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História Dependence (Em revisão) - The beginning of a change...and a killer dog.


Escrita por: kaisooisreal

Notas do Autor


OIOIOI
OI
oi...
oi.
Nossa, TRÊS SEMANAS, GENTE! TRÊS FUCKING SEMANAS! Mas guardem a pedras (talvez ainda queiram elas depois, mas me escutem antes).
Vocês podem pensar que eu não tenho justificativa pelo atraso, que eu tava com preguiça, mas eu vou dizer que NÃO! Sentem aí, que é uma historinha longa.
Entaõ, minha história feliz começa na quinta feira que veio em seguida ao último domingo em que eu atualizei (dia três ou dia quatro, se não me engano), quando eu fui dormir. Eu JURO que dormi na minha cama, do lado do meu computador (que já tinha o começo desse capítulo pronto), mas, olha que lindo: quando eu acordei, eu não estava na minha cama, eu estava num carro, chegando em Florianópolis.
Isso mesmo! Florianópolis, Santa Catarina! Ou seja: minha gente, eu estava a nada mais nada menos que 302 km do meu computador, e consequentemente do capitulo.
Eu sei, esse povo adora me arrastar pro litoral ~~amo minha vida.
Enfim, eu passei duas semanas em Floripa, e assim que voltei para Curitiba, tive que ir na festa de aniversario da minha amiga (perdi mais dois dias). Na quinta, eu comecei a escrever, mas nem o universo nem minha mãe pareciam estar cooperando, então eu não escrevi nada. Acabou que eu tive que escrever na sexta e nosábado, e terminei faz uns quinze minutos.

Ou seja: capítulo saindo do forno! Espero que dê pra matar a saudade! '3'

(já falei demais aqui, nos vemos lá embaixo)

Capítulo 15 - The beginning of a change...and a killer dog.


- Viu? Eles nem perguntaram nada. – Falei, tentando fazer com que Jin olhasse para mim enquanto andávamos lado a lado, nos afastando do hospital. Nós fôramos ali após as aulas acabarem, e agora eu estava seriamente com medo de Jin nunca mais dirigir a palavra à minha pessoa. Tudo bem, eu havia literalmente o arrastado até ali, mas foi por uma boa causa.

Eu notara que o garoto estava mancando muito mais que antes quando voltamos do intervalo, e fiz uma anotação mental de que tinha que levar Jin para ver como estava aquilo. Depois das aulas, levei-o até o hospital, sem contar nosso destino, e o garoto gelou no instante em que entendeu o que eu estava fazendo, enquanto tentava fazê-lo entrar no prédio branco.

Segurando fortemente seu pulso, para o caso dele achar que eu me distrairia e ele conseguiria fugir, consegui falar com a recepção e marcar uma consulta de emergência com um dos médicos do local. Arrastei Seok até um dos bancos de espera, enquanto ele resmungava sobre “estar bem” e “seu controlador de araque” e eu me segurava para não rir de seus braços cruzados fortemente e seu bico gigante nos lábios rosados.

Ele havia tido uma explosão depois que eu consegui a consulta e tentei conduzi-lo até a área de espera. Soltara de meu aperto com violência e se sentara duramente numa das cadeiras desconfortáveis dali, resmungando algo sobre “eu não vou fugir. E não sou um cachorrinho pra ficar me segurando assim”. Depois disso, ele não dirigira mais a palavra para mim, e se mantivera com os braços e pernas cruzados enquanto encarava a parede branca com uma irritação infantil na face.

Assim que ele foi chamado – não demorou – e eu me levantei, olhando para ele com um olhar de súplica para que ele não deixasse as coisas mais difíceis do que já estavam, ele bufou e andou até o corredor que a enfermeira nos indicava, sendo seguido por mim, em sua retaguarda.

Entramos numa sala de tamanho médio, onde um médico de não mais que 40 anos estava, sorrindo amigavelmente quando nos viu. Ele fez algumas perguntas, sendo todas respondidas por mim, que estava me sentindo aquelas mães que levam os filhos birrentos para o médico. O doutor em momento algum perguntou como Jin havia feito aquilo, apenas questionou sobre há quanto tempo ele estava assim, se doía ao andar ou ao fazer especificado movimento, perguntas que Jin respondia com acentos de cabeça e grunhidos, nunca muito compreensíveis.

Por fim, o médico, que já desistira de tentar se comunicar com Jin, me indicou dois remédios para dor, e mais um para que a infecção se curasse, ressaltando o fato de que se ele tivesse buscado um hospital mais cedo, não haveria infecção, então ele devia se cuidar. Havia realmente uma distensão, pequena, na área próxima da bacia, no canto direito. O doutor precisara de apenas alguns segundos para retirar o nó do músculo, e mesmo que eu tenha me incomodado com ele tocando Seok do mesmo modo que eu tocara, valeu a pena por depois de sairmos dali, Jin ter uma clara feição de alívio por conseguir andar sem se forçar novamente.

E agora ali estávamos nós dois, andando em direção à minha casa, com Jin um pouco à minha frente, sempre apertando o passo quando eu começava a andar ao seu lado.

- Jin! – Chamei, pelo que devia ser a qüingentésima vez desde que ele parara de falar comigo.

O garoto me ignorou novamente, e eu bufei. Peguei sua mão, sem pensar direito no que fazia, e arrastei-o da calçada para uma pequena praça na esquina pela qual passávamos.  Me sentei em um dos balanços um tanto gastos dali e conduzi Jin pela mão para se sentar no outro.

Olhei para a frente, apenas para não ficar encarando-o, e sorri internamente quando notei com a visão periférica que Jin me analisava com o olhar. Continuei mirando a rua, tentando parecer relaxado, e não divertido e levemente nervoso como me sentia.

A verdade era que, apesar de engraçada, a situação de ser ignorado por Seok estava me deixando fortemente incomodado. Suspirei pesadamente, sem saber ao certo como abordá-lo sem parecer grosseiro. Adoraria saber em que momento da vida eu passara a me importar se era grosseiro ou não.

- Vai mesmo ficar me ignorando? – Perguntei, por fim, num suspiro, vendo-o me encarar, levemente carrancudo. – Ei. – Chamei, levando a mão direita para sua bochecha e puxando ali, fazendo-o choramingar baixinho ao se livrar do aperto. Sorri. – Tire essa carranca da cara, ela estraga esse rostinho bonito.

Apesar de me amaldiçoar por ter dito de bandeja o quanto admirava a aparência dele – algo que eu ainda estranhava absurdamente: conseguir achar aquele garoto mais bonito que qualquer garota com que já tivesse tido contato – , notei, alegremente, que conseguira aliviar sua birrinha iminente com a minha pessoa.

- Desculpe. – Disse, de cabeça baixa, após me encarar por um instante, me analisando.

Baixei a cabeça, um tanto divertido, tentando capturar seu olhar. Aquela situação era bem comum entre nós dois já, e eu não me cansava de sorrir do jeito que Jin lidava com as coisas quando se sentia pressionado, envergonhado ou arrependido.

- Desculpar pelo quê? – Perguntei, e ele virou levemente a cabeça, me encarando com o canto dos olhos.

- Por ser tão bonito. – Disse, me surpreendendo com a brincadeira. Eu realmente não esperava que ele fosse fazer piadinhas naquela situação, mas não hesitei em sorrir, logo começando uma risada divertida, sendo acompanhado por ele. – Mas sério, desculpe. – Disse, quando paramos de rir. Olhou para as mãos, juntas entre as coxas fartas apertadas na calça do uniforme. – Eu te tratei mal enquanto você estava apenas preocupado comigo. – Apertou as unhas curtas no joelho da calça. – Foi algo infantil e bobo, desculpe.

Olhei para ele, analisando sua expressão no rosto abaixado, os lábios carnudos mordidos fracamente. Uma sombra de sorriso passou por meu rosto por um espaço de tempo tão pequeno que dificilmente seria notada, e eu respondi-o, arrumando a postura no balanço e segurando as correntes do brinquedo, olhando para a rua calma.

