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História Dependence (Em revisão) - Fuck it all, I'm giving up.


Escrita por: kaisooisreal

Notas do Autor


...
Eu to com um pouco de medo. To tremendo aqui. Espero não ser morta.
Bom, como vocês podem ver, meu temor de naõ conseguir escrever com frequência se provou uma realidade mais dolorosa que eu esperava. Antes de escrever isso aqui (comecei faz três dias, escrevei saporra em QUATRO DIAS. Estou muito orgulhosa de mim mesma), eu estava ha´quatro semanas sem TOCAR no computador. Como muitos devem ter notado, eu sequer consegui responder os comentários com eficiência: ainda tenho que responder os do penultimo capitulo e alguns do anterior.

Bom, esse é o cap mais comprido da fic, e eu me esforcei nele, mesmo que ache que não está muito bom.
Como sempre, espero que gostem.
Até la embaixo.
'3'

Capítulo 19 - Fuck it all, I'm giving up.


Eu dormira várias vezes naquela varanda, mas nunca, em nenhum momento de minha vida, me imaginei sendo acordado ali, às oito da manhã, pelo movimento leve encima de meu peito, onde Jin dormia com um biquinho nos lábios.

Levantei um pouco a parte superior do tronco, tirando a mão de debaixo da cabeça, como dormira, pelo susto. Depois, assimilando tudo o que se passara e o que estava acontecendo, pisquei várias vezes, tentando focar minha visão.

Se eu tinha dormido meio sentado ao lado de SeokJin, nós nos movêramos à noite: Uma de minhas pernas ainda estava para fora do sofá macio e grande, enquanto a outra se esticava pela extensão do móvel. Eu praticamente me deitara no sofá, e, sim, pasmem (mas duvido que tanto quanto eu), Jin estava deitado em cima de mim.

Ele estava de bruços encima de meu peito, a cabeça sobre as mãos que estavam apertadas sobre minha camiseta (que eu vestira ao sair do quarto). Seu rosto ainda revelava seu sono, mas ele devia estar prestes a acordar: se movia um pouco e resmungava palavras que se pareciam muito com “não roubem meus morangos, seus milhos maus” pelo biquinho que seus lábios formavam ao dormir.

Não relaxei o corpo de novo ao entender o que estava acontecendo por um tempo. Fiquei olhando-o ainda um pouco boquiaberto. Seus cabelos escuros estavam bagunçados, o que fazia com que a franja um pouco longa estivesse, em grande parte, arrepiada para todos os lados, expondo muito de sua testa que quase nunca era bem visível.

Me perguntei como diabos eu acordara com seus mínimos movimentos. Eu dificilmente acordaria com uma corneta soando em meu ouvido (Tae já havia experimentado), nunca havia imaginado na possibilidade da existência de alguém que conseguia me acordar com a simples respiração (e com Jin era quase isso).

Ao pensar nisso, imediatamente lembrei de ele envergonhado me contando que não conseguia dormir sozinho. Em parte, eu queria xingar JungKook por ter ido “passar a noite” com JiMin, mas uma parte bem maior de mim iria ter que se segurar para não agradecer por aquilo ao menino Jeon mais tarde.

Além de que quanto mais tempo passava ao lado de Jin, mais lados seus eu conhecia, eu estava me preocupando menos e me admirando mais pelo fato de sempre sentir meu afeto por ele aumentar ao conhecer cada uma daquelas suas características.

Sem contar de que aquela fora, sem dúvida, apesar da posição meio desconfortável, uma das melhores noites de sono de minha vida. Além da confirmação do que eu já sabia de que os sonhos evaporavam quando Jin estava perto, seu peso e calor sobre mim, a respiração baixinha soando e sua expressão pacífica me pareciam as coisas mais lindas e confortáveis da criação.

Deixei que minha cabeça tombasse sobre o encosto do sofá de novo, sorrindo fraco por um motivo que eu não entendia ao certo.

Comecei, inconscientemente, um carinho leve sobre seus cabelos. Não bagunçando-os como sempre fazia (eles já estavam bastante bagunçados, de qualquer forma), mas alisando-os e observando com certo fascínio os fios negros brilharem ao sol fraco que chegava ali.

Estava tão perdido em observá-lo que esqueci de, bem, de observá-lo, e quando dei por mim, ele estava com os olhos abertos, com a cabeça um pouco levantada para me mirar, me encarando com um olhar perdido que eu sabia querer dizer que ele não verdadeiramente acordara ainda.

Nos encaramos por alguns segundos, eu, por estar absorvendo cada detalhe de sua expressão que me parecia adorável – aquela confusão que seus olhos normalmente tinham, como se tivesse tentando absorver e entender tudo à sua volta, mas nunca conseguisse fazê-lo realmente. – Ele, por estar me olhando como se tentasse decidir se eu era uma pessoa ou um milho assassino que viera roubar seus morangos.

Pelo sorriso que recebi algum tempo depois, ele provavelmente decidira que eu não me parecia com um milho.

E eu posso afirmar, com toda a certeza do mundo, que nunca me senti tão feliz por não ser um milho, e sim uma pessoa.

Porque, cara, qualquer pessoa que tivesse aquele sorriso direcionado a si, agradeceria a tudo quanto é deus que ela não acreditava ser real por ter nascido gente.

- Está tudo bem? – Perguntei, tirando a franja que caíra sobre sua testa novamente da mesma. Foi uma pergunta que poderia ser considerada retórica e inútil, algo de quem não sabe o que falar num momento sem palavras, mas eu não sei por que ao certo, todas as vezes que perguntava isso a ele, estava querendo receber uma afirmação mais que tudo no mundo.

Ele precisava estar bem, ou eu não relaxaria.

Eu sei, parece um exagero, mas é a verdade.

- Uhum. – Acenou com a cabeça com certa dificuldade pela posição, o sorriso, mesmo não estando mais em seus lábios, ainda se fazia presente em seus olhos. Ele franziu o cenho. – E você? Aconteceu alguma coisa?

- Como assim? – Sua expressão me dizia que ele não estava sendo retórico, então respondi com outra pergunta.

- Você acordou antes de mim. – Justificou, me olhando com um semblante perturbado. – Aconteceu alguma coisa? – Eu poderia ter me irritado com aquilo que poderia ter sido considerado uma zoeira (mesmo que Jin claramente não tivesse esse objetivo ao falar), mas me limitei a soltar uma risada.

Neguei com a cabeça, como sempre não evitando sorrir pequeno por ter seus olhos virados em minha direção.

- Você é o melhor despertador do mundo. Eu acordei com você resmungando alguma coisa sobre não roubarem seus morangos. – Expus, segurando uma risada. Ele franziu o cenho, mostrando a língua enquanto torcia o nariz. E então sua expressão ficou mais séria.

- Eu te acordei então? Desculpa. – Ele parecia verdadeiramente preocupado com isso, o que só me deu mais vontade de rir ainda.

- Nem. – Tentei acalmá-lo, mesmo que estivesse me esforçando muito para não rir. – Se eu não tivesse sido acordado assim, teria sido de outro jeito. E acredite: eu prefiro você falando baixinho do que Suga me chutando do sofá.

Ele pareceu meio indeciso sobre minha afirmação, mas acabou por rir baixinho.

- Eles são sempre assim, delicados? – Perguntou, e eu fingi pensar.

- Pra me acordar, sim. – Falei, dando de ombros. Ele fez uma careta, e em seguida me olhou com os olhos brilhantes.

- Decidido então. – Seus olhos sorriam. – Vou te acordar sempre a partir de agora. – Falou, parecendo tão seguro daquilo, e de forma tão inocente que me segurei para não apertar suas bochechas para testar se aquela criatura era mesmo real.

- Acho que vou gostar disso. – Falei, por fim, e ele sorriu mais.

- Ai gente, eu não agüento! – Virei a cabeça na velocidade da luz em direção à escada que levava à varanda, de onde Hobi saía saltitando como uma gazela.

- HoSeok! – KyungSoo hyung saiu atrás dele, com a expressão chateada. – Eu disse que poderia vir com a gente se fosse discreto! – O baixinho parecia verdadeiramente irritado, e meu irmão, que vinha atrás de si com a cara ainda amassada pelo sono, tentava acalmá-lo com carinhos no ombro.

- Mas eles são tããão bonitinhos! – Hobi quase ronronou, dando pulinhos onde estava. Tae seguia os outros três com a clássica carinha emburrada por ter sido acordado antes da hora.

Seok pareceu entender o que estava acontecendo e se levantou com uma rapidez quase sobre humana. Todo o sobre humano se esvaiu, porém, quando ele escorregou as mãos no tecido de minha camiseta – que havia usado para levantar o corpo – e caiu de novo encima de mim.

Ele enterrou a cabeça em meu peito como se tivesse cometido um mico nacional e todo o país estivesse rindo dele.

E eu duvidava que até mesmo a Coréia do Sul inteira conseguisse rir mais escandalosamente que Jung HoSeok.

Eu segurei seus ombros e olhei para Hope com cara feia, mesmo que aquela reação de Jin fosse me fazer rir em outro contexto.

- O que vocês estão fazendo aqui? – Perguntei, ajudando Jin a se sentar junto comigo. Não tirei seu corpo de cima do meu, o que fez com que ele continuasse com a cabeça sobre meu ombro. Nem ele e nem eu parecemos inclinados a mudar aquilo.

- Ah, KyungSoo hyung queria espiar vocês, mas tropeçou no Kai hyung na frente do nosso quarto. A gente ouviu o barulho no corredor e ele deixou a gente vir com eles. – Hope estava só alegria quando contou, e eu olhei para KyungSoo de forma questionadora. Até ele estava fazendo essas coisas?

O branquelo abanou com as mãos, negando afobado.

- Não! Eu ia falar com SeokJin, mas ele não estava no quarto dele, então eu procurei no do NamJoon, mas vocês não estavam lá. – Ele parecia meio desesperado para provar sua “inocência”, e eu teria rido se não fosse pelo meu breve conhecimento sobre os humores instáveis de Do KyungSoo.

Vai saber o que aquela coisinha faria comigo se eu risse dela.

- Então eu fui perguntar à JongIn onde vocês poderiam estar-

- Fui acordado às oito da manhã por isso. – Meu irmão estalou a língua, apoiado preguiçosamente na entrada da varanda.

- E ele disse que o NamJoon gostava daqui. Então viemos. – KyungSoo terminou, ignorando o namorado com sucesso.

Olhei-o com uma sobrancelha levantada, como se cogitasse acreditar nele. Isso pareceu deixá-lo mais nervoso.

- Por que queria falar com Jin? – Perguntei, olhando-o inquisidoramente. Eu não estava levando aquilo tão à sério (ignorando o fato de que me encheriam o saco por isso pelas próximas sete décadas), mas era divertido ver as pessoas nervosas desse jeito.

Menos Jin. No momento tudo o que eu queria era afastar Jin do foco. Ele não tirara a cabeça da curvatura de meu pescoço desde que a enfiara lá, e apertava minha blusa de forma mais relaxada, embora eu soubesse que, por ele, ele ficaria enterrado ali para sempre.

- Isso – O menino-coruja começou, mas foi interrompido por Tae, que caminhara até o sofá ao lado do em que estávamos e se deitou, ronronando de sono:

- Isso não importa realmente, não é? – Eu realmente não acreditava que depois de tanto tempo, HoSeok não tivesse aprendido que acordar TaeHyung antes da hora era mau negócio. O garoto ficava mais mal humorado que YoonGi em seus piores dias. E isso não era pouca coisa. – Eles vieram bisbilhotar e meu namorado idiota me arrastou junto. Agora calem a boca, eu quero dormir.

- Não é hora de dormir, TaeHyung. – KyungSoo comentou. Eu ia observar que era sim, afinal não passavam das oito da manhã, mas optei por ficar quieto.

Hobi emitiu um “xiii” quando o mais velho falou isso. Eu sabia por que ele fizera isso, Tae não ia deixar em off aquilo. Não com o mau humor em que estava.

O mais novo ali apenas levantou a cabeça do encosto do sofá para mirar KyungSoo. Lhe lançou um olhar que cortaria aço e resmungou:

- Eu não dormi de madrugada, então vou dormir agora. – Suas feições eram frias, o que realmente assustava em seu rosto de porcelana. – É hora de dormir. Se me interromper nisso mais uma vez, não espere que eu seja gentil. – Suspirei internamente. Odiava quando Tae ficava assim, era um saco. Eu quase rogava pelo Tae criança de volta nesses momentos.

Quase.

KyungSoo inflou os pulmões para responder, mas foi parado por um HoSeok de mãos juntas, pedindo silenciosamente que ele não revidasse.

