— Ei! — Gritei, assustando o ser que estava sentado no chão mexendo nas letras rascunhadas que eu deixara em cima do sofá da sala. — Não mexa em tudo o que achar pela frente, criatura. Muito menos nisso aqui. — Completei, tirando os papéis dele.
— Desculpe, hyung. — Jimin fez um biquinho. — É que Yoongi-hyung tinha dito que suas letras estavam melhorando, então eu fiquei curioso. — Ele olhou triste para o chão. — Não vou mais mexer em suas coisas, eu não tenho mais esse direito, não é?
— Aish — resmunguei. Eu sabia que ele estava fazendo de propósito, ele e Tae sempre usaram a maldita mesma arma pra me convencer das coisas, e com nenhum dos dois eu conseguia ficar realmente zangado por muito tempo. A não ser que começassem a namorar uma megera controladora babaca irritante, aí eu ficava com raiva até demais. Porque, sim, eu tinha plena noção de que aquela rixinha que eu havia implicado com Jimin apenas estava de pé por causa de minha teimosia eterna. — Aqui. — Entreguei os papéis de volta a ele sem olhar em seu rosto e, mesmo assim, tendo plena consciência de seu maldito sorriso vitorioso.
— Obrigado, hyung. — Ele disse enquanto eu me direcionava para o segundo andar, indo ao banheiro, planejando tomar um dos banhos mais compridos de minha vida. Tudo doía, meus braços, meu rosto e meu maldito quadril que me fizera andar mancando até em casa. Entrei no banheiro pensando se Seokjin estava com tanta dor quanto eu, porque, sinceramente, era difícil saber: ele não reclamava ou fazia caretas (exceto algumas eventualmente), mas mancava como o inferno. Realmente difícil de saber, mas, se me pedissem para apostar, eu diria que ele provavelmente estava pior que eu, principalmente porque eu suspeitava que os machucados do outro dia não haviam sido os primeiros a marcar a pele de Seokjin.
Soquei a parede do banheiro, subitamente com raiva de novo. Eu não podia ficar fazendo isso, não podia ficar pensando em Seokjin, isso só me deixava com raiva (não dele, mas do que haviam feito com ele, que não pôde fazer nada por ter bebido, além de não estar acostumado a brigar) e, mais assustador que essa raiva, eram as sensações que aquela criatura despertava em mim. Eu me sentia irritado com ele? Sentia. Mas era algo mais fraco que a vontade de abraçá-lo? Um pouco.
Tomei banho, sentindo a água levar todo o cansaço que eu estava sentindo. Era por isso que eu gostava dela, sempre acalmava meu corpo, claro que não ajudava muito com os pensamentos sempre me enchendo o saco, mas, mesmo assim, estava valendo.
Terminei o banho com um humor bem ruim e com a moleza tomando conta do meu corpo, agora que estava limpo. Saí para o quarto com vontade de me jogar na cama e morrer, mas eu tinha levado Jimin até ali, e não ia deixá-lo ir até resolver aquela bagunça. Se eu não fizesse nada, tudo o que ele iria fazer seria se jogar de um prédio, isso se não morresse antes, porque haja criaturinha pra fumar.
Falando no diabo, quando saí do banheiro e entrei no quarto, surpreendi-me em não ver Jimin em lugar nenhum, e me apressei em procurá-lo. Eu não ia deixar aquele idiota sozinho pra fazer burrada.
Encontrei-o sentado na escada da porta da frente de minha casa. Fumando, óbvio.
— Você é um idiota. — Dei um tapa atrás de sua cabeça, fazendo com que a ela fosse para frente e logo se virasse para que Jimin me encarasse como se perguntasse qual era o meu problema. — Apague essa merda. —- Disse sem expressão, vendo-o me obedecer num suspiro, amassando a ponta do cigarro no concreto da escada. — Agora me dê. — Ordenei esticando a mão, recebendo o veneno amassado em seguida. — Todos eles, Jimin. — Flexionei os dedos como se pedisse mais e, depois de alguns segundos, conseguindo ter todos em minha mão, incluindo o isqueiro. — Bom garoto. — Sorri lançando o braço para trás de minha cabeça e arremessei os objetos que estavam em minha mão para além do muro do vizinho.