- Sente tanto medo dele assim? – Eu sabia que essa era em parte uma pergunta boba: além da violência daquele cara, Jin ainda estava preso a ele pela condição “filho”, ocasionando a situação tão comum dentro de tantas casas no mundo todo: o silêncio absoluto das vítimas da famosa violência doméstica.

Desviei o olhar da rua, por onde passava agora uma senhorinha carregando uma sacola de compras. Olhei para Seok, que retribuiu o olhar, se perdendo em meu olhar enquanto eu fazia o mesmo no seu.

Ele suspirou, fechando os olhos por um momento, logo abrindo-os e me encarando com ainda mais intensidade que antes. Notei algo naquele olhar que me tocou: ele não estava tentando esconder emoções como esperei que faria: seus olhos negros pareciam transbordar o máximo de emoções possível, e surpreendentemente, para mim, o medo não era a principal delas.

Seus olhos não gelavam de medo escondido.

Queimavam de uma vontade de libertação que provavelmente fora escondida em seu coração desde que nascera.

E notar isso, dirigido a mim, principalmente de uma pessoa que eu sabia ser tão fechada ao mundo, me deixou, literalmente, sem ar nos pulmões.

O calor que via em seus olhos o deixou dez vezes mais incrível, e trinta vezes mais bonito ao meu olhar. Eu via ali milhões de coisas, milhões de palavras não ditas, milhões de afetos ausentes, milhões de lágrimas escondidas, milhões de melodias silenciosas.

Milhões de motivos para nunca mais parar de olhar aqueles olhos.

Encarei-o pelo que podem ter sido horas, ou segundos, até que ele respondesse minha pergunta:

- Não tem como fugir dele. – Disse, simples e direto, me surpreendendo mais uma vez. Ele não baixara a cabeça ao dizer isso, tampouco parecera hesitante ou indeciso sobre revelar algo assim de forma tão calma e verdadeira. Não havia dramas, não havia exageros, havia apenas um garoto que já perdera a esperança de salvação e aceitara sua condição.

Me mantive em silencio por um momento, assimilando suas palavras e seu olhar, cujo qual eu sentia que não seria capaz de desviar nunca mais.

- Como sabe? Já tentou? – Perguntei, não muito satisfeito com minha fala. Sentia como se não fosse uma reação à altura, e sabia, pelos fragmentos da vida de Jin que eu capturara em meio a nossas conversas, que a situação era delicada demais para se resolver de forma fácil.

Jin soltou uma curta – e um tanto debochada – risada nasal de minha pergunta, virando o rosto para a rua, cortando de forma repentina e um tanto desconfortável nossa troca de olhares.

- Mesmo se eu tenha pensado muitas vezes em sumir. – Começou, olhando de forma sonhadora e melancólica para o céu que escurecia. – Eu não poderia deixá-la sozinha. – Eu sabia de quem ele estava falando: sua mãe. Vasculhando um pouco a fundo em minhas memórias, lembrei dele ter mencionado que ela era doente, além de ter ouvido, é claro, aquele monstro chamando a esposa de “inútil” enquanto brigava com Jin.

Esperei que ele falasse algo a mais, mas o garoto parecia perdido em suas próprias memórias.

- ...Sumir? – Perguntei, um tanto hesitante. Sentia que tocava num assunto delicado, mas aquela palavra me incomodara em sua fala. Eu havia falado sobre fugir, não sumir.

SeokJin não olhou para mim ao responder, como pensei que faria, apenas soltou, num meio sorriso envenenado:

- É a verdade, afinal. – O tom que sua voz mantinha me fazia sentir um estranho aperto no peito, assim como um embrulho na barriga: tão seco, mas tão banhado de mágoa que ficava difícil acreditar que o garoto tinha apenas 17 anos de idade. – Eu não tenho motivos para estar aqui. Não deveria existir. Seria melhor para todos, e eu não faria falta.

Encarei o garoto por alguns instantes. Não sabia como reagir. Nunca iria imaginar – mesmo que soubesse que ele era muito mais frágil que aparentava – que sua mentalidade sobre a própria existência era algo horrível como aquilo.

Então me lembrei de suas lágrimas; de suas delicadas lágrimas descendo por suas bochechas ao ouvir a pior coisa que alguém – em especial um pai a seu filho – poderia dizer a outra pessoa: “você não deveria existir”.

Eu quis abraçá-lo, mas senti medo do que essa ação poderia causar. Limpei a garganta antes de falar:

- Quem no mundo te disse isso, SeokJin? – Me surpreendi com a dureza calma que as palavras saíram de minha boca, com o fato de eu não ter deixado transparecer como aquelas pequenas palavras haviam me desequilibrado de forma tão drástica, com o fato de eu querer dar um soco em Jin por pensar assim da existência que eu começava a considerar tão importante.

O garoto finalmente olhou para mim, parecendo tão surpreso quanto eu com minha manifestação.

- O q-

- Quem no mundo você deixou pensar em algo assim? Não faria falta? De que merda você está falando agora? – Continuei, sem deixá-lo se manifestar. Minha mandíbula já estava cerrada, e eu encarava Seok como se quisesse perfurá-lo.

E, por incrível que pareça, dessa vez minha raiva estava completamente controlada, eu tinha completa noção do que falava e do que fazia, mesmo que me sentisse como se nunca tivesse sido sujeito a uma ira tão intensa antes.

Eu sabia quem fizera aquilo. Confirmara que o machucado no quadril de Jin não significava nada em contraponto à dor que carregava em seu consciente, à dor de sua própria existência, considerada inútil até por ele próprio.

E tudo o que eu sentia era raiva. Raiva se apossando de meu corpo. Mas não a raiva fervente com a qual estava acostumado. Era uma raiva glacial, inumana, que poderia facilmente me levar a matar o alvo de minha ira.

- NamJoon... – O garoto começou, parecia hesitante, o medo se apossando de sua expressão enquanto lia o sentimento que preenchia meu corpo.

- Se quem encheu sua cabeça de merda foi aquele cara que te espanca e te trata como lixo, tenho uma surpresa para você: esse normalmente não é o tipo de pessoa de quem você confia nas opiniões sobre o mundo. – Soltei, sem gritar, apenas carregando cada palavra com o máximo de seriedade e frieza que conseguia.

Eu me sentia mal por falar daquele jeito com ele, mas se havia uma coisa que sempre me irritara fora pessoas odiando a si mesmas, e ver assim aquele garoto que me parecia a cada dia mais encantador me partia o coração e toda a minha proteção contra os inconvenientes das emoções, cujas minhas agora eram um turbilhão quente que me sufocava.

- Você é uma pessoa incrível, uma das melhores que já conheci.  – Continuei, aliviando um pouco a fala ao expor a convicção tão presente em minha mente. – Não deixe alguém baixo e sem valor como ele te convencer do contrário. – Completei, cerrando a mandíbula mais uma vez, mas desfazendo a careta de raiva contida num segundo quando mirei seu rosto de novo.

Ele chorava.

As lágrimas caíam silenciosas e bem vindas em sua face branca e estática. Ele se mantinha sem se mover, com a boca levemente aberta e os olhos um pouco arregalados pela surpresa de receber minhas palavras.

Encarei-o, estático, sentindo toda a raiva e tensão que sentia se esvair, me deixando com uma sensação de vazio e confusão.

Em seguida me senti afobado, não sabia o que fazer, não sabia o que pensar ao constatar que eu havia causado aquelas lágrimas, eu me sentia em completo desespero, e não sabia como arrumar aquilo. Jin chorava a minha frente, parecendo precisar absurdamente de algo em que se segurar, de algo para cessar suas lágrimas que caíam sem permissão por seu rosto.

E sem pensar mais, eu lhe dei o apoio. Eu seria o apoio. Sempre firme por ele.

Saí de meu balanço, me ajoelhando à sua frente de forma que ficássemos com o rosto quase na mesma altura, e o abracei.

Abracei fortemente, usando minha mão direita para empurrar seu rosto sobre meu ombro direito. Ele aconchegou o rosto ali, levando as mãos de forma leve até meu tronco, apertando minha camisa com suas unhas de forma infantil.