Agradeci ao Cavalo internamente por isso. Aguentar Tae de mau humor antes de dormir já era ruim o bastante. Se aquilo continuasse, o rancor iria até depois da dormida. E Kim TaeHyung de implicância com alguém era um absurdo saco.

 KyungSoo fez um biquinho chateado por ter sido interrompido em sua resposta que com certeza desencadearia uma guerra, mas acabou por deixar o garoto Kim se deitar sem mais interrupções.

Não ter conseguido fazer o que queria, porém, pareceu deixar o Do de mau humor também, e ele apenas disse um “SeokJin, venha me ajudar na cozinha depois”, como se dissesse “Escravo, venha lavar meus pés. Não é um pedido”, e se virou para sair do lugar.

Fiz uma careta pelo tom que ele usara, mas JongIn, lendo meu olhar, pediu paciência com um sorriso meio sem graça, meio dormindo, e seguiu o namorado emburrado.

Hobi continuou olhando para mim e Seok com um sorriso que não cabia em seu rosto, seus olhos brilhavam de antecipação, como se esperasse que eu e Jin virássemos focas coloridas que cuspiam balas de menta ou algo do tipo.

Eu não estava afim de ser olhado como se estivesse prestes a virar atração de circo, então fiz um gesto leve, mas autoritário com a cabeça, indicando Tae, jogado no sofá ao lado. Eu estava mandando-o cuidar do namorado, mas, com a leitura certa, saberia que eu estava dizendo “Cuide da sua vida”.

Surpreendentemente, HoSeok foi cuidar da própria vida, e quando considerei que ele estava bastante distraído em puxar as orelhas gigantes de Tae, rindo como um idiota ao vê-lo resmungar no sono leve, me permiti desviar o olhar deles e abaixei os olhos para Jin, que ainda tinha a cabeça sobre meu peito, mesmo que tivesse levantado os olhos havia algum tempo para espiar o que acontecia por cima de meu ombro.

Ele levantou a cabeça para me mirar, fazendo com que nossos rostos ficassem mais próximos do que qualquer limite já formado pela minha sanidade. De algum modo, não tivemos a reação que seria normal nessa situação: o afastamento. Em vez disso, eu fiz o que se era esperado de mim nessas situações (mesmo que não gostasse nada de isso ser esperado. Eu não era assim, caramba!): travei, fiquei olhando para ele como se tivesse achado um diamante na calçada (ou seja, com certeza parecia um idiota maravilhando e muito surpreso). Ele apenas me mirou sem expressão, estudando meus olhos e em seguida o resto de meu rosto. Seus olhos se mexiam rapidamente, me fazendo ter dificuldade de prender sua atenção.

Vamos sair daqui? Movi os lábios, me perguntando se ele entenderia. Eu não sei se ele o fez ou se simplesmente decidiu aceitar o que eu dissera sem entender, mas acenou com a cabeça levemente, ainda olhando para mim com aquela mesma expressão que poderia significar tudo, e nada.

Segurei seus ombros e o ajudei a se levantar junto comigo. Minhas pernas pareciam quentes demais para o ar fresco, e eu senti falta do peso de Seok encima das mesmas.

Andamos em silêncio até o arco que levava à varanda, minha mão ficou o tempo todo em suas costas, meio que o conduzindo. Se HoSeok nos notou, não demonstrou isso (o que provavelmente significava que ele não havia nos notado. Ele nunca perdia uma oportunidade de se manifestar).

Andamos de forma meio automática até o andar de baixo, onde JongIn estava jogado dormindo (ou morto) no sofá grande em frente à TV. Olhei para a cozinha com hesitação. KyungSoo provavelmente estava lá, e provavelmente estava de mau humor. Eu não sabia se queria ir lá.

- Você acha que ele vai ficar muito chateado se eu aparecer daqui a alguns minutos? – Ouvi-o sussurrar para mim e olhei para ele. – Eu ainda não escovei os dentes. – Completou, torcendo o nariz. Ri baixinho, respondendo no mesmo tom que ele, mesmo que isso não fosse realmente necessário:

- Acho que não tem problema se demorarmos um pouquinho.

Fomos até o andar de cima de novo, e pensamos várias vezes se devíamos arriscar entrar no quarto de Seok. Tudo bem, o casalzinho havia ido para o outro quarto para não incomodar Seok, mas ele podiam perfeitamente ter voltado no meio da noite. A questão é: perdemos alguns minutos na frente da porta, porque em algum momento de nossa hesitação, aquilo pareceu muito engraçado, e começamos a rir sem motivo.

E quando digo rir, é rir mesmo. Nós conseguimos fazer Suga abrir seu covil de vampiro para nos xingar até. Isso é um feito histórico.

Depois que YoonGi fechou a porta, soltando uma infinidade de nomes bem feios, eu e Jin miramos o pedaço de madeira em silêncio por dois segundos, nos olhando em seguida, e então abrindo sorrisos e começando a rir de novo, mesmo que tentando fazer silêncio dessa vez.

Eu odiava e amava aquele tipo de risada; era aquela risada que, depois de um tempo, perde o sentido, mas continua presente. Mas também era uma risada que eu nunca dava antes. A alegria de Jin parecia despertá-la em mim, e mesmo que nós parecêssemos dois idiotas rindo daquele jeito, eu daria tudo para continuar ouvindo-o rir.

Mesmo que sua risada se assemelhasse muito à uma foca ou à um pano lustrando vidros de janela.

Bem específico, eu sei.

Jin se apoiou em mim enquanto ríamos, mais para se apoiar em algo que qualquer outra coisa, mas senti algo bom quando ele o fez, a mesma sensação que sempre sentia quando ele estava perto. Era reconfortante e me fazia relaxar, como se tudo com o que eu devesse me preocupar fosse ele, e saber que ele estava ao meu lado e bem fizesse tudo parecer sem problemas.

Tirando um probleminha chamado minha-mente-estupida-teimosa-e-cabeça-dura. Esse era uma merda, e atrapalhava todo o esquema.

Em algum momento em que minha mente estava distraída demais para prestar atenção em algo que não fosse os cabelos brilhantes ou os olhos profundos de Jin, nós entramos em seu quarto, pegamos sua escova, fomos ao meu quarto e escovamos os dentes e tudo o que um ser humano tem direito depois de acordar.

Quando notei, estava olhando para o canto da mandíbula esquerda de Jin como quem observa uma obra de museu, e ele estava tentando falar comigo:

- NamJoon! – Ele não exatamente gritou, mas seu tom foi exclamado. Pisquei os olhos pelos clássicos dedos sendo estalados em frente a eles. – Eu pedi para não me seguir. – Pisquei mais uma vez. Eu não me lembrava de o estar seguindo, mas também não lembrava de ele ter pedido o contrário.

- Onde você está indo? – Perguntei, e o vi me mirar como se tentasse decidir se eu estava falando sério ou me fazendo de desentendido.

- Vou ajudar KyungSoo hyung no café da manhã. – Informou, provavelmente decidindo que eu não parecia estar brincando. – Quero que fique longe da cozinha. Pode fazer isso? – Falou tudo meio pausadamente, me mirando como se esperasse que eu desviasse a atenção para chamá-la de volta.

Abri a boca para contestar aquilo, mas ele disse um “ótimo” e se virou, indo para a cozinha. Observei-o por um instante, depois bufei por ter sido ignorado e me dirigi ao sofá em que meu irmão estava deitado.

- Eles são terríveis, não? – Olhei parcialmente para meu irmão, que surpreendentemente não estava morto, apesar de parecer. Levantei a sobrancelha, questionando-o, e ele sorriu pequeno. – As patroas. – Justificou, o canto de sua boca curvado numa piada particular. – Depois de um tempo fica difícil contestar o que eles falam, então apenas calamos a boca e aceitamos nosso destino. Isso, claro, porque eles também são adoráveis. – Completou, sorrindo sonhador, e eu franzi o cenho enquanto Kai voltava ao ‘modo morto’ no sofá.

Olhei para meu irmão sem me mover por um momento, tentando entender o que ele dissera. Ok, eu sabia que ele estava se referindo à Seok, e com certeza à KyungSoo, e sabia que aquilo fora uma brisa dele por estar embriagado de sono, mas mesmo assim, algo me incomodou naquilo.

Eu não sabia se estava assim porque concordava com o que ele dissera ou porque as pessoas pareciam pegar as consciências adormecidas propositalmente em minha cabeça e jogar na minha cara de uma forma muito mais bizarra e gay do que eu imaginava serem.

De qualquer forma, ele era sim, adorável, e sim, eu sentia que faria qualquer coisa que ele pedisse se aquilo continuasse assim.

E, como fator mais assustador para mim, estava, pairando em frente a meus olhos, a certeza concreta de que eu não iria interromper aquilo, ou me importar.

Permaneci no sofá até segunda ordem, ou seja: até Jin me arrastar para a cozinha para tomar café da manhã. Eu gostava daquele sofá, me dava uma visão panorâmica do que se passava no andar inferior da casa, porque ela era o centro do mesmo.

Vi quando JiMin desceu como um zumbi bombado que exibia seu abdômen desenhado enquanto se arrastava sem camiseta até a cozinha para roubar algo para comer e voltar em seguida ao quarto. Claro que seus planos forma impedidos pelas duas comadres da cozinha, o que fez com que, alguns minutos mais tarde, JungKook descesse atrás do namorado seqüestrado, que ajudava em algo na cozinha desfilando sem camiseta por aí.

Pouco depois do garoto Jeon ser seqüestrado também (com muitas reclamações), JongIn levantou do nada do sofá, me fazendo pular de susto. Um segundo depois disso, KyungSoo estava chamando o moreno, que já se dirigia à cozinha. Mirei o lugar para onde meu irmão fora, meio atônito, por alguns segundos. Ele tinha mesmo obedecido ao chamado de KyungSoo antes do mesmo chamá-lo?

Podem me chamar do que quiserem, mas eu fiquei com um pouco de medo.

Tentei meu máximo para rir sem fazer barulho quando notei que KyungSoo mandara JongIn chamar YoonGi em seu quarto. Como eu sei? Bom, meu irmão não voltaria com aquela aura de ‘o que eu fiz pra merecer essa vida?’ se tivesse ido bater um papo com HoSeok no andar de cima.

Nunca tente acordar Min YoonGi se não tiver proteção à patadas, ele vai te rebaixar à merda de inseto. Esse é meu lema de vida.

Só depois de um HoSeok muito atacado (novidade) e um TaeHyung parecendo mais mansinho (graças aos céus) descerem (atraídos pela comida, sei lá), que meu nome foi chamado para finalmente comer. Eu não dei muita atenção àquilo porque era KyungSoo gritando, e KyungSoo gritara ordens a manhã toda.

Aquilo se repetiu diversas vezes, e eu tinha quase certeza de que o Do não costumava gritar tanto. Talvez ele estivesse nervoso com o rolo com meu pai, mas, de qualquer forma, eu ignorei todos os seus gritos, que chamavam à mim e ao Min dorminhoco que eu recomendaria não incomodar pelo resto do século.

Notei apenas parcialmente quando os chamados cessaram, e, alguns segundos depois, Jin saiu da cozinha com a expressão calma.

Ele foi até mim a passos leves, parou à minha frente, me mirando com aquele olhar profundo, e, sem falar nada, segurou minhas mãos e me puxou para sair do sofá, me deixei puxar, e apenas o segui em silêncio e sem resistência enquanto ele me conduziu até a cozinha e em seguida à sala de jantar, me sentou numa das cadeiras da mesa gigante e saiu de novo do cômodo.

Me arrumei na cadeira em silêncio, minha mente voltando a tentar pensar com clareza depois daquele momento de torpor bizarro. Eu já estava me acostumando com as reações estranhas que eu tinha às ações de Jin, mas ainda assim era meio estranho pensar nisso. Que outra pessoa teria conseguido me fazer esquecer a teimosia com um simples olhar e conduzir minhas ações daquela forma? Mais que isso, que outra pessoa teria sequer conseguido segurar minhas mãos sem ser rejeitado no instante seguinte? Aquele garoto me assustava.

Ignorei as gracinhas de JiMin e Hobi, que cacarejavam como galinhas purpurinadas já àquela hora da manhã, com o apoio de um Tae infantilizado pelo sono. Eu sei, Tae já tem infantilidade o suficiente para eu ser obrigado a agüentar ele com sono. Por isso que eu sempre digo: deixem TaeHyung dormir. Dormir de menos o deixa mau humorado, dormir um pouco mais o deixa com mentalidade de 2 anos.

Qual a dificuldade de deixá-lo acordar sozinho?

