos brilhando. Acenei com a cabeça, querendo muito rir de sua expressão no momento.

- Mas se eu ganhar, você vai ter que aceitar os apelidos que te dou... – Ele cruzou os braços novamente, com descontentamento na expressão. – E me chamar de Rap Monster. – Assim que disse isso, ele fez uma careta tão grande que por um momento eu esqueci que ele tinha um rosto tão bonito.

- Ah não, esse não. – Ele abanou os braços, dispensando, e eu tentei não ficar muito ofendido pelo tamanho do ódio que ele tinha por meu amado apelido. – É muito tosco.

- Tudo bem. – Suspirei. – Invente outro apelido então, qualquer coisa que não seja NamJoon ah, por favor.

- Fechado. – Ele disse, num risinho. Avançou a mão para selar nosso acordo, mas eu bati em sua palma, logo socando sua mão.

- Somos adolescentes. – Falei, sorrindo enquanto colocava as mãos atrás da nuca e me afastava. – Aja como um.

Ouvi –o resmungar algo sobre “odeio adolescentes”, e ri, chamando-o para que andasse mais rápido, apontando para a sorveteria iluminada na próxima esquina.

 

 

 

A passagem na sorveteria teria sido muito mais agradável se as únicas duas atendentes do lugar não fossem, para minha desgraça, Jia e Fei.

Minha amiga magrela e baixinha trabalhava ali, eu sabia, afinal o lugar era da família Meng, a família dela, mas que eu ia ter a sorte de cair nas garras dela e da chinesa gostosa e alta que não saía de perto dela justo no dia que eu não queria, de jeito nenhum, papo com nenhum de meus amiguinhos nada discretos, disso eu nem suspeitava.

Bufei assim que ouvi um “E aí, bastardo?!” soar alto no lugar. Havia varias pessoas ali, em especial casais jovens e grupos de amigos, mas também havia uma ou duas famílias, e as mães olharam escandalizadas para Jia quando ela gritou para toda a loja ouvir.

Andei até o balcão, sorrindo de canto com uma mensagem clara: “não amola”.

- Que combinação exótica que temos aqui. – Ouvi a voz repuxada pelo sotaque de Fei quando ela se juntou à Jia no balcão. – Nunca esperei te ver com o CDF, Mon.

- Eles estão nesse grude faz uma tempo já, menina. – Vi Jia dar um sorriso travesso. – Você é muito avoada.

- Sério? – Fei pareceu legitimamente surpresa. Apontou com a unha longa de mim para Jin. – Mon, vocês estão-

- Se a pergunta vai ser a que eu acho que vai ser, a resposta é não. – Respondi impaciente. – E eu vim numa sorveteria, comprar sorvete, não ser interrogado por duas retardadas com um aparente problema de discrição.

- Assim você me emociona. – Jia comentou, sorrindo. – Também te amo, seu cuzão.

- Pena que eu não te amo. – Respondi, parando de prestar atenção nela e me inclinando sobre a vitrine de sorvetes. – Seok, você lembra que sabor minha mãe queria? – Perguntei, sem me virar para ele. Ela falara tantos sabores que eu me confundira.

- Acho que foi pistache. – Ele respondeu, simples.

- Como alguém pode gostar de uma coisa dessas? – Resmunguei para mim mesmo, fazendo careta. Era verde, meio salgado e estranho.

- Da mesma forma que alguém algum dia vai gostar de você. – Jia disse, brincando enquanto olhava para Seok com um meio sorrisinho. Franzi o cenho, vendo o garoto se encolher ao olhar dela. Eu não sabia se ele entendera o que ela estava sugerindo, mas ele parecia incomodado. – Ou de mim. – A garota de cabelos tingidos de rosa colocou as mãos atrás da nuca, resmungando enquanto olhava para Fei com um olhar bem sugestivo.

Fei fechou a cara e saiu de trás do balcão, indo atender dois garotos que haviam chegado no estabelecimento.

Levantei a sobrancelha, olhando Jia, que mirava a outra avidamente, apoiada no vidro do balcão.

- Ela finalmente te deu um fora?

- Você sabe que FeiFei é hétero, Mon. – Jia suspirou, pesarosa. – Eu nunca tive chance.

- Mas e Min? Você não estavam de rolo? – Perguntei, lembrando da DJ baixinha que normalmente ajudava nas Rap Battles do Lux, além de ser DJ de plantão no Rave Lux.