Rodeei seu corpo com meu braço esquerdo, enquanto o direito ainda afagava sua cabeça. Aquele abraço não era como o outro que havíamos trocado: eu sentia como se Jin fosse evaporar se eu o largasse, então o segurava com toda a força que tinha, sem machucá-lo, apenas para mantê-lo ciente de que eu estava ali, com ele.

Me mantive acariciando levemente os cabelos de Jin pelo que pareceram séculos para meus joelhos na terra dura, mas eu não me atrevia a desfazer o aperto. E nem sabia o que faria depois disso tampouco.

Jin havia parado de chorar, eu sentia que sua respiração estava mais calma, e sentia seus cílios fazendo cócegas em meu pescoço, seus cabelos encostando em meu nariz de forma que eu sentisse a fragrância doce que ele tinha.

- ...Obrigado. – Ouvi um fio de sussurro em meu pescoço, tão fraco que cheguei a me questionar se havia ouvido coisas. – Desculpe. – Soprou de novo, e dessa vez eu tive certeza de que ele estava falando, comigo. – Obrigado. Desculpe. – Repetiu muitas vezes essas duas palavras, a calma de sua fala sendo substituída por uma ladainha acelerada e um tanto automática, logo fazendo com que as palavras já não fossem compreensíveis.

Incomodado com aquilo e querendo acabar com o desespero que parecia ter tomado ele por um motivo que eu não compreendia, levei a mão que estava em seu cabelo para sua bochecha, logo indo para seu queixo, erguendo o rosto novamente molhado por lágrimas para que me encarasse, fazendo-o se calar.

Encarei seu rosto – que se abaixava um pouco para poder devolver meu olhar – com um intenso incômodo no peito, e torci os lábios em descontentamento. Limpei suas bochechas lentamente, sentindo-o me encarar.

Olhei para cima, para seus olhos que me miravam numa confusão de sentimentos que eu duvidava dele mesmo conseguir compreender.

Mantive meu olhar calmo sobre o dele, sentindo que ele chegava ao fundo de minha alma, assim como eu me sentia entrar na sua, cada um caindo ainda mais na imensidão dos olhares.

Desci o olhar de suas orbes para seus lábios, rosados, que pareciam frios.

E extremamente solitários.

Olhei novamente para os olhos dele, e vi brilhar ali o mesmo que devia brilhar em meus olhos naquele momento.

E com isso eu não pensei mais, não permitiria que a razão atrapalhasse aquilo. Não daquela vez.

Não hesitei quando aproximei meu rosto do seu lentamente, não hesitei quando senti nossas respirações se chocando, não hesitei quando Jin inclinou levemente o rosto para perto do meu para cortar a curta distância que existia entre nossas bocas.

Não hesitei quando notei que o calor de seus lábios eram a coisa mais agradável e aconchegante que já havia provado, que tê-lo daquela forma era a melhor sensação que já havia sentido, que ter demorado tanto para fazer aquilo seria algo que eu me amaldiçoaria por toda minha vida.

Aquilo, que seria apenas um selinho demorado para quem visse de fora, estava sendo o motivo de meu coração estar mais acelerado do que jamais havia ficado em toda minha existência, assim como eu sentia o dele enquanto o apertava contra mim.

Afastei levemente nossas bocas, abrindo os olhos e encontrando seu rosto corado, os olhos recém abertos me encarando de perto e os lábios levemente separados.

Sorri fracamente, me levantando à sua frente e batendo as mãos na calça.

- Vem, vamos para casa. Meus joelhos estão doendo. – Completei, estendendo a mão para Jin, para ajudá-lo a se levantar do balanço.

Ele emitiu uma risadinha com minha última frase, aceitando minha mão e se deixando puxar para fora do balanço.

Soltei sua mão e coloquei as minhas nos bolsos de minha calça, andando para fora da pequena praça, sabendo que ele me seguia de perto.

Não sabia ao certo como agir agora. Na hora fazer aquilo me pareceu tão certo... mas agora eu sentia o nervosismo tomar meu corpo.

Não por arrependimento de minhas ações, mas pela exata ausência dele.

Ao romper o beijo – eu beijara mesmo Kim SeokJin? – a primeira coisa que viera à minha mente fora a aposta de JiMin: aquilo não contava como um beijo, não é? Selinho contava? Não, eu teria que beijá-lo de verdade para fazer valer a aposta. Mas...se eu sentira tudo aquilo com um simples selinho, o que aconteceria se eu o beijasse mesmo? De verdade?

Não permiti que a ansiedade que se apossara de meu corpo transparecesse para o externo, mas tive certa dificuldade em olhar para Seok de novo, quando ele se pôs a andar ao meu lado.

- Você não tem que trabalhar hoje? – Agradecia aos céus por ter conseguido falar normalmente, e escondi o calafrio que senti quando ele direcionou os olhos tortinhos em minha direção.

Ele negou com a cabeça levemente, sorrindo ao me responder.

- Meu chefe me disse que eu podia faltar hoje. Que eu considerasse isso como férias adiantadas. – Emiti um “hm” de compreensão quando ele completou sua fala. Nos trabalhos de meio período, as férias deviam bater com as escolares, para não atrapalhar a rotina do estudante. O que significava que Seok ficaria tão livre quanto todos nós naquele verão.

- Sua mãe não vai ficar preocupada? Digo, você não aparece desde ontem em casa. – Perguntei algo que viera naquele momento à minha mente. Eu não queria que ele voltasse para casa ou algo assim, mas notara que o garoto parecia ter bastante consideração pela mulher, e me preocupei sobre como ele enfrentaria as coisas em casa depois de sumir daquela forma.

- Eu falei com ela essa manhã. – Sorriu, como se tivesse adivinhado minha preocupação, e me tranqüilizasse. – Fiz isso nas outras vezes que dormi em sua casa também, acho que ela está se acostumando. E meu pai, desde que eu traga o salário e não o incomode, não se importa sobre se eu estou em casa ou não. – Completou com certa amargura.

- Como falou com sua mãe? Você tinha dito que não tinha celular. – Comentei, apenas para tentar desfazer a expressão incomodada do rosto de Jin.

- Liguei da secretaria da escola.

- Entendi.

Me calei ao dizer aquilo, e andamos em direção à minha casa em silêncio. Eu não gostava de ficar sem o que falar em situações como aquela, mas surpreendentemente com SeokJin a coisa nunca ficava completamente desconfortável.

 Estava tão perdido em meus próprios pensamentos que sequer notei quando duas figuras se fizeram presentes na rua em que caminhávamos, e tive um pouco de dificuldade de entender o que estava acontecendo quando a coisa peluda de trinta quilos me levou ao chão.

- Aaahh! BonJi! Sai de cima de mim sua criatura abominável! – SeokJin, que se assustara com o ataque repentino, começou a rir descontroladamente de minha situação, e eu apenas não o encarei feio porque tinha uma labradora gigante babando em minha cara enquanto mantinha as patas enormes sobre meu peito.

- Não seja tão mau com uma garota, Nam. Ela apenas quer expressar seu amor por você, mesmo que você não o mereça. – Ouvi a voz fina segurando o riso que sempre ouvia quando aquela cadela gigante estava solta na rua.

- JiMin, tira esse bicho de cima de mim! – Gritei, tentando me livrar do peso do cachorro.

Ao invés de me ajudar, as três pessoas que se encontravam ali – JungKook estava, como sempre, com JiMin – não faziam nada além de rir de mim. Bufei, conseguindo empurrar um pouco o cachorro que lambia minha cara, mais ainda sim não consegui me livrar do bicho.

- Hyung, eu acho que o RapMon hyung vai nos matar se você não tirar BonJi dali. – Ouvi a voz de JungKook em meio às risadas melodiosas e estranhas de JiMin e Jin.

- Ele vai nos matar de qualquer jeito, e BonJi ama ele, deixa eles socializarem. – Ouvi a voz fina cujo dono estava no topo da minha lista negra no momento.

- Hyung... – Ouvi a voz severa de Jeon, e teria rido da cara de JiMin se não estivesse incapacitado disso.

Ouvi um suspiro por parte de JiMin, e em seguida um assovio fino, que fez com que a cadela imediatamente saísse de cima de mim e saísse abanando o rabo para o dono.