Jimin me olhou como se perguntasse qual diabos era meu problema, e eu dei de ombros.
— Sério, hyung, qual a necessidade? — Ele me olhou, ainda com a expressão de quem olha para uma coisa nojenta e desconhecida. — Pra que jogar no quintal de outra pessoa?
— Primeiro porque aquela casa tem muros altos e você não vai conseguir invadir ela pra pegar seus malditos cigarros, e eu sei que você iria simplesmente pegá-los de novo se eu só os jogasse no lixo ou algo assim. — Coloquei as mãos nos bolsos, olhando despreocupadamente para a rua. — E, segundo, porque aquele cara fuma como o inferno, tenho certeza de que ele vai adorar encontrar uns cigarros a mais no quintal. E de graça. — Sorri para Jimin ao terminar minha fala, vendo-o balançar a cabeça e ainda me encarar como se eu fosse louco, logo rindo alto.
— Você é louco. — Ele disse, respirando fundo para conseguir falar direito. — Você é completamente pirado.
— Aí eu não sei, mas você vai ter que provar se for me delatar. — Comentei, vendo-o explodir em risadas de novo. — Você tem problema, criatura? — Esbocei um sorriso, com as sobrancelhas curvadas. — Tinha maconha naquele cigarro?
— Claro que não. — Jimin continuava rindo.
— Você está rindo de quê então, infeliz? — Segurei Jimin pelos braços, arrastando-o de volta para dentro e jogando-o no sofá e ficando de pé a sua frente. Ele apenas ria.
Bufei, começando a me irritar com aquele ataque de risos e fui até a cozinha pra conseguir comida para o infeliz. Só podia ser a falta de comida no organismo deixando ele doido assim.
Peguei bolinhos de microondas na geladeira, esquentando-os e levando até a sala, ainda no saco. Ao ver o que eu trazia, Jimin, que havia parado de rir e agora pulava de canal em canal da TV da sala (a única da casa), quase pulou de alegria e arrancou os pacotes de minhas mãos. Abriu um e comeu o bolinho salgado quase de uma vez.
— É frango! — Seus olhos brilhavam, e eu senti vontade de rir de seu jeito de criança.
— Tem requeijão nesses também. — Informei, sorrindo fracamente. Jimin também sorriu.
— Meus favoritos. — Acenei com a cabeça, o sorriso havia enfraquecido um pouco em meu rosto, mas eu sentia como se um peso gigante houvesse sido tirado de minhas costas. — Tem de chocolate? — Ele me olhou ansioso e eu senti vontade de rir, negando com a cabeça.
— Eu não gosto dos doces, você sabe. — Sorri de novo e ele abaixou a cabeça e os ombros, parecendo verdadeiramente triste. — Mas minha mãe gosta, talvez tenha na geladeira e eu não vi.
Ao ouvir isso, Jimin levantou do sofá e foi correndo até a cozinha, abrindo a porta do congelador com pressa. Ele tirou um pacote de bolinhos dali com o rosto reluzente em antecipação. Olhei por cima de seu ombro e soltei uma risada enquanto ele choramingava.
— Morango. — Ele fez um bico. — Hyung, eu gosto de tantos sabores, mas não de morangooo. — A manha estava presente e forte em sua voz como se eu pudesse fazer alguma coisa.
— E daí? É o que tem aí. Se você não gosta, paciência.
— Hyuuung...
— Isso não vai funcionar Jimin. — Sorri e dei um peteleco em sua testa. — Vá comprar você se quiser, eu não vou sair agora.
— Mas hyung... — Ele olhou para seus pés com uma carinha de cachorro abandonado. Ou melhor: de Taehyung sacana tentando ganhar alguma coisa. — Eu não quero ir sozinho, está tarde.
— Por isso mesmo que eu não vou. — Ri soprado de sua expressão chateada. — Deixe disso, tem bolacha recheada na despensa. De chocolate.