Alguns poucos minutos depois, Jin apareceu na cozinha com um Suga parecendo muito contrariado na cola. No mesmo instante, Tae, JiMin e HoSeok calaram a boca, e observamos impressionados os dois que entravam na sala.

Jin seguiu para a cozinha para continuar ajudando KyungSoo com o resto do café da manhã, e os que já se encontravam sentados acompanharam YoonGi com os olhos enquanto ele se sentava na cadeira ao meu lado, a cara feia sobrepondo à cara de sono.

- Eu juro que algum dia esse garoto vai me deixar louco. – O Min comentou, para ninguém em especial, mas não pude evitar o Nem me fale que passou por meus pensamentos. – É como se ele fosse minha mãe, e o universo fosse me castigar se eu não o obedecer. – Continuou, parecendo meio frustrado, ainda com o tom reclamão na voz arrastada. Exatamente. – E ele é tão...sei lá, bonitinho, não dá pra ignorar ele. – Concordei com sua fala mentalmente, mas franzi o cenho para ele, torcendo o nariz.

- Hyung, toma cuidado com o que você fala na frente do Mon. – O riso estava estampado em cada palavra de Hobi quando ele se dirigiu ao platinado emburrado. – Parece que o Jin hyung despertou o ciúme que nunca existiu antes nesse ser. – Não me dei o trabalho de olhar para HoSeok, mas me xinguei por estar tão descontrolado e transparente.

Nunca foi fácil me ler. O que estava acontecendo comigo?

- E você acha que eu falei isso sem querer? – Quis socar YoonGi quando ele disse isso, mas ignorei o seu e os outros risinhos, me limitando a responder, sem vontade de ficar encrencando:

- Vocês deviam encher essas bocas de comida, em vez de ficar falando bosta.

- Uoou. Ele não está de bom humor, gente. – YoonGi vaiou, fazendo Hobi e JiMin rirem baixinho. Tae estava ronronando com a cabeça na mesa enquanto HoSeok acariciava seus cabelos (não me pergunte, mas o sono de Tae tem fases. Depois de dormir um pouco mais, a carranca some e ele vira algo parecido à um filhote de gato extraterrestre de orelhas de abano e muito birrento), e JungKook sorria pequeno, observando mais que participando, como era de seu feitio.

- YoonGi ah, pare de atazanar ele, por favor, todos vocês. – Não virei a cabeça para olhar Jin (precisei de muita força de vontade para isso), mas sorri pequeno com seu manifesto. Suga resmungou algo que poderia ser “quero sopa” ou “que se foda” e enterrou a cabeça nos braços encima da mesa. Os outros se desculparam com sorrisinhos filhos da puta nos lábios.

Jin se sentou ao meu lado na mesa, e o café da manhã se passou todo com ele olhando para algum ponto distraidamente, rindo às vezes com algo que as crianças bagunceiras diziam, e comendo tudo o que lhe era direito e um pouco mais.

Eu gostaria de dizer que comi bastante também, e participei das conversas ativamente, mas a verdade era que eu não fiz muito mais que observar Seok durante toda a refeição, e não sei se fui exatamente discreto.

 

 

 

 

- Mon, podemos conversar? – Olhei preguiçosamente para meu irmão, que se apoiou ao meu lado na varanda dos fundos da casa, de onde eu e Jin observávamos Tae, JiMin, Hope  e JungKook brincarem na piscina.

- Claro. – Respondi ao mesmo tempo em que segurava o pulso de Jin, para que ele não saísse dali. Eu sabia que suas intenções eram boas, até porque ele mesmo estava a poucos minutos falando para que eu falasse a sós com JongIn sobre o acontecimento do dia anterior, mas eu não queria vê-lo afastado de mim se pudesse evitar, e mesmo que isso me assustasse um pouco, era mais forte que eu.

Kai olhou para minha mão com um sorriso gentil, logo mirando meu rosto de novo.

- Eu não quero ficar mais aqui. – Disse, a expressão mais séria, apesar de não irritada. – De preferência, não quero mais voltar para essa casa, nunca mais. – Eu entendia por que ele falara aquilo, mas não evitei franzir o cenho com sua declaração.

Acenei com a cabeça lentamente, concordando. Eu também não queria mais ficar ali, não sem Yuri, que fora antes de todos acordarem naquela manhã, como dissera que faria, e muito menos sem JongIn.

- Estava falando com Soo, e queremos voltar para Seul hoje mesmo. – Meu irmão continuou. Eu tentei manter toda a minha atenção nele, mas a os dedos de Jin dedilhando distraidamente a mão que eu usara para segurá-lo ali um minuto antes não me deixava pensar direito. Ele soltara meu aperto, mas não saíra dali. Muito pelo contrário: colocara sua mão sobre a minha e começara a brincar com ela de forma distraída, ouvindo JongIn falar. – O que você e os garotos vão fazer?

Pensei por um momento, e olhei para a piscina, onde os garotos brincavam, e Suga dormia numa espreguiçadeira embaixo de um guarda sol.

Por mim, eu iria naquele segundo para casa, mas não tinha certeza de que eles gostariam daquilo. Era uma mansão toda para nós, de qualquer forma, mas eu sentia que não conseguiria ficar por muito tempo mais ali. Fantasmas demais.

Olhei para Jin, que elevou o olhar assim que o mirei, e sorriu pequeno. Olhei-o como se perguntasse o que ele achava, e, ou eu tinha fumado alguma coisa para achar que conseguíamos realmente nos comunicar por olhares ou eu e Jin tínhamos realmente aquela ligação sobrenatural bizarra que JiMin insistia na existência, não sei, mas ele mordeu os lábios fracamente, olhando de esguelha para os garotos, logo gesticulando para todos e para si e jogando o gesto em minha direção.

Você decide.

Olhei-o com curiosidade por um momento, não sei se por ter entendido o que ele queria dizer, ou se por talvez estar brisando muito com tudo aquilo e na real ele estivesse apenas tentando matar um mosquito.

Ele sorriu pequeno, encolhendo os ombros, ainda com a mão sobre a minha, e eu me virei de novo para JongIn, que nos observava sem entender nada.

- Vamos todos para Seul. Já estou farto dessa casa. – Disse, decidido. Talvez eu recebesse alguns xingos por isso, mas eu realmente queria voltar para casa. Kai abriu um sorriso enorme, suspirando aliviado.

- Que bom, porque senão eu não ia ter casa pra ficar. – Disse, rindo, e eu levantei a sobrancelha.

- Hã?

- Ah, eu não quero ficar na casa da minha mãe, e na dele não dá né... – JongIn fez uma careta ao mencionar o pai. – O apartamento que eu e Soo vamos ficar só vai ser liberado no fim das férias de verão, então eu precisaria de um lugar pra ficar no resto das férias. – Terminou, sorrindo meio envergonhado. JongIn e KyungSoo haviam feito uma faculdade de artes que ficava nos arredores de Seul, era muito boa, mas era preciso morar no campus pela distância da capital. Os dois estavam se mudando para Seul, mas as condições eram aquelas. – Não tem problema, né?

- Que isso cara. – Tranquilizei-o. – Você sabe que é sempre bem vindo. – Sorri um pouco, e ele sorriu de volta.

- Bom, vamos ter que arrumar a tropa pra sair antes de escurecer então. – Disse e entrou na casa, provavelmente indo procurar o namorado que dera um surto de mãe quando quer fazer faxina, que sai limpando tudo e jogando suas coisas fora, sabe? Eu agradecia ao universo por minhas coisas estarem trancadas no quarto.

Observei o ponto em que ele sumira dentro da casa por um momento, logo voltando a me virar para a frente, me apoiando na cerca da varanda e notando que meus dedos ainda tocavam levemente os de Jin, que se desinteressara por minha mão e observava os garotos brincando na água com um olhar desejoso.

Ri fraquinho com aquilo, o que chamou sua atenção. Ele virou para me olhar, e eu sorri.

- Quer ir lá aproveitar a piscina, então? – Perguntei, e juro que não vi criança no mundo que pareceu mais feliz e animada com a idéia. Ele acenou repetidas vezes com a cabeça, como que tentando mostrar o quanto queria aquilo. Eu ri de novo, e mal tive tempo de respirar antes de ele segurar minha mão e me puxar para a piscina correndo.

Eu continuei rindo, sem me importar mais com como ria com freqüência se o assunto era ele. Jin me deixava idiota e molenga, e eu não sabia se o amava ou odiava por isso.

 

 

 

 

- Adeus, casa incrível, nosso amor foi curto, mas verdadeiro. – Revirei os olhos com a fala de TaeHyung, que estava fazendo drama desde que soubera que iríamos voltar à Seul naquele dia.

- Tae, para com isso. – Hobi falou, sem um pingo de repreensão na voz. Parecia tão choroso quanto o namorado. – Os hyungs pediram para irmos, nós somos hóspedes e temos que obedecer a vontade deles.

- Eu sei, só estou me despedindo dela. – Tae retrucou, com uma grosseria infantil, enquanto nos encaminhávamos ao carro com as bagagens. – Você reclama de mim, mas podia ser pior, eu poderia ser o JiMin. – Disse, num bico, apontando para a porta da casa, onde o Park se segurava choramingando e JungKook tentava tirá-lo dali.

Hobi olhou para JiMin, rindo alto ao ver JungKook xingar o namorado enquanto o puxava pela cintura.

Bufei, voltando para a casa para ajudar com o resto das coisas depois de levar minha mochila para o carro.

- Mas que porra, JiMin! Quantos anos você tem? – Desenhei um sorrisinho irônico ao passar pelo casal que escandalizava na porta da frente. JungKook estava tentando ser civilizado com JiMin no começo, mas havia perdido a paciência e agora gritava com o Park enquanto tentava fazê-lo largar o canto da porta da frente, de onde jurara nunca se separar da casa.

Entrei na casa, passando por KyungSoo, que arrumava a sala à procura de pertences esquecidos e subi as escadas de dois em dois degraus. Passei pelo corredor iluminado pela janela em sua extremidade e pelas portas abertas dos quartos, que exibiam os cômodos já sem evidências de moradia; os colchões sem roupa de cama, as cômodas vazias e os pisos limpos.

Parei no quarto que JungKook e Jin usaram, procurando pelo último, que eu não via havia alguns minutos, e que não estava no andar de baixo. Encontrei o quarto da mesma forma que os outros pelos quais passara: vazio, solitário e sem SeokJin à vista.

Franzi o cenho e entrei no quarto, indo até o banheiro do mesmo, e encontrando-o vazio. Voltei ao quarto, olhando para a cama que Jin usara, notando algo que não havia visto antes. Fui até o móvel despido, e me inclinei para pegar o pedaço de papel que estava ali.

Abri-o, e arregalei os olhos levemente ao ler o que ali havia.

“E enquanto crescia, sempre ouvi sobre o que o dinheiro podia me oferecer

E as pessoas acreditavam nisso, como cegos desgraçados

Mas não é de hoje que me pergunto, se esses papéis malditos são tudo mesmo

E acho que de vez em quando, vejo o brilho de algo que nenhum governo consegue mandar,

E nenhum dinheiro consegue comprar.”

O texto era confuso, cheio de rabiscos e borrões. E estava claramente incompleto: eu não escrevia nada tão otimista. Era algo que eu já decorara, de tantas vezes ter lido por meu quarto.

Dobrei o papel de qualquer jeito e saí do quarto com um pouco mais de pressa que antes. Não sabia ao certo porque, mas senti que precisava encontrar com Jin.

Olhei em meu quarto, encontrando-o tão vazio quanto o havia deixado antes, e fui até o último lugar que me ocorria. Abri a porta da varanda e subi a escada aos saltos.

Senti os músculos relaxarem assim que cheguei ao lugar ventilado, vendo Jin de costas para mim, apoiado na amurada. Andei lentamente até ele, hesitando por um segundo quando, ao chegar perto, vi seu olhar perdido em pensamentos mirar ao longe. Senti meu interior sorrir com a visão de seu rosto sereno, e os braços cruzados e apoiados na cerca da varanda de forma delicada.

Saí de meu torpor temporário (parcialmente), e avancei até me apoiar como ele, ao seu lado. Ele sorriu, ainda olhando para a frente, logo virando o rosto, dirigindo o sorriso para mim.

Já disse o quanto gosto desses sorrisos em minha direção?

- O que está fazendo aqui? – Perguntei, não gostando de quebrar o silêncio, mas sentindo que precisava fazer isso de certa forma. A fala se revelara uma ótima desculpa para evitar situações catastróficas.

Ele deu de ombros, virando para a frente de novo, olhando para baixo à nossa direita, onde se via a caminhonete de JongIn e os garotos arrumando as coisas para sair.