Me levantei com uma careta, limpando a baba de meu rosto, e em seguida fuzilando o anão de jardim que eu chamava de amigo.

- Você poderia colocar uma guia nesse bicho, que tal? A humanidade agradece, e minhas costas também.

- Todos merecemos ser livres, hyung. – JiMin respondeu numa risadinha. – E a única “humanidade” que se importa com BonJi andar sem coleira é você. Olhe. – Apontou com o queixo para trás de mim, onde eu sabia estar Seok, que cessara as risadas assim que eu me levantara.

Olhei para onde ele apontara, vendo Jin ajoelhado no chão, rindo como uma criança enquanto conversava e recebia lambidas da cadela.

Minha expressão suavizou assim que vi aquela cena, mas desviei o olhar de Jin assim que ouvi uma risadinha travessa ao meu lado. Olhei para JiMin, que se postara à minha esquerda, me olhando enquanto claramente segurava alguma piadinha sobre Jin e eu.

Bufei, revirando os olhos, fazendo-o rir mais.

- Jin, venha aqui. – Chamei, vendo-o levantar o olhar para mim com os olhos levemente arregalados como sempre ficava quando era pego de surpresa ou estava curioso ou prestando atenção em algo. Ele se levantou e se aproximou a passos lentos de mim. Se posicionou à minha frente, e eu crispei os lábios antes de levantar a mão direita e desferir um peteleco em sua testa. – Não fique rindo de mim, pirralho. – Ele levou as mãos à área danificada, inflando as bochechas em irritação. JiMin e JungKook não seguravam as risadas com a cena. – E não chegue perto desse cachorro.

- Mas ela é fofa. – Choramingou.

- Ela é um monstro.

- Não fale assim dela! Ela é uma garota boazinha, não é, Bon? – Falou, afinando a voz como se falasse com uma criança, se abaixando para acariciar a cadela que o seguira pelos calcanhares.

Bufei, fazendo com que o fluxo dos risos do casal apenas aumentasse.

- Ela é um monstro que conquista as pessoas e depois morde elas, sai de perto desse bicho. – Resmunguei, fazendo uma careta, aumentando a mesma ao ouvir a gargalhada fina de JiMin aumentar de volume consideravelmente.

- Você foi a única pessoa que BonJi já mordeu na vida, hyung! – O baixinho não parecia conseguir cessar o fluxo de suas risadas, como sempre acontecia que ele e os garotos se lembravam do episódio. – Isso não quer dizer que ela seja má, não é SeokJin hyung? – Perguntou, se dirigindo ao garoto no chão.

O garoto negou solenemente, concordando com JiMin, e em seguida me olhou:

- Isso quer dizer que ela se assustou com você. – Disse, seriamente, me fazendo abrir a boca, incrédulo, e JiMin e JungKook voltarem a rir escandalosamente.

- Está me chamando de feio agora?

- Eu não disse isso. – Ele deu de ombros, me olhando travesso, com a língua para fora da boca. – Ah-

Apontou com o indicador para trás de mim ao dizer isso, mas eu sequer tive chance de me virar antes de sentir o peso em minhas costas, quase me levando a cair no chão de novo.

- Está todo mundo aqui! Que lindo! – Ouvi a voz animada em meu ouvido, sentindo-me perder a capacidade de respirar pelo aperto em meu pescoço.

- Sai de cima de mim, TaeHyung. – Falei, juntando toda a calam que ainda mantinha.

- Ai, como você é chato, hyung. – O garoto resmungou, saindo de minhas costas. – Você sempre me carregava nas costas.

- Você tinha cinco anos, Tae. Eu não sou obrigado a ficar carregando um adolescente de um e oitenta de altura só porque ele não entende que cresceu.

- Não fale assim com ele, Mon, ele vai chorar. – Ouvi a voz morta falar, olhando para Suga, que eu não notara estar ali.

- Ah, que ótimo, a cambada inteira está aqui. – Resmunguei, ignorando os protestos de Tae sobre ele ainda ser uma criança e merecer ser tratado como tal. – E o que agora?

- E agora vamos todos para a casa do Mon hyung porque a nonna chamou. – Ouvi a voz de JungKook falar, e franzi o cenho para ele, que encolheu os ombros. – Ela pediu para procurarmos vocês dois. Ela fez comida. – Completou, com os olhos brilhantes em uma animação infantil.

- Comida? E o que estamos fazendo aqui então? – Olhei para trás de mim, me assustando ao ver Hope. Meu Deus, esse povo estava surgindo de onde? Do chão?

- Bosta nenhuma. Vambora. – Suga chamou, delicado como sempre, andando em direção à minha casa, que estava a uns dez metros de distância.

Bufei, vendo todos seguirem YoonGi, e olhei para Seok assim que ele se posicionou ao meu lado. O garoto virou o rosto para mim, sorrindo.

- Não fique zangado com eles, eles só são assim porque te amam. – Não soube o que responder quando ele disse aquilo daquela maneira. Parecia uma mão falando com uma criança birrenta, e parecia tão certo de suas palavras que chegou a ficar engraçadinho.

Soltei uma risadinha nasal, passando a mão sobre seu cabelo antes de começar a andar atrás do grupo, que já chegava à porta de minha casa.

Assim que chegamos em casa, foi a mesma ladainha de sempre: minha mãe dando muito mais atenção para seus “filhos” mais novos, todos me enchendo o saco por causa de Jin e por mais um monte de coisa, porque a única coisa que eu recebo nessa casa é bullying.

O problema foi: todas as vezes que alguém soltava uma gracinha sobre minha relação com Jin, ou eu hesitava antes de responder ou eu ignorava. Não estava mais tão fácil negar tudo o que falavam, em especial porque qualquer coisa me fazia lembrar do acontecimento daquela tarde – e de como eu gostara dele.

Não, eu não gostara. Eu fizera aquilo apenas para consolar Seok, certo? Certo.

- Hyung, temos que estar na escola às oito da manhã amanhã, ok? – Fui desperto de um de meus devaneios com a voz de JiMin em minha direção.

- Hã, claro. – Acenei com a cabeça, logo franzindo o cenho. – Pera aí, o quê? – Olhei para o baixinho. Estávamos de férias, e o dia seguinte era sábado. O que aquele moleque tinha fumado?

- Você não estava prestando atenção, não é? – JiMin revirou os olhos. – A detenção, gênio. Meu sogro lindo e maravilhoso nos deixou de castigo, lembra?

Emiti um “ah” quando entendi sobre o que ele falava, e acenei com a cabeça, resmungando internamente por ter que acordar cedo no primeiro sábado das férias de verão.

A tarde e a noite passaram voando, assim como sempre acontecia quando a manada ia para minha casa. Às duas da manhã, mais ou menos, quando já tínhamos visto todo tipo de filme, de todos os gêneros possíveis (menos terror, porque Tae fez escândalo e ameaçou quem colocasse aquilo. Jin pareceu bem aliviado pelo mais novo ter feito isso. Ele parecia capaz de fazer a mesma coisa de Tae não tivesse tomado a frente), minha mãe mandou todo mundo dormir, porque, segundo ela, fazíamos mais barulho que “galinhas carnívoras perseguindo um elefante” – seja lá o que isso significasse – e ela queria dormir.

Para minha alegria – coloque uma grande carga de ironia aqui, agradeço – não houve discussão sobre onde cada um dormiria, ou seja: nem mesmo eu pude reclamar quando minha mãe mandou o casal barulhento dormir em Ted, o casal Baleia-Biscoito em Mayuri, rei Suga no sofá e, adivinhe, SeokJin e eu em minha cama, no meu quarto, “sozinhos e livres para fazer o que quiser”.

- Eu não vou dormir na mesma cama que ele. –Falei, franzindo o cenho.

- Por que não? Qual o problema? – JiMin sorriu ao perguntar.

- Porque... porque não. – Me amaldiçoei por responder aquilo, mas o que eu diria? Que sentia medo do que poderia acontecer se eu dormisse com ele? Não, nem pensar.

- Ora, vamos, Mon. – Suga falou, jogado no sofá. – Você está parecendo uma garotinha virgem. Estamos mandando você dormirem, ninguém disse que vocês iam transar.