Nem terminei de falar e o ser vivo evaporou da minha frente, batendo sem querer na mesa da cozinha, provavelmente, já que o barulho (tanto do golpe quanto do palavrão de Jimin) foi bem alto.
Ri alto, ouvindo-o me xingar do cômodo ao lado.
Um pouco depois, ele voltou com os doces nas mãos. Não só as bolachas, mas também acabou trazendo gominhas coloridas.
— Está à vontade, não?
— Você disse que era pra eu ficar à vontade. — Ele deu de ombros, mordendo uma gominha.
— Eu disse? — Ele acenou com a cabeça, mirando a TV e não a mim.
— Quando entramos na casa.
— Aish. — Joguei-me no sofá macio, sentindo novamente uma puxada no quadril. Jimin deu uma risada gostosa, jogando-me ao meu lado.
Ficamos ali na sala por mais várias horas assistindo os filmes que passavam na TV, alguns bons, outros apenas para zoar com a produção ruim ou o ator principal que não conseguia nem fingir um choro.
Quando era quase meia noite, cansamos da TV e subimos para meu quarto que ainda estava com a cama, que eu havia preparado para Seokjin, armada. Jimin olhou para mim com a sobrancelha levantada, interrogativo.
— Quem dormiu aqui, hyung? — Ele apontou para o colchão no chão.
— Eu. — Disse. Era a verdade, afinal.
— E quem dormiu na sua cama? — Ele olhou para o móvel.
— Ninguém.
— Vamos lá, hyung. A cama está bagunçada.
Bufei irritado e me dirigi até a janela, abrindo-a para arejar o quarto.
— Kim Seokjin. — Respondi simplista, virando-me para Jimin que me encarava com a boca aberta.
— Eu não acredito que você comeu Kim Seokjin. — Ele me olhava de olhos arregalados. — Você não era hétero, Joon?
Olhei para ele com tédio, mas senti meu rosto esquentar.
— Eu não transei com ele, nem nada do tipo. — Estalei a língua, indo até minha cama e sentando nela. — Ele precisava de um lugar para dormir e eu ofereci que ele viesse pra cá.
— Por que ele precisava de um… — Jimin se interrompeu quando o mirei duramente pedindo que calasse a boca, sem precisar de palavras. — Ok, isso é suspeito, mas não vou mais te encher o saco. — Ele levantou as mãos como que se rendendo e se sentou ao meu lado, suspirando.
Olhei para ele, que olhava para o céu lá fora de forma pensativa.
— Jimin. — Chamei e ele olhou para mim com a expressão triste novamente em sua face. — Vale mesmo tanto a pena? — Perguntei, apoiando-me com os braços atrás de mim, ficando um tanto jogado na cama e olhando para a frente, sem focar em algum lugar específico. Jimin me olhou interrogativo. — Vale a pena sofrer tanto por causa de Jungkook?
— Ah... — Ele falou, entendendo. Acenou com a cabeça levemente, sorrindo fraco. Jimin estava sentado com as pernas um tanto abertas no colchão, com as mãos entrelaçadas entre elas e a coluna curvada, fazendo com que seu rosto ficasse virado para baixo por conta do pescoço, que jogava a cabeça para a mesma direção.
— Mas ele é tão fresco! — Sentei-me de frente para ele, cruzando as pernas. — Eu vi a discussão de hoje, Jimin! Ele despreza sua dança e tudo o que você é, como consegue sequer ter atração por ele?
Ele sorriu fraco, balançando a cabeça negativamente.
— Você não entende, hyung.
— Então me explique.
Meu amigo de infância suspirou, mexendo em suas unhas por um tempo até responder sem olhar para mim:
— Eu te disse, não disse? Você nunca se apaixonou, não sabe o que é amor.
— E como sabe que, o que você sente, é amor? — Não me incomodei com o que Jimin disse, eu não havia amado mesmo e nem sequer acreditava que iria algum dia.
— Eu acho Jungkook a coisa mais linda do universo, agradeço todos os dias por ele existir. Não me importo dele ser grosso, malcriado, ou mimado. Para mim, ele é perfeito em todos os seus defeitos e em todas as suas maravilhosas qualidades. — Ele suspirou. — É por isso que sei que estou completamente apaixonado.