JungKook arrancara JiMin da porta da forma mais cômica possível: carregando o namorado que sempre se pagava de ativo. Enquanto o Park era carregado como uma donzela pelo namorado mais novo, Hobi ria escandalosamente de cima da caçamba da caminhonete, onde Tae (que parecia ter esquecido sua tristeza de despedida) pulava alegremente, fazendo o carro todo balançar.

Ouvi Jin rir baixinho enquanto JiMin esperneava no colo de JungKook, e Tae ignorava os apelos de JongIn para que parasse de pular. Acompanhei-o na risada quando Suga (que estava sumido havia tempos) saiu do lado do acompanhante da caminhonete batendo a porta e ameaçou a coleção de mangás de TaeHyung se ele continuasse com aquela palhaçada de não deixá-lo dormir.

Nesse meio tempo, JiMin esquecera de seu amor à casa e resolvera que o menino Jeon (que o carregava com uma careta enorme) era seu maior amor e declarava isso aos gritos enquanto apertava o pescoço do namorado mais alto.

JungKook mandou JiMin aquietar o cu, e tanto eu quanto Jin sopramos uma risada pelo jeito do mais novo. Seok se virou de novo para mim, um sorriso desenhado em seus lábios, esticando e afinando-os.

- Senti uma vontade de vir aqui antes de ir embora. – Disse, respondendo à minha pergunta anterior. Virou o rosto de novo, olhando ao longe, onde a cidade se estendia até o mar ao longe. – E, a propósito, eu não te agradeci.

- Pelo quê? – Perguntei, me inclinando um pouco para fazê-lo me mirar de novo, sentindo uma satisfação quente quando ele o fez, sorrindo como se achasse a vida cômica.

- Você sabe, por não ter caçoado de mim quando eu disse que não conseguia dormir sozinho. – Justificou, parecendo distraído, meio longe dali. – E por não ter hesitado em passar a noite comigo. Obrigado. – Completou, rindo pequeno de sabe-se lá o quê. Ele parecia muito mais feliz que o normal.

Dei de ombros, balançando a cabeça em negativa.

- Imagina. Sua companhia é uma honra. – Falei, olhando para baixo, onde os garotos gritavam para se comunicar, como sempre sem saber agir civilizadamente. – Foi uma noite agradável. – O vi arregalar levemente os olhos com a visão periférica, mas não virei para mirá-lo. Sorri para o horizonte.

Ele virou para a frente também, sorrindo pequeno e acenando com a cabeça. Ele não perguntou mais, nem me importunou. Era incrível como ele parecia entender bem os limites que eu gostava que fossem respeitados sem ser informado.

- O mar daqui é bom? – Perguntou depois de alguns segundos, apontando para o horizonte, onde a água reluzia.

- Eu não gosto muito. – Comentei, dando de ombros, olhando para ele quando algo me ocorreu: – Você já viu o mar antes?

- Uma vez. – Ele disse, sorrindo meio sonhadoramente. – Minha mãe me levou uma vez, quando eu era pequeno.

- E o que achou? – Me inclinei um pouco, expondo minha curiosidade sobre o garoto que não conheci, o pequeno SeokJin que viria a se tornar objeto de meu afeto de forma tão inusitada.

Ele se virou para mim, os olhos brilhando quando respondeu:

- Eu achei incrível. Sempre quis ir de novo. – Falou, olhando um tanto melancolicamente para o mar ao longe.

Segui seu olhar, pensando por um segundo. Senti vontade de arrastá-lo até lá naquele minuto, mas eu realmente não gostava daquele mar, e não tínhamos mais tempo.

- Qualquer dia eu te levo num mar melhor que esse, combinado? – Decidi, olhando para ele, que sorriu de forma tímida que evoluiu e se tornou um sorriso aberto e brilhante. Desviei o olhar levemente, tentando fazer a palavra “lindo” parar de aparecer à minha frente.

Jin soltou uma risadinha meio confusa, e tombou a cabeça levemente para me olhar e abrindo a boca, como se quisesse falar algo.

 - O casal fofo aí em cima! – Ambos baixamos o olhar para o chão abaixo, onde Suga se encontrava, parecendo contrariado. – Isso, vocês mesmo! Tem como vocês virem pro carro logo ou tá difícil? – Perguntou, parecendo querer estar morto. Ou matar alguém. – Olhamos para ele sem expressão nos rostos e tampouco nos mover um centímetro. YoonGi bufou. – Qual é? Eu vim de boa vontade aqui chamar vocês aqui e vocês ficam me olhando com essa cara?

- Exatamente por isso... – Jin começou.

- Você não faz as coisas de boa vontade. – Completei, vendo Suga colocar as mãos na cintura enquanto olhava para cima, revirando os olhos como se se perguntasse o que tinha feito para merecer aquilo.

- Tá. O nanico KyungSoo me expulsou do banco da frente e mandou eu vir cortar o clima de vocês. Satisfeitos agora? – Meu amigo nos olhou com uma ponta de impaciência, e eu olhei para Jin, que devolveu o olhar e me acompanhou quando soltei um risinho soprado.

- Você deve ter esperado a vida inteira pra chamar alguém de nanico, né Suga? – Perguntei, segurando o riso. Jin sorria pequeno. – Como se sente com isso?

- Primeiro: não me ataca, que eu vou atacar. – O Min disse, ainda com as mãos na cintura. – Segundo: eu sou só uns três centímetros mais baixo que seu namorado. Terceiro: vai tomar no cu. – Disse e se virou, indo em direção ao carro de novo.

Observei-o, divertido, e ainda gritei:

- Você é só dois centímetros mais alto que o KyungSoo, Suga! – Ele não se deu sequer o trabalho de virar para responder: mostrou o dedo médio à medida que andava e continuou seu caminho.

Ri mais daquilo e virei para Jin, que ria um pouco também, balançando a cabeça em negativa, me olhando com um brilho no olhar.

- Isso é bullying, sabia? – Perguntou, sem soar sério, com o peito apoiado na cerca.

- Suga nunca cala a boca antes de te rebaixar até o magma. – Dei de ombros. – Eu tenho que aproveitar as oportunidades. – Falei, sorrindo maliciosamente, recebendo um tapa fraco de Jin. – Agressão também é bullying, sabia? – Falei, e ele me mostrou a língua. Super maduro.

- Estou defendendo os fracos e indefesos. – Disse, empinando o nariz. Um sorrisinho marcando o canto de sua boca.

- YoonGi? Fraco e indefeso? – Fingi indignação. – Injustiça! – Falei alto, seguindo Jin, que se direcionava para sair dali. – Eu fui atacado! Foi legítima defesa. Eu que mereço proteção, justiceiro Jin. – Continuei falando, e ele soltou uma risadinha à medida que andávamos.

- Está bem, está bem. Desculpe, doeu? – Se virou quando entramos na escada que levava à varanda, ficando um degrau abaixo de mim e colocando a mão sobre o lugar que antes estapeara.

Olhei para ele, dançando o olhar por seu rosto, parando em suas orbes e sorrindo.

- Doeu. – Falei, sorrindo pequeno de lado. Deixei minha cabeça tombar para a frente, se aproximando um pouco da sua, abaixo de mim. – Faça algo sobre isso.

Ele alternou o olhar entre meus olhos direito e esquerdo, logo sorrindo pequeno, batendo de novo no mesmo lugar e saindo correndo escada abaixo.

Gritei um “volte aqui, moleque”, rindo enquanto corria atrás dele, passando pelo corredor do andar de cima, descendo a escada principal e cruzando a sala atrás de si. Saí na sua cola até fora da casa, passando na velocidade da luz por KyungSoo, que provavelmente estava entrando para nos chamar, deixando-o para trás com uma expressão assustada no rosto.

Jin ria alto quando consegui alcançá-lo. Ele estava a ponto de subir na caçamba, com TaeHyung e JungKook gritando enquanto tentavam ajudá-lo a ir mais rápido. Segurei sua cintura e o puxei, fazendo-o gritar enquanto eu o elevava, carregando-o com as costas em meu peito, a bunda em minha barriga, as pernas esperneando em companhia à suas risadas exageradas.

- Me solta, NamJoon! – Gritou, ainda rindo, quando eu o girei, apertando sua cintura num abraço.

- Nunca! – Falei, rindo também, alterado pela adrenalina. – Isso é pra aprender a não me bater. – Coloquei-o no chão, apertando sua cintura mais uma vez antes de soltá-lo. Me postei ao seu lado e baguncei seus cabelos, que estavam um pouco abaixo de mim por ele estar encurvado, ainda rindo, a respiração ofegante.

- Ué, não disse que nunca ia soltar, hyung? – A voz de Tae perguntou, de cima, divertida. – Eu queria ter visto isso, ia ser fofinho. – Elevei o rosto a tempo de ver Tae fazer um biquinho.

- Ia ser estranho. – JungKook se manifestou, entortando um pouco o nariz. – NamJoon hyung grudado o dia todo no SeokJin hyung? Ia encher o saco.

- Ué, mas não é exatamente isso o que acontece sempre? – JiMin perguntou, divertido, e eu revirei os olhos, mirando o Park numa careta.

- É verdade. – Hobi exclamou, apontando pra mim e soltando uma risada que daria inveja a uma égua, fazendo com que minha careta ficasse pior. – Eles estão sempre juntos, e eu nunca vi o Mon sorrir tantas vezes num dia só. – Quem segura o Cavalo? Eu bato.

- E quando você tenta falar com o SeokJin hyung? – Tae se manifestou, o sorriso de elfo demonstrando que ele não pretendia cortar o barato do namorado, e sim ajudá-lo. – O Mon hyung está sempre lá, rodeando. – Soltou a risada grave que em nada combinava com seu rosto e atitude de criança.

- Vocês estão zoando com o Mon? Pera aí que eu quero participar. – Todos se viraram para mirar Suga, que saía do banco de trás da caminhonete com a cara desinteressada, que contrastava com o brilho debochado no olhar.

Era só o que me faltava.

- Você não pode apenas se trancar no seu covil escuro, criatura das trevas? – Perguntei, meio brincando, meio sério. YoonGi curvou o canto da boca num sorrisinho debochado.

- Não. – Vamos socar o sorrisinho gengival de Min YoonGi? – Isso vai ser o troco, seu bosta. – E eu achando que ia sair ganhando pelo menos esta vez. Como sou inocente. Se for por treta, Min YoonGi socializa até com o sol, seu inimigo natural.

- Ei, Gi! – Hope interrompeu, sorrindo, quando Suga ia abrir a boca de novo. – Antes de começar o show, sobe aqui. Fica melhor se você estiver mais alto que ele. – Olha, HoSeok pode ter dito isso na maior inocência, querendo apenas ajudar, mas eu não contive a vontade de rir da cara de YoonGi quando Hobi disse aquilo. Ele não tocara na ferida, ele tacara uma pedra nela, e eu notei com alegria quando Suga se virou para HoSeok com um olhar um pouco assassino.

- Obrigado, Cavalo estúpido. – Disse, o clássico tom moderado que te acertava como uma nevasca, te fazendo querer se encolher num cantinho e morrer. – Pra encher alguém, você precisa ter moral pra isso. Se vocês não cooperam pra isso, não tem como encher o Mon. – Hobi se encolheu um pouco, como imaginei que seria sua reação ao tom de YoonGi, e eu estava rindo. Desculpem, mas eu estava rindo.

- Desculpa Gi... – Hope parecia um cachorrinho com o rabo entre as pernas quando falou baixinho o apelido que apenas ele usava com YoonGi. O mesmo não esboçou comoção por isso, mas o momentinho dos dois foi cortado (como sempre era cortado), por um Tae ciumento.

Olhem, TaeHyung tem muitas faces e emoções, e um humor facilmente mutável. Eu vira, em toda minha vida, todo tipo de reação e todo tipo de situação com essas emoções malucas, mas nada, eu repito: nada, deixa TaeHyung mais chato que o ciúme.

Ok, é verdade que YoonGi e HoSeok se pegavam? Sim. É verdade que às vezes parece que Hobi ainda gosta do Suga? Sim. Mas isso não é motivo pra não querer que o namorado nem fale com o YoonGi, né?

Tá, talvez um pouquinho, mas a cabecinha complicada e carente de Kim TaeHyung, como sempre, é extrema demais, e sempre dá merda.

Enfim, Tae abraçou Hobi possessivamente, olhando para Suga com os olhos semicerrados. Olhar este que o Min sustentou por um momento antes de fechar a visão, parecendo repentinamente cansado. Se virou e voltou para dentro do carro, todos os olhares o seguindo.