- Na verdade... – Hope começou, levantando o indicador.

- Não me contradiza, Cavalo, eu estou tentando lidar com nossa criança “hétero” aqui. – Fez as aspas com os dedos, arrancando risadinhas de Tae e Kook, que assistiam tudo bastante entretidos, assim como minha mãe. – Mas, claro, se for tão difícil pra você dormir com ele, eu te dou o sofá. – Suga disse, me olhando inocentemente. – Mas eu não te garanto de que nós vamos só dormir. – Completou num sorriso safado, puxando Jin pela cintura, me desafiando.

- Não. – Cerrei os dentes. Eu sabia que havia ficado sério demais, sabia que havia falado um pouco mais alto que o necessário, sabia que ele havia feito aquilo de propósito, mas imaginar a cena de Suga com Jin foi algo tão absurdo para mim que eu não pensei antes de puxá-lo pela mão e arrastá-lo até a escada. – Boa noite. – Completei, resmungando, sabendo que todos ali estavam segurando suas risadas com todas as suas forças.

Assim que sumimos na escada, a sala explodiu em risadas, mesmo que elas não estivessem tão descontroladas quanto seria de se esperar daquelas criaturas. Ouvi um risinho abaixo de mim e Jin, e encontrei minha mãe, me olhando com os olhos brilhantes e divertidos.

Ela fez questão de nos esperar entrar no quarto e fechar a porta, nos dirigindo uma piscadela travessa e pedindo que não fizéssemos muito barulho, pois ela estaria no quarto ao lado.

Sequer consegui respondê-la antes que ela fechasse a porta e fosse para seu quarto soltando risadinhas.

Me mantive com a boca aberta pela cara de pau que aquele povo tinha, mas acabei por suspirar, cansado. Eu teria que resolver aquilo, e dormir na mesma cama que Seok não parecia uma opção.

- Desculpe por aquilo. – Resmunguei, soltando sua mão e seguindo para a janela próxima de minha cama, abrindo-a.

- Tudo bem... – Ouvi-o murmurar, e olhei para trás, vendo-o olhar ao redor de forma meio perdida, como se temesse tocar em algo ou fazer algo errado.

Ele ergueu o olhar assim que me sentiu o encarando, e nos mantivemos daquela forma por alguns instantes. Eu via, via em seus olhos o mesmo sentimento que eu sabia estar em meu interno, mas me negava a admiti-lo na época, ou estava começando a fazê-lo.

Porque tudo o que meu consciente e meu inconsciente queriam era abraçá-lo e beijá-lo, e não deixá-lo sair de meus braços nunca mais.

Eu o queria para mim, isso era uma verdade, mas as inseguranças me faziam hesitar, meu orgulho incansável e minha teimosia me faziam hesitar, minhas dúvidas, que não deveriam existir, surgiam em minha cabeça para complicar algo que deveria ser tão simples e puro, me faziam hesitar.

Foi com um pouco de dificuldade que consegui desviar o contato visual, perguntando, sem olhá-lo:

- Você quer tomar banho? Eu vou arrumar as coisas aqui. – Estava usando todo meu autocontrole para não olhar para ele, para manter-me mirando o chão. – Você sabe onde estão as coisas. – Vi com o canto do olho ele se mover, indo até o meu guarda roupas e em seguida até o banheiro.

Soltei a respiração pesadamente assim que ouvi a porta sendo fechada, colocando as mãos sobre meu rosto e deixando-as cair sobre ele até se encontrarem penduradas nos lados de meu corpo. Olhei para a porta fechada do banheiro, pensando por um momento se tudo estaria sendo diferente se eu não tivesse seguido aqueles caras no Lux naquela fatídica terça-feira.

Pensar nisso me deixou com uma sensação bastante ruim no peito, algo parecido com um protesto silencioso de meu próprio inconsciente. Balancei a cabeça, olhando de novo para a porta de madeira fechada, e sorri fracamente. Eu estava confuso, não sabia ao certo que ações tomaria, e sentia que teria que adiar ao máximo tudo. Não queria complicar tudo, e também não queria perder Jin. E, em meio a tudo isso, tinha apenas uma certeza: ter conhecido Jin não era algo de que me arrependia, tê-lo ajudado, ou me apegado a ele, tampouco.

Peguei um dos travesseiros de minha cama, colocando-o sobre o tapete macio que ficava em toda a área ao redor de minha cama, me dirigindo ao meu guarda roupa e pegando de lá um lençol fino. Não estava frio, aquilo devia bastar.

Me sentei ali, no chão, pegando meu telefone e checando as redes sociais, mesmo que não gostasse das mesmas.

Ouvi claramente quando a porta do banheiro foi aberta – afinal, minha atenção estava ali, mesmo que eu tentasse esconder isso – mas não levantei o rosto. Soube que ele se aproximara de onde eu estava, mas ainda assim não levantei o olhar da tela do celular. Apenas olhei para cima ao sentir a gola de minha camisa ser segurada e levantada, não de forma bruta, mas que me obrigou a ficar de pé, olhando para um SeokJin que aparentava estar um pouco chateado.

- Vá tomar banho. – Disse, seco, e eu franzi o cenho. De onde viera aquilo agora? Eu fizera algo errado? Antes que eu pudesse expor qualquer um daqueles pensamentos, ele me mirou, sério, me calando apenas com o olhar ameaçador.

Mordi a língua e me encaminhei para o banheiro, ainda infinitamente confuso sobre aquele mau humor repentino, mas não me atrevendo a desrespeitar SeokJin em seu “modo mãe”.

Não demorei na ducha, me secando e colocando apenas uma bermuda, como sempre fazia em noites quentes, saindo do banheiro e encontrando Seok sentado na cama, olhando curiosamente um retrato que estava em sua mão.

- O que é isso aí? – Vi-o se sobressaltar, parecendo querer esconder a foto. Me aproximei da cama, sentando ao seu lado enquanto secava meus cabelos com uma toalha.

Assim que olhei o retrato, notei que era um dos que ficava em minha mesa de cabeceira, ao lado do em que estávamos eu, Suga, Tae e JiMin, com uma faixa de oito anos, todos pendurados no pescoço de minha mãe, que sorria abertamente com um chapéu na cabeça, a praia atrás de nós como plano de fundo.

A foto que Jin segurava, porém, era outra, mais recente: eu, com cerca de doze anos, fazia careta pela mão que bagunçava meus cabelos, e era para o dono dessa mão que Jin olhava, o garoto que teria cerca de dezesseis anos na foto, com um sorriso divertido no rosto.

- Esse é meu irmão mais velho. – Jin arregalou os olhos, surpreso, e eu sorri. – Sinto falta dele.

- Ele... – Começou, hesitante. – Morreu?

- Quê? Não. – Respondi, rindo. – Não, não. Ele é meu irmão por parte de pai. Você provavelmente vai conhecê-lo. – Sorri, torcendo para que meu irmão estivesse presente na casa dos Kim naquelas férias.

- Você gosta dele? – Perguntou, olhando para a foto novamente.

- Sim. – Acenei com a cabeça. – É o único de minha família paterna que eu agüento realmente.

- Você não parece muito feliz aqui. – Apontou para a foto, onde eu fazia careta.

- Isso porque ele estava bagunçando meu cabelo. É uma mania dele, absurdamente irritante, você não tem idéia.

Assim que disse isso, ele me olhou, como se se perguntasse se eu estava falando sério, logo assumindo uma expressão um tanto irônica.

- Acho que é de família então. – Revirou os olhos, levando as duas mãos aos meus cabelos úmidos e bagunçando-os fortemente. – E eu tenho muita idéia de como é irritante, NamJoon. – Completou, me olhando sério, me fazendo rir.

- É, acho que sabe. – Falei, colocando minha mão sobre sua cabeça e mexendo em seus fios. Ele me olhou com um bico nos lábios, e eu me mantive sorrindo até que o silêncio começasse a me incomodar. Era sempre assim, e se eu não tinha uma distração, me manteria encarando os olhos de Kim  SeokJin durante todo o dia. Limpei a garganta, quebrando o contato visual com ele, sentindo o vazio de sempre que fazia isso se apossar de meu ser. – Bom, boa noite. – Disse, escorregando para o tapete, mas parando minha ação ao sentir sua mão em meu braço, me segurando. Olhei para cima, vendo-o me encarar, parecendo irritado de novo. – O que foi?