- Não deu certo, sei lá, ela é muito acelerada pra mim. - Jia deu de ombros. – E tem aquela bicha oxigenada amiga dela, o Key. Não suporto aquela criatura. – Dei uma risadinha. Eu falara poucas vezes com Key, mas sabia que ele tinha uma personalidade...difícil. – Mas enfim, você não vai falar dos seus rolos. Eu também não vou falar dos meus. Escolhe logo a porra do sorvete e vaza daqui.

- Vou contar pra ajumma que você ta expulsando os clientes. – Falei, segurando um sorriso. Jia mostrou o dedo do meio para mim. – Jin, morango?

O garoto, que parecera bastante entretido com o vidro da janela da sorveteria, olhou para mim com aquele arregalar de olhos inocente que sempre estava em seu rosto quando tentava entender o que estava acontecendo, voltando à realidade. Ele piscou, logo acenando com a cabeça várias vezes, aumentando o ritmo ao finalmente assimilar minha pergunta.

Sorri de seu desespero infantil, levando a mão até seus cabelos e bagunçando suas mechas.

Pedi o sorvete de Jin para Jia, pegando um de chocolate para mim e o de – eca – pistache para minha mãe.

Além de ter que lidar com um sorvete derretendo na minha mão, ainda tive que agüentar um Jin de cara feia porque eu pagara o sorvete para ele durante todo o caminho para casa.

- Sério que você vai fazer birra porque não gastou dinheiro? – Perguntei, entrando na sala de casa. Minha mãe, que estava deitada (deixe-me corrigir isso: ela estava com as pernas apoiadas no encosto das costas, esticadas, e a cabeça e costas no assento) no sofá enquanto mexia no celular, virou para nós dois com um olhar confuso.

- Eu disse que podia pagar. – Resmungou, lambendo o próprio sorvete (no qual Jia tinha certamente sido generosa) enquanto eu entregava o pote em que estava o de minha mãe para a mulher jogada no sofá.

- E eu disse que ia pagar porque queria. – Falei, ficando meio mal humorado com aquela chatice. Era só um sorvete, porra.

- Ok, ok. As mocinhas podem parar de brigar. – Minha mãe interrompeu assim que Jin puxou o ar para me responder. – Jinnie, você deve estar cansado. Por que não toma um banho? Joonnie pode te ajudar. – Disse com doçura, me encarando ao terminar.

Suspirei. Eu sabia que ela queria falar comigo, e tinha que se livrar de Jin para isso. Chamei ele, subindo as escadas para o segundo andar e indo até meu quarto. Abri o guarda roupa, imensamente bagunçado, e retirei de lá uma das toalhas que haviam sido lavadas no início da semana, colocando sobre seus braços.

Peguei também, um conjunto de roupas como aquelas que emprestara para ele na última vez. Indiquei o banheiro de meu quarto e disse para que ele ficasse à vontade, saindo do quarto assim que ele fechou a porta do banheiro, interrompendo qualquer pensamento que eu estivesse tendo.

Saí sem pressa do quarto, seguindo para a escada e chegando à sala, onde minha mãe estava, terminando de raspar com a colher, as paredes do pote de sorvete.

- O que foi? – Perguntei, antes sequer de sair da escada direito.

- Por que você trouxe o Jinnie? – Ela perguntou, sem rodeios. Levantei a sobrancelha, sem entender o motivo da pergunta. Ela não estava zangada por eu ter levado o moleque pra casa, então o que era?

- Como assim?

- NamJoon, você é meu filho. Eu te conheço melhor que conheço minha mãe. E eu conheço aquela velha muito bem. – Ela resmungou enquanto eu me sentava no apoio de braços do sofá. – E não ia trazer o menino aqui, dando de bandeja motivo pra eu te zoar pelo resto da eternidade. E pros garotos também.

- Pera aí. Você contou pros garotos?

- Bom, contei pro Tae, claro. Ele já deve ter espalhado. – Bufei. Minha mãe e Tae pareciam aquelas vizinhas fofoqueiras, que ficam na varanda olhando pra vida alheia, e não hesitavam em correr pro telefone quando tinha “noticias” novas. – Mas não fuja do assunto. Eu sei que tem coisa aí, e se te fez grudar desse jeito no menino, eu diria que não é coisa boa.