— Pra mim, está completamente idiota.
— Alguns acreditam que os dois são sinônimos. — Ele comentou fazendo uma careta engraçada, fazendo com que ríssemos em seguida.
Ficamos um pouco em silêncio, cada um em seus próprios pensamentos. Jimin suspirava o tempo todo, como se sua vida estivesse despencando e ele estivesse tentando, a todo custo, consertá-la.
Provavelmente era isso mesmo.
Eu parei de encarar meu amigo por um tempo, olhando para minhas próprias mãos. Vi os arranhões de hoje mais cedo e, por baixo deles, as marcas da briga daquela noite no Lux. Cerrei a mandíbula, os punhos e olhei para Jimin que mirava a janela com os olhos vagos.
— Jimin. — Ele se virou para mim e eu suspirei ao notar que seus olhos transbordavam de tristeza. Sorri fraco e o abracei. Eu não gostava de abraços, em especial os carinhosos. Nunca gostei desse tipo de contato. Para mim, sempre foram mais sérios e significativos que os beijos, diziam mais sobre "amor". Eu não abraçava qualquer pessoa, mas Jimin sempre foi um gozador de meus abraços, desde quando éramos crianças.
Senti seus ombros balançando enquanto Jimin chorava baixinho e me contentei em continuar apertando-o em meus braços até ele se acalmar.
Mesmo depois que suas lágrimas pareceram acabar, ele continuou com a cabeça apoiada em meu ombro, quebrando nosso silêncio após alguns minutos:
— Hyung... — Respondi com um murmúrio e ele suspirou em meu ombro. — Eu quero fazer as pazes com ele. — Virei a cabeça para olhar para ele, fazendo com que ele tivesse que tirar a dele de meu ombro, mirando-me com a expressão cansada. — Não importa o quanto eu pense nisso, não consigo me imaginar seguindo em frente sem o Kook. — Mais um suspiro. — Eu entendo sua visão, hyung. Sei que acha que estou perdendo meu tempo e desperdiçando minha vida com uma pessoa de personalidade problemática. — Acenei com a cabeça, confirmando suas palavras, apesar de que eu teria sido um pouco mais rude falando isso. Jimin sorriu fraco. — Mas eu... — Ele soluçou e eu temi que fosse começar a chorar de novo. — Eu não consigo, não consigo ficar sem ele. — Jimin colocou o rosto entre as mãos. Meu amigo parecia tão cansado e desesperado que não pude deixar de sentir pena.
— Ei — coloquei minha mão em seu ombro, tentando passar um pouco de confiança. Jimin não se virou para me olhar, mas eu sabia que ele estava escutando. — Olhe, você sabe que esse relacionamento não me agrada, nunca agradou. — Parei de falar por um momento, mordendo o lábio inferior. Suspirei. – Mas acho que seria um idiota se não te apoiasse nisso.
— Hyung... — Jimin se virou para mim com a expressão surpresa misturada ao cansaço e à tristeza.
Sorri.
— Quer dizer, se você está tão determinado a recomeçar isso, Jeon não pode ser tão mau assim.
— Na realidade, ele é. — JiMin deu uma risada fraca, mas com humor. — Ele é fresco e mimado, além de ter complexo de atenção e ser controlador.
— Você não está ajudando na minha gentil tentativa de simpatizar um pouco com Jungkook, Park. — Meu amigo riu de novo, desta vez com um pouco mais de vontade.
— Eu só estou falando a verdade, hyung. Não vou mentir sobre Kookie, principalmente pra você que é tão observador com as pessoas. Você percebe todas as máscaras. — Ao ouvir isso, dei uma risada nasal, lembrando de como minha raiva por Seokjin era, na realidade, incômodo por sua máscara (ou melhor, armadura), que o escondia do mundo que o assustava. Eu nunca havia visto aquela máscara e agora estava pagando o preço por tê-lo desprezado tanto. — O que foi?