- Eu achei que já tivesse deixado claro que nunca, em hipótese nenhuma, iria te tirar da sua cama, muito menos se você tiver que dormir no chão. – Disse, com as bochechas levemente infladas. Encarei-o descrente por um momento, logo sorrindo pequeno.

- E eu achei que já tivesse deixado claro que não iria te deixar dormir no chão, quer fosse num colchão, quer fosse no chão mesmo. – Encarei-o. – O que faremos sobre isso? – Virei levemente a cabeça, sorrindo pequeno, desafiando-o a continuar discutindo. Ele cruzou os braços, me olhando com igual desafio exalando de suas orbes.

- Temos um problema então.

- Um problema gigante, pelo jeito. – Continuamos nos encarando, cada um tentando convencer ao outro. – Eu posso dormir no quarto de minha mãe se você se sente tão mal comigo dormindo no chão. – Acabei por dizer.

- Ou você pode parar de frescura e dormir comigo. – Arregalei os olhos quando ele disse aquilo, logo soltando uma risadinha, vendo-o corar levemente ao notar o duplo sentido do que havia dito. – Você entendeu. Se o problema é me tocar- – Soltei mais uma risadinha ao notar o duplo sentido de novo, ele estava apenas se enrolando mais. – ...Eu posso dormir no canto da cama. – Completou, parecendo querer enfiar a cara num buraco.

Assim que ele terminou de falar, eu não conseguia controlar os solavancos que meu corpo fazia ao rir sem fazer barulho. Jin apenas me olhava feio, e eu me curvava, tentando não explodir em gargalhadas.

- Ai caralho... – Eu não conseguia falar direito, apenas ria, já sentindo a respiração dificultar. – Ai! Por que você está sempre me batendo, inferno? – Resmunguei, passando a mão sobre meu ombro, que havia sido atingido.

- Porque você fica rindo de mim. – Ele cruzou os braços, mal-criado. – E meu nome não é inferno, pra você saber.

Olhei para ele com a diversão voltando a meu semblante e ao canto de meus lábios. Ele estava mais infantil que o normal, isso era efeito do sono?

- Ah não? E qual é, senhorita? – Alfinetei, vendo-o se virar para mim e bufar.

- SeokJin, muito prazer.

- SeokJin? Para mim era outro... – Não segurei o sorriso sacana ao olhar para ele. – Princesa. – Completei, vendo-o inflar as bochechas.

- SeokJin.

- Princesa.

- SeokJin! – Ele ficou de joelhos de frente para mim, levantando as mãos com a clara intenção de me estapear. Segurei seus pulsos, rindo divertido da forma que ele se deixara provocar. Ele definitivamente estava com sono.

- Princesa. – Sussurrei, segurando seus pulsos na altura de nossos rostos, que estavam alinhados, a poucos centímetros de distância. Ao notar esse fato, eu imediatamente me calei, perdendo a expressão brincalhona que tinha na face, assim como ele perdeu a sua birrenta.

Nos encaramos sem falar nada – estava irritantemente se tornando um hábito – por um tempo, ambos tentando ler o olhar alheio, nossas respirações se misturando.

Eu não sabia mais onde era encima e onde era embaixo, não sabia o que estava se passando ao meu redor, e tampouco me importava. Apenas uma coisa parecia importar naquele momento, e essa pessoa estava bem à minha frente, me encarando de forma tão intensa quanto eu o encarava.

Nossos rostos se aproximaram lentamente, de forma que o movimento só se percebia porque a distância de nossas bocas claramente diminuía. Eu estava quase fechando os olhos, me deliciando com nossas respirações misturadas numa nuvem quente que me induzia a apenas fechar os olhos e me deixar levar.

Foi um pequeno pedaço de minha cabeça – maldito, ou abençoado seja, dependendo do ponto de vista. – porém, que se manteve racional e fez com que eu cortasse a proximidade, virando meu rosto e soltando as mãos de Jin, pegando o travesseiro do chão e me deitando no canto direito da cama, de costas para Seok.

- Ok, vamos dividir a cama. – Falei, sem me virar para ele. Minha cabeça estava uma bagunça, eu me perguntava como conseguira me deixar levar daquela forma pela segunda vez num dia, logo eu, que sempre tive controle em situações sentimentais ou coisas do gênero, sinceramente, nem estava me reconhecendo.

Claro, eu pretendia beijá-lo de novo, afinal tinha uma aposta a manter, mas eu estava planejando fazer aquilo de forma estratégica, sem espaço para sentimentos verdadeiros ou qualquer bobagem dessas, mas nem meu corpo nem meu cérebro pareciam dispostos a cooperar.

Fui drasticamente arrancado de meus pensamentos contraditórios ao sentir Seok me cutucar com o dedo, e me virei, olhando-o meio surpreso.

- Vista uma camisa. – Ele disse, após parecer juntar coragem para falar. Suas bochechas estavam levemente vermelhas, mas tirando isso, em sua expressão severa, nunca se imaginaria que ele estava constrangido com o acontecimento de segundos atrás.

- O quê?

- Se vamos dormir na mesma cama, pelo menos vista uma camiseta. – Disse, desviando o olhar de mim quando eu o encarei. Demorei mais alguns instantes para entender o que estava acontecendo, mas acabei por não conseguir segurar uma risadinha e me levantar da cama, soltando um “sim, senhorita” divertido.  Eu nunca iria me acostumar com a capacidade que aquele garoto tinha de aliviar o clima, por mais pesado que fosse.

Peguei uma camiseta lisa, a primeira que encontrei no armário, e voltei para a cama, deixando um afago na cabeça de Jin – que estava na ponta da cama, me encarando com um projeto de bico na boca – quando passei por ele.

- Boa noite, pentelho.

- Por quanto tempo mais pretende me tratar como criança? – Olhei divertido para ele, já sentado na cama, do lado oposto ao dele.

- Tem razão. Você não é criança. – Ele pareceu satisfeito ao me ouvir, e eu soltei uma risadinha, completando: – Vou te tratar apenas como princesa a partir de agora, porque é o que você é. – Ri de novo ao vê-lo fazer careta, e me estiquei sobre a cama, para alcançar seus cabelos de novo, aproveitando a sensação gostosa de meus dedos em suas mechas.

 - Você sabe que está me tirando do sério, não é? – Ele me fuzilou com o olhar, e eu sorri, deixando um toque leve em sua bochecha antes de trazer de volta meu corpo para o outro lado da cama.

- Sei, e adoro isso. – Apenas aumentei meu sorriso quando ele me mostrou a língua, se arrastando para seu lado da cama. Me deitei, imitando seu exemplo, com a cabeça virada para ele, e sorri singelamente. – Boa noite, Jin.

- Boa noite, NamJoon. – Ele sorriu também, e fechou os olhos.

Me mantive encarando-o por um bom tempo, com o sorriso bobo – que se negava a sumir – estampado em minha face, até que consegui fechar os olhos e também cair no mundo dos sonhos.

Sonhos que eu não tive naquela noite que sem duvida foi uma das melhores de meus dezessete anos, porque, mesmo que tivesse começado turbulenta e cheia de altos e baixos, se encerrou com a visão do rosto de Jin enquanto ressonava com o rosto a poucos centímetros do meu, e o cheiro leve de meu xampu em seus cabelos chegando de leve às minhas narinas quando leves brisas se faziam intrusas no quarto pela janela.

E aquilo compensava tudo.

 

 

 

 

Naquela manhã, por incrível que pareça, eu não acordei com Jin me sacudindo para que eu o fizesse, fato que até mesmo eu estranhei, e cheguei a me perguntar se eu havia delirado sobre o fato de ter dormido na mesma cama que Kim SeokJin.

Du´vida essa que saciei assim que abri os olhos, olhando para o lado, encontrando o rosto de Jin calmo e relaxado pelo sono. Notei, um tanto pasmo, que em algum momento da noite, eu abraçara os ombros de Jin, e ele agora tinha a cabeça sobre meu ombro esquerdo, e a mão direita sobre minha cintura.