Suspirei pesadamente. Às vezes, poucas vezes, o fato de minha mãe me conhecer tão bem era proveitoso; como quando eu estava irritado e ela me deixava na minha. Mas num geral, ela saber tão a fundo ler minhas expressões, era no mínimo problemático e desconfortável.

- Lembra quando você me perguntou se eu tinha idéia de por que meus ataques estavam acontecendo de novo? – Perguntei, vendo minha mãe assumir uma postura um pouco mais séria, como se pressentisse problemas. Ela me perguntara varias vezes, depois daquele desmaio, se eu não sabia por que voltara a surtar, sendo que estava supostamente curado. Suspirei, antes de continuar. – Eu não lembro de ter surtado antes de ver Jin sendo abusado por aqueles caras na rua. E desde então, todas as vezes em que tive ataques, foi por algo acontecendo a ele. – Minha mãe me encarava curiosamente, parecendo se esforçar para não perder nenhuma informação. – O que eu quero dizer, mãe, é que eu tenho surtado muito ultimamente...o que quer dizer que-

- Que você já viu Jinnie passar por muita coisa. – Acenei com a cabeça, olhando para o chão. – Nesse minúsculo espaço de tempo. – Acenei de novo, e ela suspirou. – Não vou te perguntar o que exatamente você viu, até porque é algo particular do garoto. – Olhei para ela com um olhar surpreso e agradecido. Eu achei que ela fosse me obrigar a contar o que estava acontecendo. – Mas nesse pouco tempo que convivi com ele, Joon, vi o quanto esse garoto é fofo. Ele brilha como ouro e é delicado como vidro. – Mantive- me encarando minha mãe, meio surpreso pela comparação. Não era de seu feitio falar coisas assim. – Então faça o que for preciso para proteger esse menino.

Encarei-a meio perdido por um momento, logo sorrindo de canto e acenando.

Dei um beijo na bochecha dela, correndo para meu quarto, onde encontrei Seok olhando sonhadoramente para a janela, o queixo apoiado na mão direita. Seus cabelos úmidos brilhavam à luz da noite, e seus olhos pareciam vagos, longe dali.

Sorri.

Eu definitivamente o protegeria.

 

 

 

 

 

- NamJoon! Não faça birra. Vamos, vamos nos atrasar! – Era o que Jin dizia várias vezes enquanto tentava tirar o travesseiro que cobria meu rosto. Eu acordara ao seu primeiro chamado, como normalmente acontecia. Mas isso não queria dizer que eu iria sair da cama com tanta facilidade. Eu dormira como um bebê aquela noite, como normalmente acontecia quando Jin estava por perto, e não queria de forma alguma sair do conforto dos lençóis, mesmo que estivesse ficando meio quente ali.

- Jin, me deixa. Tá cedo ainda. – Murmurei, com a voz abafada pelo travesseiro.

- Não está cedo! – Ele parecia meio irritadiço. – E os garotos já estão lá embaixo, vamos lá... NamJoon! – Gritou como uma mãe com seu filho quando me virei, ficando de barriga para baixo e o rosto enterrado no travesseiro e entrei de novo embaixo das cobertas que ele retirara de cima de mim.

Me arrisquei a levantar levemente o rosto do travesseiro e olhar para Jin, que estava com a s mãos na cintura, me olhando escandalizado, Ele usava o meu uniforme, o mesmo que emprestara peara ele aquela vez, que ele consertara, aparentemente, porque os botões que faltavam anteriormente estavam todos ali. Ele capturou o olhar do meu olho que estava exposto, me olhando severo, e eu sorri singelamente. Era engraçado deixá-lo zangado, e ele realmente se assemelhava a uma dona de casa brigando com uma criança.

- Levanta, NamJoon.

- Vem cá então. – Disse, me dando por vencido e ficando em posição de lótus encima do colchão que estava ao lado de minha cama, com os cobertores ainda enrolados em volta de mim. Ele assumiu uma expressão meio desconfiada, mas se agachou ao meu lado, me olhando como se esperasse para ver o que eu faria. Sorri, levando a mão ao seu cabelo que havia sido arrumado para ficar um tanto bagunçado, e bagunçando de verdade. – Bom dia. Diga bom dia quando acorda uma pessoa, seu mal educado.