Não era novidade que aquela desconfiança por parte de Tae deixava Suga desconfortável. Nós três e JiMin havíamos sido criados juntos, éramos praticamente irmãos, e eu sabia que YoonGi guardava um pouco de rancor de Hobi pela chegada do mesmo ter estragado a relação dele com Tae desse jeito.

Não que Suga tenha me contado algo assim, ele não se abria sobre coisas sentimentais num geral, eu tampouco, então nossa relação sempre foi de extrema confiança e sem constrangimentos, porque não falávamos sobre “como estou me sentindo” ou algo assim. Mas eu conhecia YoonGi há muito tempo, sabia lê-lo e sabia que ele sentia falta de quando olhava para Tae sem receber uma careta em resposta.

Eu sinceramente não tinha muito a ver com isso, mas incomodava até a mim essa distanciação dos dois. Mesmo que antes eu não pudesse dizer nada, porque todos havíamos brigado com JiMin, e eu fora o mais radical nisso.

Quando a porta do carro se fechou, deixou para trás um ambiente silencioso. HoSeok não se livrara do abraço de Tae, mas tampouco o correspondia; olhava  para o chão com a expressão vazia. JungKook parecia estar tentando entender o que estava acontecendo, de pé ao lado de Tae e Hope. JiMin, que estava sentado na elevação da roda na caçamba desde o começo da história, olhava para o nada, parecendo entre o preocupado e o cansado.

Mirei a expressão de HoSeok, que parecia não ter vontade de se mexer por um tempo. Suspirei, cansado, e senti a mão leve de Jin em meu ombro, assim como a aproximação do mesmo.

Virei minimamente o pescoço para capturar seu olhar, que me mirava meio perdido, meio interrogativo. Sua expressão dizia “está tudo bem?”. Sorri pequeno, e acenei fracamente. Se ele me perguntasse, eu contaria o drama, mas sinceramente não queria quebrar a cabeça com aquilo, muito menos com sua respiração tão próxima de minha mandíbula, enviando choques por todo meu corpo.

- Ué, que silêncio. Alguém morreu? – A voz de JongIn soou risonha, e todos olhamos para ele e KyungSoo, que se aproximavam juntos, com a casa trancada atrás de si.

Esbocei um pequeno sorriso, que foi oferecido de forma fraca por JiMin também. Hope pareceu sair de seu torpor, e tentou sorrir também. Tae não sorriu. JungKook tampouco. Jin mirou-os com a expressão serena de sempre.

- O humor de Suga, talvez. – Respondi. – Mas está tudo bem. Vamos? – Falei, e todos pareceram lembrar que estávamos nos arrumando para sair dali.

JiMin e JungKook toparam ir dentro da caminhonete, já que nenhum dos dois era alvo de Suga no momento. KyungSoo se postou no banco de acompanhante, como Suga disse que faria. Eu, Tae, Hobi e Jin, ficamos na caçamba.

Eu não queria ir ali. O vento incomodava, Tae e Hope provavelmente começariam a discutir em breve, e eu queria dormir. De preferência não na caçamba dura, fria e sacolejante de uma caminhonete.

O casal sentou na área mais próxima da cabine, Tae de pé, Hope sentado. Eu me deixei cair no outro extremo da caçamba, encostando as costas na lataria dura e soltando um grunhido. Jin parou de pé próximo de onde eu estava, parecendo meio hesitante. Olhei para cima, esboçando um sorriso e puxando-o para se sentar ao meu lado. Os dois ali na frente estavam muito ocupados com os próprios problemas para prestar atenção na gente, e eu não via motivo para não deixá-lo ficar por perto. Pelo menos uma coisa boa podia sair dessa furada.

 Jin se deixou sentar, e se mexeu um pouco hesitante ao meu lado, olhando para o casal à nossa frente, que não se falavam, o clima meio pesado.

- Por que Tae tem ciúmes de YoonGi ah com HoSeok ah? – Perguntou baixinho, aproximando o rosto de minha orelha para perguntar. Olhei-o um pouco surpreso, mesmo que não fosse difícil deduzir o que estava acontecendo ali, me surpreendi por ele ser tão perceptivo, sendo que sempre parecia estar meio no mundo da lua.

Olhei para Tae, que olhava dura e fixamente para a frente enquanto o carro se dirigia para longe da casa que eu desejava não voltar novamente. Em seguida, desci o olhar para HoSeok, que parecia pensativo e um pouco nervoso. Eu sabia que ele logo iria reclamar com Tae pelo ciúme excessivo e “sem fundamento” (segundo ele), Tae iria gritar com ele e começar a chorar, e ia sobrar pra mim ficar servindo de conselheiro amoroso de todo mundo.

Se eu quisesse ficar ouvindo os problemas dos outros, tinha virado padre.

- O Suga e o Hobi ficaram um tempo. – Justifiquei, sussurrando também, soltando um risinho soprado quando ele se arrepiou. Jin me olhou, parecendo meio surpreso. – Foi antes de Tae e Hope namorarem, mas os ciúmes de Tae continuam até hoje. – Concluí, gesticulando abertamente para os dois, tentando falar sem que eles me ouvissem, o que era fácil, já que estávamos atrás deles e o vento levava nossa voz embora.

Jin olhou para os dois com o cenho levemente franzido, logo virando para mim de novo.

- Mas eles não namoram há mais de dois anos? – Perguntou, parecendo não conseguir entender de onde vinha aquele ciúme descontrolado. – HoSeok ah já deu motivos para Tae não confiar nele? – Perguntou, virando para mim com aquela expressão de estar tentando entender algo e não conseguir fazê-lo.

- Não que eu saiba. – Dei de ombros, desviando com dificuldade o olhar do seu, para aparentar mais desinteresse. – E acredite, eu saberia. TaeHyung me manda print das conversas com Hobi quando não tem ninguém pra atormentar. – Falei, torcendo o nariz. Tae me contava todo tipo de coisa, sem a menor vergonha na cara como sempre, mas o ponto era: se me pagassem para ser especialista em algo, isso seria o relacionamento daqueles dois. De vez em quando Tae se empolgava tanto que me contava quantas vezes cada um gozou numa transa.

Não era agradável.

Jin analisou minha expressão, soltando um risinho a seguir. Virei o rosto para mirá-lo, e senti o coração falhar uma batida quando encontrei aquele sorriso dirigido a mim de novo.

Vai pra puta que pariu, seu músculo central, você pareceu uma pedra fria por toda a minha vida, agora decidiu parecer o coração de uma pré-adolescente?

- De qualquer forma, logo eles vão começar a brigar. – Disse, desviando o olhar para os dois, sentindo Jin me mirar.

Ele fez um biquinho pequeno, olhando para os dois.

- Ah, eu queria dormir. – Resmungou com a voz harmoniosa e baixa, me fazendo elevar um pouco as sobrancelhas.

- Eu também. – Joguei a cabeça para trás, fechando os olhos e sentindo o vento levar meus cabelos para trás. Suspirei pesadamente e elevei um pouco a cabeça, olhando para ele com o canto dos olhos, esboçando um sorrisinho pequeno. – Queria matar alguém quando me mandaram vir pra cá pra trás. – Falei, fazendo o começo de uma careta. Jin soltou um risinho.

- Eu talvez não estivesse planejando uma morte, exceto a das minhas costas se eu dormir aqui. Mas sim, eu não tenho a caçamba como primeira opção para um cochilo. – Disse, me fazendo soltar um riso meio surpreso pelo humor repentino. Ele tinha momentos de gracinhas, mas estes vinham do nada, e não tinham uma freqüência padrão. Sempre me surpreendiam.

Como quase tudo nesse garoto.

Era tudo tão novo – e se não novo, preenchido do brilho fascinante das coisas novas –, tão interessante até o último pedacinho, e ao mesmo tempo tão familiar, como se cada célula de meu corpo já reconhecesse Jin.

- Quer fazer uma parceria? – Sugeri antes que pudesse impedir a mim mesmo. Ele me olhou, interrogativo. – Você me usa de travesseiro, eu te uso de travesseiro. – Disse, indicando meu ombro e em seguida a cabeça dele. Ignorei casualmente a vozinha em minha cabeça que ficava me alertando, me mandando não abusar tanto do limite de segurança. – Pensei que com você pudesse funcionar, já que tem quase minha altura. Nas vezes que tentei com JiMin, fiquei com o pescoço doído por uma semana.

A expressão que exibia um pouco de confusão e surpresa disfarçadas foi substituída por um sorriso complacente, e eu agradeci por ter adicionado àquilo à fala, tornando-a mais casual e menos vergonhosa.

   Jin olhou hesitantemente para o casal, que parecia sequer se importar com a nossa existência ou com a do outro e em seguida olhou para mim, a pergunta em seus olhos. Olhei para sua boca colada e esticada num pequeno grau de apreensão. Foi quando mirei seus olhos que entendi que a hesitação era total e completamente por mim, e me senti um pouco culpado, me perguntando também se, se não fosse por toda a minha confusão, Jin seria menos cauteloso com gestos assim – que podiam ser trocados até por amigos, em minha opinião, mas que com ele pareciam perigosamente...íntimos.

Acabei por soltar um só riso pelo nariz, dando de ombros, para expressar o tremendo “FODA-SE” que eu estava jogando para tudo aquilo.

Jin me olhou com olhos curiosos como sempre, vasculhando minha expressão antes de esticar discretamente os lábios. Ele endireitou-se um pouco mais perto de mim, nossos braços se encostando em quase toda a sua extensão, e jogou a cabeça lentamente sobre meu ombro, fechando os olhos com um sorrisinho estampado nos lábios carnudos.

Olhei-o por um momento, encarando distraidamente seu rosto, passando a visão por cada uma das feições cujas quais eu não me achava capaz de cansar. E, quando finalmente fechei os olhos, tombando a cabeça sobre a sua, suspirando satisfeito pelo cheiro de seus cabelos perto de mim, seu rosto surgiu, em cada mínimo detalhe, dentro de minhas pálpebras, que estavam claras o suficiente para que, em outra ocasião, me mantivesse acordado por uma eternidade, mas que, com Jin respirando calmamente abaixo de mim, e a pele queimando em todos os lugares em que tocava a branquinha dele, consegui aos poucos cair num sono leve, como ondas calmas batendo na areia num fim de tarde; relaxante e bonito. Não exatamente silencioso, mas pacifico. Sem sonhos.

 

 

 

Sabe quando você sente que não devia estar naquele lugar, naquela situação, naquele momento? Como se estivesse tudo errado, e você se pergunta por que diabos está passando por aquilo?

Foi mais ou menos o que eu senti quando acordei, alertado por um ofego surpreso de Jin. Não, não me canso de me surpreender com a facilidade com que essa criatura me acorda.

Abri o olho esquerdo com uma careta, ainda meio dormindo, apenas para entender o que estava acontecendo. A única coisa que vi a princípio foi um par de pernas roliças enfiadas numa bermuda, os pés calçados num Nike branco e azul. Eu sabia de quem era aquele tênis, mas isso não quer dizer que gostei de levantar o olhar e encontrar Park JiMin inclinado sobre mim com o sorriso mais satisfeito e malandro do planeta.

- Bom dia, hyung. – Falou, apertando os olhos quase inexistentes num sorriso. JiMin tinha as mãos sobre os joelhos, e estava inclinado sobre eu e  Seok de modo que tapava qualquer visão de algo atrás de si.

Nem cheguei a franzir o cenho, coisa que considerei muito empenho no momento. Ainda mirando Park como se ele fosse um alienígena verde, foquei minha atenção interna à cabeça que ainda repousava sobre meu ombro. Meu queixo era o único que ainda tinha um leve contato com os fios escuros de Jin além de meu pescoço, onde os mesmo faziam cócegas leves. Ele estava claramente acordado, considerando que se assustara com JiMin e que sua respiração já não estava ressonante.

Desviei o olhar de JiMin para o colo de Jin, encontrando seus dedos tortos movendo-se uns sobre os outros, o único movimento que ele fazia. Sobre sua coxa esquerda, muito mais chamativo que seus dedos, estava a cabeça laranja de TaeHyung.

O garoto tinha se encolhido no chão, usando Jin como travesseiro. Olhei para as lagrimas secas em suas bochechas, e me perguntei desde quando ele estava ali – e quando brigara com Hobi, evento que eu apostaria ter sido o motivo das lágrimas.

A mão de Jin foi para a cabeleira de Tae, fazendo um carinho singelo em seu rosto e fios. Movi o ombro levemente, conseguindo o que queria quando Jin retirou a cabeça dali, desviando os olhos de Tae e olhando para mim.

Mirei-o por um momento mínimo, ficando um pouco nervoso com a proximidade de seu rosto, mas nada fazendo para afastá-lo. Indiquei Tae com o queixo, levantando a sobrancelha, numa pergunta.