— Nada... — Sorri de canto. — Só lembrei de uma coisa. — Jimin deu de ombros e eu lembrei que ainda não tínhamos terminado a conversa. — Enfim, como eu dizia antes de você se intrometer e fazer voltar todo o ódio que eu havia enterrado pelo seu namorado... — Entrelacei os dedos, olhando para Jimin, que sorria de novo. Um sorriso fraco, sem sua verdadeira alegria nele, mas, ainda sim, um sorriso. — Se você quer mesmo continuar abanando o rabinho para aquela megera, quem sou eu para te proibir, não é?
Jimin sorriu, mas logo abaixou a cabeça.
— Sabe, eu pensei muito mesmo no que você me disse... você sabe, lá na árvore. — Ele me olhou sem levantar a cabeça, sorrindo de lado fracamente. — E eu percebi que você tinha toda a razão, foi por isso que eu fiquei tão irritado. Eu estava irritado comigo mesmo. Irritado porque sabia que você tinha razão e que eu estava sendo idiota... Foi por isso que eu tentei enfrentar o Kookie. — Ele colocou as mãos sobre a cabeça, que estava abaixada. — Eu quis tentar fazer do meu jeito, tentar fazer algo do meu antigo eu, algo sem ele. — Ele suspirou e riu nasalmente sem humor, apoiando o braço direito no joelho e a cabeça na mão do mesmo, olhando para mim. — Não deu muito certo. Mas, mesmo agora que eu quero a todo custo ter ele de volta, eu quero ter liberdade, mudar, voltar a ser quem eu era e eu sei que não vou conseguir fazer isso se continuar ao lado de JungKook.
— Então você pretende jogar tudo fora de novo e voltar a correr atrás de Jungkook?
Ele acenou com a cabeça.
— Desculpe, hyung. — Jimin me olhou com a expressão cansada. — Vou ignorar seus conselhos de novo.
— Você não precisa fazer isso.
— Foi o que eu decidi, hyung. Eu não me importo se você vai voltar a me ignorar, estou fazendo o que acho que é certo.
— Mas você mesmo disse que eu tinha razão! — Disse alto, levantando-me da cama.
— Sim — ele sorriu e seus olhos sorriram junto. — Mas estamos falando de amor, e amor não tem nada a ver com razão. E, apesar de todos os defeitos na personalidade de Jungkook, ele tem também um lado adorável, uma criança gentil e ingênua escondida debaixo da pessoa birrenta e mandona que ele se tornou. O verdadeiro Jungkook, o original, é uma pessoa tão adorável que eu não consigo nem me imaginar desistindo dele.
Suspirei cansado. Eu estava quase saindo do quarto para não xingá-lo, além de que a fala de meu amigo havia feito com que Seokjin surgisse novamente em minha cabeça, e eu estava querendo me socar por pensar naquela criatura de minuto em minuto. Parei bruscamente com a mão na maçaneta quando tive uma ideia.
— Não precisa fazer isso...
— O quê?
— Você não precisa fazer isso! — Virei-me olhando para ele com os olhos arregalados, brilhando de animação. Eu provavelmente parecia um louco, não que importasse muito.
— Hyung, o quê...
— Escute — voltei para perto dele, que ainda estava sentado no colchão e me olhava com uma careta estranha de confusão. — Você quer voltar a ser quem era, não quer?
— Sim, mas eu já te dis…
— Não, não. — O interrompi. — Me escute, sim? — Ele acenou com a cabeça, calando a boca.
— Você quer voltar a dançar e andar com a gente — Jimin se limitou a acenar com a cabeça. Ele conhecia bem minhas ideias e sabia que eu ficava insuportável quando colocava algo na cabeça. — Mas também quer ter Jungkook ao seu lado. — Outro aceno. — Mas quem disse que você tem que escolher só um?
— O quê?
— Isso mesmo que você ouviu. — Respondi acenando com a mão, fazendo pouco caso para a pergunta de Jimin. — Nós nos preocupamos tanto com a questão “Amigos vs. Namorado” que nem consideramos que você pode ter os dois!
— Hyung, sério, o que você está inventando? — Jimin me olhou seriamente, como se tentasse ver o fundo de minha alma.