Me levantei antes que ele sequer abrisse a boca com expressão escandalizada e incrédula. Fui sorrindo pequeno até meu banheiro, pegando meu uniforme de cima da cômoda – onde eu deixara na noite passada – e fechando a porta.

Assim que voltei para meu quarto, ele estava vazio. Desci até a cozinha, encontrando minha mãe ali, sentada à mesa enquanto lia um livro que eu identifiquei como sendo Moby Dick, um dos favoritos dela, que estavam sempre à mão nas estantes absurdamente lotadas de seu escritório.

- Nunca vai cansar de ler isso? – Perguntei, divertido, enquanto passava por ela e ia até Jin, que estava apoiado no balcão da cozinha, comendo iogurte de morango.

- É cultura, e cultura nunca deixa de ser apreciada. – Soltei um riso curto e nasal, pegando uma maçã e me apoiando ao lado de Jin. Eu lera aquele livro, uma vez, por curiosidade. Era uma história bonita, onde os humanos não tinham tanto poder quanto pensavam, afinal. Uma história perfeita para o olhar crítico e anti-antroposófico de minha mãe. – A propósito, Tae perguntou se vocês vão sair ou vão ficar aqui dentro transando mesmo. – Assim que abri a boca para contestar aquele absurdo, ela levantou as mãos, me interrompendo. – Não disse que você estão fazendo isso. Mas é o que seus amigos acham que estão.

Bufei, olhando para Jin, que parecia envergonhado, mirando singelamente o chão.

Basicamente puxei Seok para fora de casa, sendo recebido com vaias alegres e “aleluia” de meus amigos. Todos estavam ali; os dois casais grudentos e o Senhor das Trevas Açúcar.

- Hyungs! – Tae deu um gritinho feliz, abraçando a mim e a Jin ao mesmo tempo, me assustando. – Achei que não iam vir. – Completou, num bico.

- Então foi isso que você foi fazer ontem? – Perguntou JiMin, me olhando divertido enquanto dedilhava a cintura de JungKook. – Quando Kookie disse que não podia dizer, imaginei que teria algo a ver com SeokJin hyung. Que bom que você está bem. – Park completou, sorrindo para Jin, que se encolheu levemente, aceitando a preocupação com um aceno tímido de cabeça.

- Sim, o hyung estava muito preocupado com você. – Tae falou, alegremente, apertando a mão do namorado. – Não é Hobi?

- Sim, ele estava bem chato. – HoSeok afirmou, e eu o olhei com uma meia careta.

- O que me lembra. – YoonGi se intrometeu, indo até Jin, que estava levemente à minha frente enquanto caminhávamos, posição que eu assumia automaticamente quando andava com ele. Proteção. – Não se atreva a sumir de novo. – Disse, segurando as mãos de Jin e olhando-o seriamente. Seok parecia um tanto assustado com a proximidade de meu amigo, e eu me segurei para não empurrar Suga de perto dele. Deixa de ser descontrolado. – Ou pelo menos, da próxima vez que sumir, leva ele junto, porque eu não sou obrigado a ouvir os surtos de diva dele.

YoonGi soltou as mãos de Jin, voltando a andar, e todos seguimos seu exemplo. Eu matinha o cenho meio franzido, e os outros garotos riam, concordando com a posição de YoonGi.

 

 

 

 

- SeokJin hyung! Mon! Vamos comer na cantina? – JiMin gritou, de bem longe do corredor, assim que eu e Seok saímos da sala, sendo seguidos por um Suga sonolento que resmungou:

- Vai chamar o monstrão e a donzela mas não vai me chamar? Beleza. – Ele não parecia verdadeiramente ofendido, mas algo em sua entonação me pareceu estranho.

- Deixa de ser trouxa, hyung! Vem também, óbvio. – Park gritou, num risinho, puxando Kookie para perto de si, que tentava se afastar por causa da gritaria.

Bufei no exato mesmo segundo que YoonGi, sem me importar com isso, pois era algo freqüente – fazermos as coisas sincronizadamente, digo. Era algo que a convivência nos rendia – e segui até os dois que estavam mais à frente do corredor um tanto lotado.

- SeokJin hyung, tem bolo de morango na sobremesa de hoje. Vamos pegar? – JungKook perguntou, encarando Jin do outro lado da mesa da cantina. Os olhos de Seok brilharam no mesmo segundo, e ele acenou, se levantando e se afastando. Segui-os com os olhos, vendo-os sumir na esquina que levava ao balcão das sobremesas, do outro ado do refeitório.