Ele olhou para o garoto adormecido, e em seguida para mim, respondendo à minha pergunta:

- Eles brigaram. – Disse, como se justificasse tudo, e de fato justificava, além de confirmar minhas suspeitas. Olhei para Tae e fiz uma careta, sem saber se me sentia aliviado ou incomodado por não ter ouvido a troca de gritos que Tae e Hobi certamente tiveram na viagem. Eu sei que não queria ouvi-los brigando, mas era sempre bom ter uma visão imparcial dessas discussões, ao invés dos apelos mimosos (e absurdamente HoSeok-culpáveis) de um TaeHyung choroso.

- O que está fazendo, hyung? – A voz de JungKook soou atrás de mim, fora do carro. Senti o garoto apoiando os braços ao lado de minha cabeça.

JiMin estalou a língua, olhando além de mim, para o namorado.

- Eu desisto de tentar me comunicar com esses dois. – Falou para o Jeon, mesmo sem responder à pergunta dirigida a si, soando um pouco magoado, não que eu tenha me importado muito. – Eles estão sempre conversando entre eles e me ignoram. E o pior é que eu nem entendo o que eles estão falando!

Desviei o olhar de Jin, levantando uma sobrancelha para o baixinho que fazia um drama completamente desnecessário à minha frente.

- Me desculpe, JiMin ah. – A voz suave de Jin foi a que soou, e eu olhei para ele com o canto dos olhos. – Responda a ele, NamJoon. Seja educado. – Acrescentou, olhando para mim e me dando uma pequena cotovelada.

Olhei-o em protesto, torcendo o nariz pelo golpe que não doera de forma alguma.

- “Bom dia” é uma frase retórica. Eu não sou obrigado a responder, muito menos pra essa coisa gorda que fica me enchendo o saco. – Respondi, em tom indignado, vendo Jin curvar as sobrancelhas bem desenhadas numa expressão reprovadora, os lábios se esticando numa linha fina.

- Tudo bem, SeokJin hyung. – JiMin interrompeu quando Jin abriu a boca para brigar comigo. – O hyung sempre fala essas coisas, e eu consegui compensações para a grosseria do Monster. – Assim que ele encerrou a fala travessamente, o sorriso brilhante e um tanto malandro, eu estremeci. Lá vinha merda.

JiMin deu um passo para trás, pegando o telefone do bolso e mostrando orgulhosamente por volta de quinze ou vinte fotos. As primeiras (que deviam ser as últimas tiradas) eram todo o tipo de ângulo de mim e Jin dormindo um pouco antes do momento em que estávamos. Logo vieram umas que claramente foram tiradas de dentro da cabine, com a camiseta de Tae aparecendo no canto de todas, de eu e Jin conversando. Eu não tinha percebido o quanto aquela troca de cochichos deixava nossos rostos próximos.

As últimas eram de mim e Jin na varanda da casa do velho. Digo: as últimas que eu vi, porque pelo jeito, JiMin tinha toda a minha vida fotografada.

Num impulso impensado, avancei sem me levantar para tentar pegar o telefone, mas JiMin havia antecipado isso: não estava perto como de modo que eu pudesse alcançá-lo apenas com a extensão de meu braço, e eu me limitei a oferecer-lhe uma careta contrariada antes de sentar como antes e olhar para Jin.

O garoto estava mirando o fundo da caçamba de metal, parecendo alheio à movimentação ao seu redor.

JiMin cantarolava algo bastante irritante, alegre e repetitivo, balançando o celular como se fosse um troféu. Encarei-o duramente, seu sorriso apenas aumentou.

- JiMin. – A voz de JungKook soou um pouco autoritária atrás de mim. Não me virei. – Pare de provocar os hyungs e ajude com as coisas. – JiMin concordou, mesmo sem retirar aquele sorriso satisfeito do rosto. Saltou para fora da caçamba com a agilidade de um gato, e se dirigiu à parte frontal da caminhonete. – Mon hyung. – Olhei para Jeon, que falou me apelido com certa hesitação. Achei engraçado vê-lo daquele jeito. Ele, que sempre fizera parecer inabalável. – JongIn hyung pediu a chave. Da casa, você sabe.

Foi apenas quando ele disse isso que eu notei onde estávamos – em frente à minha casa, em Seul. Quanto tempo eu dormira?

Olhei para os arredores. A rua estava calma como sempre, minha vizinha regava suas plantas enquanto falava com as mesmas, como de costume. O vizinho do outro lado estava na janela, fumando, e acenou quando pousei os olhos sobre ele.

Me esforcei para lembrar de como se movia minhas pernas, que estavam formigantes e adormecidas por terem ficado tanto tempo uma sobre a outra no piso irregular e duro. Elevei o corpo o suficiente para pegar o molho de chaves em meu bolso, estendendo-o à JungKook sem olhá-lo, que me agradeceu e correu até a porta da casa, onde KyungSoo e HoSeok esperavam com algumas mochilas nos braços.

Me levantei, me inclinando sobre Jin para ajudá-lo a levantar também, que entendeu o chamado e levou as mãos ao ombro de Tae, sacudindo-o delicadamente, chamando-o para a vida. O garoto acordou num gemido manhoso, como se pedisse para Jin deixá-lo dormir mais um pouquinho. Agradeci aos céus de ter sido manha, e não resmungos mal humorados o que saíram do bico de Tae durante toda a luta que foi para sair dali.

 - Ok, então Mon e SeokJin vão pro quarto do Mon. – JongIn falou enquanto eu o encarava com tédio e uma pitada de “por que isso está acontecendo comigo?”. Ele ditara que Ele e KyungSoo ficariam no quarto de minha mãe e que o restante teria que se virar na sala.

Levantei a mão, pedindo a palavra, cansado. JongIn acenou com a cabeça, me falando para prosseguir.

- Quem organizou isso? – Eu tinha uma leve suspeita sobre aquilo, mas estava sem animo para brigar com noventa por cento das pessoas ali.

- Regras da nonna. – Kai encolheu os ombros, me olhando como se pedisse desculpas. – Ela disse que podemos ficar todos aqui, que o quarto dela é todo meu e de Kyung se ‘seu bebê’ não o quiser. Não sei de quem ela estava falando. – Deu de ombros. – Mas ela deixou bem claro que quer você e SeokJin juntos, sozinhos.

Na metade do relato de JongIn, eu já deixara sair a respiração da forma mais desanimada possível, levando com ela minhas esperanças de ser deixado em paz. Não que eu não gostasse da companhia de Jin. Gostava até demais, mas as conseqüências disso, principalmente as chamadas “JiMin”, “TaeHyung” e “mãe”, me deixavam dividido, e consequentemente, cansado.

- Eu quero o quarto. – Tae se manifestou. Seu tom foi ácido, e eu tinha certeza de que isso era para que Hobi entendesse o recado. “Não vou ficar perto de você”.

JongIn olhou para Tae um pouco confuso, logo me mirando e em seguida Tae de novo.

- Por que o bebê da sua mãe é o V e não você? – JongIn, como quase todas as pessoas de fora de nosso ‘círculo’, chamavam Tae pelo apelido popular, que supostamente vinha de “Vitória”, mas que eu e Suga costumávamos brincar, dizendo que vinha de “viado”.

Dei de ombros à sua pergunta. Era algo que eu mesmo me perguntava às vezes, mas como eu mesmo considerava Tae meu irmão caçula, não tinha muito problema com sua relação com minha mãe.

- Tae. – Chamei, prestando atenção em algo um pouco mais importante que aquilo. O garoto me olhou. – Deixe os hyungs no quarto da mãe. Você dorme comigo e com Jin se ainda estiver ignorando o Hobi quando formos dormir. – Falei desinteressado, fazendo com que todos me olhassem.

Tae me mirou um pouco irritado pela forma que falei de seu desentendimento com Hope. JiMin me olhava com a boca aberta, mas foi Suga que se manifestou:

- Meu, o Mon é a pessoa mais frouxa que eu conheço. Puta que pariu, tá o universo inteiro te dando verde pra avançar no crush e você chama o Tae pra dormir junto? – Eu devia saber que YoonGi nunca mais dirigiria uma palavra pacífica à minha pessoa.

Respirei fundo de forma discreta, me virando para o branquelo.

- Sim, por quê? – Perguntei, sem expressão. Eu estava sincera e totalmente de saco cheio daquilo. Não estava exaltado, longe disso, apenas me sentia infinitamente cansado. Cansado das zoeiras de JiMin, dos deboches de Suga, das briguinhas de Tae que sempre sobravam para mim e, principalmente, de ficar me segurando e negando o que todo o meu corpo e alma queriam e pensavam.

Minha resposta dura deixou YoonGi sem resposta, o que me alegrou, mesmo que eu não tenha demonstrado isso.

Finalizado o assunto, me afastei a passos calmos do grupo que se encontrava no pé da escada quando começaram a discutir as acomodações. Eu estava meio cansado daquele monte de gente, e principalmente, queria pensar. Sozinho.

Saí para a rua calma, andando uma dúzia de passos antes de ouvir outros correndo atrás de mim. Joguei a cabeça para trás, continuando a andar, fechando os olhos sob o brilho avermelhado do fim da tarde. Suspirei, o ar estava quente e úmido, estávamos em pleno verão, afinal.

Ainda mantinha os olhos fechados para o alto quando a passada que eu passara e reconhecer me alcançou. Pisadas fortes com a direita, mas um pouco mais delicadas com a esquerda, era assim que ele se movia.

Mesmo que eu tivesse ido ali para ficar sozinho e soubesse que meus amigos não iriam me seguir por saber lidar com esses meus momentos: me deixando em paz, eu fiquei feliz em saber que ele não se importava com isso, mesmo que devesse sentir o contrário. Talvez, de certa forma, eu estivesse esperando que ele me seguisse quando saí de lá. Provavelmente.

Baixei o rosto, abrindo os olhos para o caminho que fazíamos lentamente. Não olhei para a figura ao meu lado, eu a conhecia bem o suficiente para saber exatamente como se parecia naquele momento. Ele tampouco levantou o rosto ou falou, seguimos em silêncio, mas sua simples presença parecia deixar tudo mais interessante, mais vivo.

Soltei um risinho fraco, balançando a cabeça por meus próprios pensamentos. Eu estava completamente entregue a ele, então?

Eu havia decidido. De repente estava tudo claro e liso; sem obstáculos.

Senti Jin me mirar curiosamente, como se quisesse saber o motivo de meu riso, mas também como se não soubesse se devia perguntar.

Não respondi à pergunta não feita, mas falei, me dirigindo a ele, mesmo sem o olhar:

- Quer ver uma coisa legal? – Perguntei. Senti-o me mirar mais curiosamente ainda, e deixei o canto de minha boca se curvar num sorrisinho.

- ...Ok. – Ele respondeu após um pequeno silêncio. Não tinha emoção em sua voz, ele parecia estar tentando entender o que estava acontecendo.

Assim que recebi sua confirmação, não pestanejei em agarrar sua mão e puxá-lo, correndo a toda velocidade, rindo de seu susto.

Eu não estava ligando para muita coisa; a sensação do vento atravessando minhas roupas finas e mexendo os cabelos que já estavam mais compridos que o normal, as raízes negras se destacando no loiro platinado do resto dos fios, junto da sensação quente da mão de Jin na minha, retribuindo fortemente ao meu toque, mesmo com suas reclamações, me parecia a única coisa digna de atenção no momento.

Eu me senti bem correndo, mesmo que nunca tenha sido particularmente fã de coisas assim. Me senti bem sabendo que estava me afastando do grupo que tinha me rendido todas as dores de cabeça nos últimos dezessete anos da minha vida, deixando-os por sua conta por um momento. Me senti bem com a tensão dos músculos de minhas pernas, do braço que puxava o tropeçante Jin. Me senti bem com o calor que continuava ali mesmo com o sol já dando adeus.

Me senti bem porque fazia tempos não me sentia tão bem. Talvez nunca.

Dobrei à direita numa quadra, correndo por uma rua ladeada de árvores frondosas e antigas, seguindo por ela por mais duas quadras; dobrei à direita de novo, e então à esquerda; segui em frente, sempre correndo. Jin estava ofegante atrás de mim, mesmo eu sentia meus pulmões pedindo por clemência.

Não parei. Apertei o passo quando vi, ao longe, onde queria chegar.

O paredão, era o nome que os jovens passaram a chamar o lugar, que era, literalmente, um paredão, o último de pé do que antes havia sido um depósito qualquer. Naõ o último, pois o oposto à ele ainda tinha alguns míseros cinqüenta centímetros de altura. Chamávamos de ‘o paredão’ e esquecíamos o pequeno, como sempre fazemos com coisas pequenas.