— Eu apenas pensei no seguinte: você estava procurando a solução do problema em você e não achou, então, decidiu deixar como está. — Sentei ao seu lado de novo, olhando para ele. — Mas você sabe porque não achou a solução em si mesmo?
— Hã?
— Pare de me olhar como se fosse idiota, eu sei que você está me entendendo. — Ele revirou os olhos e eu voltei ao meu raciocínio. — Você não achou a solução porque não é você o problema.
— O quê?!
— Sério, pare, você está me irritando. — Olhei-o sério e ele continuou com sua cara de idiota virada em minha direção. — Pense, qual é o verdadeiro problema? O que fez com que você largasse tudo? O que faz com que você esteja infeliz com seu relacionamento, mesmo que queira tanto continuá-lo?
— Você quer dizer...
— Exato. — Sorri, satisfeito e convencido. — Nosso problema é a megera que você chama de namorado. Se é que ainda pode chamá-lo assim.
— Essa é sua idéia genial? — Jimin suspirou. — Nós já sabíamos que o problema era a personalidade de Jungkook e já sabemos também que tirá-lo do jogo está fora de questão!
— E quem está falando de tirar Jungkook do jogo?
— O quê?!
— Você mesmo acabou de falar: o problema não é Jungkook. — Sorri sacana, deliciando-me com o que minha ideia poderia render se desse certo. — O problema é a megera.
— Agora que eu não entendi nada mesmo, hyung. — Jimin me olhava novamente como se eu fosse um extraterrestre verde, gosmento e maluco. — Jungkook e a “megera” não são a mesma pessoa?
— Não.
— Hã?
— Sério, se você continuar com essa cara de idiota e perguntar “hã?” ou “o quê?” todas as vezes que eu tentar explicar a minha idéia maravilhosa, eu vou te bater. — Jimin bufou, mas calou a boca e - graças aos deuses - tirou aquela cara de idiota do rosto. — Enfim, você mesmo disse: Jungkook apenas se tornou uma megera controladora, essa não é sua personalidade natural.
— E...? — Ele me incentivou a continuar falando.
— Então, temos que tirar a megera da jogada. — Conclui (finalmente) meu precioso raciocínio. Bati as mãos e mordi o lábio inferior, esperando a reação de Jimin, mas ele apenas me encarou por alguns segundos com uma cara de “WTF?”.
— Ok, agora é certeza. Você pirou. — Ele bateu as palmas das mãos, levantando-se de minha cama e se dirigindo para a porta. Eu bufei.
— Aonde pensa que vai, criatura? Você não entendeu! — Segurei seu braço, impedindo-o de sair do quarto.
— Eu entendi! Entendi que você pirou totalmente.
— Sério, me escute.
— Hyung, eu entendo que você quer ajudar, mas o que você está dizendo não faz o menor sentido!
— Faz todo o sentido! Apenas me escute!
Jimin pareceu pensar, mas logo deu de ombros e voltou até a cama, sentando-se nela de novo.
— Não tenho nada a perder mesmo. — Sorri, voltando para perto dele também, mas não me sentei, apenas fiquei à sua frente. — Mas o que diabos foi aquilo de “vamos tirar a megera, mas não Jungkook da jogada”? — Ele fez aspas com os dedos. — O que pretende fazer? Separar a parte ruim de Kookie e guardar num potinho enquanto parte boa se diverte mundo afora?
Revirei os olhos com o deboche de meu amigo, mas resolvi continuar a brincadeira.
— Não. — Sorri travesso. — Não seremos tão gentis com a parte ruim. — O sorriso debochado que estava desenhado nos lábios de Jimin se desfez e ele me olhou com estranhamento de novo. — Você tinha que escolher entre nosso mundo e Jungkook, não é? — Ele acenou com a cabeça, olhando-me desconfiado. — Então só temos que trazer Jungkook para nosso mundo. — Completei com um sorriso malicioso e Jimin me olhou, a expressão de confusão não havia sumido, mas havia um brilho novo ali. Ele havia entendido.
Aquilo ia ser divertido.
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