Me perguntei internamente como sairia daquela situação sem acordá-lo, me arrepiando ao senti-lo se remexer levemente quando movi um pouco o braço que apoiava sua cabeça.

Se os garotos vissem isso...

Sequer completei o pensamento, decidido a me retirar daquela posição. Mas como faria isso sem acordar Seok?

Em algum momento enquanto pensava em uma forma de tirar a cabeça de Jin de cima de meu braço, cometi o erro de olhar para seu rosto, sentindo toda semente de pensamento ou razão escapar num suspiro.

Jin havia mexido levemente a cabeça, se aconchegando mais em mim, e sua boca formara um leve bico, que ao lado dos olhos fechados e das bochechas lisas completavam o perfeito retrato do que parecia quase um anjo ao meu olhar.

Deuses, e ele parecia tão lindo.

- NamJoon? – Observei-o abrir os olhos lentamente, piscando algumas vezes antes de focar seu olhar em mim.

Tive que procurar no fundo de minha cabeça – aquele que não estava ocupado entrando em pane – como que se sorria, por isso demorei alguns instantes a mais que o normal para fazê-lo.

- Bom dia. – Disse, vendo-o abrir um sorriso sonolento, fechando os olhos como se acabasse de descobrir o que era claridade e não gostasse dela.

- Bom dia. Por que estamos abraçados? – Perguntou, como se aquilo de nada adicionasse em sua vida, e ele apenas quisesse descobrir o que havia para o café da manhã.

- Adoraria saber. – Respondi, olhando para sua mão em minha cintura, logo olhando para ele de novo e sorrindo. Era incrível a forma com que ele aliviava tudo o que eu fazia muito drama sobre. Deixava sua companhia apenas cada vez mais agradável aos meus olhos. – Só que teremos que agüentar muita encheção de saco se alguém tiver visto isso.

- Do jeito que eles são, provavelmente alguém já subiu aqui e tirou foto. – Ele disse, segurando um sorriso no canto de seu rosto.

- Eu espero de todo coração que você esteja errado. – Falei, causando uma risada de sua parte, que eu acabei acompanhando.

Cessamos o riso ao mesmo tempo, acabando por ficar naquela mesma situação incômoda – não que fosse uma sensação ruim, mas me deixava extremamente nervoso – em que nos encarávamos, os dois claramente com o mesmo pensamento em mente, mas sem coragem para agir sozinhos.

- Eu estou com fome. – Senti como se minha mente estivesse numa bolha de sabão, e ela tivesse sido estourada, sem dó nem piedade, me fazendo ficar confuso por um segundo, me perguntando se SeokJin havia mesmo cortado o clima daquele jeito ou se eu estava delirando. Era eu quem cortava o clima, aquilo não estava certo.

Acabei por rir daquilo, me divertindo ainda mais ao notar que o garoto não parecia ter noção nenhuma do quão inusitado seu comentário havia sido.

Eu estava aliviado. Provavelmente teria o beijado se tivéssemos continuado daquele jeito, já que evitar fazer isso se mostrava cada vez mais difícil para minha pessoa.

Mas uma partezinha, uma bem pequena no fundo de minha cabeça, lamentava, e não via a hora de provar um pouco daqueles lábios novamente.

 E foi essa partezinha de minha cabeça que eu fingi ignorar quando me levantei com Jin naquele dia, assim como fingi ignorar o vazio que senti quando Jin retirou sua mão de minha cintura, desfazendo o abraço.

 

 

 

 

- Os pombinhos acordaram!

- Cale a boca, JiMin. – Resmunguei. Eu batera o quadril na escada enquanto descíamos a mesma em direção à cozinha, onde estavam JungKook e JiMin, sentados e comendo. – Onde estão os outros? – Sequer havia olhado para a sala quando passamos por lá.

- Dormindo, ué. – O baixinho pareceu achar graça. – São oito da manhã do primeiro sábado das férias de verão, hyung, queria que eles estivessem fazendo o quê? Jogando críquete?

- Suas tentativas de fazer gracinha com ironia me emocionam, JiMin. – Disse, me sentando e pegando uma torrada do centro da mesa e mordendo-a. Sorri ao receber uma careta dele, e um riso contido dos outros dois ali presentes.

- E eu me emociono com a sua capacidade de ser grosso com tudo e com todos. – Devolveu, e eu sorri, sem me afetar. – Falando em grosso, como ele é, Jin hyung? – Se dirigiu malicioso ao garoto que o olhou meio perdido por um momento, sem entender sobre o que o garoto falava.

- Ele quem?

- Ignore esse idiota, Seok. – Respirei pesadamente, lançando um olhar mortífero para JiMin, que soltava risadinhas. – Não se aproveite da lerdeza da criança para se divertir às minhas custas, Baleia.

- Mas eu só fiz uma pergunta. – Encolheu os ombros inocentemente.

- Mon hyung tem razão, hyung. – Olhei para JungKook, que tomava com um canudo colorido o que devia ser seu quinto achocolatado. – SeokJin hyung não vai entender nada do que você diga quando tiver acabado de acordar, ele precisa de um tempinho para iniciar o dia.

Assim que completou sua fala, todos olhamos para Seok, que fora em algum momento que eu não notara até a geladeira e pegara a vasilha de morangos que provavelmente havia sido comprados por minha mãe especialmente para ele. Ele parecia bastante entretido em observar bem cada um dos morangos que levava a boca, como se analisasse se aquele valia a pena ou não.

Aquela cena me pareceu tão fofa que por um momento eu esqueci que tínhamos companhia e me deixei observá-lo, com um sorriso fino no rosto.

Provavelmente por sentir os olhares acima de si, o garoto desviou sua atenção das frutas que deixavam seus lábios avermelhados, olhando para os outros na mesa com sua clássica cara de confusão infantil, como se tivesse perdido alguma coisa e tentasse entender – ou até lembrar – o que era.

Deixei o sorriso em meu rosto aumentar um tantinho quando ele parou de mirar o espaço e focou sua vista em mim, me encarando como se tentasse entender o que estava acontecendo.

  - Vocês vão ficar aí se secando ou vão comer? Nós temos horário, sabe? – Virei para JiMin com uma careta já preparada no rosto, pegando bem a tempo a cena de JungKook dando um tapa no braço do namorado, me fazendo sorrir, mesmo que não tivesse entendido direito o que estava acontecendo. – Pra que isso? – Protestou ao garoto que o encarava um tanto severo.

- Você que enche o saco para eles ficarem juntos, e quando temos uma gotinha de clima, você vem e corta? Faça-me o favor.  – O mais novo parecia indignado com a ação do namorado.

- Ah, não tem problema. – O sorriso que JiMin soltou me deu uma sensação bastante ruim no estômago, e eu engoli em seco, esperando o que viria a seguir. – Eu consegui uma coisinha bastante interessante quando subi no quarto do Mon pegar uma camiseta. – Automaticamente olhei para a peça que JiMin usava. Ele realmente vestia uma camiseta minha, mas aquilo não me importava no momento. Assim que ergui o olhar de novo, JiMin já estava com o celular na mão, a tela desbloqueada numa foto que devia ter sido tirada pouco antes que eu e Jin acordássemos: os dois dormindo, abraçados a forma que eu havia nos encontrado quando acordei.

- Me dá esse telefone, JiMin. – Rosnei depois de encarar incrédulo a foto por um momento.

- Não. – Cantarolou, bloqueando o telefone e o guardando no bolso.

Não falei mais nada quando me levantei, rodeando a mesa atrás do garoto que já fugia de mim para fora da cozinha, para fora da casa, dando gritinhos enquanto eu o xingava atrás de si.

- JungKook! Qual é a senha dele? – Perguntei ao garoto que se aproximava de nós ao lado de Seok calmamente na rua enquanto eu me preocupava em manter o aparelho fora de alcance do baixinho de quem eu havia conseguido o objeto em questão depois de correr atrás dele por umas três quadras.