Talvez pelas árvores grandes que o cercassem, talvez por estar meio fora de caminho, talvez pelos pedaços de parede acomodados através dos anos como algo próximo de bancos, aquele lugar era consideravelmente requerido por grupos de amigos desocupados ou skatistas frustrados pela falta de rampas no bairro (que, contando com a pequena da praça, eram uma no total).

O ‘paredão’ era um muro cuja altura deveria ser quatro metros e meio, talvez um pouco mais, com todos os tipos de artes em cima: mosaico, grafitte, colagem, pichação, caneta, carvão, marcas de sapato... Alguns desses materiais – como pedaços de carvão e latas de tinta aerossol – estavam jogadas no chão ali. Mas não era no paredão que eu estava interessado no momento.

Bem, sim nele, mas não como parede, como caminho; escada, algo que levava a algo mais.

Estava quase na hora, se não fossemos rápido, não daria tempo.

Não soltei a mão de Jin em nenhum momento.

Apressei o passo pelo pequeno pátio que tinha ervas daninhas crescendo, encontrando caminho por entre o concreto, sempre rebocando Jin, que tropeçava atrás de mim. Minhas passadas eram largas, e mesmo que ele tivesse as pernas quase tão compridas quanto as minhas, não conseguia me acompanhar bem.

Conduzi Jin ao canto mais distante do muro solitário, que se erguia melancolicamente por entre as árvores do terreno sem dono. Ali, saltando por entre os restos amontoados de seus falecidos irmãos, encontrei o caminho conhecido para subir no muro.

Tive que ajudar Jin a subir, apesar de ser fácil: ele estava ofegante, quase desesperadamente, eu diria. Ia me matar assim que conseguisse se concentrar em algo além de seus pulmões desacostumados.

Sempre segurando sua mão firmemente e pressionado pela urgência do tempo, consegui fazer com que Jin me seguisse se equilibrando pelo alto irregular do muro de tijolos. Andei pelo estreito caminho que me mantinha ali encima, temendo que Jin se desequilibrasse, arquejando como estava.

Me sentei onde sempre me sentava para fazer aquilo, em meu particular ponto de vista que sempre passava despercebido pelos outros que ali freqüentavam. Mirei Jin com um pedido de desculpas nos olhos, recebendo uma careta ofegante de sua parte antes de puxá-lo pela mão, nunca soltada, para se sentar ao meu lado. Nossas pernas balançando, lado a lado, no vazio.

- Ali. – Apontei para a nossa frente, onde convenientemente não havia construções grandes o suficiente ou árvores para tapar o espetáculo como em quase todo o resto da cidade.

Ele seguiu o olhar para onde eu indicava, e ofegou, semicerrando um pouco os olhos pela luz inesperada. Acho que não estava muito preocupado para que lado o sol estava antes, ocupado demais em tentar não se esborrachar no chão; me senti um pouco culpado.

Olhei para seus olhos, cujo castanho escuro refletia o avermelhado que tomava seu rosto e cabelos. Por um momento, me perdi, perdi meu ponto de equilíbrio, esqueci de como se movia ou como se falava, esqueci da luz que dizia adeus de forma tão gentil e rápida, apenas olhando para aqueles olhos, que não me miravam, miravam o horizonte, igualmente hipnotizados. O rubro queimava suas orbes, incendiando tudo numa cálida e gentil última luz, queimava tudo, incitando tudo a queimar consigo.

Senti o calor de seus olhos, mas ele não estava apenas neles agora; estranhamente, escapara para onde minha mão se entrelaçava com a dele – como fizera isso? –, escapara para meus braços, que pareciam se aquecer com aquela queimação fraca, boa, gentil. Escapara e seguira, preenchendo cada centímetro de meu corpo. Por que estava tão particularmente centrado no meio de meu peito? Era bom, dolorosamente bom, me fazia querer gritar de frustração e gargalhar ao mesmo tempo. Mas, principalmente, me fazia querer amenizar, dar ao calor o que ele queria: seu complemento.

Jin, durante meu pequeno devaneio, olhara fixamente para o horizonte, onde agora apenas um frestinha brilhante do astro rei se fazia visível. Ele suspirou, fechando os olhos, me desconcentrando por um momento. O fogo não estava mais nos olhos dele, como o sol, que sumira atrás da cidade, mas eu ainda me sentia queimando, por quê? Jin curvou a boca bonita num sorriso singelo, puxando a respiração, há tempos compassada, para falar.

- Eu estava planejando mil formas de te matar depois daquela correria, NamJoon. – Começou, a voz soando um pouco estranha depois de tanto minutos de silencio de ambos. – Mas isso realmente foi legal. – Completou a fala, virando finalmente o rosto para me mirar, os olhos faiscaram travessos, acompanhados de seus sorriso. Sorriso esse que morreu aos poucos quando ele analisou minha expressão. – NamJoon...? – Sussurrou, parecendo desistir de falar o que quer que estivesse planejando dizer.

- Deixa eu te mostrar outra coisa legal? – Perguntei, respirando com um pouquinho mais de dificuldade. Não fora pela corrida. E não, eu não estava tentando fugir, não desta vez.

Antes que ele pudesse reagir, soltei sua mão, sentindo a minha dolorosamente vazia, suada e fria. Apoiei ela e a canhota no muro em que estava sentado, e me lancei para a frente, saltando do muro um pouco mais alto do que seria cem por cento saudável para minhas pernas cansadas.

Tropecei minimamente. Me virei. Sorri.

Jin havia se assustado com minha ação repentina, mas não tanto quanto se assustaria se não me conhecesse. Fez uma careta quando estendi os braços, sugerindo o que certamente não lhe agradava.

- Ora vamos, Jin. – Sorri um pouco, tive que me esforçar para isso, mesmo que estivesse feliz; o aperto em meu peito parecia insuportável, o calor irrompia por todo o meu corpo, me preenchendo. – Já fizemos isso antes. – Completei, mexendo os dedos de meus braços abertos, chamando-o.

- Já. Mas eu nunca disse que ia repetir. – Respondeu, a mesma careta que parecia gostar de sua cara.

- Princesa, não dificulte as coisas... – Falei, estendendo os braços, como que para reafirmar minha oferta.

- Eu vou descer pelo outro lado, espere aí... – Disse ele, me ignorando, se esforçando para ficar de pé no muro estreito.

- Jin. – Interrompi seu movimento enquanto ele se virava para caminhar. Ele virou o rosto para mim, um pouco relutante. – Pule. – Falei, simplesmente, olhando-o sem expressão. Está queimando, faça parar.

Suas bochechas inflaram, e ele abriu a boca para retrucar. Pule. Pedi de novo, calando-o. Ele me mirou um pouco raivoso, mas ficou de frente para mim, olhando para baixo com medo relutante.

Eu vou estar aqui. Nunca vou te deixar cair.

Ele inspirou fundo, fechou os olhos, e pulou.

Não pude deixar de sorrir quando senti seu pouco peso sobre meu corpo, sobre meus braços, sobre minhas pernas. Como da última vez, eu o agarrei firmemente, não o deixei cair.

Seus braços automaticamente se enroscaram em meu pescoço, seu rosto se escondeu na curvatura de meu pescoço, seu tronco estava todo colado ao meu, e por um momento, eu o mantive completamente fora do chão.

- Te peguei. – Sussurrei, e ele acenou uma vez com a cabeça antes de erguê-la.

Ele me mirou por um momento, os olhos escuros vazios, me analisando. Estaria vendo ele vendo o calor que estava me queimando por dentro, fazendo minhas células gritarem, gritarem em direção a ele?

Ele tinha visto, estava vendo. Eu podia ver seus olhos começarem a queimar de novo, dessa vez não pela vermelhidão do poente de nossa estrela central, mas pelo estranho sentimento que eu já vira queimar em seus orbes antes, apenas dois dias antes.

Ah, era isso. Os meus olhos estavam daquele jeito também? Inundados até o limite daquela mistura de emoções ardente? Quantas havia ali? Desejo, carinho, curiosidade, hesitação, teimosia, insegurança, esperança, medo... tinha eu tanta infinidade de sentimentos num só olhar? Pareceria tão encantador com eles quanto Jin parecia? Tão bonito? Disso eu duvidava, eu estava num ponto mental onde já não conseguia imaginar alguém mais bonito que ele, nenhuma mulher que eu já tivesse visto tinha me parecido tão impossivelmente linda. Eu já estava completamente ferrado.

Jin se aproximou alguns centímetros de mim, consciente disso ou não, eu não saberia dizer. Fitei-o enquanto ele me fitava, e soube que ao mesmo tempo, ansiei-o como ele me ansiava.

Olhei para aquele rosto bonito, preenchido de uma expressão ainda melhor, repleta de cada uma de suas delicadas e curiosas características e expirei. Baixei o olhar ao fazê-lo, usando esse meio segundo para explodir em toda a coragem e idiotice existentes em minha pessoa.

- Foda-se. Eu cansei. – Foi o que eu disse ao levantar a cabeça para mirá-lo, sabendo que ele entenderia, assim como entenderia o que eu quis dizer com o beijo que lhe dei a seguir.

 

Eu achei que, tendo beijado Kim SeokJin uma vez, eu estaria preparado para uma segunda.

Não podia estar mais errado.

Nossos corpos estavam juntos, seus pés encostavam no chão por enfeite, seu apoio era eu. Suas mãos estavam em meus ombros, as minhas, em sua cintura. Nossas bocas estavam juntas, como eu sentia que deviam estar há tempos. Nossas consciências estavam no espaço sideral, junto de minha heterossexualidade.

Como se isso remotamente importasse no momento.

Nós dois fecháramos os olhos ao encontrarmos a boca alheia, ele, um pouco mais tardiamente que eu pelo pequeno – e não verdadeiro – susto.

Eu e Jin queimávamos num incêndio particular. Ninguém podia interromper, nada podia impedir, porque era algo tão absoluto quanto todas as leias da natureza, como todos os dias em que o sol nasce no horizonte, ou todas as folhas que secam no outono: seu corpo no meu, parecia tão certo que eu não conseguia imaginar como faria para não me sentir um pouco incompleto quando ele não estivesse por perto.

Jin era um garoto grande, mais alto que a média, e seus ombros eram largos, mas ele parecia surpreendente pequeno perto de mim, e eu nunca havia encontrado alguém que se encaixasse tão bem em meu abraço: sua cabeça parecia feita para se encaixar em meu ombro, sua barriga lisinha parecia não pesar sobre meu tronco – não pesava, mas aquecia e tomava seu lugar –, sua cintura acomodava minha mão de forma que elas simplesmente pareceriam erradas fora dali. E aquela boca na minha, ah, não tinha nada igual.

Nossas línguas pareciam se conhecer tão bem quanto o resto de nosso corpo: encaixando-se perfeitamente, felizes por não estarem mais sozinhas. Eu suguei seu lábio inferior num gesto desesperado de conseguir nos aproximar mais. Aquilo não parecia certo, o calor ainda queimava meu peito, assolando todo pensamento e controle, em nada se amenizando na dor como eu queria. Ele parecia pedir mais, mais perto, mais contato, nada parecia o bastante.

Jin me correspondia igualmente afobado, ofegava enquanto complementava o ósculo, acompanhando minha língua com uma graciosidade desesperada, faminta.

Nós dois queimávamos. Nós dois sentíamos dor, dor e alívio, ambos bons, ambos incômodos e presentes, mas nos lembrando de um fato óbvio, que não podia ser melhor: a espera havia acabado, nada mais de anseio ou medo, podíamos nos tocar, estávamos ao alcance.

Soltei seus lábios num estalo, respirando fortemente, vendo-o puxar o ar um pouco depois de mim, interrompendo sua ação ao colar sua boca inchada e vermelha à minha novamente. Apertei mais sua cintura – se é que isso era possível – com a mão esquerda. A direita apertava seu rosto quente com firmeza, puxando-o para mais perto.

Seus dedos estavam enroscados em meus cabelos, puxando-os, me apertando a ele tanto quanto eu o apertava a mim. Ele passou a língua por meu lábio inferior, logo levando-a de encontro de volta para a minha, que a ansiara absurdamente nessa fração de segundo de separação.

Rocei meus dentes aos seus mais vezes do que posso contar, completamente desesperado. Nem mesmo nos momentos sexuais mais luxuriosos de minha vida eu havia perdido tanto o controle por um corpo, por uma boca, por um rosto.