- Monster, cara, pelo menos tenta disfarçar. – Ouvi a voz morta de YoonGi soar, e me virei para ele, meus olhos com relutância de deixar o lugar em que Seok havia sumido. – Você paga uns micões bonitos quando encara as pessoas assim.

- Olha quem fala... você sempre fica urubuzando as pessoas em que está interessado. – Mordi a língua quando notei o que havia dito. Droga.

- Você percebe que acabou de nos dar a carta trunfo para nunca mais te deixarmos em paz, não é? – Suga perguntou, os cantos da boca repuxados num sorriso completamente filha da puta.

- Ai como o Tae vai gostar disso. – JiMin brincava com o canudo de seu suco, agora acabado, na boca enquanto me encarava sem esconder a diversão. – Onde ele está, a propósito? – Perguntou, se virando para YoonGi, que deu de ombros, parecendo não se importar de forma alguma sobre o paradeiro de TaeHyung, e de, claro, HoSeok, que não estava conosco também.

- Provavelmente dando o cu pro Horse em algum lugar. Nada que nos diga respeito agora. – Suga colocou um amendoim dos que comia na boca. – Agora eu só quero aproveitar a chance de zoar com o senhor hétero aqui. Não corte minha vibe, Baleia.

Bufei, ouvindo o risinho fino de JiMin.

- O que eu preciso fazer pra convencer vocês de que não tem nada a ver com isso que vocês estão pensando? – Olhei para YoonGi com a sobrancelha erguida. Eu estava seriamente me cansando daquelas “brincadeiras”, principalmente porque me sentia cada vez menos confiante em responder “não” a todas as suas especulações.

- Absolutamente nada. – Suga disse, lambendo a ponta dos dedos salgados.

Mas JiMin parecia ter outros planos.

- Beija ele, ué. – Olhei escandalizado para a Baleia, que sorria em falsa inocência. Ele parecia se divertir bastante.- Se você não gostar, ou não sentir nada de especial, paramos de dizer que vocês foram feitos um para o outro.

- E que você quer comer ele. – Suga completou, parecendo ter aderido instantaneamente à idéia de Park. – Ou seja: vamos mentir.

Fiz uma careta olhando para eles, que tinham expressões divertidas e um tanto debochadas.

- Ok. – Disse, por fim. – Se eu beijar ele, você me deixam em paz.

- Só se você não gostar. – JiMin corrigiu, o sorriso fino em sua voz fina.

- Não gostar do quê? – Olhei para trás deles e vi Seok e JungKook, que traziam potinhos de sobremesa nas mãos. Gelei, me perguntando se eles haviam ouvido. Concluí com alívio, pela cara confusa de Jeon e pelo olhar avoado mas feliz de Seok enquanto comia seu doce, que não.

- Te conto depois. – JiMin não parecia caber em si com a animação, e YoonGi tinha um sorriso sacana meio escondido nos lábios.

Olhei para Seok, engolindo em seco quando ele se sentou ao meu lado, sorrindo a ponto de fechar os olhos, e engoli em seco, mirando rapidamente sua boca, e logo desviando o olhar.

Em que merda eu me meti?


Notas Finais


EU TO SENTINDO CHEIRO DO QUE ACHO QUE TO SENTINDO CHEIRO? SERÁ QUE O NAM VAI FINALMENTE DEIXAR DE SER TROUXA?
Tai´ó, uma promessa para o próximo capítulo ^^ não me matem.
Como sempre, vou pedir pra vocês comentarem me falando o que acharam, o que curtiram, o que odiaram, o que acham que tem que melhorar, e até o s erros, porque eu tinha betado tudo, TUDOOO, e o computador deu pane, então eu tive que postar com uma betagem meio chocha, porque não queria deixar vocês esperando.

É isso (mentira, eu sempre tenho coisas pra dizer, mas elas SOMEM na hora de escrever as notas). Espero que tenham curtido, porque foi um tanto difícil escrever esse cap...naõ sei porque, ao certo, mas foi difícil. Espero que tenha continuado do jeitinho que vocês gostam ^3^

Um beijo
Um queijo
Um tchau <3

(meu twitter, caso alguém queira me encher o saco: @Klu1202)


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