- Mesmo que eu quisesse te contar, hyung, não iria adiantar de muita coisa. – O garoto olhava para mim e para o namorado como se olhasse para duas crianças desobedientes. – Ele já mandou para os outros, vai fazer o quê? Perseguir todos pelo bairro? – Levantou uma das sobrancelhas, e eu me preparei para respondê-lo à altura, mas antes de sequer abrir a boca, o garoto continuou. – E por favor, na próxima vez, tentemos sair de forma normal de casa, sim? – Continuou sua bronca, olhando duramente para o namorado, que parecia se encolher sob o olhar de JungKook. Seria engraçado se não fosse trágico.

Jeon jogou algo para JiMin, que agarrou o objeto no ar e eu vi ser sua carteira. Notei, em certo desespero, que não levara nada junto comigo quando corri atrás de JiMin, e já estava quase mandando eles irem na frente quando encontrei – sem motivo aparente, apenas porque o universo adora foder minha vida – o olhar de Jin, que sorriu divertido, retirando do bolso da calça que eu lhe emprestara minha carteira e meu celular e me oferecendo.

Peguei os objetos enquanto o encarava um tanto questionador. JungKook pegando a carteira para o namorado eu entendia, mas Jin tivera a preocupação de levar minhas coisas, que de forma alguma lhe diziam respeito – ou assim devia ser – quando eu saíra daquela forma de casa.

Ele encolheu os ombros enquanto sorria cúmplice, quando ouvi JiMin – estava com vontade de matar JiMin por estar sempre falando e me atrapalhando – nos chamar:

- Você dois ficam lindos flertando assim, todos inocentezinhos e bobinhos com o começo do relacionamento, mas será que podemos nos apressar? Nós temos horário, lembra? – Bufei, sem me dar o esforço em contestar JiMin, dando de ombros enquanto sorria para Seok, que me devolveu o sorriso e me acompanhou quando passei a andar, seguindo o casal pelo caminho que nos levaria à nossa escola.

 

 

 

 

- Vocês estão atrasados. – Foi a primeira coisa que ouvi assim que pus os pés na sala da diretora, que era ocupada pelo pai de JungKook no momento. – Venham os dois, vocês vão lavar aquelas pichações das pareces do ginásio.

JiMin deixou o queixo cair ao ouvir isso, logo se recompondo – ou não – e exclamando:

- Mas o ginásio é gigante! Vamos demorar séculos pra limpar tudo aquilo!

- Então sugiro que vocês comecem o quanto antes, não é? – O senhor Jeon sorriu de uma forma tão sádica que eu quase pude ver ele me esfolando vivo naquele verão. – Andem logo, encontrarão os materiais para trabalhar lá fora. E ai de vocês se quando eu for lá, JeongGuk e SeokJin estiverem os ajudando. – Apontou ameaçador para o filho e Seok. Ele não havia dito que “nos supervisionaria”? Como iria fazer isso dentro daquela sala? Assim que saí do local, entendi por que o senhor Jeon preferia ficar dentro da sala: ar condicionado. Fora dali o mundo parecia estar derretendo, e eu respirei fundo, seria um longo dia.

 

 

 

 

“Hey, vou buscar você e os garotos agora. Estão todos na sua casa?”

 Franzi o cenho ao ler a mensagem que recebera enquanto esfregávamos as paredes do ginásio – Jin e Kook haviam se juntado à tarefa, mesmo com a ameaça do senhor Jeon – a vida cada segundo nos provando o quão verídica fora a fala de JiMin ao dizer que demoraríamos séculos para terminar com aquilo.

“Tae, Hope e Suga estão lá em casa.

Eu estou na escola com JiMin e mais dois dos garotos”

- Ei, Mon, pretende ficar aí trocando mensagens e deixar a gente fazer tudo sozinho?

Bufei. JiMin não parara de reclamar desde que saímos da diretoria, desde sobre como o sol estava forte até como as pessoas deviam arranjar o que fazer ao invés de ficar pichando paredes do ambiente escolar. “Esse povo devia tentar transar, aposto que parariam de perder tempo desenhando nas paredes”, foram suas palavras enquanto ele resmungava esfregando a tintura de coloração azul de certo ponto da parede.

“Escola? Cara, o que você ta fazendo na escola nas férias?”

Ignorei o xingamento de JiMin quando tirei o aparelho de novo de meu bolso, respondendo a mensagem.

“Detenção. Tem um cara que implicou com a minha cara, e me deixou na detenção as férias inteiras”

“Bom, sinto muito por esse cara, mas eu vou te roubar nessas férias, to nem aí”

Soltei uma risadinha, ignorando qualquer que tivesse sido o comentário que JiMin resmungou por minhas ações.

“Acho bom avisar isso a ele então.”

“Pode deixar, to passando aí já já”

‘Ok. Eu estou no ginásio”

Soltei outra risadinha, guardando o celular no bolso de novo e olhando para cima sorrindo.

- E esse sorriso aí? – Senti minha animação murchar ao ouvir o JiMin rabugento me encher de novo. – Cuidado, Jin hyung, ele pode estar te traindo.

- Não fale idiotices, Park. – Me limitei a responder, me abaixando novamente e pagando a esponja que usava para limpar as paredes.

- O quê? É tão impossível assim a possibilidade de você trair ele? – Ignorei a brincadeirinha de JiMin. Eu sabia que ele estava tentando me tirar do sério, mas eu não estava nem com clima nem com paciência para aquilo no momento.

Tive que agüentar as reclamações de JiMin sobre todos os fatores de sua vida naquele momento por cerca de mais uns quarenta minutos antes que JungKook o mandasse calar a boca, e eu quase aplaudi de pé o garoto por ter feito isso.

Foram necessários apenas mais cinco minutos até que JungKook começasse a cantarolar uma musica qualquer, logo sendo acompanhado por JiMin, e por fim por um Jin extremamente tímido, que alegava não conseguir cantar, mas cuja voz soava mais doce que qualquer outra que eu já havia ouvido.

Estava tão entretido na boa combinação que a voz dos três fazia – os agudos de JiMin se contrastando com as notas melódicas dos outros dois – que demorei para notar as duas pessoas que se aproximavam de nós, tanto que apenas me dei conta de sua presença ali quando ouvi palmas fracas soarem pelo lugar quando a canção foi encerrada.

Olhei para trás, encontrando ao lado de um senhor Jeon bastante contrariado, um rapaz alto, com mais ou menos minha altura e a pele amorenada como a minha. O sorriso em seus lábios carnudos era uma mistura do infantil e do sexy, que lhe dava aquele charme especial que apenas ele tinha. Os cabelos sedosos estavam tingidos num tom castanho chocolate, e abaixo dos óculos escuros eu sabia que se escondiam os olhos que sempre pareciam sonolentos tão marcantes de sua aparência.

- Quanto tempo, JongIn hyung. – Cumprimentei meu irmão paterno com um sorriso nos lábios.

 


Notas Finais


Oin ^^
E aí?
Deu pro gasto? Me perdoam pelo atraso (eu sei que não, mas amo voces mesmo assim).
Eu sei que vai vir um povo falando "só um selinho?", mas gente, tentem entender: o beijo nem devia ter sido nesse capítulo! Selinho tá bom demais!
Além disso, eu achei que seria bonitinho começar devagar com esses dois, já que a relação deles é lerdinha mesmo.

Lembram que eu disse que tinha um crossover importante? E que eu ia dar um tapa de cultura capopera em quem não soubesse quem era? Ninguém mais ninguém menos nosso lindo Kim JongIn (SIM! EU VOU ENFIAR KAISOO AQUI, POR QUÊ??)

Enfim, vou dar uma de cara de pau e pedir por comentários mesmo com todo esse atraso (-q), claro, sem esquecer de agradecer aos coments do capitulo anterior, que bateram o recorde. 34 reviews, se não me engano, cambada!

Dep está com mais de 330 favs, e uns 240 cmentários, vocês não tem ideia do quanto isso aquece o coração da bobinha que tinha certeza de que ia flopar aqui ^^
Eu só tenho agradecimentos.

Bom, é isso, espero não atrasar, mas as coisas aqui em casa estão meio corridas, porque estamos nos mudando.

Beijos de todas as cores e todos os sabores.
Até~


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