Mordi seus lábios juntos, e ele gemeu baixinho, apertei-o mais contra mim, selando várias vezes sua boca inchada e fortemente rosada, num consolo – não um pedido de desculpas, porque eu tinha feito de propósito, e havia sentido mais satisfação do que sentia que deveria com sua pequena reclamação.

 Ele abriu os olhos escuros quando me afastei por tempo o suficiente de seu rosto para que ele sentisse falta – como eu – do contato de nossas bocas. Mirei-o, já de olhos abertos há um tempo (não que eu estivesse prestando muita atenção no que meus olhos faziam).

Selei sua boca de novo, e então seu nariz e sua testa. Ele se encolheu um pouquinho, eu sentia o calor emanar de suas bochechas.

Abaixei um pouco o rosto, selei seu maxilar, mirei-o de novo. Eu sentia o fogo se acalmando – não fugindo, mas se guardando dentro de nós dois –, esfriando, mas a expressão em seus olhos em nada era fria. Fiquei feliz por isso, eu gostava daquela expressão, por algum motivo, me enchia de ânimo, e algo parecido com esperança.

Esperança de que eu não fosse o único perigosamente entregue ali.

Desci a mão de seu rosto para sua cintura, apertando-a firmemente, colando mais os troncos que haviam se separado em questões de milímetros.

Abaixei um pouco o rosto, fechando os olhos ao suspirar brevemente, os cantos de minha boca se curvaram para cima, num pequeno sorriso.

Senti as pequenas lufadas quentes da respiração de Jin dançarem em meu cabelo, suas mãos o apertaram na altura da nuca, seu corpo ficou um tanto trêmulo. Levantei o rosto, um pouco preocupado, mas tive minha cabeça abaixada rapidamente, com certa violência, por suas mãos. Soltei uma risadinha por sua ação, e, aproveitando a posição em que me encontrava, enterrei meu rosto em seu pescoço.

Ele ofegou, um pouco surpreso, e tentou puxar minha cabeça para trás. Virei o rosto, de modo que ficasse deitado em seu ombro, e soprei, para seu ouvido:

- Vai mesmo ficar me rejeitando agora? – Perguntei, a voz mais rouca do que eu esperava. Eu não estava falando sério, claro, e estava nervoso, com o coração martelando minhas costelas, mas não queria afastá-lo (ou ser afastado); minhas mãos estavam confortáveis em volta de seu corpo.

Senti Jin se arrepiar, esticando um pouco o pescoço ao fazê-lo.

- Se for para evitar suas provocações, sim. – Falou, a voz baixa, mas surpreendentemente firme; não nervosa, apenas um pouco acanhada. Isso era melhor do que eu poderia esperar. Soltei um riso soprado, pouco me importando pelo fato já comprovado de que ao tinha como me decepcionar com Jin e suas curiosas reações.

Rocei o nariz em seu pescoço, a um centímetro da curva de seu maxilar, ele se arrepiou de novo.

- Não pense tão mal de mim. – Pedi, a voz um pouco arrastada, aproximando-se ao... manhoso? Eu realmente não ficava em meu estado normal com aquele garoto. – Não vou te provocar só por ter me dado um amasso e agora estar com vergonha de olhar na minha cara. – Completei a fala com um sorriso, recebendo um tapa na nuca.

- Não, imagina, nunca provocaria. – O sarcasmo estava forte em sua fala, isso só me fez rir mais uma vez.

Rocei o nariz em sua bochecha, acomodando-me a seu ombro como me acomodaria para uma viagem longa em avião: confortável, permanente. Fechei os olhos, e poucos segundos depois, senti-o acariciar os fios que delimitavam minha nuca de minha cabeça. Sorri.

Mantive minhas mãos em volta de sua cintura, agora mais apoiado nele do que ele em mim, sua cabeça havia tombado levemente sobre a minha, recostada sobre seu pescoço, eu queria ficar ali para sempre.

- E...? – Disse Jin, após alguns minutos de silêncio, onde apenas sentíamos um ao outro. Eu não tinha certeza de como ele se sentia, mas para mim, a ficha de tê-lo tão perto ainda estava caindo.

Me permiti abrir os olhos com seu manifesto, que poderia ser uma pergunta.

- Hm? – Perguntei, pedindo que continuasse. Não tinha como eu responder ao ‘e?’ assim, era meio... abrangente.

- Foi tão ruim quanto você esperava? – Perguntou, aparentemente sem nenhuma emoção negativa, apenas de eu sentir que essa pergunta o era. Sua voz soava calma, curiosa e um pouco hesitante. Insegura.

- O quê? – Perguntei, franzindo o cenho, tirando a cabeça de seu ombro e mirando seu rosto, que se desviou do meu, seus olhos mirando o vazio entre o céu e o chão.

Ele demorou um pouquinho para responder. O tempo de três respirações.

- Eu... eu não sou uma mulher. – Soprou, comprimindo os lábios, parecia estar forçando toda a sua vontade para pronunciar aquilo. Medo, frustração, insegurança. – Foi como era com elas? – O último fragmento de sua frágil fala foi um sussurro, um sopro, quase incompreensível. Tão incompreensível para mim quanto sua dúvida. Minhas atitudes não tinham deixado tudo claro demais?

Mirei seu rosto por um momento, absorvendo aos poucos o que ele estava perguntando. Por um momento, eu quis rir, mas senti que não seria muito delicado fazer isso.

- Não. – Respondi à sua pergunta, não vi por que enrolar mais isso, eu estava cansado de enrolações. Ele se encolheu à minha resposta, e, ainda sem me olhar tentou se desvencilhar de meus braços.

- Ok, entendi. – Sua voz embargou, e senti meu peito apertar. Segurei-o mais firme.

- Não, Jin. – Chamei, soltando uma de minhas mãos de sua cintura e colocando-a em seu queixo. Levantei seu rosto, que tentou evitar isso, sem sucesso. – Jin, me escute. – Mirei duramente seus olhos, que reluziam em lágrimas que ele não deixara cair, não ainda. – Eu sei que te deixei confuso, eu mesmo estava, estou. – Suspirei. – Não, isso não foi como quando eu fiquei com mulheres – Ele tentou recuar o rosto. Segurei-o mais forte. – Foi melhor. Milhões de vezes melhor. Não tem nem comparação, Jin.

Assim que o disse, ele levantou o olhar para mim de novo, os olhos ainda reluzentes, mas a dúvida sendo substituída pela esperança.

Levei a outra mão ao seu rosto também, segurando-o firme, dos dois lados.

- Eu... eu não sabia como agir, porque você é um garoto, e eu sempre fiquei com garotas mas... eu nunca senti algo assim por alguém, Jin, e, caralho, eu te acho tão lindo, e é difícil não ficar te encarando o tempo todo, e eu não sei como lidar com isso- – Fui interrompido de meu monólogo incessante pelos lábios sorridentes de Jin. Olhei-o, assustado por sua iniciativa, e ele sorriu fracamente.

- Você normalmente não fala tanto, garoto Kim. – Disse, claramente tentando não alargar o sorriso. – Eu já entendi, apenas se acalme, ok? – Colocou os braços em volta de meu pescoço outra vez, sorrindo, parecendo aliviado.

Eu sorri, e puxei sua cabeça para perto, plantando um beijo em sua testa e levando as mãos para sua cintura como antes.

- Ok. – Falei, o riso marcava meu tom. Eu não lembrava de em algum momento ter me sentido tão feliz.

- Você vai ser rapper, se supõe que seja melhor com palavras. – Ele provocou, seu tom imitando o meu.

- Escrever músicas é mais fácil que falar de sentimentos pra uma princesa mal ensinada. – Respondi, alfinetando, ele torceu o nariz. – Ah, isso me lembra... – Falei, soltando sua cintura com uma das mãos e levando-a para o bolso. Peguei o papel ali guardado, e o ergui à altura de nossos olhos. – Na próxima vez que quiser alguma coisa, você pode pedir, eu não vou regular. – Falei, brincando, claro. Não tinha por que fazer tempestade por um pedaço de papel velho, mas era verdade que eu queria saber por que ele havia pegado aquilo.

Ele arregalou os olhos um pouquinho.

- Eu pensei que tinha perdido. – Falou, parecendo surpreso e um pouco feliz. Então comprimiu os lábios, preocupado, e completou: – Desculpe.

- Sem problemas. – Disse. Não havia problemas mesmo. Coloquei o papel em sua mão, que havia tirado de cima de meu ombro. – O que queria fazer com isso?

Ele comprimiu os lábios de novo, desta vez pensando.

- Eu não sei. – Falou, por fim. Ri curtinho de seu jeito. – Mas eu gostei, achei cruel deixá-la esquecida no seu quarto, onde ninguém pode ver.

- E o que você pretendia? – Perguntei, ainda rindo baixinho. – Escrever ela na parede pra todo mundo ver? – Eu estava brincando, mas seus olhos se iluminaram como se eu tivesse lhe dado a ideia mais genial possível.

Seu rosto virou para atrás de nós, par o muro cheio de poesias, desenhos e promessas de amor de casais induradouros. E então miraram o chão, encontrando os carvões abandonados ao lado das latas de spray.

Antes que eu pudesse ligar os pontos e entender o que ele pretendia, ele fugiu de meus braços, correndo levemente até o muro, se abaixando para pegar um pedaço negro de carvão.

A princípio, eu tentei fazê-lo parar com aquilo; não era necessário, mas depois de um tempo, calei a boca como ele pediu e ajudei-o no que pude.

A verdade era que aquilo, aquela pequena ação, aquele pequeno espaço em negro no muro colorido onde jaziam as palavras criadas por mim, escritas por Jin, me deixou preenchido de uma alegria sem preço. Eu gostava de estar sendo valorizado pelo que amava fazer, mesmo que só por ele. Parecia o bastante, parecia perfeito.

Quando saímos dali em direção à minha casa novamente, quaisquer vestígios do sol já haviam-se ido há tempos, e as estrelas esforçavam-se em brilhar em meio à poluição luminosa da metrópole.

- Eu te avisei. Olha o estado das suas mãos. – Ralhei, olhando para o negro do carvão que preenchia suas mãos compridas por completo, além de pequenos pedaços de seu braço e rosto; uma bagunça.

- Está tudo bem, eu só preciso de um banho. – Falou, sorrindo para mim enquanto andávamos lado a lado. – Mas você está limpo demais. Vem cá! – Gritou enquanto me perseguia com as mãos estendidas, e eu fugia da fuligem, não por medo de me sujar, mas pela oportunidade da brincadeira.

- Eu já sou escuro. – Falei, correndo de costas um pouco à sua frente, virado para ele. – Não preciso de carvão pra ganhar cor.

- Reclama do bullying, mas faz em você mesmo. – Ele rebateu, ainda correndo. – Vem cá, NamJooooon. – Completou, manhosamente. Eu ri, e parei de correr, deixando em chegar até mim, as mãos sujas estendidas para seu alvo.

Segurei-as juntas, e as elevei acima de nossas cabeças, puxando seu corpo com o resto de seu próprio impulso e selando sua boca.

- Estou aqui. – Disse. Sempre estaria. Não me considerava mais capaz de não estar.

Eu me irritaria com os garotos ao chegar em casa? Sim. Eu teria que suportar um monte de gente me enchendo o saco? Sim. Eu continuaria me descontrolando por causa de Jin, nos dois sentidos? Sim, com toda a certeza.

Mas eu estava disposto a tentar, porque, como diziam as palavras agora grafadas no muro que deixávamos para trás, ‘acho que de vez em quando, vejo o brilho de algo que nenhum governo consegue mandar, e nenhum dinheiro consegue comprar’, e eu sentia que descobriria esse brilho, descobriria ao lado dele.

 

 


Notas Finais


EU SEI, TA GAY, TA MUITO GAY. Eu não sei o que me deu agora nesse final; desde ontem eu to meio estranha, escrevendo essas coisas vergonhosas pra vida. Mas tá, né, acontece.
Quem queria pegação, ganhou. parem de reclamar (como se fossem ahah)..mentira, podem reclamar, adoro quando ficam me enchendo o saco pra ter beijo e pá, porque é o único jeito de eu me animar a fazer '^^

Bom, gente, eu estou em Buenos Aires, e finalmente vou ficar num lugar por mais de três dias. Como aqui a gente só vem pela familia e pá, eu vou estar mais tranquila (ESPERO) e acho que consigo postar no prazo, pelo menos o próximo. :3

Preciso dizer que estou feliz com o monte de gente comentando e favoritando? Preciso me desculpar por não responder aos coments? Preciso pedir pra deixarem sua opinião ali embaixo (se quiserem, claro)?
Preciso!
Então, fiz tudo.

Falou, beijão no coração, peço perdão.
<3 <3 <3 <3 <3


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